Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
terça-feira, 8 de julho de 2025
Festas de Verão, 2025
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Cuidar de nós
terça-feira, 1 de julho de 2025
Quinteiro, de quinto, originou quinta?
No livro “Portugal na Espanha Árabe”, de António Borges Coelho, na “II Parte – História do Andaluz, no subcapítulo “Partilha da terra entre os conquistadores” informa Ibne Mozaine de Silves:
«Conquistada Espanha, Muça […] dividiu o território da
península entre os militares que vieram à conquista, da mesma maneira que distribuíra
entre os mesmos os cativos e demais bens móveis colhidos como presa. Então deduziu
o quinto das terras e dos campos cultivados […]. Dos cativos escolheu cem mil
dos melhores e mais jovens e mandou-os ao emir dos crentes […], mas deixou os
outros cativos que estavam no quinto, especialmente camponeses e meninos
adscritos às terras do quinto, a fim de que o cultivassem e dessem o terço dos
seus produtos ao Tesouro Público. Eram estes a gente das planícies e
chamou-se-lhes quinteiros e a seus filhos, os filhos dos quinteiros.»
José Teodoro Prata
domingo, 29 de junho de 2025
Egitânia
Ando a ler o livro “Portugal na Espanha Árabe”, de
António Borges Coelho. Sobre a nossa Idanha-a-Velha, informa do seguinte, na “I
Parte – Geografia”, capítulo “O Garbe no século X pelo mouro Ahmede Razzi",
subcapítulo “Do termo de Egitânia”:
«O termo
de Coimbra parte com o de Egitânia. Egitânia encontra-se a oriente de Coimbra e
ocidente de Córdova. É uma cidade muito antiga, situada sobre o Tejo, forte e bem
dotada com um território bem provido de cereais, de vinhas, de caça e de peixes
e um solo fértil. Neste território há fortes castelos onde o clima é muito são,
tal como o de Monsanto, que é muito sólido; o de Arroches; o de Montalvão, que
se encontra no cimo de um monte muito elevado; o de Alcântara que é uma bela
localidade. Há em Alcântara uma ponte sobre o Tejo de que se não poderia
encontrar semelhante no mundo; o território desta vila é propício à criação de
gado, à caça e à criação de abelhas. De Egitânia a Córdova são 380 milhas.»
Notas: Neste
mesmo subcapítulo, Ahmede Razzi faz referência ao castelo de Ourique (Ereyguez),
no termo de Beja; Garbe designava o território ocidental do Andaluz (Espanha
muçulmana), o qual abarcava o território ocupado hoje por Portugal e ainda as
cidades de Badajoz e Mérida; o Garbe (Ocidente) foi encurtando com a
Reconquista, até ficar reduzido ao Algarve, topónimo que dele deriva; a
Egitânia era pois a cabeça de um grande território, entre os territórios de
Coimbra, Santarém e Beja (Évora pertencia a Beja); foto do interior da catedral
da Egitânia, com seus arcos em ferradura, da época em que foi mesquita
muçulmana (de https://www.minube.pt/sitio-preferido/catedral-de-idanha-a-velha-a3651823).
José Teodoro Prata
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Ó meu São João Batista
Acordei com um forte batuque e vozes de mulheres a cantar. Cheguei-me à janela e uma pequena multidão descia a rua, atrás de adufeiras, que cantavam e bailavam ao ritmo dos seus adufes.
São
João subiu ao céu
A
regar o seu jardim.
Trouxe
um cravo p´ra Sant´Ana
Outro
p´ra São Joaquim.
Vesti-me
à pressa, saí para a rua e misturei-me com as pessoas. O que é isto?,
perguntei. São as adufeiras de Penha Garcia, é uma homenagem à Ti Rita!, alguém
me informou.
São
João não tem capela
Venha
cá que la darei.
Tenho
cá cravos e rosas
E
outras flores buscarei.
Descemos
a rua e o cheiro a rosmano e marcela a arder sentia-se cada vez mais forte. Na
praça ardia uma grande fogueira e em volta um grupo fazia coro com o Manel
Ceguinho que tocava na concertina uma modinha do São João. As adufeiras e
acompanhantes juntaram-se a eles e depois todos se dirigiram para o pelourinho,
onde lançaram ginjas à rebatinha.
Esta
noite hei de ir às ginjas
Esta
noite hei de ir a elas – ai lindó.
Quem
as tiver que as guarde – ai lindó
Se
não ficará sem elas – ai lindó.
Fui beber
água à fonte de São João. Como estava linda, enfeitada com vasos de cabeleiras
brancas amareladas! Quem fez isto tudo? Como apareceram aqui? As crianças da
escola!, disseram-me. E os papelinhos com as quadras ao São João? Também foram
elas.
São
João lá vai lá vai
Ai se
lá vai, deixai-o ir.
Ai
qu´ele é menino mimoso
Ai
vai ao céu e torna a vir.
Desci a
Rua do Beco e, em frente à padaria, as filhas da Sr.ª Céu tinham trazido um cântaro para a rua, que rapazes e raparigas, em fila e de costas, lançavam à pessoa que
estava atrás de si. Além falhou e o cântaro caiu no chão e ficou em cacos. Risada
geral.
