quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Histórias dos enxidros aos casais


Uma colega, nascida e criada em Lisboa, mas com raízes na Beira, comprou um livro dos Enxidros e disse-me que o ia oferecer à mãe, pois ela gostaria de ler aquelas histórias antigas.
Afinal leu-o ela primeira, aproveitando uma viagem de comboio para Lisboa. Ficou maravilhada com as nossas histórias, lamentando-se de em Lisboa não ter tido vivências tão interessantes como as que nós tivemos por cá. Não concordo muito, pois o interesse das vivências depende sobretudo da importância que lhe dá quem as vive. Mas pronto, fiquei babado.
A imagem, dos alunos do 2.º ciclo do agrupamento de escolas José Sanches (Alcains) e S. Vicente da Beira, retrata o entardecer em que uma banda de rock inglesa nos veio desassossegar, no verão de 1975, com um ritmo maluco que nós mal conhecíamos ainda. No desenho, os autores puseram a assistência a vibrar com a música, porque já são deste tempo e por isso não estiveram entre aquela assistência pasmada.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Natal beirão

UM AUTO DE NATAL
Natal Beirão

Da Etnografia da Beira, de Jaime Lopes Dias,
transformado em texto dramático por José Teodoro Prata,
adaptado a São Vicente da Beira por José Manuel dos Santos 
e representado, neste Natal, pelo Rancho Folclórico Vicentino.

O espaço assemelha-se a uma Igreja, com um corredor a meio e o público dos dois lados. No lado oposto à entrada, em local elevado, está um presépio vivo, com as principais figuras (São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus) e eventualmente outras figuras tradicionais.
Um padre (ou um leigo com essa tarefa) aparece em local visível por todos e fala:

Padre:
É Natal. Alegremo-nos, nesta noite santa.
Comemoramos o nascimento de Jesus, que é Deus feito Homem.
Com alegria, cantemos todos:

Todos os presentes:

Alegrem-se os céus e a terra
Cantemos com alegria
Que já nasceu o Menino
Filho da Virgem Maria

Entrai pastores entrai
Por esse portal sagrado
Vinde adorar o Menino
Numas palhinhas deitado

Ao fundo da igreja, encontram-se as personagens intervenientes.
Os pastores avançam um passo e cantam:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Avança o primeiro pastor, dando alguns passos em frente.
Entretanto, surge uma estrela que guia o pastor até ao altar. Esta deve estar sincronizada com os movimentos e paragens que os pastores vão fazendo até chegarem ao presépio.
Primeiro Pastor:

Vi uma estrela brilhante
E anjos a cantar
Levantei-me, comecei a andar
Até este local distante

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino adorado
Aqui tendes a visita
Dos pobres pastores de gado

O primeiro pastor avança mais um pouco pela coxia e continua a declamar:
                                                                                                                                                                    
Ó estrela luminosa
Meus passos alumia
Que eu venho visitar
O filho da Virgem Maria

Perto da capela-mor:

Ó meu Menino Jesus
Estou muito admirado
De Vos ver com tanto frio
Nessas palhinhas deitado

Chega ao presépio, volta-se para o Menino dizendo:

A oferta que Vos trago
É simples e de pouco valor
É apenas um cordeiro
Dos que guarda o pastor

Ajoelha, beija o Menino e continua a declamar:

Também trago uma merenda
Das que me dá o patrão
Ó meu Menino Jesus
Tende de nós compaixão

A estrela inicia o caminho de regresso e o pastor despede-se dizendo:

Adeus Menino Jesus
As costas Vos vou virar
Adeus, até para o ano
Se eu cá puder voltar

Desce a coxia e junta-se aos outros pastores. Cantam todos:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Um segundo pastor entra em cena:

Junto ao gado eu dormitava
Quando ouvi anjos a cantar
Glória, paz na Terra, toca a levantar
Vamos adorar o Menino                                                                                                                                                                     

Não há vida mais triste
Do que a vida de pastor
De inverno apanha frio
De verão muito calor

Avança e no meio da igreja e continua a declamar:

Eu vos peço meu Menino
Do fundo do coração
Que me livreis de guardar gado
E que eu venha a ser patrão

Em frente ao presépio:

