sábado, 11 de agosto de 2018

Estar onde não estou



Encontro-me na praça, passa a multidão
mas estou só
deambulo para este ou aquele lado
ninguém me presta atenção
Sinto-me sufocado
gestos, sorrisos e eu sentado
só; grande é minha solidão

As gentes andam passo apressado
pego no megafone e gesticulando
falo para as pessoas que vão passando
estou aqui, qual miasma pasmado
passante olha com desdém mofando
carros rolam, buzinam e vão andando
Tanto movimento, mas estou só

Que saudades da minha terra
não há correrias, nem multidão
ouço as avezinhas, piu, piu…linda canção
A brisa sussurrante e o verdor da serra
água cristalina, pura, corre em cachão
o rebanho pasta no prado e ladra o cão
Quem me dera lá estar… quem me dera

À noitinha ao toque das trindades
as chaminés fumegando
com este ou aquele vou falando
ritual de todas as tardes
O pai-nosso, vou rezando
as pessoas à fonte vão chegando
convivem, falam…que saudades

Zé da Villa

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Festas, terça à noite






Os poetas e a fadista.




O rancho e o povo.


A banda. Muito jovem!

A prata (o ouro) da casa. Soube bem estar e pertencer.

José Teodoro Prata

sábado, 4 de agosto de 2018

Lugares aonde se torna – com carinho


A menina dança? E o menino?

Tem os seus riscos passar por estes Enxidros. Não é novidade, todos o sabemos; sabem-no os amigos de Alex que aqui arcam com a despesa.
Reputações firmadas, inquestionavelmente boas, já eu vi, por esta via, pouco menos que arruinadas. Desde já, de quem escreve: o bom do Pachorra, Jesus numa clandestinidade de há anos, atazanado precisamente por tal veleidade; ou o Francisco, que andou para pastor de almas e a prazo conheceremos como pastor a sério, entrementes castigado por a piscina na serra ser apenas um tanque, por sinal bem pequeno; ou a Maria Libânia, de quem um dia se saberá por quantas expulsões do seminário foi responsável; ou o Hipólito, o Teodoro do Casal e a Gramunha, há um tempo mudos e sossegados; mesmo o Santos, o incensado poeta, a quem se teima em vilipendiar pelo tom profético da frequente invocação do Pai; e o Barroso e o … Estes, enfim, tenham lá paciência, pensassem antes, aguentem-se, não se metessem nisto. Mas há os outros, inocentes apenas nomeados nestas prosas, a propósito de um dito, de uma maneira de ser ou uma acção, maltratados por terceiros, desapropriados da sua intimidade, a vida devassada – baste como exemplo terem feito a vida negra (forma de dizer) ao Zé Miguel, de quem aqui se revelou uma secreta tatuagem.
Seja, é um risco, pois, a exposição nos Enxidros.
Isso explica (será?) que em terra de tão frescas águas, notabilidades várias e sumidades como poucas, o que se deseja é que a praça seja praticamente um clube privado, com vista do exterior (o Santos teria escrito, neste passo, «tantos chamados, tão poucos comprometidos!») Que se percebe, pois – o tal risco de não se poder beber um café sem ser importunado. Para vossências entenderem: num café, na Vila (continuamos com esta presunção, talvez morra connosco), em modo soprano, atira-me à queima-roupa a Maria, lá de trás do balcão: «Ouve lá» (provavelmente éramos conhecidos) «então tu é que és o Baldaque?» Assim. Um pecador fica estarrecido, não é verdade? Outra: o Zé Miguel (ele outra vez), desafiado, em plena praça, a mostrar o sítio secreto onde tem tatuada a imagem da antiga namorada. Ali naquele sítio, na nossa Praça? Já não há respeito pelo lugar, pelo dr. Raposo? Intimado daquela forma? Poupem-me!
E, no entanto, não há razões para se ficar inactivo, que o risco não é de morte de homem.
Hora de fechar isto, que não é mais que um convite à dança, um sinal subtil para que o leitor ou leitora levante o rabo da cadeira, se junte aos amigos de Alex e dê corpo à festa da partilha, pela escrita, indiferente às mães, tias e conhecidas (sentadas à volta da sala, dignas, serenas, sobretudo zeladoras) e nas tintas para pais, tios e conhecidos (ocupados na sueca, fiéis do Camilo Alves, da Central de Cervejas ou, agora, do Facebook).
À dança, pois, que se dá um queijo da Soalheira, comprado na Paula Rola, a quem aqui trouxer as razões da professora desesperada que descolou, puxando-a com elegância, a orelha direita do Luís. Um bocadinho.

Sebastião Baldaque

sexta-feira, 3 de agosto de 2018