segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Ilustríssimos


A pequena Maria Luciana foi batizada na nossa Vila, a 4 de junho de 1826, tendo como madrinha Nossa Senhora da Conceição. Pais e avós pertenciam à mais fina flor da sociedade portuguesa. Naturais de Coimbra, Lisboa e Reino de França, o pai da Luciana era juiz de fora de São Vicente da Beira, onde dava os primeiros passos de uma carreira pública em que ambicionava atingir o cume, como o pai dele e o sogro: desembargador do Paço, um, e do Senado o outro.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O nosso património

As comunidades não podem dissociar-se do passado, mas também não podem e não devem parar no tempo. Quero dizer com isto que a vida é como uma moeda, tem duas faces.
O homem maduro, depois de obter a sua reforma. deve aproveitar o tempo que ainda tem de vida para transmitir aos mais novos valores e conhecimentos que foi adquirindo ao longo do tempo. A memória de alguém considerado idoso nunca pode ser igual à memória de uma pessoa jovem. Os neurónios vão-se perdendo, a memorização é diferente, enquanto alguém jovem apreende algo com uma facilidade tremenda, a pessoa idosa muitas vezes vê-se e deseja-se para captar determinadas matérias, nomeadamente disciplinas que requeiram concentração, aprendizagem.
Sendo assim, suponho que cada geração terá muito para oferecer à outra. As gerações mais antigas podem e devem transmitir ensinamentos vividos e experienciados à medida que os anos foram passando. Ensinar aos mais novos saberes que de outra maneira se perderão para sempre, a partir do momento em que se corte o fio ténue que nos une à vida.
Entre a vida e a morte, o espaço que medeia estes dois momentos é tão pequenino, tão curto, basta um esticãozito, o fio parte-se e tudo termina para este mundo.
Sou daqueles que acredita que não morreremos. O corpo, sim; o espírito jamais, pertence ao Criador.
Já estou a entrar por um caminho que não é aquele que quero apanhar hoje; portanto… Adiante.
Idoso ou não; todos temos muito que aprender uns com os outros, mas cada geração tem o seu tempo.
Este pequeno intróito tem a ver com o tema que vou explanar.
Estava eu sentado num dos cais da nossa praça a ouvir o som da aparelhagem cujos altifalantes iam debitando decibéis incomodativos, (música de arreda cão, para mim), quando ao meu lado se sentou uma simpática idosa. Depressa veio à baila o passado.
Tínhamos que falar um tom acima do normal, o barulho ensurdecedor dos altifalantes…
- Olha Zé, uma parte da minha casa ainda está tal e qual como era no tempo do Hipólito Raposo, os sobrados e os tectos em castanho, são daquele tempo…
- Qualquer dia, vou lá, se me deixar, claro.
- Quando quiseres.
José Hipólito Vaz Raposo nasceu no dia 12 de Fevereiro 1885, numa casa situada na rua Velha, nº 47, na vila de São Vicente da Beira; não teve uma vida muito longa pois, no dia 26 Agosto do ano 1953, faleceu em Lisboa; tinha 68 anos.
Era filho de João Hipólito Vaz Raposo e Maria Adelaide Gama. Aos 17 anos entrou para o seminário da Guarda, “influência do seu irmão padre Domingos Vaz Raposo com certeza”.
Na Guarda permaneceu dois anos, 1902/1904; depois entrou no liceu de Castelo Branco e mais tarde partiu para Coimbra, onde se formou em Direito, 1911.
Não me vou alongar mais com a sua biografia, o José Teodoro e outros já a esmiuçaram amiudadamente.
