Na tarde de 25 de agosto e na noite desse dia para o de 26, ocorreu um fenómeno metereológico como não há memória entre os mais antigos. A meio da tarde e depois à noite registaram-se descargas de forma contínua, pois o barulho nunca parava. Além disso, em São Vicente, a trovoada veio acompanhada por uma carga de água de alto lá com ela!
Encontrei neste site
(http://www.meteopt.com/forum/topico/trovoada-pampilhosa-da-serra-25-26-agosto-2016.8871/
de alguém da Pampilhosa da Serra (em linha reta estamos muito perto) um vídeo e imagens impressionantes, de que deixo um exemplar, para abrir o apetite. Têm de descer até meio do site para ver a parte melhor.
José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Amoras silvestres
Começou (para mim, no Ribeiro de Dom Bento/na serra) a temporada das amoras.
E com as chuvas da semana passada ainda vão ficar melhores!
Num ano desgraçado como este, é a minha primeira fruta.
Tardes, compotas... Com amoras silvestres, fica tudo excelente!
Não há quem me mande uma foto da trovoada?
José Teodoro Prata
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
D. Pedro, Conde de Barcelos - palestra
Reina grande alvoroço em São Vicente desde 5.ª feira da
semana passada. É sempre assim, quando o Conde de Barcelos, D. Pedro, aqui
pousa com os seus homens, a criadagem e as suas bestas. No entanto, não é isto
nada se comparado com o sucedido no ano de 1344, quando o conde aqui instalou um paço e nele a mulher que ama, D. Tareja Anes de Toledo, sua amante.
É D. Pedro um homem de uns onze palmos de altura, com
envergadura correspondente, de cabelo crescido e sobremaneira ruivo, o que é
uma raridade. De porte altivo e bem apessoado, ele, que é homem dos seus 60
anos, tem, de rico e poderoso, mais do que qualquer outro em Portugal.
D. Pedro é fruto de uma ligação de D. Dinis com D.
Graça Froes, pertencente a uma importante família de Torres Vedras. Este homem, exímio na arte de andar a cavalo,
corre desde madrugada os montes do termo de São Vicente, em perseguição de caça
grossa, como gosta de fazer sempre que aqui vem em especial no meio do Inverno.
Nem só à caça se dedica o Conde em São Vicente. Se faz
mau tempo, o paço anima-se em serões que se alongam pela noite. Acodem jograis
com as suas trupes, atraídos pela perspectiva de dormida e comida gratuitas e
de uma remuneração compensatórias. D.
Pedro também costuma contratar vilãos de São Vicente para, no paço, cantarem e
dançarem as suas modas populares, que muito aprazem à fidalguia presente.
D. Pedro é homem de grande cultura, que dedicou alguns
anos da sua vida - entre 1325 e 1344, dizem - a compilar uma Crónica Geral de
Espanha; antes disso, fizera já a compilação de um Livro de Linhagens. E pedem
muitas vezes as damas que o Conde recite algumas dessas cantigas de amor que
ele compôs, ou mesmo outras de autores vários, o que ele de costume faz de boa
vontade.
José Miguel Teodoro, No Tempo dos Avós mais Velhos, GEGA, S. Vicente da Beira, 2003 (adaptação
livre das páginas 62 a 64)
José Teodoro Prata
domingo, 28 de agosto de 2016
O nosso falar: rabeiras
Rabeiras vem de rabo, cauda, o que fica para o fim.
No que aos cereais diz respeito, pois é isso que aqui me traz, o significado que apresenta o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa 2001 é: «6. Resíduos miúdos que ficam depois de joeirados os cereais; pragana do grão.»
Mas a minha mãe dá-lhe ainda outro significado. Há dias, conversávamos sobre a alimentação dos galináceos em geral, os perigos das farinhas com aceleradores de crescimento e medicamentos.
Ela respondeu-me que não havia perigo, pois comiam rabeiras que o João Ventura vendia. Tentei entender e explicou-me que eram uma mistura de cereais mais reles que não eram aproveitados para fazer farinha.
