sexta-feira, 3 de maio de 2019

Os sanvicentinos na Grande Guerra


Alberto Carlos das Neves Castro



Alberto Carlos das Neves Castro nasceu em São Vicente da Beira, no dia 10 de Outubro de 1870. Era filho de Joaquim Urbano das Neves e Castro, natural da Pampilhosa da Serra, e de Maria da Piedade e Castro, natural do Fundão. Aquando do nascimento do filho, Joaquim Urbano estava colocado em São Vicente da Beira, desempenhando o cargo de Presidente da Comissão Administrativa da Misericórdia.

 

Alberto Carlos alistou-se, como voluntário, no Regimento de Infantaria 16 de Lisboa, e foi incorporado no dia 29 de novembro de 1988. Serviu no efetivo durante cerca de 5 anos, até 1893.
Em 1891 era soldado aspirante a oficial da 10.ª Bateria de Artilharia do Regimento de Artilharia n.º 1, em Campolide, e concluiu o curso de Mecânica e Análises, na Escola Politécnica (é interessante referir que, após a conclusão deste curso, Alberto Carlos fez um requerimento a solicitar que lhe fosse abonado o vencimento de 500 réis a que teria direito, pela formação académica e profissional). Em 1893, após ter concluído também o curso da Armada de Artilharia, foi promovido a 2.º Tenente. Em outubro de 1895, passou à Brigada de Artilharia de Montanha.
Foi promovido a 1.º Tenente e requisitado pelo Ministério da Marinha e Ultramar, para desempenhar uma comissão de serviço no Estado da Índia, para onde partiu a 3 de janeiro de 1896. Regressou em abril de 1898, sendo colocado no Regimento de Artilharia n.º 6.
Foi novamente destacado para o Ultramar e embarcou para a província de Moçambique, no dia 31 de dezembro de 1898. Regressou em agosto de 1899 e voltou ao grupo de Baterias de Artilharia de Montanha.
Em fevereiro de 1902, foi novamente requisitado para uma comissão de serviço no Estado da Índia, onde foi nomeado comandante interino da Bateria de Artilharia e depois comandante interino das secções de Artilharia de Montanha da Bateria Mista. Foi depois colocado na secção de Artilharia de Guarnição da mesma bateria. Regressou ao reino, em 1906, e esteve internado no hospital, por vir doente com febres palustres e hepatite.
Em agosto de 1908, foi promovido a Capitão. Estaria nessa altura em Lagos. Lecionou os cursos de habilitação para 1.º Sargento, em 1908 e 1909, e no ano de 1912 foi nomeado diretor da Escola de Sargentos; estava colocado no Regimento de Artilharia n.º 5, em Viana do Castelo, onde terá permanecido até 1915.
Fazendo parte do CEP, embarcou para França, no dia 14 de julho de 1917, como Comandante do Depósito Misto do Regimento de Artilharia n.º 3, com o posto de Major. Em fevereiro de 1918, foi promovido a Tenente-Coronel para o 1.º grupo do Regimento de Artilharia 3.
Regressou a Portugal, em fevereiro de 1919, e foi nomeado 2.º Comandante do Regimento de Artilharia 3. Em 1922, foi promovido a Coronel e colocado na disponibilidade, mas continuou no lugar, em comissão de serviço. Foi nomeado Comandante, em março de 1926, e em julho de 1928 passou a ocupar o cargo de Subdiretor da Direção Arma de Artilharia, passando depois a Inspetor Interino.
Em setembro de 1929, passou à situação de reserva, tendo-lhe sido atribuído o diploma de engenheiro civil do Exército, pela ordem de serviço n.º 3 - 2.ª Série, de 10 de fevereiro de 1933. Passou à situação de reforma, por ter atingido o limite de idade, em 27 de outubro de 1937.
Louvores e condecorações:
  • Medalha de Prata Rainha D. Amélia, concedida pela expedição à Índia (1895);
  • Medalha Militar de Prata da classe de Comportamento Exemplar (1903);
  • Medalha comemorativa da entrada em campanha em França;
  • Comendador da Ordem Militar de Avis (1919);
  • Medalha da Vitória (1919);
  • Distintivo especial da Cruz de Guerra de 1.ª Classe (1919);
  • Louvado «pelo zelo e superior critério com que exerceu o lugar de subdirector da Direcção da Arma de Artilharia» (1928);
  • Louvado «pela maneira criteriosa e muito interesse que sempre manifestou no desempenho do cargo de Inspector Interino da 2.º Inspecção de Artilharia»;
  • Condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Avis (1931). 