Trago-Vos umas castanhas
Que tinha enterradas no chão
Não as roubei a ninguém
São das que me deu o patrão

Finda a atuação do segundo pastor, o padre faz sinal à estrela para sair pela lateral e ela avança. O público zomba, rindo, mas o segundo pastor diz:

Entrei pela porta principal
Por ela quero sair
De nada me importa
Que esta gente se esteja a rir

De frente para o presépio, despede-se:

Cá voltarei para o ano
Se ainda for pastor
A visitar-Vos Deus Menino
Que Vos tenho muito amor

Desce a coxia e junta-se aos outros e todos juntos cantam:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Um terceiro pastor avança, levando um cabrito e um sarrão.
O cabrito berra e o pastor tenta acalma-lo; como não consegue, pede ajuda ao padre:

Ó senhor padre Manuel
Mande-me cá o sacristão
Que se não quer calar
Este grande berrão
                                                                                                                          
Entretanto, cala-se o cabrito e o terceiro pastor volta-se para as pessoas e diz:

Cá vem o pobre pastor
Que sempre usa seu cajado
Seu ofício, toda a vida
É andar a guardar gado

Chego a casa, enfadado
De andar lá pelo monte
Ainda a patroa me diz
Ó criaaado, vai à fonte

Em frente ao presépio:

Vem qui comigo
Um cabrito a saltar
Cá Vos o deixo meu Menino
Aos pés do Vosso altar

Entretanto, uma pessoa da assistência comenta:

Fraquinho! Muito fraquinho…

O público ri, mas o terceiro pastor não se mostra muito incomodado com a crítica e responde:

Ó meu Menino Jesus
Bem me podeis perdoar
Isto de fazer versos
É para quem os sabe quadrar

O público retoma a risada e o pastor com voz cava vai desabafando:

Ó meu Menino Jesus
Esta gente está-se a rir
Eu já nem vejo a porta
Por onde hei-de sair


A estrela começa a regressar e o terceiro pastor despede-se:

Ó meu Menino Jesus
Não me posso demorar
Pró ano se tiver saúde
Cá tornarei a voltar
                                                                                                                                                                
Regressa para junto dos outros e todos cantam:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Um quarto pastor avança e, voltando-se para o público, diz:

Esta noite de Natal
É noite de alegria
Vimos adorar o Menino
Filho da Virgem Maria

Vai subindo e no meio da coxia:

É meu Menino Jesus
É meu Deus verdadeiro
Foram-se-me os lobos ao gado
Levaram-me um cordeiro

Junto ao presépio:

Ó meu Menino Jesus
Eu vivo numas montanhas
Pouco mais tenho para vos dar
Do que umas tristes castanhas

Adeus, meu Menino Jesus
Filho da Virgem Maria
Se eu chegar a ser patrão
Até choro de alegria

Volta-se para o público:

Esta vida de pastor
É custosa de levar
Se não tira o gado a horas
O patrão começa a ralhar

Desce e todos cantam novamente:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo
                                                                                                                                                                   
O quinto pastor avança e começa a função dizendo:

Se algum ponto errar
Ninguém se deve rir
A porta do errar é larga
Todos lá podem cair

No meio da coxia, volta-se para o público:

Esta estrela luminosa
Por onde passa, alumia
Ela me vai ensinar
O filho da Virgem Maria

No presépio, beija o Menino e diz:

Aqui trago, Menino Jesus
Dentro do meu sarrão
Uma garrafa de Vinho
Que me deu o patrão

Faz menção para se retirar, mas volta-se novamente para o Menino:

Ó meu Menino Jesus
Já me ia a esquecer
Ainda cá tenho uma chouriça
Que é para vos oferecer

Regressa e cantam todos:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Padre:
Há mais alguém que tenha prendas para oferecer ao Menino?

