terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Desfile de Carnaval da Escola







Umas semanas antes do desfile de Carnaval da escola, começámos a preparar as máscaras com a professora Idalina, utilizando figuras do mundo mágico da Disney. Também fizemos molduras amarelas e enfeitámo-las com desenhos e recortes.
Quando chegou o dia do desfile (dia 23), ainda fizemos maracas com a professora Maria da Luz. Uma hora depois, saímos da escola, acompanhados dos meninos do Jardim de Infância e dos alunos mais velhos e andámos com as máscaras e as maracas até ao ringue. Aí metemos as molduras e ficámos muito giros!
 Começámos o desfile: fomos pela estrada até à Santa Casa, continuámos, passámos pela praça, pela pastelaria, pela piscina, até que chegámos de novo ao parque do ringue.
As mães e familiares acompanharam-nos sempre. A tia do Mário ia disfarçada de noivo abandonado e levava uma pistola de água. A mãe do Mário ia disfarçada de mecânico, levava um carrinho e papelinhos.
Foi um desfile cansativo, mas muito divertido!


Mário, Pedro e Zaza, 2.º Ano


Este é o Mário Silva que, no desfile concelhio deste domingo, em Castelo Branco, ganhou o prémio da melhor fantasia de Carnaval.
A trupe de São Vicente era formada pelos elementos do rancho, dos bombos...

Maria da Luz Teodoro

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Natureza limpa


O inverno pôs a descoberto mais um ninho de lixo dos madeireiros, desta vez no Carvalhal Redondo.
A Cáritas lançou, em Castelo Branco, uma campanha de recolha de plásticos para comprar uma cadeira de rodas a alguém necessitado, mas sem posses. 
Este lixo vai ajudar uma pessoa e ao mesmo tempo garante uma natureza limpa, que não comprometa a saúde das gerações vindouras.

Nota: Acabei de fazer (dos nossos) bolos da Páscoa. Uma delícia...

