sexta-feira, 8 de abril de 2011

Património religioso


Alguns aspetos do texto introdutório às fotos da Procissão dos Terceiros, na última publicação, merecem uma explicação mais desenvolvida.
Há anos que concluí ser o património religioso o nosso bem mais precioso. Destaco a arquitetura (os templos, os Passos e o Calvário), a pintura (nos tetos dos altares-mores da Matriz e da Misericórdia e os quadros da via-sacra), a escultura (estátuas e talhas douradas), os rituais religiosos da Quaresma (Ladaínhas, Martírios, Procissão dos Passos, Procissão do Enterro), as romarias de Santiago e da Senhora da Orada, a festa do Santo Cristo e ainda a Missa do Galo com a fogueira de Natal.
Embora o património religioso da freguesia seja ainda mais amplo, a súmula apresentada já diz bem da riqueza que possuímos. Este património, sempre enquadrado na religiosidade do seu povo e na paisagem natural em que se insere, é de facto a nossa galinha dos ovos de ouro.
No entanto, ele perderá a grandeza do seu valor de for esvaziado da religiosidade das pessoas, a razão da sua existência e do seu significado.
No último Dezembro, desloquei-me a Idanha, para participar no lançamento das actas do colóquio de história local, de Junho de 2009, em que colaborara. Nessa altura, fora lançada a ideia de candidatar as tradições quaresmais de Idanha a património mundial. Agora, foi apresentada a opinião do Doutor Marinho dos Santos, consultado sobre essa questão. E este estudioso, que, nos colóquios de 2009, se emocionara com a representação popular de algumas dessas tradições, apresentou reservas a essa candidatura, pois não tinha a certeza se estava garantida a sua sobrevivência genuína, num futuro próximo.
Por isso, sem querer competir com o Pe. José Manuel na orientação do rebanho de Deus, apenas alerto que a sobrevivência das nossas tradições religiosas só estará garantida se enquadrada na religiosidade do povo que as criou e manteve até hoje.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Procissão dos Terceiros

Foi linda a procissão deste domingo!
As máquinas a registar imagens eram tantas que até me senti inibido de usar a minha.
A devoção lia-se nos rostos concentrados. Afinal, ela atraíra ali a maioria dos participantes.
Fizeram falta dois ou três mestre de cerimónias, como os de antigamente, para coordenar todo o movimento do conjunto. E também explicar aos mais jovens que o momento é solene, mas de devoção, não de festa. Se não, um dia o Pe. José Manuel zanga-se e matamos a nossa galinha dos ovos de ouro.
Além destes dois reparos (mesmo nos grandes êxitos, devemos ter consciência do que devíamos ter feito melhor), a Procissão dos Terceiros foi um enorme sucesso: gente de fora, andores novos, muita juventude (nem sabia que tínhamos tantos jovens) e algumas instituições da comunidade totalmente empenhadas: bombeiros, rancho folclórico, banda filarmónica, catequese...
Como dizia o meu pai, quando acabávamos um trabalho: está bom e fomos nós!


São Francisco de Assis


Rainha Santa Isabel


A Imaculada Conceição


A descer a Rua do Convento


Santa Clara


São Ivo


São rosas, Senhor!


Santa Rosa


A nossa banda. O Mestre não deixou o rebanho entregue ao Senhor. O que ele trabalhou!


O regresso a casa.


Quem transportou os andores na Procissão de 2011, para que conste.

domingo, 3 de abril de 2011

Os franciscanos em São Vicente

A presença franciscana remonta, na nossa terra, possivelmente, ao século XV ou XVI. Quase todos os templos da Vila são desses finais dos tempos medievais e inícios da Idade Moderna, excepto a Igreja Matriz (erigida na época da fundação da povoação) e a Orada (é muito mais antiga que a Matriz, mas a actual capela também foi construída naquele período).
Nesses fins da Idade Média, São Vicente terá alcançado o seu máximo desenvolvimento económico e social. Houve então riqueza para levantar templos, palácios e equipamentos públicos, como a Câmara Municipal e o Pelourinho.
A capela de São Francisco não foge a esta regra. O grande arco de volta perfeita, no seu interior, com a aresta cortada, é, na nossa Beira, tipicamente quinhentista. Esteve, até há poucos anos, pintado de azul (Já não me recordava, lembrou-mo, há uns tempos, a Ilda Jerónimo).


Mas o templo não foi, desde o início, de devoção a São Francisco, mas sim a Santo António, ele próprio franciscano e contemporâneo do fundador da Ordem Franciscana, com quem ainda se encontrou, na Itália que depois o adotou como seu e onde se tornou um dos santos maiores da Cristandade.


