terça-feira, 8 de março de 2016

Os judeus em Castelo Branco

Não se sabe ao certo quando é que os Judeus chegaram à península Ibérica, mas há vestígios que indicam que já por cá andariam há vários séculos, antes da fundação de Portugal. Pelos vistos conviviam bem com os Mouros, e depois também com os cristãos, após a Reconquista, embora ocupassem espaços específicos: as judiarias.  
No século XIV os reis Católicos decretaram a expulsão dos Judeus de Castela, e a maioria fugiu para Portugal. Muitos acabaram por se fixar nas povoações junto à fronteira, na região da Beira Interior. Belmonte, Castelo de Vide, Covilhã e Castelo Branco foram cidades com comunidades judaicas muito importantes, e onde atualmente ainda vivem algumas famílias.
Embora não fosse verdadeira a ideia de que os Judeus eram todos muito ricos, existia na comunidade gente de grande prestígio social e importância financeira: banqueiros, médicos (Amato Lusitano e Garcia de Orta, por exemplo), cientistas, etc.; mas a maioria eram pequenos comerciantes e artesãos que, apesar disso, davam um enorme contributo para o desenvolvimento das regiões onde se fixavam. 
Em Castelo Branco, dentro da muralha, existem ainda as ruas dos Ferreiros, dos Oleiros, dos Peleteiros e dos Lagares que certamente devem o nome ao facto de lá terem existido oficinas ligadas a essas atividades, muito provavelmente propriedade de judeus.
Para além dos nomes, também o traçado labiríntico das ruas é resultado da presença judaica em Castelo Branco. Este desenho urbanístico, a par dos alçapões, desníveis e ligações escondidas entre as casas, teria uma função protetora contra possíveis perseguições, principalmente após o decreto de D. Manuel I que, a mando dos Reis de Espanha, exigiu também a conversão e expulsão dos Judeus em Portugal.

Num passeio pela judiaria encontrámos ainda muitos vestígios da presença judaica em Castelo Branco:
       

Provavelmente a porta de entrada da antiga sinagoga;


 

 Portadas biseladas, com sulcos (em baixo);

 

Lintéis Manuelinos, frequentes nas casas mais abastadas;


Duas portas de entrada: uma de serventia da habitação (a mais estreita), outra da oficina ou comércio. Inscrições sobre as portas;


Nesta casa terá existido uma olaria que empregava para cima de cinquenta pessoas, entre as que trabalhavam o barro e as que o acartavam às costas, do cimo do monte, no castelo;


Símbolos cristãos gravados nas ombreiras a atestarem ou simularem a conversão ao cristianismo (Há tempos, em Alpalhão, vi uma porta que tem onze cruzes gravadas. 
Disse-me a proprietária que é a que tem maior número destes símbolos em toda a Europa);


E tantas outras coisas a merecerem uma visita!

M. L. Ferreira

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ladainha à Senhora da Orada

Pai-nosso…
Ave-Maria…

Celebrante:
- Meu Deus, vinde em meu auxílio
Todos:
- Senhor, socorrei-me sem demora
Celebrante:
- Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo
Todos:
- Assim como era no princípio…
Celebrante:
- Louvor a vós, Senhor Rei da eterna glória
- Louvai, ó servos do Senhor; louvai o nome do Senhor. Seja bendito o nome do Senhor, tanto agora como por toda a eternidade. Desde o nascer do sol até ao seu ocaso, seja louvado o
nome do Senhor.

Senhor tende piedade de nós
Jesus Cristo tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Jesus Cristo, ouvi-nos
Jesus Cristo , atendei-nos
Pai celeste que sois Deus                                 ...Tende piedade de nós
Filho, Redentor do mundo que sois Deus        ...Tende piedade de nós
Espírito Santo que sois Deus                           ...Tende piedade de nós
Santíssima Trindade que sois um só Deus       ...Tende piedade de nós

Celebrante:
- O Senhor domina todos os povos; a sua glória ultrapassa os céus. Quem semelhante ao Senhor nosso Deus que está assentado nas alturas e se digna baixar seus olhos para o céu e para a terra?
Ergue do pó o indigente e retira o pobre do monturo, para o colocar com os seus príncipes, com os príncipes do Seu povo
Àquela que era estéril, faz habitar em sua casa cheia de alegria de ser mãe de filhos
Glória ao Pai…