Sobe um ganhão e diz:
Eu também quero adorar o Menino

Depois, junto ao presépio:

Eu Vos ofereço esta garrafinha
De vinho moscatel
Bem sei que não é para Vós
Mas para o senhor padre José Manuel
                                                                                                                                                                      
Uma camponesa sobre também e declama:

Eu deixo este agasalhinho
Para Vos aquecer
Fi-lo para Vo-lo oferecer
É de lã e bem quentinho

Uma costureira trazendo roupinhas:

Menino Jesus
Tenho que Vos dar
Pelos Vossos pés
Hei-de começar

O primeiro dado
Hão-de ser sapatos
Hemos de ir à feira
Comprá-los baratos

Já tendes sapatos
Precisais de meiinhas
Eu Vo-las farei
De linhas bem finas

Já tendes camisa
Precisais jaleque
Eu Vo-lo darei
De pano de crepe

Menino Jesus
Que mais Vos hei de dar!
Uma rica cama
Para Vos deitar

Uma padeira, com açafate na mão, sobe a coxia e declama:

Eu sou a padeira
Trago pães bem fresquinhos
Ouçam meus queridinhos
Quero ser a primeira

A adorar o Salvador…
Tão bonito que Ele é
Filho de Maria e José
Lindo, lindo, um amor

                                                                                                                                                                
Atrás vem uma lavadeira:

Eu sou a lavadeira
Seus cueiros quero lavar
Hei-de pô-los a corar
Na nossa ribeira

Avança a leiteira e diz:

Eu venho dar ao Divino
Um queijinho amanteigado
Há muito o tinha guardado
Para o oferecer ao Menino

No meio das pessoas surge uma voz:

Estou muito contente
Hoje nasceu o Salvador
Nosso rei e Senhor
Protege São Vicente

Ampara, guarda, dá saúde à nossa gente
Pereiros, Partida, Casal da Serra ou Mourelo
Vale de Figueira, Paradanta, Tripeiro ou Violeiro
Menino Jesus, é povo de São Vicente

Todos as personagens recitam:

Bendito e louvado seja
O Menino Jesus nascido
No ventre da Virgem Maria
Nove meses andou escondido

A assistência, com uma flor ou um raminho de oliveira na mão, intromete-se dizendo:

Pai-nosso vimos pedir
Paz, alegria, misericórdia e amor
Aceita Menino esta flor
Já é tarde, vamos dormir


Ó meu Menino Jesus
Dorme um soninho descansado
Muito obrigado
 Por este serão de truz                                             
                                                                                                                                                                        
O padre o termina o auto:

A todos os presentes
Tenham uma noite descansada
Apesar de estar gelada
Espero que estejam contentes

O Menino está dormindo
Nos braços da Virgem pura
Os anjos Lhe estão cantando
Meu amor, minha doçura!

As personagens, no fundo da igreja, cantam:

O Menino está dormindo
Nos braços da Virgem pura
Os anjos Lhe estão cantando
Meu amor, minha doçura!

Todos batem palmas e, enquanto vão saindo, cantam:

Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Logo vieste nascer
Na noite do caramelo

Fim

José Teodoro Prata

domingo, 22 de janeiro de 2017

Casas unidas

Uma das virtudes deste blogue é ajudar-nos a olhar para alguns aspetos da nossa terra com mais atenção e ver coisas que durante muito tempo nos escaparam. Até a razão de ser da sua toponímia de que já foram dados alguns exemplos interessantes.
Sobre as ruas Manuel Lopes e Manuel Simões, e as casas em que provavelmente moraram os homens que lhes deram o nome, deixou-me curiosa o facto de existir uma passagem entre elas. Perguntei ao Joaquim Pereira (Reinoco) que viveu na da rua Manuel Lopes se se lembrava dessa passagem e ele confirmou que havia essa e outras que comunicavam com a casa da ti Marizé Gata e a do Maiaca. Terão sido casas de judeus? E seriam os Lopes, os Simões e os Guerra, descendentes de judeus? Os nomes são comuns nos Cristão Novos que tiveram que abdicar do direito de usar os seus nomes judaicos para poderem permanecer em Portugal.
É interessante o nome de Grácia, mulher de Manuel Lopes. Era também o nome de uma das mulheres mais poderosas do século XVI, nascida em Portugal e herdeira de uma das maiores famílias de banqueiros Cristão Novos da Europa – Os Mendes.
Casa com janela manuelina, na Rua Manuel Lopes.

Balcão seiscentista em casa da Rua Manuel Simões.

