segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Memórias do Zé Manel


Pregos da ermida da Senhora da Orada


Processo de Manuel Henriques de Lacerda, na Inquisição


Um sarindão (cirandão) para esmagar as uvas

José Manuel dos Santos

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Quarta classe ou comunhão

(…) Mal a gente saía da escola, as nossas mães punham-nos logo a servir.
- Olha filha, ”dizia a minha mãe” sempre é melhor que ficares praí a trabalhar no campo de sol a sol, à chuva, ao frio, ao vento.
Quando tinha a tua idade já andava a servir; escola! Qual escola qual carapuça, nesse tempo só os cachopos; “e não eram todos”; tiravam a quarta classe. Os pais punham-nos logo a guardar cabras. Naquele tempo era uma dor dalma, muitos só viam as primeiras botas quando iam para a tropa, porque lhas davam lá.
Na vila havia meia-dúzia de casas ricas, as quintas, as melhores terras eram deles, muitas famílias nem um palmo de terra possuíam.
Dois ou três meses antes das festas de verão, as famílias mais pobrezinhas compravam um borreguito para ser comido nos dias das festas, como não tinham horta, engordavam-no nos ribeiros e na ribeira.
Ai daquele que fosse apanhado a roubar um molho de mato nas terras dos ricos…
- Olha filha, dizia a minha mãe; no tempo da azeitona, homens e mulheres andavam por esses olivais fora ao oitavo e ao nono; eram oito litros ou nove para o patrão e um para a camarada toda, uma miséria; ao fim do dia, por vezes não ganhava-mos um quartilho de azeite; quando as oliveiras estavam sujas e pouco carregadas. Quando estavam de carrola, os homens colhiam uma saca num instante. É por causa destas e doutras que antes te quero ver a servir.
A minha mãe era criança quando o concelho acabou, andava na praça a jogar ao paspelho quando viu um senhor a fechar a porta do balcão da cadeia, ao fundo das escadas estava um homem com uma carroça cheia de livros, o que fechou a porta subiu para a carroça e abalaram.
Certa vez a minha mãe, com ar sério e grave, voltando-se para mim, disse:
- Andam para ai a recordar o senhor fulano, a senhora fulana, o que é que fizeram pela nossa terra? Até deixaram abalar a câmara, que rai de ricos foram eles.
Ainda me lembro como se fosse hoje das palavras da minha mãe. 
- A vila nunca mais foi a mesma. Está cada vez mais deserta, há ruas onde moram duas ou três pessoas; os soldados partiam para a guerra, a emigração, a falta de trabalho, tudo isto contribuiu para a desertificação.
Adiante, águas passadas não movem moinhos, e depois!
Um dia, uma vizinha falou com a minha mãe no nosso almiar, eu estava ao cimo das escadas a ouvir a conversa.
- Ó Maria, esteve na praça um senhor e uma senhora à procura de duas criadas, e se nós mandasse-mos as nossas filhas?
A minha mãe não ficou muito convencida, eu muito menos, servir! A minha amiga lá me convenceu e fomos. Teria os meus quinze anos quando abalei, os patrões eram boas pessoas, andei por lá cerca de um ano, aos domingos a patroa dava-nos a parte da tarde para irmos passear, uma vez conhecemos um rapaz da nossa idade que nos acompanhava.
- Casavas com ele?
- Eu não, nem sequer tem a quarta classe.
- Isso para mim era o menos, não casava com ele porque não tem a primeira comunhão.
Um grande clarão vermelho sobressaia por detrás da serra do Engarnal, aproximava-se a noite, no chafariz coaxavam as rãs, no velho cedro, escondidas nas ramagens ouviam-se os sons estridentes das cigarregas; o sino da torre da igreja badalava as ave-marias.
- O anjo do Senhor anunciou a Maria…

Quartilho: Quarta parte da canada.
Carrola: Ramos, ladrões carregados de azeitonas.
Almiar: O pequeno espaço da habitação que se situa ao fundo das escadas. 
Cigarrega: Cigarra
Linguajar vicentino: praí; dor dalma; rai.

J.M.S

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

O costado sanvicentino de Ribeiro Sanches


Primeira geração

      1. António Nunes Ribeiro Sanches nasceu a 07/03/1699 em Penamacor, Penamacor; foi batizado em Penamacor, Penamacor; faleceu a 14/01/1783, em França, Paris; filho de Simão Nunes Flamengo e Ana Nunes Ribeiro.
António Nunes Ribeiro Sanches nasce em Penamacor a 7 de Março de 1699, filho de Simão Nunes,  sapateiro e comerciante, e de Ana Nunes Ribeiro. Era o filho mais velho de uma família de cristãos-novos, isto é, descendentes de judeus que tinham sido obrigados a converterem-se e batizarem-se nos finais do século XV.
Em 1716 inscreve-se na Universidade de Coimbra, em Direito. Três anos mais tarde transfere-se para Salamanca, onde cursa Medicina e, em 1724, obtém o grau de Doutor. Em 1726 foge do país, por denúncias da prática de judaísmo, e fixa-se na Holanda, em 1730, onde estuda com o Boerhaave. Sob recomendação deste, parte para a Rússia, em1731,  onde exerce funções de médico militar com assinalável êxito. Nomeado clínico do Corpo Imperial dos Cadetes de São Petersburgo, a sua fama torna-o médico da czarina Ana Ivanovna. Em 1739 é nomeado Membro da Academia de Ciências de S. Petersburgo; no mesmo ano recebe igual distinção na de Paris, a “Cidade das Luzes”, grande centro da atividade intelectual europeia, aonde regressa em 1747. Aí colabora com os maiores vultos do Iluminismo, aí escreve as suas obras fundamentais: “Dissertation sur la Maladie Vénérienne”; “Tratado da Conservação da Saúde dos Povos”; “Cartas sobre a Educação da Mocidade”;  “ Método para Aprender e Estudar a Medicina”; “Mémoire sur les Bains de
Vapeur en Russie”.
Até à sua morte, ocorrida em 14 de Outubro de 1783, é consultado com regularidade pelas personalidades mais notáveis da Europa culta de então.