No passado mês de Setembro, desci a rua da Cruz, bati à porta da senhora Maria de Jesus, que amavelmente me convidou a entrar. Ao fundo das escadas encontra-se uma porta que dá acesso a três lojas onde guarda utensílios de lavoura, pipos, tanque para o vinho… Subi, ao cimo das escadas, à esquerda, entro numa sala repleta de recordações da sua família: quadros, fotografias dos antepassados… O que imediatamente me chamou a atenção foi um Menino Jesus de Malines!
A senhora Maria de Jesus falava, explicava e apontava.
- Olha aqui ó Zé, para esta moldura: São José, Menino Jesus e o São Roque; aquele quadro além é a Senhora dos Milagres, tem os milagres em toda a volta”.
- E este Menino Jesus, perguntei.
- Foi-me dado pela minha madrinha e tia Maria de Jesus; era irmã da minha mãe, viveu 40 anos em Lisboa. Olha, tem dá réis e tudo.
A sala está igual ao que era no tempo do senhor João Raposo, o pai de Hipólito Raposo.
- É a sala de jantar, nunca cá comi nenhum jantar ou almoço.
- Quer dizer, que aqui comeu muitas vezes Hipólito Raposo.
- Com certeza.
- Estas portas que dão acesso aos quartos, são as portas originais?
- Isto não tinha portas; as cortinas fui eu que as pus. O sobrado e o tecto são todos de castanho.
Entrei nos quartos.
- Terá sido neste quarto que nasceu Hipólito Raposo, é o maior. - diz a senhora Maria de Jesus.
Fotografei e seguimos.
Antes de sairmos da sala, apontou para as portas de uma janela que dá para a rua.
- Ó Zé, repara nestas portas, ainda entram num buraco que as segura, as da outra janela já são modernas.
Ao entrarmos no corredor disse-me: - Dava acesso à cozinha, a minha tia tapou a porta, antes via-se logo a porta da rua.
- Esta é a cama onde morreu a minha tia Resgate (catequista, zeladora da igreja).
Na parede de outro aposento, um relógio de sala me chamou a atenção: - É muito antigo!
- Se é, se é… já disse ao meu neto para mo por aqui mais baixo para lhe dar corda; tem um defeito, quando começa a dar horas, quando dá uma, temos que contar logo duas, parece que está a tocar ao fogo; bam…bam…
- Daqui para lá era à telha vã, e não era tão larga, tinha uma porta para o quintal que já era velha, foi o meu homem que aumentou isto, não tinha aquele quarto que é o meu. Aqui havia uma porta, repara nos buracos e no rasgo, era para porem a tranca. O meu homem é que a tirou, porque era muito velha, aqui era tudo à telha vã, era aonde a minha avó tinha o tear; era tecedeira, esta sala não era tão larga, era mais estreita. A minha avó chamava-se Josefa.
Entrámos na cozinha, imediatamente a senhora Maria de Jesus apontando para o chão dizendo.
- O lar era aqui no meio, o Zé companhia é que fez além a chaminé, o meu homem alargou para aqui a cozinha. As pedras do lar eram iguais àquelas (ardosias que se encontram na soleira da antiga porta) Olha, aqui está a dita porta que dava acesso ao corredor…
Entrei no seu quarto, um cruxificado e várias imagens em cima da cómoda.
- Uma vez cai agarrei-me à comoda, caíram os santos todos que estão em cima do móvel; este Senhor que está além é muito antigo, ficou-me em cima do colo atravessado, intacto; foi um milagre do Senhor Santo Cristo.
A tarde já ia adiantada, tinha que ir regar as couves. Agradeci à Senhora Maria de Jesus toda a atenção que me dispensou.
Com os seus noventa anos, continua a ter uma memória invejável. Saí mais rico, porque estive no lugar onde nasceu e viveu durante a sua meninice o escritor vicentino doutor José Hipólito Vaz Raposo.