M. L. Ferreira

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Casas da Memória

Adquirir hábitos culturais demora tempo, a partir dos bancos da escola deveria haver uma disciplina que ensinasse as crianças incutindo nelas o amor pela cultura. Teatro, música, cinema, pintura e por aí fora.
O corpo dá sinais quando tem fome, sede… o espírito não, corpo precisa de alimento, também devemos dar ao espírito os alimentos que necessita, cuidá-lo, mima-lo com as belezas que as artes nos oferecem.
Na cidade de Castelo Branco já existem ao longo do ano as mais variadas exposições e muitos museus.
O Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco mostra as mais diversas formas de arte, a Casa da Nora também. O antigo edifício dos correios, os museus Cargaleiro, Francisco Tavares Proença Júnior, Arte Sacra, Museu da Memória Judaica… Ofertas culturais que a cidade oferece, que vale a pena ver
No ano 2016, visitei o Museu Nacional de Arte Antiga que se situa na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. Este museu guarda um espólio muito rico; pinturas de autores portugueses (Domingos Sequeira, Vieira Portuense…), europeus (Bosch, Durer…), esculturas, arte da China, India, Japão, mobiliário, biombos, ourivesaria, cerâmica. Lá se encontra a famosa custódia de Belém, os célebres painéis de São Vicente de Nuno Gonçalves…
Todos os portugueses o deviam visitar.
Os funcionários, sempre atenciosos para responderem às nossas dúvidas.
Todo o espólio exposto é uma maravilha, mas, uma cadeira me despertou atenção redobrada. Porquê! Na nossa vila existe um “exemplar” muito parecido. Sabem onde se encontra!?
O segundo museu que vou citar é também um museu nacional, fica na airosa cidade de Viseu, paredes meias com a monumental Sé, é o Museu Nacional Gão Vasco. Deve o seu nome ao mestre viseense Vasco Fernandes e guarda um espólio muito importante de obras de arte do mestre e seus colaboradores. Para além dos quadros, existem numerosos objectos que serviam o culto religioso: imagens, cálices….
O espaço é magnífico. No outro lado da praça, em frente, encontra-se a igreja da misericórdia, que possui também um rico acervo museológico. Estes monumentos estão cercados de artérias medievas com as casas bem preservadas.
Vale a pena visitar a cidade de Viseu.
Há muitos anos que não revisitava a igreja de São Roque e o museu da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Quando o visitei pela primeira vez era um pequeno espaço museológico. Juntamente com os meus irmãos António e João Maria, encontrei um grande, valioso e maravilhoso museu. Rico em paramentaria, ourivesaria, pinturas, relicários, tocheiros. A capela de São João Batista, uma maravilha!
Realço o quadro que representa o casamento do rei D. Manuel l com a princesa Dona Leonor, onde figura o vicentino D. Álvaro da Costa. Terá sido o primeiro provedor da misericórdia de Lisboa.
Finalmente, menciono o mais recente museu da cidade albicastrense, chama-se Museu da Memória Judaica.
Situa-se na Rua das Olarias, o local onde se encontra foi muito bem escolhido, a câmara aproveitou o que restava das muralhas.
Através do seu espólio, ficamos a conhecer a presença hebraica na cidade de Castelo Branco. Vale a pena parar um pouco e escutar, graças às novas tecnologias, episódios que aconteceram a pessoas acusadas pelo tribunal da Inquisição.
Olhar as peças que servem os rituais judaicos, o grande painel onde figuram os nomes dos judeus que de uma maneira ou outra sofreram perseguições, condenações no tribunal do santo ofício. Amato Lusitano foi um dos que sofreu na pele os esbirros da inquisição.
É um espaço agradável e bonito, fiquem bem.




J.M.S

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Fontes: Manuel Lopes e Manuel Simões

A Rua Manuel Lopes sobe pelo meio do Cimo de Vila. Já a Rua Manuel Simões é uma travessa que liga as artérias lá do alto quase todas. Encontram-se as duas na esquina da ti Mariazé Gata, onde também morava a sr.ª Celeste Dias, parteira, e o tio Miguel Jerónimo, carniceiro.
Penso que a casa do Manuel Lopes Guerra seria a da janela manuelina. E o Manuel Simões, clérigo licenciado que chegou a ser vigário de São Vicente da Beira, moraria na casa com balcão seiscentista, onde depois nasceu a Maria Benedita, que daria origem à Casa Cunha.
O meu primo João Benevides Prata contou-me, um dia, que estas duas casas estavam unidas pelos sótãos, havendo passagem de umas para as outras.
Mas qual a ligação familiar entre os Lopes Guerra e os Simões? Este registo de casamento de 1745 ajuda um pouco.
O noivo, o Doutor Francisco Simões Cardoso era filho de Manuel Lopes Guerra e de sua esposa Mariana Gracia, de São Romão. Uma das testemunhas foi o Doutor Cláudio António Simões, outro filho de Manuel Lopes. O apelido do Manuel Simões passou para os filhos de Manuel Lopes Guerra. Porquê?