Família:
Alberto das Neves e Castro casou com Amélia Cândida da Silva Vidigal, em 12 de junho de 1897, e tiveram 5 filhos:
  1. Acácio Vidigal das Neves e Castro (nasceu em junho de1898);
  2. Artur Vidigal das Neves e Castro (junho de 1990);
  3. Alfredo Vidigal das Neves e Castro (agosto de 1902);
  4. Alice Vidigal das Neves e Castro (maio de 1909);
  5. Albertina Vidigal das Neves e Castro (março de 1913).
Não foi possível encontrar informação acerca dos restantes filhos, mas sabe-se que Acácio Vidigal das Neves e Castro, o filho mais velho, também seguiu a carreira militar. Alfredo Vidigal das Neves e Castro, o filho do meio, foi médico veterinário e professor catedrático da Escola Superior de Medicina Veterinária. Exerceu também cargos políticos no governo de Salazar, ligados à agricultura e pecuária, e foi presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários.
Alberto Carlos das Neves e Castro faleceu na freguesia de Arroios, em Lisboa, no dia 27 de outubro de 1957. Tinha na altura 87 anos de idade e a patente de Coronel de Artilharia.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.

domingo, 28 de abril de 2019

Apicultura


Em fevereiro fui à Central Meleira, situada na Zona Industrial de Castelo Branco, e forneci-me dos utensílios necessários para a apicultura, além de ter ouvido bons conselhos da técnica que me atendeu. Depois contactei o Vale do Rosmaninho, uma empresa do Cebolais de Cima que se dedica à apicultura em grande, com  a multiplicação de enxames e a produção de rainhas para venda (ver na internet). Na primeira semana de março fui lá buscar dois enxames. Gastei em tudo perto de 500 euros, que, segundo a técnica referida, são recuperáveis em 3 anos, se eu multiplicar os enxames.
Como os enxames vinham fracos, durante o primeiro mês alimentei-os artificialmente (água, açúcar, sumo de limão e um pouco de sal (ver na internet)), para permitir que as abelhas se dedicassem à criação em vez de terem de andar por fora à procura de comida (conselho de quem mos vendeu). 
Em meados de abril, os enxames já estavam fortes e coloquei agora as primeiras alças (caixas superiores destinadas a armazenar o mel, que eu lhes roubarei lá para julho ou agosto). Uma colmeia enxameada produz entre 20 e 25 quilos de mel, porque nós colocamos a cera, dispensando as abelhas de a produzirem (em cada enxame já usei 20 folhas de cera; se as abelhas tivessem de produzir a cera, teriam de comer 6 quilos de mel para fabricar cada folha).
A natureza está a recuperar do fogo de há dois anos e já abundam os matagais, agora floridos. Daqui a uns anos será pior, pois o incêndio multiplicou por muitos os eucaliptos e sobretudo as mimoseiras, autênticas pragas que vão tapar todo o solo em certas zonas da encosta da Gardunha.
Temos vegetação, calor e água, os três pilares da apicultura. E não temos agricultura intensiva, uma vantagem pela fraca ou nula presença de pesticidas, invisíveis, mas que se colam em tudo e nos dão cabo da saúde.
É assim o mundo fascinante das abelhas!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de abril de 2019

25 de Abril


Nos primeiros tempos, está canção, tão simples, quase demasiado simples, foi para mim sinónimo do 25 de Abril.

José Teodoro Prata

sábado, 20 de abril de 2019

Boas Festas

O Pe. José Cortes é um missionário do Verbo Divino. Nasceu em Janeiro de Cima (foi batizado pelo Pe. Branco) e trabalha há dezenas de anos na Amazónia, Brasil.
O texto que se segue é de sua autoria. Nele descreve as memórias que guarda das Boas Festas na sua terra natal (tão iguais às nossas).


