domingo, 10 de setembro de 2017

Mais Maiores Contribuintes

A listagem que se segue não está datada, mas situar-se-á entre 1843 e 1852, tal como a lista anteriormente publicada. Mas é certamente posterior a ela. As informações relativas ao Ninho estarão na parte de Tinalhas (Fernando da Costa), assim como as do Freixial do Campo (o património de João Duarte Simões dividia-se entre Tinalhas e o Freixial).

CONCELHO DE SÃO VICENTE DA BEIRA
Relação dos maiores contribuintes de décima

Almaceda
Domingos Gomes – 7$026
José Bernardo Ribeiro – 9$268
São Vicente da Beira
João António Ribeiro Robles – 10$768
Bonifácio José de Brito – 8$830
Francisco António de Macedo – 8$000
João Pereira de Carvalho – 10$600
João Ribeiro Garrido – 19$976
João dos Santos Vaz Raposo – 7$070
José Maria de Moura Brito – 6$602
Manuel Martins Dâmaso – 7$630
Nogueira (?) – 4$040
Póvoa de Rio de Moinhos
Francisco José Dias de Oliveira – 11$184
António Joaquim de Carvalho – 7$516
Doutor António Luciano da Fonseca – 45$810
Bernardo da Silva Carrilho Marques – 8$864
Francisco António de Matos – 7$224
Francisco Duarte Carrilho – 7$200
José Alves de Azevedo – 4$218
Tinalhas
José do Espírito Santo – 3$740
Fernando da Costa – 11$510
João Duarte Simões – 12$015
Joaquim Augusto de Magalhães – 8$060
José Coutinho Barriga – 63$388
José Inocêncio Lalanda – 104935
Sobral do Campo
João Paulo do Rosário – 6$440
José Vaz Duarte – 6$110
Luís de Proença – 8$145
Manuel Ramos de Proença – 12$545
Manuel Ribeiro do Rosário – 7$452
Padre Sebastião Bernardo Ribeiro – 8$722
Louriçal do Campo
João António Ribeiro Gaspar – 9$530
Manuel António Ribeiro Gaspar – 9$142
Manuel Ramos Preto – 45$737
Padre Manuel Alves – 5$048

José Teodoro Prata

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Os Maiores Contribuintes

Concelho de São Vicente da Beira
Os maiores contribuintes da décima
Manoel Ramos Pretto (Louriçal do Campo) – 36$698
Doutor António Luciano da Fonseca (Póvoa de Rio de Moinhos) – 30$413
Bonifacio Joze de Britto (São Vicente da Beira) – 14$560
Francisco Joze Dias de Oliveira (Póvoa de Rio de Moinhos) – 12$341
Joaõ dos Santos Vaz Rapozo (São Vicente da Beira) – 10$450
João Pereira de Carvalho (São Vicente da Beira) – 10$235
Antonio Joaquim de Carvalho (Póvoa de Rio de Moinhos) – 7$900
Francisco Carrilho Marques (Póvoa de Rio de Moinhos) – 7$753
Francisco Antonio de Matos (Póvoa de Rio de Moinhos) – 6$954
Alexandre Barboza (?)– 6$592
Jacinto Ventura Netto (?)– 6$392
Joze Vaz Duarte (Sobral do Campo) – 5$670
Alexandre Joze Alves (?) – 5$068

Notas:
- 36$698 lê-se: trinta e seis mil, seiscentos e noventa e oito réis.
- A décima era um imposto que incidia sobre o valor das casas, terrenos, emprego, dinheiro a juros... Corresponderia hoje ao IRS, ao IRC, ao IMI... 
- Esta listagem não vem datada, mas podemos situá-la entre 1843 e 1850: 1843, porque nela consta João Pereira de Carvalho, o bisavô pela linha materna dos irmãos Pereira dos Santos (Inácio, Alexandre, Manuel, Zeca…), notário, natural das Sarzedas, que veio trabalhar para São Vicente e cá casou, em 1843, com uma filha do Bernardo Ribeiro Robles; 1852, pois nesse ano faleceu o Doutor António Luciano da Fonseca, o maior contribuinte da Póvoa de Rio de Moinhos.
- A elaboração desta listagem estaria relacionada com o sistema eleitoral liberal, que era censitário, isto é, os direitos a votar e ser eleito dependiam dos impostos pagos por cada um.
- Há uma lacuna nesta listagem relativa a Tinalhas: aparentemente não aparece ninguém. Numa listagem idêntica que publicarei dentro de dias, já aparecem os maiores contribuintes da décima desta freguesia, incluindo o homem mais rico do concelho, Joze Coutinho Barriga, visconde de Tinalhas.

Aviso: Notas alteradas a 10.09.2017, com base em informação da Doutora Benedita Duque Vieira, relativa à data de óbito do Doutor António Luciano da Fonseca.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O nome Paiágua

O cura de Almaceda escreveu, nas Memórias Paroquiais de 1758, Paygago.
A 14 de setembro de 2013, publiquei a lista dos batismos de 1800, na freguesia de São Vicente da Beira.
Alguns familiares da bebé Maria eram naturais da Paiágua e o cura escreveu num sítio do registo de batismo Pay Agoa e noutro Pay d`Agoa.
Hoje encontrei este registo de 1825 e o cura usa um termo muito próximo do nome atual: Paagoa.