Foi, pois, a capela dedicada a Santo António, até 1744. Nesse ano, veio a São Vicente um grupo de frades franciscanos pregar uma missão. E a sementeira foi de tal modo fecunda que, nos anos seguintes, a capela deixou de pertencer apenas a Santo António para a ser, sobretudo, dedicada a São Francisco. Nela teve sede, logo de seguida, a Irmandade da Ordem Terceira e terá sido criada também, por esses anos, a procissão dessa mesma irmandade, a Procissão dos Terceiros que hoje vai, novamente, percorrer as ruas da nossa Vila.


São Francisco recedendo a bula da criação da Ordem Terceira das mãos do Papa Inocêncio III.

Ainda por esses anos, foi edificado o Calvário, quase em frente à capela. Já estava construído em 1758. O Calvário servia de palco, ainda é, de uma outra grande tradição vicentina, a Procissão dos Passos, na Sexta-Feira Santa. Mas também esta tradição tem origens franciscanas, esta das Religiosas do Convento, igualmente fundado no século XVI. Mas este assunto fica para desenvolver, noutra ocasião.
A capela nunca deixou de ser dedicada também a Santo António. A sua festa ainda se realiza, anualmente, no terceiro domingo de Agosto. Quando era criança, questionava os adultos sobre a pertença da capela. Uns ainda se lhe referiam como capela de Santo António, a maioria de São Francisco, mas depois lá vinha a festa de Agosto, para me voltar a baralhar.
A doação da capela a São Francisco marcou também a toponímia local. Toda a zona envolvente da capela tem o nome do santo assim como tomou o seu nome o caminho, hoje rua, de saída da Vila em direção ao Casal da Fraga e à parte superior do vale da Ribeirinha.
Às vezes, é preciso olharmos para longe, a fim de percebermos a verdadeira grandeza do que temos. Neste caso, para o Violeiro. Em 1766, faleceu Brittis Maria Cabral de Pina, viúva do Sargento-Mor Domingos Nunes Pouzaõ do Violeiro, antepassados dos viscondes de Tinallhas, como já expliquei no artigo referente ao Cabeço do Pe. Teodoro. Na hora da sua morte, Brittis Cabral de Pina quis que o seu corpo fosse amortalhado com o hábito de São Francisco. Há meses, o Irmão José Amaro, também do Violeiro, contou-me que, ainda adolescente, teve de calcorrear o caminho do Violeiro até São Vicente, descalço, à frente de um carro de bois, para fazer o funeral do seu avô. Isto cerca de 1950. Passaram junto ao cemitério da Partida, mas não puderam parar, pois o avô exigira ficar sepultado no chão sagrado de São Francisco.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

domingo, 27 de março de 2011

Canção de embalar

Como a peça de teatro infantil do passado fim de semana, apresentada em "A Coca", se destinava a um público restrito, poucos terão lido o comentário da Ana. Ela é (será?) filha da Rita Alves Barroso. A canção de embalar chegou-lhe via avó Maria dos Anjos Alves, que a cantava aos filhos Rita, Bernardo e Francisco.
A canção é preciosa. Pena não a poder apresentar acompanhada por aquele canto arrastado e doce, quase segredado ao ouvido do bebé-menino, para o acalmar e adormecer. E é uma esperança que uma jovem mãe ainda a cante aos seus meninos.
Fez-me lembrar uma cena do livro 1984, do George Orwell, quando os protagonistas da história tentam libertar-se do controle e dos condicionalismos do Big Brother, refugiando-se um dia no campo e reaprendendo os aromas das flores silvestres. Hoje, condicionados por tantos big brothers, vamo-nos esquecendo de algumas coisas essenciais e é bom encontrar alguém que resiste!

Vai-te embora bicha coca
Vai-te embora do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado

Dorme dorme meu menino
Foi-se o sol nasceu a lua
Qual será o teu destino
Que sorte será a tua

Riquezas tenhas tão grandes
E tal bondade também
Que ao redor de onde tu andes
Não fique pobre ninguém