São
João era bom homem
Se
não fosse tão velhaco.
Ia à
fonte com três moças
E
vinha de lá com quatro.
Mais
animação no largo da Fonte Velha, também ela enfeitada com cabeleiras. Outra
fogueira ardia, enchendo o largo de fumo acre do rosmaninho e adocicado da
marcela. Rapazes saltavam as chamas, constantemente avivadas pelo guardião da
reserva de rosmano ali ao lado. Um tocador desceu a Rua da Costa, vindo lá do
alto de onde se avistava fumarada. Era o Zé Té-Té, com a concertina, que deu
voltas à fogueira com os rapazes e as raparigas a cantar e a bater palmas.
Para
o São João que vem
Já
não moro nesta rua.
Inda
não tenho casa
Menina
arrende-me a sua!
Depois
seguiu pela Rua Velha e eu segui os foliões. Ao fundo da Rua Nicolau
Veloso, mais animação, e na Fonte de São António juntámo-nos às adufeiras
acabadas de chegar. Os adufes e a concertina animaram um bailarico em frente à
casa do sr.º Manel da Silva.
Donde
vens tu São João
Donde
vens tão molhadinho?
Venho
do rio Jordão
De
regar o cebolinho.
O cortejo
voltou à Praça e, surpresa, já não era um tocador, eram muitos, cada um vindo
de um cruzamento de ruas, todos convergindo para o centro. Quem são? Porquê
tantos?, perguntei. São os da Carapalha e vieram recordar todos os nossos tocadores de
concertina.
No
altar de São João
Nasceu
uma cerejeira.
Qual será
a mais ditosa
Que lhe
colherá a primeira?
O arraial
de São João estava animado, mas eu regressei à minha rua, atraído pelo
cheirinho a sardinha assada do tradicional arraial organizado pelo Zé
Cavalheiro. Estavam os vizinhos todos, às voltas com sardinhas, pão e vinho, em
alegre cavaqueira. Na fonte havia vasos de manjericos. Passei-lhes a mão,
cheirei e fui ficando, sem pressas de voltar aos lençóis.
Do
São João ao São Pedro
Quatro
a cinco dias são.
Moças
que andais à soledade
Alegrai
o coração.
Notas:
1.
Não há
sincronia neste texto, pois cruzo nele pessoas e tradições de épocas
diferentes.
2.
Um dia,
poucas semanas antes do início da pandemia, reuni-me com o Carlos Semedo,
sugerindo-lhe a realização de algumas das nossas tradições do São João, no
Festival Água Mole em Pedra Dura, que se realizava no fim de semana próximo da
festa deste santo. Este texto é um pouco do que combinámos, mas ficou por
concretizar.
3.
As quadras
foram retiradas do livro Etnografia de S. Vicente da Beira, de Isabel Teodoro
José Teodoro Prata
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Sardinhada dos santos populares
E depois fazemos estas coisas!
Faltando-nos a orientação dos poderes, juntamo-nos e convivemos, em multiplas inicativas. Desta vez, a Comissão das Festas de Verão. É sinal de uma comunidade bem viva!
(ver publicação anterior).
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Afirmação
No tempo das presidências da Junta pelo meu primo Prata e pelo Vítor Louro, organizei passeios (não eram caminhadas) por São Vicente e
cercanias, mas sempre com uma organização mais que rudimentar.
Lancei e organizei a Rota da
Promessa, a cumprir o estabelecido por D. Afonso Henriques de ir todo o povo
uma vez por ano, em romagem ao Castelo Velho a relembrar a batalha da Oles e a
ajuda do nosso povo na vitória do exército português; isto em troca da criação
da povoação e do nome São Vicente. Não pegou.
Também organizei e lancei a ideia da Rota da Garça Real, em volta da barragem, rota fácil e igualmente linda, mas
também não vingou.
Numa das nossas festas de primavera,
organizada pela Câmara e Junta, esteve na Vila o meu amigo André Gonçalves, em
representação de Almaceda. Realizara de manhã um dos passeios, penso que o Por
cantos e recantos de São Vicente (o título era mais bonito, mas não me lembro). Falei-lhe
desse projeto e no ano seguinte nasceu o projeto acima apresentado, contando no
segundo ano com cerca de duzentos participantes. Vingou a ideia e tornou-se
marca.
Tivemos uma marca fortíssima, o
Festival Água Mole em Pedra Dura. Também a deixámos perder. E não me venham,
dizer que... Sarzedas não abandonou a sua marca de sucesso, Sarzedas Vila
Condal, mesmo quando deixou de ser uma organização conjunta da Câmara e da
Junta para passar a ser apenas da responsabilidade da Junta, como são todas as
que agora se realizam nas povoações do concelho.
Depois do tempo das infraestruturas
dos mandatos do Francisco Alves, Ernesto Hipólito e Pedro Matias, veio o tempo
do bem-estar. Já vamos na terceira liderança, nada se afirmou e continuamos em
queda desde meados do mandato do Vítor Louro.
Mas podia e devia ser diferente!
Nota: Também se organizaram caminhadas pela Gardunha, promovidas por outras pessoas e entidades (Gega, Junta...), mas nenhuma logrou vingar.
José Teodoro Prata