Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Conta-me histórias das matações
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
O Casal da Fraga de antigamente
É possível que não andássemos muito longe da verdade se disséssemos que este lugar foi o berço do Casal da Fraga.
Até há relativamente pouco tempo eram casas pequeninas, muito velhas, partilhadas em boa harmonia por pessoas e animais e onde cabia também o celeiro, a adega e tudo o que se colhesse no verão para comer no inverno.
Com o tempo essas velhas casa foram morrendo, ou porque foram demolidas ou com a morte dos donos, mas este cantinho, o mais bonito do Casal, mantém-se quase igual ao que deve ter sido há muitos anos.
Chamaram-lhe
Rua do Saco por ser apenas um pequeno beco sem saída, com uma casa de cada
lado.
Nesta casa, até há pouco tempo, viveu o Ti Augusto Leitão (1911/1997) e a mulher, Libânia dos Santos (falecida recentemente), que a terá herdado dos pais, João José (exposto) e Mariana Duarte.
Mariana Duarte era filha de Francisco Leitão e Josefa Duarte, possivelmente os primeiros proprietários da casa, e cujos apelidos se perpetuaram, através da descendência, em muitos dos atuais moradores do Casal da Fraga.
M.L. Ferreira
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Vilas
Segundo o seu motivo de elevação podemos classifica-las em
duas categorias, as vilas "velhas", elevadas por foral real, para a
sua povoação ou elevação a sede de concelho, e as vilas "novas", que
a partir do séc. XX e até aos dias de hoje, são elevadas por decreto lei por
reunirem as condições para atingirem essa categoria.
De referir que "vila" é apenas um estatuto, e não
quer dizer que a localidade tenha de ser atualmente uma terra desenvolvida ou
com muitos habitantes, até porque muitas destas terras foram elevadas a vila à
centenas de anos sendo que muitas delas foram sede do seu próprio concelho.
Contudo, mesmo que mais tarde tenham passando a ser apenas freguesias, o
estatuto de vila permaneceu.
Outras vilas foram elevadas há menos tempo por decreto de
lei, porque naquela altura reuniram as condições para tal, e mesmo que hoje já
não tenham essas condições continuam também a ser vilas, porque legalmente não
existe nenhuma forma de voltar a ser aldeia.
Nas regras da heráldica portuguesa, os brasões que ostentem
três castelos no cimo são aldeias ou freguesias, quatro castelos, são vilas e
cinco castelos, são cidade. Se verificar cada um dos brasões das localidades
mencionadas nesta lista, vai reparar que todas elas continuam a ter quatro
castelos, ou seja, o título de vila permanece.
Do facebook, em "Factos albicastrenses"
Curiosidade: de entre as vilas, São Vicente da Beira é a mais antiga; mesmo nas cidades, só a Covilhã está à nossa frente, com foral de 1186.
José Teodoro Prata
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
USALBI - Alguns quadros
Fui visitar a exposição de pintura a óleo das turmas da Usalbi lecionadas pela artista Rosário Belo. Aqui deixo algumas imagens. Alguns quadros são de alunos da turmas de São Vicente da Beira, mas poucos. Horário: de quarta-feira a sábado (ou sexta?), das 14 às 18h.
José Teodoro Prata
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
USALBI - Exposição de pintura
Na Sala da Nora, Castelo Branco, exposição dos trabalhos de pintura das turmas da artistas Rosário Belo, de Castelo Branco, Palvarinho-Salgueiro e São Vicente da Beira; até ao fim do mês.
https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=2103916610038621
José Teodoro Prata
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Cantar as Janeiras
https://www.facebook.com/zemanel.santos.1485/videos/616414840758419
As Janeiras cantavam-se e ainda se cantam, no mês de janeiro. Os cantores, grupo de amigos ou membros de uma instituição (por exemplo a Ordem Terceira, este ano) vão de porta em porta cantar as Janeiras, na expetativa de receber alguma paga.
As quadras que se seguem são de uma recolha realizada
por Maria Isabel dos Santos Teodoro e publicadas no seu livro Etnografia de S.
Vicente da Beira (e Arredores), editado em 2022.