Corredor; ao fundo existiu uma porta que dava acesso à cozinha.
                             

A porta da janela é do tempo do doutor Hipólito Raposo, diz a senhora Maria de Jesus.

        
Um batente entra num buraco na parte superior; estas portas não tinham ferragens.


 Tecto da sala todo em castanho


Cabides


Quarto onde terá nascido Hipólito Raposo.
O sobrado é todo de castanho, diz a senhora Maria de Jesus.

                                                                          
Menino Jesus de Malines 

J.M.S

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Ruralidades


Milho na eira, em frente da casa que foi do sr.º Joaquim Guilherme 
(se as minhas recordações de infância não me enganam).


Tufo enorme de juncos, ao fundo da Oriana, onde começa a barragem do Pisco


Esta garça-real não é a nossa. Essa vê-la-emos no dia 12 de novembro, 
durante o passeio pedestre do São Martinho, em torno da barragem do Pisco.

José Teodoro Prata

domingo, 22 de outubro de 2017

A vez da ciência

Perante tanta igorância  e tanto oportunismo face os fogos, vale a pena ouvir a voz da ciência. É uma medida higiénica, para limpar a poeira que anda no ar. Como a chuva desta semana que passou: soube tão bem voltar a respirar ar puro!

Ler em: https://www.dn.pt/portugal/interior/ha-aqui-uma-falha-na-governacao-do-pais-8863573.html

José Teodoro Prata

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Boas práticas

Habitantes juntaram-se para manter terrenos limpos em Vila de Rei

Vítor Fernandes diz que população decidiu agir em vez de esperar pelo Estado.
Cansados de esperar pelo Estado e da aflição anual perante a chegada dos incêndios, os habitantes da aldeia de Monte Novo criaram um grupo para identificar e limpar as terras.
Em Monte Novo, uma pequena aldeia do concelho de Vila de Rei, a ameaça dos incêndios deste verão levou um conjunto de habitantes a agir. "Quando estava tudo a arder em Pedrógão Grande, as pessoas ficaram com medo que chegasse lá e mobilizaram-se todas. Andava tudo a limpar os quintais com medo que o fogo chegasse", recorda Vítor Fernandes. Foi nessa altura que o assistente de parque de estacionamento falou com os vizinhos para que se juntassem e garantissem que os seus terrenos estavam limpos o ano inteiro, de forma a que não andassem aflitos sempre que as chamas espreitam.
"Percebi que eles já tinham falado disso. Marcámos uma reunião, fortalecemos a nossa ideia, andámos com fitas métricas a ver quantos metros era obrigatório limpar à volta dos terrenos. Já temos tudo identificado, agora estamos a espalhar a ideia, a falar com os proprietários das terras em volta da povoação." O que este grupo de dez moradores de Monte Novo, na freguesia da Fundada, pretende é que ou os proprietários limpem os seus terrenos ou que aceitem pagar pelos seus serviços e eles certificam-se que as limpezas cumprem as normas legais.
Caso contrário, "quando houver um incêndio, se for preciso, pegamos numa máquina e limpamos tudo, mesmo sem autorização, porque não podemos é arriscar a segurança das nossas casas", alerta Vítor Fernandes.
Apesar de viver em Lisboa, o mentor desta ideia continua a ir à sua terra natal e mantêm bem presente a necessidade de cuidar dos terrenos para que os incêndios não sejam piores. E já há algum tempo que junta dinheiro - "como um condomínio na cidade" - para tratar da limpeza das terras que mantém. O princípio para a limpeza da aldeia é o mesmo que Vítor e os vizinhos aplicam com as suas terras: "Impusemos que se tivermos alguma despesa a limpar terrenos dos outros, vamos custear isso e juntamos dinheiro para isso. Toda a gente, com um euro por dia limpa o país inteiro", defende.
Começaram pelos terrenos do interior da povoação, que são propriedade dos dinamizadores do grupo, e agora fizeram o levantamento dos terrenos que a envolvem. "Nas terras mais pequenas toda a gente acaba por saber quem é o dono de cada bocadinho e torna-se mais fácil chegar ao contacto com eles". Essa é uma fase que já passou e basta agora terem uma autorização dos proprietários para fazerem a limpeza preventiva a que se propõem.
Estes habitantes de Monte Novo acreditam que a sua iniciativa pode ser um exemplo para que outras zonas do país se mobilizem. "Temos de fazer alguma coisa e não podemos só empurrar para o governo. O problema no momento é de todos."
Vítor fala até com a experiência de quem já tinha lançado o desafio à autarquia de que se criasse um mecanismo que obrigasse a cumprir a lei da limpeza dos terrenos. Na altura, tinha em mente fazer desta atividade um negócio, mas quis garantir que iria haver quem cumprisse a lei e precisasse de serviços como os seus. "A resposta foi de que era difícil fazer cumprir a lei porque as pessoas não gostam de ser pressionadas", lamenta.
Agora aos 60 anos, quer apenas manter um grupo ativo de voluntários e conta com o apoio da autarquia para executar a ideia. O executivo local está disponível para emprestar as máquinas necessárias ao corte das árvores. Com a chegada das chuvas, Vítor e os amigos vão voltar a contactar os donos dos terrenos que precisam de ser limpos para "chegarmos a uma conclusão: ou eles limpam ou avançamos nós".
Diário de Notícias