Segunda geração

      2. Simão Nunes Flamengo, nasceu em 1673, em Penamacor, Penamacor; casou com Ana Nunes Ribeiro; filho de Álvaro Fernandes e Isabel Nunes.
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 7906 de 1715-05-30
PT/TT/TSO-IL/028/07906
Acusação: Judaísmo
Data da apresentação: 30/05/1715  Sentença: auto-da-fé privado em 03/06/1715. Abjuração em forma, instruído na fé católica, penas e penitências espirituais.
Cristão-novo


      3. Ana Nunes Ribeiro, nasceu no ano de 1680, em Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova; filha de Manuel Henriques Lucena e Maria Nunes Ribeiro.

Cristã-nova


Terceira geração

      4. Álvaro Fernandes nasceu no ano de 1650 , em Penamacor, Penamacor; casou com Isabel Nunes; filho de Diogo Gomes Henriques e Isabel Henriques.
Cristão-novo

      5. Isabel Nunes nasceu em Idanha-a-Nova, Monsanto; filha de Luís Lopes e Maria Nunes Ribeiro.
Cristã-nova

      6. Manuel Henriques de Lucena nasceu em Castelo Branco, São Vicente da Beira; casou com Maria Nunes Ribeiro, a 31/10/1666, em Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova; era filho de Diogo Gomes Henriques e Isabel Henriques.
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 1953 de 1703-08-22
PT/TT/TSO-IL/028/01953
Acusação: Judaísmo
Data da prisão: 23/08/1703 Sentença: auto-da-fé de 19/10/1704. Confisco de bens, abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo, instruído na fé católica, penitências espirituais. Em 12/08/1705, a Mesa deu licença ao réu para ir para Buarcos.
Residente em Lisboa
Cristão-novo

      7. Maria Nunes Ribeiro nasceu em Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova; faleceu antes de 1704; filha de Luís Lopes e Maria Nunes Ribeiro.


Quarta geração

    12. Diogo Gomes Henriques casou com Isabel Henriques, no dia 13/05/1636, em Castelo Branco, São Vicente da Beira; era filho de Diogo Vaz e Clara Gomes.

    13. Isabel Henriques; filha de Diogo de Lucena e Branca Rodrigues

    14. Luís Lopes casou com Maria Nunes Ribeiro

    15. Maria Nunes Ribeiro; filha de António Rodrigues e Ana Nunes Ribeiro

Cristã-nova


Quinta Generação

    24. Diogo Vaz casou com Clara Gomes

    25. Clara Gomes

    26. Diogo de Lucena casou com Branca Rodrigues

    27. Branca Rodrigues faleceu a  02/06/1638 , em Castelo Branco, São Vicente da Beira.

    30. António Rodrigues casou com Ana Nunes Ribeiro

    31. Ana Nunes Ribeiro

Nota: Ribeiro Sanches foi um dos mais ilustres filhos de Portugal. Tem estátua numa praça de Paris, cidade onde viveu a sua velhice, publicando os seus estudos na Enciclopédia. Várias das melhores reformas do Marquês de Pombal foram inspiradas nas suas ideias.
Além dos assinalados a azul, outros dos seus antepassados tinham ligação a são Vicente da Beira.

Atenção: há comentários novos na publicação anterior.

José Teodoro Prata

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Altar franciscano na Orada







Após a extinção do convento franciscano feminino (1835), o altar mor da Igreja de São Francisco (o templo do convento) foi mudado para a capela da Senhora da Orada.
Há anos que está em completa degradação. É policromado (azul, vermelho e amarelo), mas pouco se nota nas fotos, quer pela sujidade acumulada, quer pela fraca qualidade da máquina fotográfica.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Capitão Francisco António da Silva Neves


Nasceu em São Vicente da Beira, filho de Joaquim António das Neves, de Adela, Góis,  e de Pulqueria Cazimira da Silva, de São Vicente da Beira.
Morador no bairro de Belém, em Lisboa, Em 1872, era reformado, como Capitão da Província de Moçambique. 
Foi Director da Real Casa Pia de Lisboa
Era irmão de Maria Barbara da Silva Neves, que nasceu em 1834 e faleceu numa casa na rua Velha, a 27 de fevevereiro de 1911. Casou a 19 de outubro de 1864, com Joze da Conceição.

Jaime da Gama

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Carnaval - EBI de S. Vicente da Beira












No passado dia 9 de fevereiro, na EBI de S. Vicente da Beira, os alunos do Pré-escolar, 1º e 2º ciclos e alguns funcionários deram asas à imaginação e fizeram “Renascer a Floresta” com as suas flores, árvores e  insetos, realizando mais um desfile pelas ruas da vila.
O Jardim de Infância de S.V.B. contou com a parceria do projeto europeu KA219 – Troca de boas práticas na Educação Pré-Escolar Erasmus+.
Ao desfile não faltaram muitos familiares e outros vicentinos que nos quiseram acompanhar. A caminhada foi longa mas divertida!
As professoras: Celeste Martins, Mª José Agostinho, Mª Luz Teodoro e Idalina Oliveira

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Super Mário


É o Mário Silva, no desfile de Carnaval do passado domingo, em Castelo Branco.
O disfarce é o tema da atualidade: os incêndios.
Este ano voltou a ser premiado (já o fora no ano passado).

José Teodoro Prata