sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Apresentação


E amanhã, sábado, no Lar de São Vicente
No dia 19, na Escola de Alcains
A 20, na Escola de São Vicente
E na Partida, estamos a combinar...

José Teodoro Prata

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Cantos de cegos

Vinham quase sempre pelas festas, feiras e romarias, mas também apareciam muitas vezes aos domingos, depois da missa. Um de chapéu estendido à generosidade do povo; o outro, ceguinho, a tocar e a cantar. E era uma animação, com a Praça ainda mais cheia a escutar aquelas cantigas que falavam de amores e desamores, traições, infidelidades e tantas outras situações costumeiras daqueles tempos. Eram muitas vezes relatos violentos que acabavam quase sempre com a morte de um, senão dos dois protagonistas da história.
Um dia compraram-me um folheto que falava de um rapaz que, por ciúmes, matou a namorada e foi preso. Já só me lembro do final:
                  
Ó Laurida, ó Laurinda
Ó Laurinda dum ladrão,
Se não fosses tão bonita
Não estava eu na prisão.

Naquele tempo, ainda uma criança, achava que o amor era assim, capaz de matar ou de querer morrer por alguém, qual Romeu e Julieta. E sonhava que era eu a heroína daquela história…

Há dias, estive no concerto de apresentação do disco “Cantos de cego da Galiza e Portugal” de Ariel Ninas e César Prata. Partilho a letra duma cantiga que acho das mais bonitas, mas também das mais “levezinhas”:

Florinda, vem à janela
Que eu quero falar contigo,
Se tu não vens à janela
Dou um tiro no ouvido.

Dou um tiro no ouvido
Dou um tiro no coração,
Ó minha mãe venha ver
O Mário morto no chão.

Que fizeste tu Florinda
Para se o Mário matar?
Eu pedi-lhe as minhas cartas
Para o namoro acabar.

No dia do funeral
Tudo foi a acompanhar,
Só a mãe da Florindinha
Ficou em casa a chorar.

Tira o luto, ó Florinda,
Que o luto não te diz bem,
Se quisesses bem ao Mário
Matavas-te a ti também.

Da janela do meu quarto
Vejo a pedra ensanguentada
Onde o Mário se matou
Por causa da namorada.

Da janela do meu quarto
Vejo as portas do cemitério
Onde o Mário está dormindo
O seu soninho eterno.


M. L. Ferreira

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Casamento, anos 60


Só reconheço a Menina Maria de Jesus, 
ao lado do irmão, o Pe. Tomás ou o bispo (D. João de Deus Ramalho).
Quem me deu a foto (o Francisco Matias, filho de Domingos Matias) não sabe quem são os noivos.
O miúdo da boina e com suspensórios, à direita, está um espetáculo.
Ainda há por ali uns pés descalços, mesmo em domingo à saída da missa (provavelmente).

José Teodoro Prata

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Fui aos Chocalhos


Fui aos chocalhos; aproveitei o primeiro dia, andamos mais à vontade, menos pessoas; gostei.
A câmara do Fundão e a junta de freguesia de Alpedrinha em boa hora criaram este evento. Já lá vão quinze anos, único na região, quiçá em Portugal. Atrai milhares de pessoas de toda a nossa Beira e país.
No belo solar do Picadeiro “Sarafanas” estava uma representação dos amigos espanhóis, não sei se foi este ano a primeira vez, já se internacionalizou. Ruas medievais apinhadas de gente; janelas, portas, lojas escancaradas onde se expõem os mais diversos produtos:- gastronómicos, artesanais, artísticos… Diversão a rodos, bombos, pandeiros, gaitas de fole, conjuntos, pífaros… a animação, é grande.
Dá gosto passear pelas ruas da bonita Alpedrinha, as casas bem conservadas mantêm a traça original. Solares, capelas, a bela igreja paroquial, a monumental fonte, o palácio do picadeiro, a capela do leão que nos recorda o célebre cardeal. Parece que era aparentado com o nosso D. Álvaro da Costa. Ilustres, os Costas.
Fui aos chocalhos; há alguns anos que lá não ia, deixei o carro num parque improvisado junto ao cruzamento das Atalaias, os autocarros transportam-nos para o local, tudo muito bem organizado.
A nossa vila também foi testemunha do fenómeno transumante; era garoto, na estrada nova passavam enormes rebanhos de ovelhas a caminho do Alentejo. No outono desciam a Estrela, na primavera regressavam na direcção dos montes Hermínios. Era um espetáculo bucólico, pessoalmente adorava ver. O chocalhar misturado com os assobios e as ordens dos pastores, formavam uma campestre orquestra. Eram às centenas as ovelhas, uma nuvem de pó à medida que passavam, pastores com seus safões, manta e alforge caminhavam. “Caminho faz-se caminhando, não é verdade”!
A vila possuía também grandes rebanhos, na casa conde havia um canzarrão enorme chamava-se leão; só lhe faltava a juba, o pescoço estava enfeitado com uma grande coleira de picos de ferro por causa dos lobos. Dizem que quando atacam atiram-se logo ao pescoço do animal. O Leão estava protegido, um animal corpulento como ele não precisaria. De vez em quando ia à praça passear, nós os catraios, fazíamos festas ao Leão. Cabradas, ovelhadas; à noite, quando regressavam das pastagens, o chocalhar e campainhar alegravam nossos largos e ruas.
Não chegou a meio século para a sociedade se transformar radicalmente. O chafariz já não mata a sede aos animais, é uma peça decorativa, as bicas da fonte velha já não enchem cântaros, regadores, baldes…
O mundo pula e avança …
Resta a recordação.