Penso que são sacos com uma mistura de sementes, nem todas de cereais, mas também de gramíneas e leguminosas.
Em todo o caso, para a minha mãe, rabeiras são restos de cereais, os que não prestaram para farinar e por isso são dados aos animais.
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Tempo livre
Há uns tempos, o
Ernesto Hipólito ofereceu-se um livro antigo. Foi a minha leitura deste verão.
Chama-se A Paixão
de Jane Eyre e foi escrito por Charlotte Bronte, irmã da autora do Monte
dos Vendavais. A primeira edição saiu, em Inglaterra, no ano de 1847. A edição
portuguesa não está datada e parece ser de meados do século passado.
A ortografia
é diferente da atual e também da anterior ao acordo ortográfico agora em vigor.
Além dos aspetos visíveis, ainda se usava o ponto de interrogação invertido no
início da frase interrogativa (que não pude reproduzir).
No trecho que
aqui vos deixo, a cena passa-se num colégio de meninas órfãs, propriedade da
Igreja Evangelista local. Decorre uma visita/inspeção do pastor, acompanhado
pela sua esposa e filhas…
Entretanto, Mr.
Brocklehurst, em pé, diante do fogão, com as mãos atrás das costas, passava
majestosamente revista à classe inteira. De repente, piscou os olhos, como se
qualquer coisa lhe ferisse ou chocasse a vista; virando-se, disse com um tom
mais rápido que até aí.
- Miss Temple, Miss Temple! Quê? Quem
é aquela aluna com cabelos frisados? Cabelos vermelhos, senhora, e frisados, todos
frisados?
Levantou a bengala e apontou
êsse horrível objecto; a sua mão tremia.
- É Júlia Severn –
respondeu, com tôda a tranquilidade, Miss Temple.
Júlia Severn, hem? E porque
frisou ela os cabelos? Porque razão, apesar de todos os princípios e regulamentos
desta casa, uma casa evangélica, um estabelecimento de caridade, procede ela
como se estivesse lá fora, no mundo? Aqui não se querem caracóis!
- Os cabelos de Júlia são
assim mesmo, naturalmente encaracolados – respondeu Miss Temple, ainda mais tranquila.
- Naturalmente! Sim, mas nós
não nos devemos conformar com a natureza; quero que estas meninas sejam filhas
da Graça. E depois, porque tanto cabelo? Já disse, e torno a dizê-lo, que quero
os cabelos penteados, com modéstia e simplicidade. Miss Temple, é preciso
mandar cortar os cabelos a essa menina: mandarei amanhã um barbeiro. E estou a
ver aqui outras com excesso dessas excrescências. Aquela crescida, diga-lhe que
se volte. Diga à primeira divisão que se levante. Que se virem tôdas para a
parede.
(…)
- Êstes carrapitos têm de
ser cortados.
Miss Temple pareceu
discutir.
- Minha senhora, -
prosseguiu êle – sirvo um Amo cujo reino não é deste mundo: a minha missão é
mortificar nestas raparigas as vaidades da carne e ensinar-lhes a vestirem-se
com modéstia e sobriedade, e não a trazerem os cabelos enfeitados com ricos
atavios. Cada uma das raparigas aqui presentes anda penteada como se a vaidade
em pessoa a tivesse arranjado por suas mãos. Repito: êstes cabelos têm que ser
cortados; pense no tempo perdido…
Aqui, Mr. Brocklehurst foi
interrompido pela entrada de três senhoras. Pena foi que não tivessem chegado
um momento mais cedo, para ouvirem êste sermão sôbre os adornos, pois vinham
admiràvelmente vestidas de veludo, sêdas e peles. As duas mais novas (duas
lindas raparigas de dezasseis a dezassete anos) traziam feltros cinzentos; à
moda de então, enfeitados com penas de avestruz e, sob os graciosos chapéus,
viam-se-lhes as tranças e os caracóis; a mais velha das três vinha envôlta num
rico chaile de veludo enfeitado de arminho e com uma franja de cabelos postiços
tôda encaracolada.