Mas se oiro for mau caminho
Antes tu venhas a ser
O maior pobrezinho
De quantos pobres houver

sábado, 26 de março de 2011

Amigos dos Castelos

Acabo de chegar de São Vicente, onde guiei a visita de um grupo de pessoas da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos.
O grupo excursionista veio de Lisboa e passou o dia nesta encosta da Gardunha: Castelo Novo, Alpedrinha, um saltinho a Alcongosta para verem as cerejeiras em flor (que ainda não floriram), Póvoa da Atalaia e São Vicente da Beira.
A chegada à Fonte Velha estava marcada para as 17.30h, mas só chegaram às 18.30h, hora a que já lhes apeteceria rumar a Lisboa.
Mas parara de chover e um lindo arco-íris curvava o céu sobre o Caldeira. Levei-os à Igreja Matriz, à Igreja e Museu da Misericórdia (fizeram sucesso as matracas e o quadro de agradecimento ao Santo Cristo, de um antepassado do actor Robles Monteiro), admiraram o Pelourinho já no lusco-fusco e ainda insisti para que conhecessem a nossa antiga Câmara.
Surpreenderam-se com as nossas tradições quaresmais (procissões dos terceiros, dos passos e do enterro), mas partiram, sem a promessa de regressarem nos próximos dias.
Soube a pouco, mas há que semear para um dia colher!
Embora ali estivesse a pedido da Junta de Freguesia, a entidade que a Associação contactou, o meu agradecimento especial ao João Maria dos Santos, da nova Mesa da Santa Casa, pelas quase duas horas de espera que passou na Misericórdia.

domingo, 20 de março de 2011

A Coca

Lembram-se dela? Do desassossego nos nossos frágeis espíritos infantis? Às vezes, nem a canção de embalar, para a esconjurar, nos devolvia a paz.
A nossa mãe cantava, no escuro do quarto:

Vai-te coca, vai-te coca,
Vai-te coca do telhado.
Deixa dormir o menino,
Um soninho descansado.


E nós acreditávamos que ela novamente nos estava a proteger, sempre a afastar a coca para longe de nós. O sono chegava finalmente, mas, por vezes, a coca reaparecia nele e continuava a atormentar-nos.
Nesta história infantil que dramatizei, a coca chama-se medo e o autor ensina, com mestria, um truque para o vencer.
Podem copiar e usar, como quiserem. Mas nunca se esqueçam de referir o criador da história. Leiam o livro e visitem o seu site!

Livro: “Draguim e o bicho de sete cabeças”, de Carlos J. Campos.
Adaptação a texto dramático: “Vencer o Medo”, de José Teodoro Prata
Encenação: Turma do 4.º A da Escola Cidade de Castelo Branco, de Idalina Rodrigues, Março de 2011.

Personagens: Seres da Floresta (Mestre dos duendes, Draguim, Pétala, Duende 1, Duende 2, Duende 3, Duende 4, Coelho, Joaninha, Lobo), Mosca e Dragões (Chefe dos dragões, Dragão 1, Dragão 2, Dragão 3, Dragão 4 e Medo)


(O palco mostra dois mundos bem distintos. De um lado, há uma floresta verdejante e florida, habitat de animais e duendes. Do outro, a terra está despida de árvores, sendo visíveis alguns paus secos e queimados. É a terra dos dragões, que nada cuidam e tudo destroem.
A cena abre com animais e duendes em alegre convívio, numa floresta. Uns fazem uma roda, outros entretidos num jogo. Todos cantam uma canção.)

Viva a terra dos duendes, giroflé, giroflá.
Viva o Draguim nosso amigo, giroflé, flé, flá.
Vamos todos brincar juntos, giroflé, giroflá.
Defender o nosso Mundo, giroflé, flé, flá.