José Teodoro Prata

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Mudam-se os tempos

Hoje acordei com muitas ideias. Como o sonho comanda a vida, vou tentar colocá-las nos seus devidos lugares, cronologicamente falando.
Comecei por passar em revista as casas da nossa vila, como eram as habitações e como são nos nossos dias.
Passavam de pais para filhos, estes mantinham-nas tal qual as recebiam, medievas, a cheirar a mofo, com pouca luz, sem conforto, mas acolhedoras. Guardavam dentro de si recordações, histórias únicas; a luz bruxuleante da candeia, o candelabro, as velhas lucernas, a lamparina de azeite, tendo ao meio uma torcida que se mantinha acesa com a ajuda de um pequeno disco de cortiça com um furo ao meio de onde saía o pavio, iluminava o quarto, a sala… As nossas ruas possuíam em locais estratégicos candeeiros a petróleo. Assim que começava a anoitecer, um lanterneiro, escada numa mão, lata do petróleo na outra, acendia-os. “Já era bem bom”, como me contou um dia o senhor Zé coelhito.
Graças à eletricidade, tudo mudou. A noite escura desapareceu das nossas moradas e das nossas povoações, a pasmaceira que seria se ainda se vivesse assim. A energia eléctrica chega a todo o lado, os velhos artefactos foram substituídos pelas lâmpadas.
Eu sou a Luz do mundo, disse Jesus.
Não viviam somente as pessoas nas casas, as lojas eram ocupadas pelos animais que ajudavam nas lides domésticas, fossem vacas, burros, cabras, galináceos. Se a casa possuía mais que uma loja, a segunda destinava-se a guardar o vinho, a salgadeira, o azeite, as ferramentas… As paredes exteriores eram construídas com pedra granítica, miúda; por dentro, as divisões eram feitas de taipa, adobe; assoalhados de madeira… Cheiravam a mofo as casas dos nossos pais, mesmo assim eram acolhedoras.
A casa dos meus pais, da qual eu gostava bastante, certo dia foi totalmente derribada, só ficaram as paredes exteriores. Uns anos mais, o interior de outra casa medieva desaparece, julgo ter sido a pioneira no advir, morada da Maria do Ninho, casa grande feita de grossas paredes e taipa. Um dia chegaram pessoas vindas de fora, orientadas pelo pai do general Eanes, “construtor da obra” as madeiras foram substituídas por placas, vigas de cimento, o solar ficou irreconhecível por dentro, o cimento, o tijolo… começou uma nova era na edificação de edifícios
A vida na vila continuava a fazer-se como sempre se fez até aos anos setenta do passado século. As galinhas esgravatam as pedras da calçada, na esperança de encontrarem algum miolo, minhoca…; à porta das lojas as cordas que guiavam os burros eram atadas a argolas, as mulheres munidas de um caldeiro, onde iam as lavaduras e os restos de comida, desciam as escadas e limpavam a pia, despejando nela a vianda. Quando os porcos comiam bem, eram uma boquinha lavada.
Por vezes perdiam o apetite, a dona do animal ia à casa da pessoa que sabia tirar o mau-olhado. Feito o esconjuro, o porco voltava a comer, era um louvar a Deus. Por altura do Carnaval, os vicentinos ofereciam ao Santo António chouriças, nacos de toucinho, presunto, farinheiras, morcelas… O Chico Calmão empunhava o pau do santo e andava de rua em rua a pedir para o ramo de Santo António.
No princípio dos anos sessenta, Goa, Damão e Diu foram invadidas, ia sendo uma tragédia para os nossos soldados. Angola, Moçambique, Guiné; os mancebos partem aos milhares para as áfricas combater os “terroristas”. As feridas da segunda grande guerra ainda não estavam totalmente saradas na Europa, era preciso construir; voltar a reedificar estradas, pontes habitações… muitas famílias desapareceram do mapa, a Europa necessitava mão-de-obra. Portugueses, espanhóis, italianos… procuram uma vida melhor para si e os seus, grande parte dos trabalhos eram braçais, apesar de já existirem máquinas, a força do homem ainda imperava.
Partiam aos milhares a salto, passadores guiavam-nos até entrarem na terra prometida. Quando atravessavam as montanhas pirenaicas, em estreitas veredas cheias de perigos, se tivessem o azar de escorregar e cair precipício abaixo, iam parar ao rio e nunca mais… os outros seguiam cheios de frio, sujos…
Quando finalmente chegavam ao destino iam parar aos arredores da cidade onde se situavam os bidonvilles, barracas de lata cercadas de lama; os pioneiros viviam em condições péssimas, mesmo assim não desistiam, a vida aos poucos ia melhorando, ganhavam mais numa semana que em Portugal num mês, os trabalhos eram duros, verdade; valia a pena o sacrifício. As famílias juntavam-se, deixavam as barracas para viverem em habitações condignas, o sonho da casinha e da courela no lugar que os viu nascer tornava-se realidade. Só queriam ganhar dinheiro para construir a sua maison e adquirir um pedaço de terra. Os filhos crescem, fazem amigos, a palavra regressar não existia nos seus vocabulários. Havia o problema das guerras coloniais, mancebos fugiam a salto, as casas estavam construídas, olivais, courelas compradas. Foi passando o tempo, casaram os filhos, os netos surgiram e os pais, que só queriam realizar o sonho de terem uma linda casa, foram-se acomodando, a maior parte estão fechadas. É a vida.
Com o envio das remessas dos emigrantes, a construção civil progrediu, a paisagem medieva, rural, transformou-se.
As guerras coloniais não tinham fim à vista; 1974, militares milicianos protestam, o povo aproveita a boleia, surge a revolução do vinte e cinco de Abril.
Descolonização, mais de quinhentos mil desalojados portugueses abandonam haveres, terras, deixam tudo e regressam a Portugal.
Muitos nunca conheceram outra terra, Portugal era um lugar estranho; traziam experiência, conhecimentos, depressa se integraram na sociedade portuguesa, sangue novo foi injectado, floresceu o comércio, a indústria, a construção, o país aos poucos foi-se modernizando
Em 1985, Portugal assina o tratado de adesão à C.E.E., um ano depois entrava oficialmente. Todos os dias chegavam milhões de contos aos cofres. Auto-estradas, algumas quase paralelas, estádios, pavilhões… o dinheiro jorrava, os bancos emprestavam; “queres mil, leva dois mil” foi um fartar vilanagem.
Os valores especulativos dos bens caem, muitos bancos não aguentam a pancada e desmoronam-se, as casas desvalorizam drasticamente, a vida levou um tombo…
Portugal endividou-se, os empregos para toda a vida passaram a ser precários, a torneira foi-se fechando, muitas empresas abriram falência, o dinheiro fácil terminou. A sociedade actual é bem diferente da que era há meio-século atrás, as aldeias estão desertas, as cidades aumentaram a sua população, o perímetro urbano também, as vias de comunicação, os transportes, a saúde, a educação…tornaram-se realidades, a economia está nas mãos de empresas estranhas, a divida pública é enorme.
Os portugueses, povo forte e valente que sempre foi capaz de dar a volta por cima, um país que descobriu meio mundo, onde a língua de Camões é das mais faladas, um povo assim vencerá mais esta batalha.
As casas de outrora quase desapareceram das nossas aldeias, ainda há os resistentes que souberam preservá-las dando-lhes uma nova roupagem. Transformadas por dentro, acolhedoras, mantêm a traça exterior. Conserve-se o que ainda resta, há valores patrimoniais. Quando se esbarrondam, nunca mais se recuperam. Em vez de se esbarrondar, deve-se preservar, para que os nossos netos fiquem com uma ideia de como eram as habitações, as ruas estreitas e medievas no tempo dos seus avós.
O mundo é uma escadaria; sobem uns, descem outros, porque para trás mija a burra.
«Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida,
Que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.»
Rómulo de Carvalho

