segunda-feira, 27 de março de 2017

Profissão: serrador

Numa vista de olhos recente pelos registos de batismo dos anos vinte e trinta do século passado constatei que muitos dos pais das crianças batizadas tinham a profissão de serrador. Eram muitos, principalmente no Mourelo, Pereiros, Partida, Violeiro e Vale de Figueira.
Achei interessante esta informação porque, entre outras coisas, nos dá conta da importância da floresta na economia da nossa terra e de como a madeira, talvez a par da pedra e do barro, foi um dos materiais de construção mais importantes de outros tempos.
Nesta ruína que encontrei há dias no Fundão, mas que podia ser por cá, podemos ver bem a quantidade de madeira que era necessária para construir uma casa, e como ela era imprescindível em todas as fases da sua construção: telhado, paredes, chão, portas, janelas, varandas…

   
Não sei se é por serem só materiais da terra e dizerem tanto do trabalho árduo dos nossos antepassados, mas ao olhar para estas ruínas sinto a mesma emoção de quando aprecio a obra de um grande artista.

M. L. Ferreira

5 comentários:

Jaime da Gama disse...

São imagens tristes para quem tem memórias contadas pelos nossos pais e avós.
Os pedreiros elevavam as paredes exteriores tudo em pedra, o resto era com os carpinteiros, sobrado, escadas, tectos (forro) tabique (paredes interiores de madeira com barro empalhado), janelas, portas, telhado e alguma mobília, era assim nos tempos dos nosso, avós.
Os tempos mudaram...

Anônimo disse...

Era tão bom que todos conseguissemos ver para além das coisas tangíveis e do imediato... Seriamos seguramente diferentes...para melhor.
FB

José Teodoro Prata disse...

Em todas estas povoações havia serradores, pois ainda se vivia numa economia quase autossificiente e por isso em cada lugar alguém tinha de fazer os caibros, as ripas e as tábuas.
Na sede da freguesia, já com estrada, vinham de fora e em certo tempo (inícios do século XX) eram feitas na Fábrica (serração situada no sítio deste topónimo).

Anônimo disse...

Era catraio na cruz da Óles durante muito tempo dois homens um em cima de uma estrutura em xis,onde punham o tronco, outro em baixo, serravam grandes toros de pinho. Ao lado iam empilhando as grossas tábuas que eram postas num sistema triangular. Pousava a cesta com a janta do meu pai e olhava para eles; um puxava a grande serra para cima, o outro por sua vez puxava-a para baixo.
A vida de serrador não devia ser nada fácil
A Óles sempre me faxinou,pela paisagem que do alto se avista, pelos fossados feitos por mouros ou cristãos, pelo movimento campestre...
E a Cascalheira sua vizinha?
Antes da invasão dos eucaliptos havia no meio do pinhal grandes quantidades de pedras miúdas, cascalho.
O dicionário diz o seguinte:- Cascalheira, é um lugar onde há cascalho, como nos rios ou nas terras de minas...
Nas barreiras do rio Tejo, no rio Ocreza perto da Foz do Cobrão, existem grandes montes de cascalho originados pela extracção mineira,são chamados; Conhais.
Nós chamamos Cascalheira à encosta que sobe em direcção ao Casal da Serra, talvez há muitos séculos atrás o homem tenha extraído por estas paragens algum tipo de minério.
J.M.S

Victor Sousa disse...

Ai está uma das razões pela quais aldeias se mantinham mais "vivas" antigamente, a auto-suficiência económica, na falta de meios, todas as terras tinham o seu encarregado de certa tarefa, havia sempre o carpinteiro da aldeia, o serralheira, o ferreiro o latoeiro, o serrador, muitas eram as coletas de contrução civil, cafés, tabernas, lojas de outras coisas. Isso mantinha as famílias nas aldeias quer pelos serviços que ela dispunha quer pelos próprios postos de trabalho, que em muitas dos casos ofícios que eram continuados pelos filhos.

E isso é uma coisa que podia acontecer hoje em dia, seremos uns para outros e usar as instituições e serviços de outras terras, aqui se inclui o exemplo da Caixa Geral de Depósitos, que existe este agência em S. Vicente, pessoas das aldeias vizinhas podiam fazer o esforço da usar em vez de ir à cidade, o mesmo se usa para a escola de SVB, é certo que cada um mete os filhos a estudar onde quer, mas tendo uma escola ali na terra ao lado, porquê meter os filhos a estudar em castelo branco ou Alcains? ainda para mais próprios vicentinos.

No fundo refiro-me a usar os serviços das aldeias vizinhas, sendo assim nos completamos em serviços que não temos.