Ana Patrício e José Teodoro
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para dosenxidrosgardunha@gmail.com
terça-feira, 31 de outubro de 2017
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Ilustríssimos
A pequena Maria Luciana foi batizada na nossa Vila, a 4 de junho de 1826, tendo como madrinha Nossa Senhora da Conceição. Pais e avós pertenciam à mais fina flor da sociedade portuguesa. Naturais de Coimbra, Lisboa e Reino de França, o pai da Luciana era juiz de fora de São Vicente da Beira, onde dava os primeiros passos de uma carreira pública em que ambicionava atingir o cume, como o pai dele e o sogro: desembargador do Paço, um, e do Senado o outro.
José Teodoro Prata
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
O nosso património
As
comunidades não podem dissociar-se do passado, mas também não podem e não devem
parar no tempo. Quero dizer com isto que a vida é como uma moeda, tem duas
faces.
O
homem maduro, depois de obter a sua reforma. deve aproveitar o tempo que ainda
tem de vida para transmitir aos mais novos valores e conhecimentos que foi
adquirindo ao longo do tempo. A memória de alguém considerado idoso nunca pode
ser igual à memória de uma pessoa jovem. Os neurónios vão-se perdendo, a
memorização é diferente, enquanto alguém jovem apreende algo com uma facilidade
tremenda, a pessoa idosa muitas vezes vê-se e deseja-se para captar
determinadas matérias, nomeadamente disciplinas que requeiram concentração,
aprendizagem.
Sendo
assim, suponho que cada geração terá muito para oferecer à outra. As gerações
mais antigas podem e devem transmitir ensinamentos vividos e experienciados à
medida que os anos foram passando. Ensinar aos mais novos saberes que de outra
maneira se perderão para sempre, a partir do momento em que se corte o fio
ténue que nos une à vida.
Entre
a vida e a morte, o espaço que medeia estes dois momentos é tão pequenino, tão
curto, basta um esticãozito, o fio parte-se e tudo termina para este
mundo.
Sou
daqueles que acredita que não morreremos. O corpo, sim; o espírito jamais, pertence
ao Criador.
Já
estou a entrar por um caminho que não é aquele que quero apanhar hoje;
portanto… Adiante.
Idoso
ou não; todos temos muito que aprender uns com os outros, mas cada geração tem
o seu tempo.
Este
pequeno intróito tem a ver com o tema que vou explanar.
Estava
eu sentado num dos cais da nossa praça a ouvir o som da aparelhagem cujos
altifalantes iam debitando decibéis incomodativos, (música de arreda cão, para
mim), quando ao meu lado se sentou
uma simpática idosa. Depressa veio à baila o passado.
Tínhamos
que falar um tom acima do normal, o barulho ensurdecedor dos altifalantes…
-
Olha Zé, uma parte da minha casa ainda está tal e qual como era no tempo do
Hipólito Raposo, os sobrados e os tectos em castanho, são daquele tempo…
-
Qualquer dia, vou lá, se me deixar, claro.
-
Quando quiseres.
José
Hipólito Vaz Raposo nasceu no dia 12 de Fevereiro 1885, numa casa situada na rua
Velha, nº 47, na vila de São Vicente da Beira; não teve uma vida muito longa
pois, no dia 26 Agosto do ano 1953, faleceu em Lisboa; tinha 68 anos.
Era
filho de João Hipólito Vaz Raposo e Maria Adelaide Gama. Aos 17 anos entrou
para o seminário da Guarda, “influência
do seu irmão padre Domingos Vaz Raposo com certeza”.
Na
Guarda permaneceu dois anos, 1902/1904; depois entrou no liceu de Castelo
Branco e mais tarde partiu para Coimbra, onde se formou em Direito, 1911.
Não
me vou alongar mais com a sua biografia, o José Teodoro e outros já a
esmiuçaram amiudadamente.
No
passado mês de Setembro, desci a rua da Cruz, bati à porta da senhora Maria de
Jesus, que amavelmente me convidou a entrar. Ao fundo das escadas encontra-se
uma porta que dá acesso a três lojas onde guarda utensílios de lavoura, pipos,
tanque para o vinho… Subi, ao cimo das escadas, à esquerda, entro numa sala
repleta de recordações da sua família: quadros, fotografias dos antepassados… O
que imediatamente me chamou a atenção foi um Menino Jesus de Malines!
A
senhora Maria de Jesus falava, explicava e apontava.
-
Olha aqui ó Zé, para esta moldura: São
José, Menino Jesus e o São Roque; aquele quadro além é a Senhora dos Milagres, tem os milagres em toda a volta”.
-
E este Menino Jesus, perguntei.
-
Foi-me dado pela minha madrinha e tia Maria de Jesus; era irmã da minha mãe,
viveu 40 anos em Lisboa. Olha, tem dá réis
e tudo.
A
sala está igual ao que era no tempo do senhor João Raposo, o pai de Hipólito
Raposo.