J.M.S

sábado, 24 de setembro de 2016

Melhoramentos, 1945





(Nesta foto, não estão todos os membros da comissão que reuniu com o Subsecretário de Estado das Obras Públicas. Apenas reconheço o Manuel da Silva, 1.º à esquerda, o João Prata, 3.º, e o Francisco Matias, 4.º, todos a contar da esquerda. Os da foto serão os que foram apresentar cumprimentos ao Diário de Notícias.)

Notas: 
1. A notícia refere-se a um projeto. Na realidade, a estrada nacional 352 nasce no Castelejo e termina nos Escalos de Baixo. Mas a estrada pedida pelos nossos antepassados foi construída: é a municipal que liga a estrada nacional 18 (no cruzamento da Soalheira, pelo Louriçal, São Vicente...) à estrada nacional que vai de Castelo Branco à Pampilhosa da Serra (na freguesia de Almaceda).
2. Em 1945, a atual estrada 325 já estava aberta até São Vicente. Terá sido nesta altura, talvez devido a estas diligências, que foi aberta a parte que dá a volta pela ponte do Casal da Fraga, dispensando a descida íngreme pelo Lagar "Farrancha".
3. Este recorte de jornal foi-me dado pelo Francisco Matias, filho do sr. Domingos Matias. Trouxe-lho um cliente do Porto.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

São Fiel, o que foi e o que é

Ainda vínhamos longe e já se avistava lá ao fundo, imponente e misterioso, a destoar do resto das habitações ali à roda. Ouvíamos dizer que era uma casa de correção para onde traziam vagabundos e malfeitores de todo o lado. A má fama aumentava-lhe o fascínio e o mistério, mas fazia-nos também tremer de medo, só de imaginar que algum poderia fugir e aparecer-nos à frente, como diz que às vezes acontecia.

Isto passava-se era eu ainda criança e, provavelmente, muito destes medos e fascínios eram fruto da idade e da ignorância, propícia a grandes confusões e fantasias. Mas nem sempre foi assim o Colégio de São Fiel, como ainda hoje lhe ouvimos chamar muitas vezes.

Naquele edifício, construído em meados do século XIX, começou por funcionar um orfanato que se destinava a acolher e educar crianças órfãs, pobres e abandonadas. Era também frequentado por crianças e jovens pobres das redondezas. 

A partir de 1873 passou a funcionar ali o Colégio de São Fiel que, na altura, era um dos estabelecimentos de ensino particular mais prestigiados do país. Estava a cargo da Companhia de Jesus. Os alunos eram os filhos das famílias mais conceituadas e abastadas da região, mas vinham jovens de todo o país para aqui fazerem os seus estudos secundários. Lá estudaram personalidades que se destacaram nas mais variadas áreas da vida do país: Afonso Costa, António Egas Moniz, Robles Monteiro, José Ramos Preto e muitos outros.

Com a implantação da República o Colégio de São Fiel foi extinto e, a partir de 1919, passou a funcionar como reformatório. Destinava-se a acolher e reeducar jovens delinquentes e marginais colocados pelo Tribunal de Menores. Para além da escolarização, os alunos podiam também aprender um ofício que lhes permitisse uma melhor integração social e independência financeira quando deixassem o reformatório.


Desde há mais ou menos duas décadas que o edifício deixou de ter qualquer atividade e, a partir daí, é notória uma degradação acelerada. Parece que todo aquele complexo é pertença do Estado; só isso justifica o estado a que aquilo chegou…







M. L. Ferreira