J.M.S 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Há que tempos...



Eu, O Povo 
(letra de Barnabé João/ Música de José Afonso e Fausto) 

"Eu, o Povo
Conheço a força da terra que rebenta a granada do grão
Fiz desta força um amigo fiel

O vento sopra com força
A água corre com força
O fogo arde com força

Nos meus braços que vão crescer vou estender panos de vela
Para agarrar o vento e levar a força do vento à produção
As minhas mãos vão crescer até fazerem pás de roda
Para agarrar a força da água e pô-la na produção
Os meus pulmões vão crescer soprando na forja do coração
Para agarrar a força do fogo na produção

Eu, o Povo
Vou aprender a lutar ao lado da Natureza
Vou ser camarada de armas dos quatro elementos

A táctica colonialista é deixar o Povo ao natural
Fazendo do Povo um inimigo da Natureza

Eu, o Povo Moçambicano
Vou conhecer as minhas grandes forças todas."

José Teodoro Prata

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O tocador de realejo

Nasci e vivi no Casal da Fraga até aos 20 anos. Só de lá saí para ir para a tropa. Era muito amigo do teu tio João e do que toca reco-reco no rancho. Andávamos sempre juntos!
Nos anos 50 e 60, a malta da Vila ia toda para o Casal, ao bailarico. Era na taberna do Marcelino e adivinha quem era o tocador? Eu, a tocar realejo. Tudo a dançar, menos eu, que nem cheguei a aprender. E jogávamos à malha, naquele chão de terra em frente à taberna.
Depois fui para a tropa e tirei a especialidade de condutor. Já sabia que me mandavam para o Ultramar. Em Santa Margarida até esperavam que nós acabássemos a formação em Coimbra para depois irmos para a guerra.
No dia em que abalei, subi o caminho da ribeira e parei lá no alto. Virei-me e olhei para o Casal e depois passei os olhos por todo o vale até à Senhora da Orada. Não sabia se voltava a ver aquilo tudo.
A viagem para Angola demorou 12 dias. À chegada não nos deram de comer e fui mais um da Soalheira a um bar do porto comer umas sandes e comprar tabaco. Depois fomos de comboio para um quartel nos arredores de Luanda. Era tudo tão feio! Durante uns dias ainda senti o corpo para cima e para baixo, como se continuasse no baloiço do mar.
Ao segundo dia, o capitão avisou-nos: amanhã estão no mato, a qualquer momento podem ter o inimigo à vossa frente! Não largávamos a arma e o cinto com 100 balas, nem para comer! Aquilo pesava, mas depressa nos habituámos.
Nunca dei um tiro em combate, só alguns num campo de tiro, para a experimentar. A certa altura começámos a ouvir tiros e viemos embora, pois os inimigos estavam lá no alto a ver-nos. Mas nunca nos atacaram. Talvez por causa do Alferes Coelho. Na altura não sabia nada, ele era um como os outros, mas tinha de certeza um pequeno grupo de amigos com quem conversava.
Muitos anos depois de voltar, procurei o pessoal do meu batalhão na internet e encontrei logo o Alferes Coelho. Eu só o conhecia por esse nome, mas fiquei a saber que se chamava Mário Brochado Coelho e que tinha tido muitos problemas com a Pide, logo na Universidade. Aliás, foi mandado para o Ultramar de castigo e lá a Pide fazia um relatório dele todos os quinze dias. Ele nunca escreveu nenhum aerograma, pois sabia que lhos abriam logo. Mandava cartas para Luanda, pelos motoristas brancos que lá iam. Ele era advogado e defendeu muitos presos políticos. Escreveu isto tudo num livro que já estava esgotado, mas eu andei, andei e consegui comprá-lo. Quem mo trouxe do Porto foi um rapaz de Vila das Aves que estuda cá informática.
Ele fala de mim no livro. A certa altura escreve que está sentado na secretária a olhar pela janela para a palmeira. E que está guardado por dois soldados, o Espanhol e o Russo. Ele chamava-me Espanhol e ao outro chamavam Russo, não sei porquê. Escreveu que éramos um batalhão muito internacional, até lá tínhamos tido um Americano (tinha a mania de falar inglês), mas que já tinha sido mandado para outro lado.
O nosso quartel ficava a 120 quilómetros e a melhor coisa que fazíamos era ir a Luanda buscar cerveja. Na floresta aquilo era perigoso. Conduzia uma viatura enorme com para-choques largo de ferro carregado com sacos de areia. E a toda a volta a mesma coisa. Até debaixo dos pés tinha sacos de areia, para não irmos pelos ares se rebentássemos uma mina. Por duas vezes não morri por pouco, valeu-me Nossa Senhora.
Depois estive bastante tempo em Nova Lisboa, mas lá não havia guerra. Era tudo normal, uma cidade como aqui. Curioso, nunca me lembro dos tempos que lá passei, só dos que vivi no mato.