Celebrante:
- Seja bendito o nome do Senhor
Todos:
- Agora e em todos os séculos

Santa Maria                                      ...Rogai por nós
Santa mãe de Deus                           ...Rogai por nós
Santa Virgem das Virgens               …Rogai por nós
Mãe de Cristo                                  …Rogai por nós
Mãe da divina graça                        ...Rogai por nós
Mãe puríssima                                 ...Rogai por nós
Mãe castíssima                                ...Rogai por nós
Mãe imaculada                                ...Rogai por nós
Mãe intacta                                      ...Rogai por nós
Mãe amável                                     ...Rogai por nós
Mãe admirável                                ...Rogai por nós
Mãe do bom conselho                     ...Rogai por nós
Mãe do Criador                              ...Rogai por nós

Celebrante:
-O nosso Deus está no céu, e fez tudo quanto quis. A prata e o ouro-trabalho das mãos dos homens- são os seus ídolos. Têm boca e não falam, têm olhos e não vêm, têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram, têm mãos e não apalpam, têm pés e não andam. Na sua garganta não se ouve a voz. Serão semelhantes a eles os que os fabricam e os que neles confiam
A casa de Israel confia no Senhor. Ele é o seu auxílio e o seu protetor. Os que temem o Senhor confiam no Senhor. Ele é o seu auxílio e o seu protetor
O Senhor lembra-se de nós e abençoar-nos-á. Abençoará os que temem o Senhor, tanto os pequenos, como os grandes. O Senhor multiplicará as suas bênçãos sobre vós e vossos filhos

Celebrante:
- Sede benditos do Senhor
Todos:
- Que criou o céu e a terra

Mãe do Salvador                    ...Rogai por nós
Virgem prudentíssima            ...Rogai por nós                              
Virgem venerável                   ...Rogai por nós
Virgem louvável                     ...Rogai por nós
Virgem poderosa                    ...Rogai por nós
Virgem benigna                      ...Rogai por nós
Virgem fiel                              ...Rogai por nós
Espelho de justiça                  ...Rogai por nós
Sede da sabedoria                  ...Rogai por nós
Causa da nossa alegria          ...Rogai por nós
Vaso espiritual                        ...Rogai por nós
Vaso honorífico                       ...Rogai por nós
Vaso insigne de devoção         ...Rogai por nós

Celebrante:
- O céu é o céu do Senhor, porém a terra deu-a aos filhos dos homens. Não são os mortos que louvam o Senhor, nem algum dos que desceram aos infernos. Mas nós é que bendizemos o Senhor, tanto agora como pelos séculos

Celebrante:
- Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Todos:
- Assim como era no princípio…

Rosa mística                             ...Rogai por nós
Torre de David                         ...Rogai por nós
Torre de Marfim                       ...Rogai por nós
Casa de ouro                            ...Rogai por nós
Arca da Aliança                        ...Rogai por nós
Estrela da manhã                      ...Rogai por nós
Porta do céu                              ...Rogai por nós
Saúde dos enfermos                   ...Rogai por nós      
Refúgio dos pecadores              ...Rogai por nós
Consoladora dos aflitos            ...Rogai por nós
Auxílio dos cristãos                   ...Rogai por nós

Celebrante:
- Ó fecundo Criador dos céus, luz eterna dos crentes, Redentor de todos os homens, ó Jesus, escutai as nossas súplicas.
O mundo ia perecer pelas insídias do demónio e no entusiasmo do Vosso amor Vos tornastes remédio dos seus males. Para expiar na cruz o crime universal da nossa raça, ó vitima inocente, saíste do augusto seio da Virgem.
Ao surgir a Vossa glória e o Vosso poder, ao soar só o Vosso Nome, tudo tremeu, céu e inferno, tudo dobrou de joelhos
Soberano Juiz do derradeiro dia, Vos suplicamos, defendei-nos de nossos inimigos com as armas da graça celestial.
Poder, honra, louvor e glória a Deus Pai e ao Filho Unigénito, assim como ao Santo Paráclito em todos os séculos; amem

