terça-feira, 14 de março de 2023

quinta-feira, 9 de março de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Francisco Afonso


José Francisco Afonso nasceu no Tripeiro, no dia 8 de março de 1985. Era filho de Francisco Afonso, cultivador, e Maria Sebastiana.

De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se alistou em 13 de janeiro de 1916. Foi incorporado nesse mesmo dia no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21 de Castelo Branco.

Após a conclusão da recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado número 540 e tinha a placa de identidade n.º 8957.

A sua folha de matrícula e boletim individual referem o seguinte:

a)   Baixa ao hospital no dia 29 de maio; alta em 19 de junho;

b)   Marcha para o Quartel General de Base em 7 de fevereiro de 1919, a fim de ali ficar á disposição do Tribunal de Guerra, porque na manhã de 23 de setembro de 1918, juntamente com outros militares, encontrando-se em prevenção de marcha para um novo acantonamento mais avançado em relação à frente inimiga, se recusou a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando matar com granadas de mão e atirar com a metralhadora a quem tal fizesse, e recusando-se a obedecer às intimações que lhe foram feitas pelos superiores;

c)   Condenado à pena de sete anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de deportação militar (Ordem de Serviço n.º 105 de 8/4/1919).

d)   Regressou a Portugal com a Secção de Adidos, no dia 9 de junho de 1919, e passou ao presídio militar de Santarém, para cumprir a pena a que tinha sido condenado.

Foi libertado por ter efeito da Lei nº 1198 de 2 de setembro, publicada em Diário do Governo de 5 de setembro de 1921, que amnistiava os castigos de guerra.

Licenciado em 11 de janeiro de 1922, passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1936.


Família:

José Francisco casou com Maria de Jesus da Conceição, também natural do Tripeiro, no dia 9 de setembro de 1922. Tiveram três filhos:

1.   Joaquina Antunes Afonso, que casou com José Venâncio e tiveram 5 filhos;

2.   Francisco Afonso Martins, que casou com Olívia de Jesus e tiveram 2 filhos;

3.   Elisa da Conceição, que casou com António Marques e tiveram 2 filhos.

Conta uma das netas que se lembra de ouvir o avô falar do tempo que tinha passado na guerra, mas como era muito pequenina se recorda mal do que ele dizia. Lembra-se apenas de uma vez se voltar para ela e lhe perguntar: «Olha lá, filha, sabes como é que chamam às batatas lá na França? Chamam-lhe pão da terra!». Diz que nunca mais se esqueceu.

José Francisco Afonso trabalhou quase sempre na agricultura, mas também foi pastor e madeireiro. Teve uma vida difícil, como quase toda a gente nessa altura, mas conseguiu que lhe fosse atribuída a pensão a que tinha direito por ter participado na guerra, o que o ajudou a viver um pouco melhor durante a velhice.

Faleceu no dia 29 de outubro de 1972. Tinha 77 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do filho Francisco Martins)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

domingo, 5 de março de 2023

O nosso São Brás

Do rico espólio de arte sacra de São Vicente da Beira faz parte uma escultura de São Brás, embora nesta freguesia nunca tenha existido o culto ao santo.

A imagem terá vindo de antiga capela de São Brás, no alto do monte junto ao Barbaído. Este território pertencia ao extinto concelho medieval de São Vicente da Beira, onde se criou, no século XVII a freguesia do Freixial do Campo, mas com uma particularidade: a ermida de São Brás continuou a pertencer à Igreja Matriz de São Vicente da Beira, cabendo ao Vigário ir ali dizer a missa da festa do santo, no dia 3 de fevereiro, recebendo como paga a esmola da missa. Isto de acordo com as Memórias Paroquiais de 1758. Segundo Joaquim de Matos, consta que no princípio do século passado ainda se realizavam os festejos em louvor de São Brás, junto à antiga capela, no alto do monte.

Ali existiu também um povoado e uma fortaleza que serão anteriores à época romana, cujas ruínas podem ainda ser observadas.