(De repente, a cena é atravessada por uma criatura negra, que logo desaparece. A sua passagem foi tão rápida que os seres da floresta, distraídos como estavam, nem tiveram tempo de ver o que era. Ficam todos preocupados, a perguntar uns aos outros o que teria sido aquilo.)
Coelho: O que foi aquilo?
Joaninha: Viste o que aqui passou?
Lobo: Era uma mancha escura.
Duende 1: Parecia um dragão.
Todos: Um dragão? (Exclamam em coro, cheios de medo.)
Draguim: Vou avisar o Mestre.
(Disse um pequeno dragão colorido, chamado Draguim. Os outros continuam apreensivos. À boca de cena, num dos lados, está o Mestre sentado, na sua mesa, a ler um velho livro.)
Draguim: Mestre! A floresta foi atravessada por uma criatura inquietante.
Mestre: Inquietante, porquê?
Draguim: Era estranha e escura e encheu de medo os habitantes da floresta.
Mestre: Obrigado, Draguim, por me teres vindo avisar. Agora volta para junto dos outros e diz-lhes para nada temerem.
(O pequeno Draguim junta-se aos outros e o Mestre fica a falar com os seus botões, mostrando preocupação.)
Mestre: Uhm! Será que isto tem algo a ver com aqueles estranhos sinais de fumo que tenho visto a sair da terra dos dragões?
(E mergulha de novo no seu livro. Entretanto, o palco é atravessado pela mancha negra, em várias direcções. Os animais e os duendes da floresta ficam estáticos. Do outro lado, entram em cena alguns dragões, empunhando cartazes onde se lê: “VIVA O MEDO”. Estes dragões têm aspeto desleixado e escuro. Um deles distingue-se dos outros pela bengala que usa como símbolo de poder – é o Chefe.)Todos os dragões: VIVA O MEDO! VIVA O MEDO!
(Gritam eufóricos. A mancha negra pára junto deles. É um dragão insignificante, feio e magricela. Ao vê-lo, os outros dragões perdem o entusiasmo e dividem-se entre o riso trocista e a desilusão.)
Dragão 1: Ó Chefe, é este lingrinhas que nos vai ajudar a conquistar a floresta dos duendes? Ah! Ah! Ah! (Diz um deles. Os outros riem também e abanam a cabeça, desiludidos.)
O Medo (Dirigindo-se ao Chefe): Vamos começar a trabalhar já. Diga a estes idiotas para irem buscar muitas folhas secas e pedaços de carvão.
Chefe: Façam o que ele pediu, já!
(Os outros dragões procuram folhas e carvões. O Medo escreve a primeira mensagem.)
Medo: Agora, escrevam a mesma coisa em todas as folhas!
(A floresta é atravessada, novamente, pela mancha negra, que vai largando folhas secas à sua passagem. Depois desaparece, tão rápido como chegou. Os animais e os duendes param as suas brincadeiras e, apreensivos, apanham do chão algumas folhas. Todas trazem a mesma mensagem. Lê cada um, numa repetição sucessiva e cada vez mais entoando preocupação.)
Duende 1: O MEDO VEM AÍ!
Duende 2: O MEDO VEM AÍ!
Duende 3: O MEDO VEM AÍ!
Todos os seres da floresta: O MEDO VEM AÍ!
(O Draguim leva umas folhas ao Mestre.)
Draguim: Mestre, veja! O MEDO VEM AÍ!
Mestre: Draguim, o medo é uma semente má que, uma vez plantada, vai crescendo e tomando conta de tudo. Sei pouco sobre o medo. Talvez “O grande livro dos duendes” me ajude a encontrar uma solução. Volta para junto dos teus amigos e procura distraí-los.
(O pequeno Draguim volta para junto dos seus amigos e encontra a Pétala, que lhe estende uma folha.)
Pétala: Ó Draguin, eu não sei o que é o medo! Tu sabes?
Draguim: O medo é um artista muito divertido que vem fazer um espetáculo à nossa aldeia.
Pétala: Então, porque estão todos tão preocupados com este anúncio?!
Draguim: Ahh… porque neste anúncio não diz quando é que ele chega…
Pétala: Obrigado, Draguim! Olha, queres vir comigo apanhar frutos?
(O Medo fala para os outros dragões.)
Medo: Vamos passar à segunda fase do plano. Agora precisamos de um mensageiro. Alguém que espalhe um boato entre os animais da floresta. Uma criatura sorrateira, capaz de andar entre dois mundos. Um ser sem escrúpulos que não se importe de trair os da sua espécie.
(Chega uma mosca, muito excitada com as novidades que vem contar.)
Mosca: Na floresta dos duendes só se fala num tal Medo… e que está para chegar, não se sabe quando… nem onde…
Medo: Vai contar-lhes que esse tal Medo é um dragão enorme que consegue destruir uma árvore com uma só labareda!
Mosca: Mas afinal sempre é verdade?! Onde é que ele está?
Chefe: Isso não é da tua conta. Faz o que te mandam!
(A Mosca entra na floresta e atrai para a boca de cena um duende. Fala-lhe, em voz baixa. O duende conta aos outros.)