-
É a sala de jantar, nunca cá comi nenhum jantar ou almoço.
-
Quer dizer, que aqui comeu muitas vezes Hipólito Raposo.
-
Com certeza.
-
Estas portas que dão acesso aos quartos, são as portas originais?
-
Isto não tinha portas; as cortinas fui eu que as pus. O sobrado e o tecto são
todos de castanho.
Entrei
nos quartos.
-
Terá sido neste quarto que nasceu Hipólito Raposo, é o maior. - diz a senhora
Maria de Jesus.
Fotografei
e seguimos.
Antes
de sairmos da sala, apontou para as portas de uma janela que dá para a rua.
-
Ó Zé, repara nestas portas, ainda entram num buraco que as segura, as da outra
janela já são modernas.
Ao
entrarmos no corredor disse-me: - Dava acesso à cozinha, a minha tia tapou a
porta, antes via-se logo a porta da rua.
-
Esta é a cama onde morreu a minha tia Resgate (catequista, zeladora da igreja).
Na
parede de outro aposento, um relógio de sala me chamou a atenção: - É muito antigo!
-
Se é, se é… já disse ao meu neto para mo por
aqui mais baixo para lhe dar corda; tem um defeito, quando começa a dar horas,
quando dá uma, temos que contar logo duas, parece que está a tocar ao fogo;
bam…bam…
-
Daqui para lá era à telha vã, e não era tão larga, tinha uma porta para o
quintal que já era velha, foi o meu homem que aumentou isto, não tinha aquele
quarto que é o meu. Aqui havia uma porta, repara nos buracos e no rasgo, era
para porem a tranca. O meu homem é que a tirou, porque era muito velha, aqui
era tudo à telha vã, era aonde a
minha avó tinha o tear; era tecedeira, esta sala não era tão larga, era mais
estreita. A minha avó chamava-se Josefa.
Entrámos
na cozinha, imediatamente a senhora Maria de Jesus apontando para o chão
dizendo.
-
O lar era aqui no meio, o Zé companhia
é que fez além a chaminé, o meu homem alargou para aqui a cozinha. As pedras do
lar eram iguais àquelas (ardosias que se encontram na soleira da antiga porta)
Olha, aqui está a dita porta que dava acesso ao corredor…
Entrei
no seu quarto, um cruxificado e várias imagens em cima da cómoda.
-
Uma vez cai agarrei-me à comoda, caíram os santos todos que estão em cima do
móvel; este Senhor que está além é muito antigo, ficou-me em cima do colo
atravessado, intacto; foi um milagre do Senhor Santo Cristo.
A
tarde já ia adiantada, tinha que ir regar as couves. Agradeci à Senhora Maria
de Jesus toda a atenção que me dispensou.
Com
os seus noventa anos, continua a ter uma memória invejável. Saí mais rico,
porque estive no lugar onde nasceu e viveu durante a sua meninice o escritor vicentino
doutor José Hipólito Vaz Raposo.
Corredor; ao fundo existiu uma porta que dava acesso à
cozinha.
Um batente
entra num buraco na parte superior; estas portas não
tinham ferragens.
Tecto da sala todo em castanho
Cabides
Quarto onde terá nascido Hipólito Raposo.
O sobrado é todo de castanho, diz a senhora Maria de Jesus.
J.M.S
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terça-feira, 24 de outubro de 2017
Ruralidades
Milho na eira, em frente da casa que foi do sr.º Joaquim Guilherme
(se as minhas recordações de infância não me enganam).
Tufo enorme de juncos, ao fundo da Oriana, onde começa a barragem do Pisco
Esta garça-real não é a nossa. Essa vê-la-emos no dia 12 de novembro,
durante o passeio pedestre do São Martinho, em torno da barragem do Pisco.
José Teodoro Prata
domingo, 22 de outubro de 2017
A vez da ciência
Perante tanta igorância e tanto oportunismo face os fogos, vale a pena ouvir a voz da ciência. É uma medida higiénica, para limpar a poeira que anda no ar. Como a chuva desta semana que passou: soube tão bem voltar a respirar ar puro!
Ler em: https://www.dn.pt/portugal/interior/ha-aqui-uma-falha-na-governacao-do-pais-8863573.html
José Teodoro Prata
Ler em: https://www.dn.pt/portugal/interior/ha-aqui-uma-falha-na-governacao-do-pais-8863573.html
José Teodoro Prata
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sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Boas práticas
Habitantes
juntaram-se para manter terrenos limpos em Vila de Rei
Vítor Fernandes diz que população
decidiu agir em vez de esperar pelo Estado.
Cansados de esperar pelo Estado e da
aflição anual perante a chegada dos incêndios, os habitantes da aldeia de Monte
Novo criaram um grupo para identificar e limpar as terras.