Celebrante:
- Ó céus, derramai o orvalho; e que as nuvens chovam o justo
Todos:
- Abra-se a terra e germine o Salvador

Rainha dos Anjos                                                   ...Rogai por nós
Rainha dos Patriarcas                                           ...Rogai por nós
Rainha dos profetas                                               ...Rogai por nós
Rainha dos  Apóstolos                                           ...Rogai por nós
Rainha dos confessores                                         ...Rogai por nós
Rainha das Virgens                                               ...Rogai por nós
Rainha de todos os Santos                                     ...Rogai por nós
Rainha concebida isenta do pecado original        ...Rogai por nós
Rainha elevada aos céus em corpo e alma           ...Rogai por nós
Rainha do Santíssimo Rosário                              ...Rogai por nós
Rainha da Paz                                                       ...Rogai por nós

Celebrante:
- Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo (3 vezes)
Todos:
- Perdoai-nos Senhor

Celebrante:
- Ó Deus que segundo a anunciação do Anjo quisestes que o Vosso Verbo assumisse a carne humana no seio da Bem -Aventurada Virgem Maria; concedei aos Vossos suplicantes que os que creem que Ela é verdadeira Mãe de Deus, sejam auxiliados na Vossa presença com a intercessão das suas preces
Pelo mesmo Cristo Nosso Senhor
Todos:
- Amem                                                                    

(Missal Romano Quotidiano, Monsenhor Freitas Barros)
Castelo Branco 2 Março 2016


José Manuel dos Santos 

sexta-feira, 4 de março de 2016

A solidariedade

Venho aqui à Praça Virtual na qualidade de “gestor de negócios” agradecer a onda de solidariedade que se gerou a favor do Chico Barroso, que poderia ser eu, mas que no caso é o meu primo e reconhecer que “há males que vêm por bem”.
Isto, porque se não fosse a publicação da Fonte Velha, na altura em que o foi, o caso poderia ter morrido por ali.
Mas alguém atento vem dizer: como é que se ralam tanto com questões colectivas de natureza estética, quando na família têm questões morais, por resolver?
Aqui digo eu. É fácil ver qual a questão prioritária. E nunca eu publicaria o artigo, se soubesse que a questão do palheiro dizia respeito a um primo meu.
Isto porque quando diz respeito à nossa família as coisas mexem de outra maneira. Praticamente só por isso, porque a televisão já nos imunizou relativamente à tragedias alheias. Basta olhar os telejornais. Mortos Síria, crianças afogadas na travessia do Mediterrâneo… e a vida não pára. Nem sequer nos tira o apetite do jantar.
Mas é sempre bom falar-se das coisas. Estive com ele no Carnaval. Não me deu conta dos seus problemas e eu, admito, nem sequer pensei que as coisas pudessem não estar na forma do costume. Mas ao saber da situação por portas travessas, não me alheio do problema. Estou solidário com o movimento.
E fico contente por saber que já foi dado conhecimento à Segurança Social e à Câmara Municipal. Aí o Zé Manel esteve bem. E acrescento, se estou solidário com a questão da Fonte, mais solidário estou ainda com onda do meu primo Chico.
Tanto num caso como no outro, depois das entidades competentes, tomarem as providências devidas. É para isso e para muito mais que se pagam tantos impostos.
O meu primo, seguramente não precisa passar fome, nem frio. Tem família e há instituições na Vila que fornecem bens alimentícios e que seguramente lhe darão uns cobertores para não enregelar no inverno.
Eventualmente a pobreza pior, como já foi sugerido, não será a material. Ele tem trabalhado ao longo da vida tanto, quanto sei. No seu caso como noutros, haverá é alguma dificuldade de gerir pessoas e bens. Como é que se ajudam estas pessoas?
Vejam a generosidade, do João Craveiro. O telhado do Domingos pode tratar-se rápido é uma coisa simples: Tão simples, digo eu, que nem devia existir. Ele próprio podia tratar disso. Telhas, bastava pedir ao pessoal das obras. Ripas e caibros podia ele fazê-los. Deve perguntar-se: o Telhado está assim porquê? Dificuldades materiais ou pura incúria?
O João Botelho não tem água canalizada, nem esquentador. É triste. Vamos tratar da canalização e oferecer-lhe um esquentador ou é melhor ensinar-lhe a aquecer água para o banho?
De toda esta exaltação o que restará? Irá fazer-se alguma coisa por alguém? Para já a nota é negativa. De tantos leitores que tem o blogue, quantos se pronunciaram? A mensagem implícita é: não me incomodem… Estou tão sossegado.
Para citar também o Evangelho, eu que fui seminarista, conheço pessoas na Vila que põem em pratica a máxima de Mateus: “que não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita,” quando deres alguma esmola.
E por aqui me fico…

