sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Futilidades

Demóstenes

Vou contar uma verídica história
Que se passou na Antiguidade
Numa grande e próspera cidade
Atenas; urbe de grande memória

Demóstenes o filósofo, discursava
Na grande praça central
A multidão passava e não parava no local
O povo distraído não lhe ligava

Atenienses; clamava irritado
Certo dia de muito calor e seca
Um rapaz alugou uma pileca
Para o levar a um determinado lado

Era a hora do meio-dia
Não havia sombra para o ir tapando
Aproveitou a sombra do burro e ia andando
O dono não gostou do que via

Eu aluguei meu burrinho
Não aluguei sua sombra benfazeja
Se a quiser aproveitar como deseja
Tem que me dar mais dinheirinho

Não acredito no que estou a ouvir
Diz o rapaz incrédulo e espantado
Ao alugar o burro sua sombra hei alugado
Nada mais tenho que pagar; disse o jovem a rir

Depois disto contado
Demóstenes desceu do púlpito
Perguntou o povo, de súbito
Que aconteceu ao coitado!

Então o grande orador
Para o céu os olhos voltou
Deuses, vejam como o povo se interessou
Por este conto balofo e sem grande valor

Assim é no tempo actual, de agora
Há interesse por futilidades
E lança-se o que é bom fora


Zé da Villa

3 comentários:

Anônimo disse...

Sabe-se que há imensas histórias da Grécia e Roma antigas, muitíssimo atuais!
Como parece acontecer com aquele texto que por aí circula nas redes sociais, que aponta alguns defeitos à juventude grega da época. Não importa se o problema está na juventude ou em quem escreve. O que é certo é que tal texto, que terá cerca de 2400 anos (!), parece ter sido escrito hoje!
A propósito de histórias e ditos da antiguidade, entre outras, lembrei-me de um certo Tales, filósofo de Mileto, cidade da Grécia, nascido cerca de 620 A.C.. Um dia (em pleno dia e com o sol brilhante), encontraram-no a percorrer as ruas da cidade com uma lanterna acesa. Perguntaram-lhe o que é que andava a fazer e ele respondeu: "Ando à procura de um Homem!"
Esta do Demóstenes que o Zé da Villa nos conta em verso, lembrou-me o "Big Brother" (programa de televisão). Nem mais nem menos! O "Big Brother"! É verdade! É que eu nunca vi tanta futilidade, ignorância e boçalidade!
Mas, pelos vistos, a avaliar pelo sucesso das audiências, o povo gosta!
Ontem como hoje!
Abraços.
ZB











Anônimo disse...

Não seria o caso de Demóstenes, nem tão pouco o de Santo António quando, por falta de audiência, teve que ir pregar aos peixes; mas a verdade é que a maior parte das vezes os discursos (pelo menos os políticos) são tão fúteis, e estão tão distantes da realidade e das necessidades das pessoas, que a gente já passa ao lado e não quer ver nem ouvir. E isto é perigoso…

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Essa de procurar um homem honesto de lanterna em pleno dia é também atribuída ao Diógenes figura principal do Estoicismo. Já agora gostava que me esclarecessem qual é a diferença entre "Big Brother"! E maior parte do discurso politico de hoje? Paleio, só paleio.
Estes exemplos que trazem a terreiro, só mostram o tempo que demora a evolução da nossa consciência, que segundo teorias recentes é da única responsabilidade do nosso cérebro. A genética não é para brincadeiras, está visto...
Isto está a ficar bonito. No outro dia avançamos para o fantástico mundo da imaginação. Agora estamos a querer abrir uma brecha no campo da reflexão.
É realmente uma pena não haver mais almas que entrem na praça para continuar esta nossa discussão
Já agora: alguém sabe do Ernesto? A saudades que tenho desse magano…
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