Em Monte Novo, uma pequena aldeia do
concelho de Vila de Rei, a ameaça dos incêndios deste verão levou um conjunto
de habitantes a agir. "Quando estava tudo a arder em Pedrógão Grande, as
pessoas ficaram com medo que chegasse lá e mobilizaram-se todas. Andava tudo a
limpar os quintais com medo que o fogo chegasse", recorda Vítor Fernandes.
Foi nessa altura que o assistente de parque de estacionamento falou com os
vizinhos para que se juntassem e garantissem que os seus terrenos estavam
limpos o ano inteiro, de forma a que não andassem aflitos sempre que as chamas
espreitam.
"Percebi que eles já tinham falado
disso. Marcámos uma reunião, fortalecemos a nossa ideia, andámos com fitas
métricas a ver quantos metros era obrigatório limpar à volta dos terrenos. Já
temos tudo identificado, agora estamos a espalhar a ideia, a falar com os
proprietários das terras em volta da povoação." O que este grupo de dez
moradores de Monte Novo, na freguesia da Fundada, pretende é que ou os
proprietários limpem os seus terrenos ou que aceitem pagar pelos seus serviços
e eles certificam-se que as limpezas cumprem as normas legais.
Caso contrário, "quando houver um
incêndio, se for preciso, pegamos numa máquina e limpamos tudo, mesmo sem
autorização, porque não podemos é arriscar a segurança das nossas casas",
alerta Vítor Fernandes.
Apesar de viver em Lisboa, o mentor
desta ideia continua a ir à sua terra natal e mantêm bem presente a necessidade
de cuidar dos terrenos para que os incêndios não sejam piores. E já há algum
tempo que junta dinheiro - "como um condomínio na cidade" - para
tratar da limpeza das terras que mantém. O princípio para a limpeza da aldeia é
o mesmo que Vítor e os vizinhos aplicam com as suas terras: "Impusemos que
se tivermos alguma despesa a limpar terrenos dos outros, vamos custear isso e
juntamos dinheiro para isso. Toda a gente, com um euro por dia limpa o país
inteiro", defende.
Começaram pelos terrenos do interior da
povoação, que são propriedade dos dinamizadores do grupo, e agora fizeram o
levantamento dos terrenos que a envolvem. "Nas terras mais pequenas toda a
gente acaba por saber quem é o dono de cada bocadinho e torna-se mais fácil
chegar ao contacto com eles". Essa é uma fase que já passou e basta agora
terem uma autorização dos proprietários para fazerem a limpeza preventiva a que
se propõem.
Estes habitantes de Monte Novo acreditam
que a sua iniciativa pode ser um exemplo para que outras zonas do país se
mobilizem. "Temos de fazer alguma coisa e não podemos só empurrar para o
governo. O problema no momento é de todos."
Vítor fala até com a experiência de quem
já tinha lançado o desafio à autarquia de que se criasse um mecanismo que
obrigasse a cumprir a lei da limpeza dos terrenos. Na altura, tinha em mente
fazer desta atividade um negócio, mas quis garantir que iria haver quem
cumprisse a lei e precisasse de serviços como os seus. "A resposta foi de
que era difícil fazer cumprir a lei porque as pessoas não gostam de ser pressionadas",
lamenta.
Agora aos 60 anos, quer apenas manter um
grupo ativo de voluntários e conta com o apoio da autarquia para executar a
ideia. O executivo local está disponível para emprestar as máquinas necessárias
ao corte das árvores. Com a chegada das chuvas, Vítor e os amigos vão voltar a
contactar os donos dos terrenos que precisam de ser limpos para "chegarmos
a uma conclusão: ou eles limpam ou avançamos nós".
Diário de Notícias
Esta notíca interessa-me especialmente, quer pelo conteúdo, quer porque vivi 6 anos na Fundada e tive vários alunos do Monte Novo.
Nos comentários que se seguiam ao texto online, muitos escreveram que eles não fizeram mais do que a sua obrigação, pois não compete ao Estado limpar propriedades particulares. É verdade, muitas vezes a culpa que atribuímos ao Estado serve apenas para disfarçar a nossa inatividade. Mas este projeto é muito mais do que isso!!!
José Teodoro Prata
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Obrigado
Nesta semana em que tomam posse os autarcas eleitos nas últimas eleições, não posso deixar de agradecer ao ex-vereador da Cultura da Câmara Municipal de Castelo Branco, Fernando Raposo, pelo excelente trabalho realizado, no concelho em geral e na nossa Vila em particular.
Sei que atuou sempre em nome do presidente da Câmara, mas foi meritória a sua dedicação a uma área que lhe é querida e em que tem larga experiência: a Cultura. Com ele, Castelo Branco teve pela primeira vez uma política cultural com cabeça, tronco e membros.
Ouvi vários elogios de terceiros e, quanto a nós, foi extraordinário o apoio que nos deu nas apresentações do livro Dos enxidros aos casais... e na oferta dos livros à Misericórdia. Também na criação do Museu de Arte Sacra terá tido um papel importante.
O meu obrigado!
José Teodoro Prata
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