Francisco Barroso

terça-feira, 1 de março de 2016

Uma excelente notícia

Depois das últimas publicações que tanto nos preocuparam (oxalá continuem a preocupar-nos enquanto a situação não estiver resolvida), penso que temos uma boa notícia.
Já não ia à Senhora da Orada há algum tempo. Fui lá hoje e nem queria acreditar quando cheguei ao alto de onde já se avista o terreiro e vi que andavam a fazer obras no edifício que serve da arrecadação e instalações sanitárias.


Não sendo a solução ideal (se fosse eu a mandar e pudesse pagar, mandava fazer um edifício mais discreto e integrado na paisagem), acho que está bem melhor assim e o recinto ganhou alguma dignidade. Também já não sentimos vergonha nem indignação quando lá vamos ou alguém nos visita.

Num passeio pelas margens da ribeira, no caminho antigo, encontrei esta cruz.


Já lá deve estar há muito tempo, mas nem o Joaquim Teodoro que por ali nasceu e se criou, nem o senhor Miguel Campos, o último morador das Quintas, me souberam dizer ao certo o seu significado. Será que alguém morreu naquele sítio? Será uma Alminha? Parece…


M. L. Ferreira

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Dickens na Beira Interior

Este texto vem na revista VISÃO desta semana e é do Ricardo Araújo Pereira.
Publico-o aqui porquê:
1. É um excelente texto.
2. Diz respeito à nossa região.
3. Refere-se a um assunto que temos tratado nas últimas publicações (há lá novos comentários).