Esta notíca interessa-me especialmente, quer pelo conteúdo, quer porque vivi 6 anos na Fundada e tive vários alunos do Monte Novo.
Nos comentários que se seguiam ao texto online, muitos escreveram que eles não fizeram mais do que a sua obrigação, pois não compete ao Estado limpar propriedades particulares. É verdade, muitas vezes a culpa que atribuímos ao Estado serve apenas para disfarçar a nossa inatividade. Mas este projeto é muito mais do que isso!!!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Obrigado

Nesta semana em que tomam posse os autarcas eleitos nas últimas eleições, não posso deixar de agradecer ao ex-vereador da Cultura da Câmara Municipal de Castelo Branco, Fernando Raposo, pelo excelente trabalho realizado, no concelho em geral e na nossa Vila em particular.
Sei que atuou sempre em nome do presidente da Câmara, mas foi meritória a sua dedicação a uma área que lhe é querida e em que tem larga experiência: a Cultura. Com ele, Castelo Branco teve pela primeira vez uma política cultural com cabeça, tronco e membros.
Ouvi vários elogios de terceiros e, quanto a nós, foi extraordinário o apoio que nos deu nas apresentações do livro Dos enxidros aos casais... e na oferta dos livros à Misericórdia. Também na criação do Museu de Arte Sacra terá tido um papel importante.
O meu obrigado!


José Teodoro Prata

domingo, 15 de outubro de 2017

Fazer diferente


Saiu o relatório da comissão de "sábios", sobre os incêndios. O ponto 4, que nos diz diretamente respeito, transcrevo-o no final deste texto.
Nele consta a recomendação de diversificar a floresta, com mais castanheiros e carvalhos, mais sobreiros e medronheiros, espaçar as árvores e manter o solo limpo de matos.
Para mim, este último é que é o calcanhar de aquiles. O que fazer aos matos e ramos que se cortam? Todos sabemos que é neles, a par da densidade das árvores, que reside a quase impossiblidade de combater os incêndios.
O Cabeço de Pisco é um bom exemplo desta questão. No ano passado cortaram-se os pinheiros maiores e ficaram os jovens e os eucapiptos; este ano cortaram-se os eucaliptos. A floresta ficou muito rala, quase sem matos, mas com um depósito de caruma de mais de 20 anos e as ramagens de dois cortes em anos consecutivos. Aparentemente, estava bem, de acordo com as melhores práticas recomendadas no relatório. Mas como apagar um incêndio ali?
Informa-me a internet que já existe uma central de compustagem na Chamusca e outra em Vila Nova de Famalicão. Elas são a solução ideal para tratar estes resíduos florestais, mas a área que abrangem será uma gota de água nas nossas necessidades para manter a floresta limpa. Há anos, falou-se numa para Oleiros, mas ficou pelo caminho.
E como limpar a floresta, neste cenário de desertificação humana? Temos falta de gente, mas muitos não querem ouvir falar de imigrantes, como se nós todos não fossemos descendentes de imigrantes. Também seria necessário muito dinheiro para ter uma equipa de sapadores florestais quase em cada freguesia. Mas seriam mais algumas famílias a manterem-se em cada freguesia deste interior despovoado. E o dinheiro? Acho que os milhões gastos quase inutilmente em aviões e helicópteros seriam suficientes. O problema é a fase de transição, em que terá de se manter este gasto quase inútil, ao mesmo tempo que já se pagam aos sapadores.
Com a floresta limpa e ordenada, os incêndios seriam controláveis. No fim de uns anos, teríamos madeiras nobres que tornariam desnecessária a importação.
Nota: Não saiu da minha cabeça esta da limpeza da floresta em vez do uso sistemático de meios aéreos que apenas abrandam o fogo. A opinião é de uma  luso-americana especialista em incêndios que, em entrevista à Visão, defendia o que acima escrevi, dizendo que mais de metade da água lançada pelos aviões evapora com o calor do fogo antes de chegar ao solo.

Faz-me confusão andar na Gardunha, por entre as áreas queimadas. Vamos fazer como de costume e esperar que matos e pinheiros nasçam/rebentem, para daqui a anos arderem de novo? Seria bonito ver a nossa terra com uma moldura de sobreiros, na meia encosta da Gardunha, isto é, nos Enxidros. Dão-se cá tão bem e são tão rentáveis! E nas linhas de água poderia haver carvalhos e castanheiros, como há cem anos, antes de cá chegarem os pinheiros.
E o que vai ser feito para proteger do fogo o que resta da nossa floresta? O São Pedro que trate disso?