Texto elaborado e gravado para a rubrica História ao Minuto, da Rádio Castelo Branco

José Teodoro Prata

sábado, 25 de fevereiro de 2023

(mais) Melhoramentos

 Enquanto esperamos por outros mais significativos, vamo-nos contentando com estes:

A Ribeira foi limpa, repôs-se o acesso a este açude e construiu-se um logradouro com bancos. Uma boa ideia para um momento de relaxe antes de começarmos a subir a barreira até ao Casal; 

Já podemos voltar a matar a sede na Fonte Ferreira (fonte de mergulho onde, dizem, antigamente vinha muita gente buscar água);

E, quando nos aventurarmos a subir até ao Cabeço do Mastro, já podemos andar de balouço. Pode ser um bom pretexto para uma caminhada em grupo até ao cimo da Gardunha…

M. L. Ferreira

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A nossa arte sacra



Esta foto é de março de 1917, aquando da requalificação da casa Hipólito Raposo para receber o Museu de Arte Sacra.

Republiquei-a em novembro de 2019, quando julguei que o projeto do museu ia ser retomado. Enganei-me. Não foi retomado porque houve neglicência na obra e ausência total de reparação do que então se fizera mal. Hoje, o edifício terá as madeiras dos tetos e do chão todas apodrecidas. Estamos em 2023, é o fim do projeto?

Entretanto, durante a restauração das peças, as técnicas fizeram descobertas muito interessantes, que aguardava com muita expetativa que fossem comunicadas a toda a nossa comunidade. Como esse saber não é meu, não me cabe a mim dá-lo a conhecer.

Ao menos, não temos direito a essas revelações, numa visita guiada pelas técnicas? Câmara e Junta, vocês só existem para nos servir, por isso entendam-se, só fazem a vossa obrigação!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade é o pseudónimo literário de José Fontinhas, nascido na Póvoa da Atalaia, Fundão, em 1923. Cedo foi viver para Lisboa, tendo depois ido morar para Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Por razões profissionais, era Inspetor do Ministério da Saúde, acabou por fixar residência no Porto, onde viveu até à sua morte, em 2005.

A obra poética de Eugénio de Andrade mereceu-lhe vários prémios, como o prémio Camões, em 2001. Há uma biblioteca no Fundão com o seu nome (a biblioteca municipal, salvo erro).

É importante lermos a sua poesia, pois Eugénio de Andrade é também um fruto do campo que da Gardunha se estende até ao Tejo, possivelmente quase contemporâneo do nosso poeta José Lourenço, igualmente nascido numa das Atalaias. A obra de Eugénio de Andrade reflete intensamente a natureza desta Beira em que ele cresceu (até aos 10 anos).
Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde a infância no mundo mais elemental (...)
Conheçam-no aqui: 

Nota: Agora nem trudo está disponível/fácil de encontrar. O melhor é ir mesmo ao motor de busca Google), escrever o nome do poeta e aparece muita coisa interessante. No Youtube, a mesma coisa.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Premonição

 No seu tempo, foi um grande jornal, o Pelourinho! Durante os anos em que foi publicado serviu de aconchego para os muitos sanvicentinos espalhados pelo mundo, levando-lhes notícia do que ia acontecendo nas terras de cada um (todos os números tinham notícias das várias povoações da freguesia, o que é admirável).

Atualmente, penso, é um documento importante para fazermos a História, em variadas dimensões, da nossa terra.

O artigo que aqui deixo foi publicado em setembro de 1960 (número 2 do Pelourinho), e, entre outras coisas também importantes, dá-nos conta do que era a pobreza, naquele tempo, em São Vicente: 75 crianças pobres recorriam ao “sótão da caridade” para terem uma refeição de pão com sopa ou leite.

O artigo não é claro sobre se o número se referia só ao mês das férias, ou à média anual; de qualquer forma é um número muito grande, o que, já naquele tempo, não augurava nada de bom.

Pelos vistos nem o Senhor Santo Cristo nos pode socorrer…  

 

M. L. Ferreira