José Teodoro Prata

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O caldudo

O castanheiro é uma árvore de grande porte e longevidade que se cultiva em muitas regiões do Mediterrâneo. Até aos meados do século XX, em muitas regiões beirãs e transmontanas, existiam enormes soutos. Os nossos pais saíam da vila em direcção à Senhora da Orada, levavam uma saca ou uma cesta e iam apanhando as castanhas que caiam para o caminho; “tal a quantidade de castanheiros que havia”. Na serra existiam enormes exemplares. Os fogos, a doença da tinta… exterminaram a maior parte dos soutos na região de São Vicente da Beira.
Durantes séculos, a castanha era um dos alimentos principais dos povos que habitavam as zonas serranas.
Com a chegada dos espanhóis aos países andinos descobriram um tubérculo “batata” que aos poucos foi destronando a castanha.
As castanhas eram as nossas “batatas”, podem-se comer cozidas, assadas, adocicadas…
Os nossos pais e avós faziam um pitéu muito apreciado, nos nossos dias quase completamente esquecido. Caldudo era o seu nome.
Para se fazer um bom caldudo, são necessárias castanhas piladas. A castanha era colocada em caniços “varas que se estendiam por cima da lareira paralelas umas às outras com uma distância de cerca de um centímetro”; deitavam-se as castanhas em cima das varas, espalham-se e iam secando com o calor da chama.
Depois de secas, tirava-se a pele e guardavam-se em bolsas de pano.

Perguntei à minha mãe como se faz o caldudo:

Para se fazer um bom caldudo, as castanhas têm que estar bem secas.
Põem-se de molho de um dia para o outro, depois tiram-se algumas peles que ainda tenham, coloca-se água num tacho com um pouco de sal, deitam-se as castanhas lá para dentro e deixam-se cozer.
Com uma colher e um garfo, vemos se já se esmagam. Quando se esmagarem, estão cozidas.
Havia quem gostasse de esmagar as castanhas todas; a tua avó deixava sempre algumas inteiras…
Despejamos a água que ainda se encontra no tacho e colocamos o leite juntamente com o açúcar. Deixamos ferver lentamente e vamos provando.
Quando punha o leite e o açúcar, gostava de deitar um pouco de canela e uma casquinha de limão. Ficava mais saboroso, havia quem não pusesse.
E se não tivermos castanhas piladas, pode-se fazer com castanhas normais!
Pode, mas não é tão bom.
Se o caldudo for feito com castanhas “verdes”, antes de se porem no tacho a cozer não esquecer de fazer um corte na castanha, se não se fizer começam a inchar e desfazem-se. Depois de cozidas tira-se a casca…

José Manuel anotou, a explicação foi dada por sua mãe Maria da Trindade, no dia 21 de Outubro do ano 2016, no Lar da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira, sua vila Natal.


J. M. S.