Duende 1: Vêm aí dois dragões enormes, capazes de incendiar duas árvores com uma só labareda!
(Na terra dos dragões, o Dragão 1 coloca-se de braço dado com o Medo, formando um dragão de duas cabeças.)
Medo (os dois dragões ao mesmo tempo): Pronto! A semente está lançada. O medo vai começar a crescer! UAH! UAHUAH! UAUAHAH!
(A mosca volta e fala ao ouvido de um segundo duende.)
Duende 2: Contaram-me que vêm aí três dragões enormes, capazes de derrubar três árvores cada um, só com uma labareda! Salve-se quem puder!
(Entretanto, o Dragão 2 junta-se ao Medo, formando um dragão de três cabeças. Riem às gargalhadas.)
Medo (os três dragões ao mesmo tempo): UAH! UAHUAH! UAUAHAH!
(Os seres da floresta estão cada vez mais amedrontados com as notícias. A mosca reaparece e fala ao ouvido de um terceiro duende.)
Duende 3: Contaram-me que estão a chegar à nossa floresta quatro dragões gigantes, capazes de derrubar quatro árvores cada um, só com uma labareda!
(Entretanto, o Dragão 3 junta-se ao Medo, formando um dragão de quatro cabeças. Riem contentes.)
Medo (os quatro dragões ao mesmo tempo): UAH! UAHUAH! UAUAHAH!
(A mosca fala ao ouvido de um quarto duende.)
Duende 4: Não são quatro, mas cinco dragões e cada um derruba cinco árvores só com uma labareda. Vão queimar a nossa floresta num instante!
(Entretanto, o Dragão quatro junta-se ao Medo, formando um dragão de cinco cabeças. Riem ainda mais forte.)
Medo (os cinco dragões ao mesmo tempo): UAH! UAHUAH! UAUAHAH!
(Os seres da floresta mostram uma crescente preocupação. Nem todos, o Draguim e a Pétala continuam as suas brincadeiras. Afastados deles, os duendes conversam entre si.)
Duende 1: Se não abandonarmos a floresta, morreremos todos.
Duende 2: Eu estou de acordo. Vamos embora.
Duende 3: Também vou convosco.
Duende 4: Draguim, Draguim, vai avisar o Mestre!
(O pequeno Draguim vai avisar o Mestre do que se passa. Enquanto conversam, surge a mosca junto dos dragões.)
Medo (os cinco dragões ao mesmo tempo): Leva-lhes esta última mensagem: AMANHÃ DE MANHÃ, O MEDO VAI CHEGAR À FLORESTA!
(A mosca mistura-se com os seres da floresta e fala com eles. Ficam aterrorizados com a nova notícia e dão sinais de abandonar a floresta. O Mestre vê que tem de fazer alguma coisa.)
Mestre: Draguim, convoca todos os seres da floresta para uma reunião.
(O Draguim sai de junto do Mestre e chama pelos animais e pelos duendes. Os seres da floresta aproximam-se do Mestre, ainda receosos.)
Mestre: Nada há a temer. Vós é que dais força ao medo. Confiai em mim e vereis.
(O Mestre e o Draguim escrevem uma mensagem nas folhas do chão. Os duendes lêem a mensagem e começam também a reproduzi-la noutras folhas. Em seguida, o Draguim chega-se à orla da floresta e atira as folhas para cima do dragões-Medo. Eles apanham-nas e lêem-nas.)
Medo (os cinco dragões ao mesmo tempo): OS DUENDES NUNCA ABANDONARÃO A FLORESTA!
(Ficam confusos e desanimados.)
Medo: Oh!
(Mas, depressa, recuperam o ânimo.)
Medo: Não há problema! Se nós estamos assim tão fortes, é porque o medo deles é muito grande. Vamos acabar com isto!
(O Medo - os cinco dragões - sai do seu canto e avança em direcção à floresta. O Mestre, o Draguim e a Pétala aguardam-no sorridentes, com os outros seres mais atrás, receosos. O Medo faz gestos espetaculares, grita, faz Oh! e AH! numa dança ameaçadora.)
Pétala: Lindo! Lindo! Tinhas razão, Draguim! O espectáculo é mesmo giro!
(Todos se animam e batem palmas. O Medo fica confuso e ainda mais furioso. Os seres da floresta redobram os aplausos. O Medo desfalece e cai no chão, perante as gargalhadas de todos.)
Mestre: Viram, amigos, nada havia a recear! A explicação do que aconteceu é simples: muitas vezes a nossa imaginação dá asas ao medo e deixa que ele cresça em nós e se torne enorme. Temos sossego, de novo, na nossa floresta. Podeis voltar às vossas brincadeiras.
(A floresta volta a animar-se, com os animais e os duendes entretidos em jogos e canções. Todos cantam.)

Os duendes tinham medo, giroflé, giroflá.
Mas conseguiram vencê-lo, giroflé, flé, flá.
Quem tem medo tem coragem, giroflé, giroflá.
Unidos somos mais fortes, giroflé, flé, flá.


FIM

Nota: Por questões de ordem prática, optou-se por, na parte final, formar o Medo com os dragões da Terra dos Dragões. Mas o Medo pode ser formado por outros quatro dragões, iguais ao Medo, que se vão juntando a ele.