quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Naquele tempo...

Daquele tempo lembramo-nos nós, os mais velhos. Foi o tempo da nossa infância. Depois tudo mudou, tanto que até as crianças acabaram nas terras abaixo referidas.

O texto que se segue é um trecho de um artigo publicado no jornal Gazeta do Interior da semana passada (13 de outubro). A sua autora chama-se Cesaltina Gilo, professora aposentada com ligações familiares a Monsanto, que ainda conheci na Escola Secundária Nuno Álvares. Antes de se licenciar em História, foi professora do Ensino Primário e esta história autobiográfica conta a sua experiência na primeira colocação que teve depois de concluir o Magistério Primário, precisamente nas Rochas de Cima.


José Teodoro Prata

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...


É verdade que daqueles tempos nos lembramos todos; e não é só porque, em crianças, também víamos chegar à nossa escola professoras vindas do fim do mundo (achávamos nós, na nossa pequenez de horizontes) e tínhamos por elas o maior respeito e admiração, mas porque alguns também vivemos situações muito parecidas com esta. Entretanto muita coisa mudou, mas ainda há professores com histórias dignas de ser contadas.
Mas não será por acaso o nome “Saudade”. É que, apesar de tantas dificuldades que muitos vivemos ao longo dos anos, o que fica, no final, é mesmo saudade…
As minhas professoras da 1ª e 2ª classes não me deixaram grandes memórias, talvez porque nesses primeiros anos tive dificuldade em encarreirar com os números e as letras, mas da Dona Teresinha, que tive na 3ª e 4ª classes, acho que foi das melhores amigas que tive na vida. A única mágoa que guardei dela durante algum tempo foi não ter aceitado um dióspiro que uma vez lhe quis oferecer. Na altura não percebi como é que, em vez de ficar feliz com um presente tão bonito, transportado cuidadosamente na concha da mão desde o Casal até à Vila, ela me dissesse que gostava mais que fosse eu a comê-lo. Só uns anos mais tarde, quando numa aldeia muito pobre do Alentejo os meus alunos me traziam presentes, compreendi finalmente.

José Barroso disse...

In illo tempore. O Ernesto Hipólito tinha uma rubrica no "Vicentino" com este título, onde contava "estórias" da Vila. Mas é assim: acho que os professores do primeiro ciclo na época do salazarismo passaram todos um bocado por estas situações. Imagino o que seria uma professora (a maioria eram, de facto, mulheres) chegar a um pequeno lugar onde ainda se vivia como na Idade Média. Penso que o Zé Teodoro já aqui contou algumas peripécias da sua vida, mesmo sendo mais decentemente. Fiz exame ao Magistério de Castelo Branco (com o ZT e ambos fomos aprovados), mas decidi não ir frequentá-lo porque, nos entretantos, fiz um concurso público e arranjei emprego numa Casa do Povo onde comecei no Regime Rural da Segurança Social e, naquela altura, ganhava mais ou menos o mesmo que um professor.
No entanto, penso que estes professores, apesar de passarem as do Algarve, tinham uma experiência única em riqueza humana. A Ana já me contou também alguns episódios. Por exemplo, ir com uma colega a pé para localidades onde não chegava a camioneta; irem também duas à boleia pelos mesmos sítios (mas sentindo sempre que os homens dos carros lhes tinham um grande respeito porque sabiam que eram as senhoras professoras da aldeia). Outra curiosa: uma colega da Ana dormir numa casa de uma família com uma das filhas dos donos e a miúda pegar-lhe sarna! Coisas do arco da velha! Mas de tal forma eram, em certos casos as amizades, que ainda hoje frequentamos a casa de um casal de Mata de Baixo (Benedita), amigos da Ana, que é como família dela há mais de 40 anos. Gente simples mas muito boa. Já tenho lido outras histórias do género, sempre interessantes pela sua carga humana e curiosidades.
Libânia: quero acreditar que ainda há míscaros; acho até que se tivessem que desaparecer isso já teria acontecido porque dantes se ia mais a eles; mas se não chover eles não nascem.
Abraços, hã.
JB