José Teodoro Prata

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Fontes: Os Pousão do Violeiro

... vieram de Pousafoles, Sarzedas.
Eu explico. Como estarão lembrados, o Domingos Nunes Pousão, do Violeiro, casou com uma Cabral de Pina, de Fornos de Algodres, irmã do vigário de São Vicente da Beira,  e foram antepassados dos Viscondes de Tinalhas.
Ora o registo de casamento que abaixo se apresenta, de 1681 (a data está parcialmente ilegível, mas pode datar-se pelos outros registos), informa-nos do casamento dos pais desse Domingos Nunes Pousão. O pai chamava-se Domingos Fernandes e a mãe Isabel Nunes. Na margem esquerda, acrescentou-se Pousão ao nome do noivo. Seria uma alcunha, por ser de Pousafoles.
Com o filho, a alcunha passou a apelido. E os filhos de Domingos Nunes Pousão nenhum ficou no Violeiro: uma casou em Tinalhas e os outros quatro, celibatários, fixaram-se em São Vicente. Mas talvez ele tivesse irmãos e assim ainda haja pelo Violeiro descendentes deste Pousão de Pousafoles (mesmo que não usem o apelido).


José Teodoro Prata

domingo, 15 de janeiro de 2017

Oráculo

O ano dois mil e dezasseis, trezentos e sessenta e seis dias depois cortou finalmente a meta.
Bissexto, torto ou travesso. Terramotos, guerras, mortes inesperadas, inundações… dois mil e dezasseis; exausto, entregou o testemunho ao ano dois mil e dezassete. Folgazão, iniciou a corrida com esperança.
Foguetórios, bebidas, comidas… ei-lo que parte sorridente, satisfeito e esperançoso.
Pura ilusão, dois mil e dezassete à medida que vai percorrendo o caminho irá encontrar os mesmos obstáculos, as mesmas manigâncias do seu antecessor. Fomes, guerras, secas, terramotos, hipocrisias, ilusões, desilusões, algumas alegrias, mortes inesperadas, desastres naturais, esperança num futuro melhor também. Gritará aos quatro ventos: “Paz, quero Paz”. Deixem-se de tormentosas guerras, acabem as perseguições ao nosso semelhante, a ganância, o ódio a inveja, continuarão a reinar. Muitos passarão fome, poucos continuarão a empanturrar-se.
As crianças Senhor, não têm culpa de nada tão pequeninas, que mal fizeram para começarem a sofrer assim que nascem. E os velhinhos, tantos sacrifícios passaram para educar, alimentar, cuidar os seus, tantas vezes esquecidos, abandonados.
Os jovens fartam-se de estudar na esperança de um futuro mais risonho, têm que abandonar o seu torrão natal à procura do pão que não encontram na sua terra.
O ano dois mil e dezassete vai ser uma cópia exacta do ano dois mil e dezasseis. Frio, chuva, vento, calor, acidentes, os estrangeirismos vão continuar a enxamear a língua de Camões, mas também haverá muita fé e esperança num futuro melhor. Um dia chegará a meta da igualdade, fraternidade e solidariedade. Está longe, mas existe, temos que ter paciência, coragem e esperança num futuro digno para todos.
A nossa casa comum está doente, se cada der um pouco de si ao nosso semelhante, se cada um de nós amar e respeitar a mãe natureza, o testemunho um dia será recebido apoteoticamente, festivamente.
Guardado cuidadosamente, elevando-se bem alto para que todas as nações da Terra o possam ver entrelaçando as mãos, possamos alegremente dizer:
- Finalmente chegou o ano que transporta o testemunho da Paz, Amor, Justiça, e Fraternidade.

J.M.S