As senhoras foram recebidas
com tôda a deferência por Miss Temple (eram Mrs. e Misses Brocklehurst) e
conduzidas aos lugares de honra, ao fundo da sala.
José Teodoro Prata
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
O fogo
No
ano 2003, a nossa região foi terrivelmente afectada pelo flagelo dos fogos, até
ao dia sete de Agosto tinham ardido em Portugal cento e sessenta e dois mil
hectares de mata, proprietários mais pobres, o país também. A erosão dos solos,
as cheias, o aquecimento global…
São
dessa época os versos que seguem.
A temperatura baixou, os fogos terminaram
Por agora…
É tempo de fazer balanço na fauna e flora
E às matas que os fogos queimaram
Montes e vales despidos
Sem nada a protegê-los
Passa o vento aos gemidos
Assassinos, grandes camelos
Por montes, vales e baixas
Tudo a chama e o lume levou
Foi-se a floresta, a terra ficou despida
O fogo, tudo destruiu e queimou
A ganância de alguns é tanta
Que tudo querem destruir
As serras sem a sua manta
Choram, choram; não podem rir
As televisões mostraram
Esta miséria sem igual
Casas, florestas, hortas, queimadas
Neste nosso Portugal
As aldeias ficaram mais pobres
Tudo, o fogo consumiu e levou
De negro e cinzas a montanha se cobre
O fogo, tudo comeu e matou
Tocam os sinos a dobrar
Reza-se ao Criador
Levam-se os mortos a enterrar
Os que morreram naquele horror
Do Violeiro à Enxabarda
Do Ingarnal a Oleiros
Muitos ficaram sem nada
Casas, hortas e palheiros
Gente que vivia da terra
Gente de paz e bem
Mais parece uma guerra
Tantos ficaram sem vintém
Senhores lá de Lisboa
Nossas gentes venham ver
Ficaram sem nada para comer
Gentes de Trás da Serra
Tendes na mata o sustento
Vencereis esta guerra
Com denodo e alento
No alto daquele monte
Vejo uma planta a nascer
Perto brota uma fonte
Que a ajuda a crescer
Já oiço os passarinhos
Com seu alegre chilrear
Construindo seus ninhos
No seu novo e belo lar
A montanha a pouco-e-pouco
Está novamente verdinha
Que nunca mais nenhum louco
A queime, deixando-a nuazinha
Todos juntos em união
Venceremos estas batalhas
Temos todos mais que razão
Não nos dêem mais migalhas
Se nos querem ajudar
Ponham as máquinas a trabalhar
Para a terra lavrar
A semente semear
A planta brotar
Crescer, crescer sem parar
Para o povo se alimentar
O ar se purificar
A ave nidificar
O animal se criar
A lareira aquecer o lar
O povo deixar de mourejar
E nunca mais o fogo voltar
Zé
da Villa
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terça-feira, 23 de agosto de 2016
O nosso falar: ir para a Devesa
No passado, grandes extensões do antigo concelho de São Vicente da Beira eram terras baldias. Era o caso dos enxidros e de quase toda a área do triângulo Louriçal-São Vicente, Ribeirinha e Ocreza, até abaixo do paredão da atual barragem de Santa Águeda. Nestes baldios, os povos tinham a liberdade de apascentar os gados e colher lenha e mato. Às vezes havia limitações, mas estabelecidas pela Câmara.
A Devesa era o baldio mais próximo da Vila. Por isso, ainda nos anos 60 e 70, quando crianças e jovens importunavam os adultos com jogos de bola ou correrias, na Praça ou em qualquer rua, logo vinha o "convite":
- Vão para a Devesa!
José Teodoro Prata
A Devesa era o baldio mais próximo da Vila. Por isso, ainda nos anos 60 e 70, quando crianças e jovens importunavam os adultos com jogos de bola ou correrias, na Praça ou em qualquer rua, logo vinha o "convite":
- Vão para a Devesa!
José Teodoro Prata
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