«4. Ordenamento e Gestão
  • Deverão criar-se mecanismos que garantam a intervenção num espaço, de largura a definir para cada caso – actualmente está regulamentado em 100 metros – à volta dos aglomerados que assegure pela sua ocupação (pela carga reduzida e descontinuidade do complexo combustível), uma reduzida intensidade do fogo e a protecção das habitações e de outros bens. Devem ser promovidos usos do solo que reduzam a intensidade do fogo e o risco de propagação para edificações e utilizadas espécies de baixa inflamabilidade, com elevado teor de humidade nos períodos secos, ou que promovam o desenvolvimento de complexos vegetais de reduzida combustibilidade. Estas medidas devem privilegiar a minimização das intervenções de manutenção não produtivas, a promoção de actividades humanas de manutenção e as culturas agrícolas de sequeiro ou regadio – anuais ou perenes - desde que os proprietários ou quem a eles se substitua tenha capacidade para a sua gestão e manutenção.
  • Os utilizadores do espaço florestal deverão ser mobilizados para uma intervenção que instale formações arbustivas ou arbóreas com menor combustibilidade e da adopção de práticas que reduzam o risco de incêndios e ajudem a mitigar o problema.
  • Deverá proceder-se a uma reformulação da Autoridade Florestal Nacional nos seus princípios, forma e capacidade de actuação, preocupada com a regulação do sector florestal em geral e focalizada na gestão das áreas sob regime florestal e na prevenção estrutural.
  • As organizações representativas das entidades privadas no sector devem concorrer para apresentar alternativas de utilização e de gestão aos proprietários.
  • Promoção da compartimentação das manchas florestais puras através de 19 plantações novas, ou reconversões, ou ainda adensamentos, com outras espécies arbóreas ou arbustivas de baixa inflamabilidade/combustibilidade ou plantadas em faixas de alta densidade, promovendo um efeito de barreira por quebra da continuidade de combustível ao nível do solo.
  • Reconhece-se que povoamentos puros ou mistos de pinheiro bravo ou eucalipto sem redução efectiva da carga de matos no seu interior conduzem, em situações de secura, a incêndios de grande intensidade com elevada possibilidade de projecções de focos secundários a grandes distâncias. Para estas duas espécies a regra é a da gestão do combustível no sub-bosque. Sem combustível no seu interior estas florestas, em vez de um problema sério, podem fazer parte da solução.
  • As melhores soluções de ordenamento para a mitigação dos incêndios florestais passam pela diversificação da floresta e a utilização de espécies que conduzam a formações menos combustíveis, nomeadamente das folhosas de folha caduca, como os carvalhos, castanheiros ou outras folhosas, por terem um grande teor de humidade. Estas espécies não são propícias a fogos de copas e devem, portanto, ser consideradas em misturas com outras espécies ou em áreas estratégicas para contrariar a fácil propagação dos incêndios. No Pinhal Interior modelos de silvicultura apropriados com Sobreiro e com Medronheiro têm também demonstrado fazer parte integrante de uma solução em que a diversificação da floresta tem de ser um objectivo.
  • Deve dar-se uma redobrada atenção à finalização, a curto prazo, dos novos Programas Regionais de Ordenamento Florestal, os quais podem ser utilizados para que, a partir do conhecimento dos últimos dados do Inventário Florestal Nacional (a aguardar publicação), se revejam as metas inicialmente estabelecidas no sentido de possibilitar que a nível da Região PROF e dos concelhos, sejam cada vez mais incorporadas as questões associadas aos incêndios florestais. As suas propostas deverão ser integradas nos Planos Directores Municipais e ser alvo de maior proximidade e acompanhamento do ordenamento florestal pelas entidades municipais.
  • Criação de programa específico que compense a perda de rendimento por alguns anos para a criação de florestas de carvalhos, castanheiros e outras folhosas. Este programa deverá incentivar os proprietários e gestores florestais a optarem por estas espécies que a médio e longo prazo poderão ser ainda mais rentáveis do que as actuais alternativas e com menor perigo de incêndio para as próprias florestas e para as aldeias existentes nos espaços florestais.»
José Teodoro Prata