José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Fonte Velha II

Em finais de 2011, já lá vão 4 anos, dei-vos a conhecer a minha grande tristeza com o estado de degradação de um dos locais mais nobres e vetustos da Vila numa crónica aqui publicada: A Fonte Velha. Volto hoje ao tema.
Não se pode dizer que nada foi feito, de lá para cá, para inverter a situação. Temos a casa da música, que reabilitou, com bom gosto, um espaço degradado e que faz com que só o Porto rivalize connosco, com uma casa da música ainda maior e com melhor programa que a nossa. E temos também o compromisso, por parte da Câmara Municipal, do acabamento da casa paroquial e da demolição do barracão contíguo, que foi construído com a participação de muitos de nós.
Mas cumpridas que sejam as promessas da Câmara, representando um passo enorme para a reabilitação daquele local mágico que é a Fonte Velha, local privilegiado de namoros antigos, onde os nossos pais esperaram pelas nossas mães, antes de o serem, com o coração ao pulos; onde se celebrava a festa da inspecção, entre amigos e irmãos, que a embelezavam com vazos de flores e cabeleiras amarelas, que muitas mulheres da Vila cultivavam com carinho especial, na escuridão, para nesse dia os oferecerem àqueles jovens. A quantos encontros simbólicos assistimos com o coração amassado, pelo Pe. Leal, entre Jesus, sua Mãe e o amigo inseparável João?
A fonte velha vos digo eu, além do lugar mágico que é, devia ser um local de culto. Um espaço cheio de dignidade e por isso é com o coração amassado que venho assistindo à degradação da casa Cunha, sem que o fenómeno pareça incomodar ninguém, quando nos devia incomodar a todos.
O grupo informal dos Amigos da Praça, a que tenho a honra de pertencer, que ali reúne regularmente durante o mês de agosto de cada ano, tendo como um dos assuntos recorrentes a reabilitação daquele espaço, deliberou tornar publica a deliberação tomada e que é a seguinte:
- A Junta de Freguesia (curadora dos interesses colectivos) deverá envidar esforços junto da Câmara Municipal para notificar os proprietários ao abrigo do artigo 89.º do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, republicado pelo Dec.-Lei n.º 136/2014, que estabelece: as edificações devem ser objecto de obras de conservação pelo menos de 8 em 8 anos…destinadas a manter a edificação nas regras de segurança, salubridade e arranjo estético.
- A intervenção destina-se a conferir alguma dignidade àquele espaço urbano, que provavelmente estará até classificado como núcleo histórico e por isso sujeito a regras mais apertadas.
- No caso de não ser feita qualquer intervenção por quem de direito, a Junta/Câmara deverá obter destes autorização para que qualquer delas possa intervencionar o espaço.
- A reparação consistirá em pintar a fachada principal e a lateral da Rua da Costa, substituir os vidros partidos das janela, retirar os estores que se encontram num estado de degradação total e dar um jeito às portas. Sendo que o mais difícil será suportar o telhado visível da Fonte.
- Foi ainda deliberado oferecer para já os seguintes contributos: Francisco Barroso, José Craveiro e Tó Luis, artista de lápis de carvão, mas também de nível e fio-de-prumo, dois dias de mão-de-obra, cada. O João Craveiro ofereceu-se para instalar o sistema de suporte do telhado em questão, o das águas para a Fonte.
Este contributo é disponibilizado para o mês de agosto, que é quando o pessoal se encontra de férias, mas estou certo que se a ideia for agarrada outros aparecerão. Não é uma questão megalómana…está perfeitamente ao nosso alcance.
Lanço o desafio a todos os que gostam muito de São Vicente. Àqueles que o assumem publicamente e aos leitores desta nossa Praça virtual que, não se revelando, nos lêem porque gostam também de São Vicente.
O meu grito está lançado. Há alguém desse lado?

Fevereiro, 2016
Francisco Barroso

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Toda a gente é pessoa

Os meus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Um barraco que no dia anterior tinha servido de corte aos animais, hoje serve de habitação a um casal.


Não me importa o motivo desta aberrante situação, o mais importante, para mim, é encarar esta realidade que eu pensava já não existisse - pelo menos nas nossas terras. Afinal a história parece que se repete. O Pai deu a uns mais talentos que a outros, certo. Mas, como diz o padre António Rêgo, toda a gente é pessoa.
Um dia, encontrava-me bastante mal e dirigi-me às urgências. As dores não diminuíam. Passado algum tempo, chamaram-me e mandaram-me esperar. As dores não abrandavam. Finalmente, fui visto pelo médico que se mostrou bastante atencioso. As primeiras palavras que eu lhe disse foram as seguintes:
- Doutor, trate-me como se eu fosse um cão.
Ficou sem palavras; há animais que são mais bem tratados que as pessoas.
Um destes dias, a R.T.P. noticiou que, em Olhão, um grupo de defesa dos animais, com a colaboração de dois bombeiros, estão a ensinar as pessoas a prestar os primeiros socorros a cães e gatos… e por aí fora. Gosto muito de animais, na casa dos meus pais sempre houve cães e gatos; mas, meu Deus, que sociedade é esta?! Que interesses são estes?! Deixamos ao deus dará pessoas e acolhemos cães e gatos nas nossas casas como se fossem gente. Que mundo é este, Deus meu?!
O cão é cão, o gato é gato e a pessoa é Gente. Os animais são os nossos melhores amigos; e as pessoas, Senhor?! O general Ramalho Eanes de quem eu tenho muita admiração e respeito, quando, no passado mês de Novembro, a vila de Alcains - sua terra natal - lhe prestou sentida homenagem, a certa altura disse:
- Uma pátria onde os homens são concidadãos nunca deveria permitir que um português em qualquer situação passasse fome.
Senhores do mando, não permitam que este pobre casal viva num curral, isolados, onde falta tudo.
Estamos no ano santo da Misericórdia, não sejamos indiferentes.
PORQUE TODA A GENTE É PESSOA.

J.M.S