 Páscoa
O dia amanhecia com aquele ar de festa: casa lavada e cheirando a lixívia e sala arrumada. Aquela sala da casa que a gente até esquecia que existia, e que sempre estava arrumada. Quando sobrava algum dinheiro se compravam aquelas mobílias de século, cadeirões altos, planta de interior, pratos de faiança e talheres que nunca se usavam.  Ali reinava a ordem e o silêncio.
Mas naquele dia a mesa da sala era coberta pela toalha branca, o Senhor era colocado sobre ela, assim como os copos, as faianças, os doces, as amêndoas, o vinho do Porto... Vestia-se a roupa das festas e se olhava a escada e a porta da casa. Ali estavam os fetos a embelezar a entrada e a escadaria. Tudo pronto.
- Olha já tocou à segunda, depressa. Daqui a pouco toca a última e ainda não estão arrumados? Depressa. O senhor Prior já passou e o Tia Preciosa já deve estar a acabar o terço. Vai começar a missa. É sempre a mesma coisa. Depressa...
E assim começava aquele dia fantástico, o dia das Boas Festas, o dia das amêndoas, o dia de correr a saquita. A alegria da canalha.
E logo depois da missa lá estava a canalha preparada para o longo dia, a longa caminhada pela terra. O senhor Prior levava o SENHOR a beijar de casa em casa. Subia a escada muito afogueado, logo seguido pelo sacristão que levava a cruz com sua opa branca. Chegados na sala, com toda a família perfilada, o Prior proferia em voz alta:
- O Senhor.
E a família perfilada e em uma só voz respondia:
- Aleluia, Aleluia, Aleluia!
Aí vinham os cumprimentos o copito, o doce, a febra... Se a família era daquelas tradicionais o Prior ficava mais um pouco, se não, ala, que a aldeia é grande... Ainda temos muito que percorrer. Mas não se saía sem antes o sacristão, baixinho e ladino, arrebanhar o envelope ou o açafate com a oferta para o Prior.
Na casa os da família: pais, avós, tios, primos, cunhados, irmãos, compadres... Era uma obrigação. Lá fora, a canalha na expectativa. Mal saía o Senhor da casa esperavam-se as amêndoas e os rebuçados de meio tostão serem lançados  e todos ao sarrabulho.
No entanto, a contenda era desigual, porque logo chegava o Zequinha com o seu grande chapéu de chuva, que ele abria ao contrário e aparava a maioria das mãos cheias que voavam pelo ar. A balbúrdia se instalava e às vezes uma pequena bulha, que logo terminava, porque o Senhor já ia longe e outras casas havia para visitar.
O sino continuava a tocar na torre, lembrando que era dia de festa, dia de Beijar o Senhor, dia de visitar as famílias, dia das amêndoas dos afilhados.
Com o passar das horas, os passos estavam cada vez menos firmes e já se vislumbravam indícios de princípio de bêbada em alguns acompanhantes do Senhor. Às vezes até o senhor Prior já estava meio quentote.  Mas tudo era festa e alegria. Afinal o Senhor Ressuscitou Aleluia, Aleluia, Aleluia. O sepulcro está vazio, Aleluia! E essa mensagem a temos que levar a todas as famílias e a todas as casas, porque a VIDA VENCE A MORTE.
Feliz Páscoa a todos.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Procissão dos Passos, cerca de 1970














O Jaime da Gama enviou-me estas fotos há meses e algumas já foram aqui publicadas. Justifica-se, hoje, a publicação do conjunto completo. Esta última intriga-me, pois parece-me mais o momento preparatório do desfile dos alunos da escola primária para a inauguração do nicho, na Estrada Nova. Mantive a foto no conjunto, para a dar a conhecer e assim alguém explicar o que realmente é.
Situo as fotos  por volta de 1970, pois, a julgar pelo entulho junto à Fonte Velha (2.ª foto), as obras do saneamento básico (água e esgotos) já estavam realizadas, mas o calcetamento ainda não. Agradecem-se correções.

José Teodoro Prata