Em cada quadra, repetem-se os versos terceiro e quarto
(bis). As reticências (...), quando existem, assinalam o local em que se deve
cantar o nome da pessoa, variável conforme a pessoa a quem os cantores se
dirigem. Os cantores cantavam algumas ou todas estas quadras e/ou outras que
achassem conveniente.
Refrão
Glória
a Deus dizem os Anjos
Todos
cheios de alegria
Já nasceu
o Deus Menino
Filho
da Virgem Maria
Inda
agora aqui cheguei
Pus o
pé numa escada
Logo o
meu coração disse
Aqui mora
gente honrada
S.
José se levantou
Uma vela
s´acendeu
Pr´adorar
o Deus Menino
Que à
meia-noite nasceu
De quem
é aquele chapéu
Que além
está dependurado?
Ai é
do menino…
Que é
um homem muito honrado
De quem
é aquele anel
Que além
está a luzir?
Ai é
da senhora…
Que pró
céu vai a subir
De
quem é aquela tesoura
Que está
de cima daquela cadeira?
Ai é
da menina…
Que é
uma bela costureira
Menina
…
Meu raminho
de salsa crua
Quando
sai de sua casa
Alumia
toda a rua
Viva lá
menina…
Meu raminho
de oliveira
Ainda
anda neste mundo
Já no
céu tem a cadeira
Levante-se
sra. Maria…
Desse
banquinho de cortiça
Venha-nos
dar as Janeiras
Uma
morcela ou uma chouriça
Levante-se
sr.…
Desse
banquinho de prata
Venha-nos
dar as Janeiras
Que está
um frio que mata
Esta
casa está caiada
Do telhado
até ao chão
Aos senhores
que aqui moram
Deus lhes
dê a salvação
Os donos
da casa abriam a porta e ofereciam aos cantores filhós, chouriças, vinho, etc.
Depois cantavam:
Despedida,
despedida
Despedida
vamos dar
Deus queira
que daqui a um ano
Cá tornemos
a voltar
Se não
lhes abrissem a porta, cantavam:
Trinca
martelos
Torna
a trincar
Este barbas
de chibo
Não tem
nada pra nos dar
José
Teodoro Prata
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Os nossos avós eram cientistas
A minha mãe (digo mãe porque ao pai cabia ganhar dinheiro
para o sustento da família) semeava o milho de uma forma que comecei a
considerar anárquica, quando cresci e julgava que sabia tudo.
Milho, feijão grande (de trepar) e botelhas, tudo misturado.
As botelhas estendiam-se pelo cultivo, com os seus longos braços. O milho dava
jeito ao feijão, que trepava por ele acima, dispensando as empas. Na colheita,
tínhamos grão de milho para as galinhas, folhas de milho para as cabras, feijão
para comer, verde ou seco, e botelhas para a sopa e para o porco. Uma fartura!
Mas eu, conforme crescia, ia achando aquela mistura incorreta
e eventualmente menos produtiva, pois os modernos métodos de cultivo separavam
todas as plantas e modernidade seria sinónimo de sabedoria.
Até que ontem, um documentário que passa na RTP 2 à hora dos
noticiários, “As Américas antes de 1491” me deixou de boca aberta. O milho foi
domesticado na América Central, há 10 000 anos. Os Maias cultivavam-no à
mistura com o feijão, a pimenta de chili e as abóboras. As plantas apoiavam-se
umas às outras, por exemplo o feijão enriquecia a terra com nitrogénio,
ajudando o milho a crescer.
Exatamente como a minha mãe fazia! O mesmo método de cultivo
durante milhares de anos! Será que as vantagens da mistura foram sendo descobertas
pelos nossos antepassados ou elas passaram da América para a Europa, nos
testemunhos orais de quem o trouxe nos barcos comerciais?
Os nossos avós eram mesmo cientistas! Criaram saber
científico antes ainda de haver Ciência (séc. XVII) ou de saber que ela existia
(séc. XX).
E conheciam as vantagens da biodiversidade na Natureza, coisa
que os humanos atuais tanto ignoram, seja a diversidade animal, vegetal ou
humana.
José Teodoro Prata