José Teodoro Prata

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Estrela de David

Com a morte de Saul, os israelitas proclamaram David seu rei. Este conquistou Jerusalém transformando-a na sua capital. A Arca da Aliança ficou na cidade que se transformou no centro religioso do povo hebreu. Salomão, filho do rei David, com a morte de seu pai, sobe ao trono. Foi no reinado deste rei que se ergueu o grandioso templo onde colocaram a Arca da Aliança.
Durante alguns séculos, o templo foi o local de reuniões e orações, até que o rei Nabucodonosor, rei dos babilónios invadiu a cidade e destruiu o templo. Os israelitas tiveram que fugir. Mais tarde, Ciro, rei dos persas, mandou reconstruir Jerusalém e o seu templo, ficando este a cargo dos judeus.
Era um templo magnífico, mas nada que se comparasse ao que Salomão tinha construído. Herodes, o grande, que era protegido do imperador Augusto, ofereceu-lhe muitas riquezas.
Os romanos comandados por Tito, voltaram a destruí-lo, incendiando-o. O povo judeu, sem Estado, dispersou-se por toda a parte; tolerados, perseguidos, massacrados, expulsos.
Muitos reis proibiram-nos de exercer qualquer profissão nas suas nações, exceptuando a medicina. São Luís, rei de França, obrigava-os a usar um sinal que os distinguia; em Espanha, já ganhavam a vida cultivando as terras, exercendo ofícios diversos e podendo participar também em negócios. Mais tarde tiveram de se converter ao cristianismo; chamavam a esta gente marranos.
A Igreja, os reis católicos, Isabel e Fernando, desconfiavam que continuavam a seguir a lei de Moisés dentro das casas e por isso promulgaram uma lei que decretava a sua expulsão, isto passou-se no ano 1492. Muitos partiram para Portugal. Pouco tempo depois, em 1496, D. Manuel I, para casar com a princesa Isabel, filha dos reis católicos, foi "obrigado" a expulsar os judeus de Portugal.
O nosso rei não queria perder estas pessoas e foi empaleando. Arranjou uma artimanha: os padres reuniam-nos nas praças e atiravam água para cima das suas cabeças tornando-os, desta maneira, aderentes da religião cristã. Uma vez baptizados, passavam a ser cristãos e já ninguém os podia expulsar de Portugal. Eram chamados cristãos-novos.
Apesar de tudo, muitos partiram: norte de África, Bélgica, Holanda…


David, pastor e músico, entrou para a corte do rei Saul como músico. Certo dia corajosamente enfrentou o gigante Golias. Com uma funda que trazia sempre consigo, matou-o. A sua fama cada dia que passava crescia, a inveja aumentava; por essa razão, foi obrigado a deixar a corte, mais tarde foi aclamado rei.
O rei David queria construir um grande e belo templo em Jerusalém, Deus não permitiu, coube a seu filho Salomão tal honra, porque David tinha passado grande parte da sua vida guerreando.
Atribuem-se ao rei David muitos dos salmos bíblicos: 
Feliz do homem que não segue o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem toma assento na reunião dos enganadores; antes na lei do Senhor põe o seu enlevo, e sobre ela medita dia e noite
É como a árvore plantada à beira das correntes, que dá o seu fruto na estação própria, cuja folhagem não murcha; tudo quanto faz redunda em bem”. Salmos 1-1,2,3.
A estrela de David é formada por dois triângulos iguais que se sobrepõem, um com a ponta virada para cima e o outro com a ponta virada para baixo, parecendo uma estrela.
O peso de dois quilos (ver imagem) que guardo religiosamente, possui a estrela de David.
Seria a marca do fabricante ou o símbolo que o encomendador? Neste caso alguém seguidor da Tora quis deixar o seu simbolo impresso no peso!
 Na vila de São Vicente da Beira, moraram muitas famílias judias, como atestam as cruzes cruciformes esculpidas nas ombreiras das portas, então…

Obra de consulta: ABCedário do Judaísmo, Público.

J.M.S 

sábado, 2 de setembro de 2017

O nosso falar: realengo

Os dicionários informam-me que realengo se refere ao que é próprio do rei. Tem o mesmo significado que reguengo, uma propriedade do rei.
Mas não era neste sentido que a minha mãe usada esta expressão, quando algum dos filhos não tinha tento na língua ou nas atitudes (ter tento, outra expressão interessante, que indica a atitude de ter cuidado com o que se diz ou faz).
Ter realengo é isso mesmo: ser cuidadoso no falar, no que se diz e como se diz. Também se aplica às atitudes, mas menos.
Ter realengo talvez tenha origem no imitar as maneiras formais de falar e se comportar da família real, em oposição ao falar e às atitudes rudes do povo. Uma coisa de outros tempos, portanto.

José Teodoro Prata

domingo, 27 de agosto de 2017

Alunos,1838

ANO LETIVO 1838-39
Escola de Ensino Primário de São Vicente da Beira
Mestre: Francisco Duarte Lobo
Alunos:
1 – António de Brito, filho de Bonifacio de Brito
2 – Antonio Duarte, filho de Joaõ Duarte Nepto
3 – Antonio Fernandes, filho de Antonio Baptista
4 – Antonio Henriques, filho de Joze Henriques
5 – Antonio Rodrigues, filho de Francisco Roiz Lobo
6 – Antonio da Silva, filho de Gonçalo Duarte
7 – Bonifacio Duarte, filho de Francisco Duarte Lobo
8 – Caetano Cardozo, filho de Francisco Cardozo
9 – Caetano Ramalho, filho de Manoel Joaquim
10 – Cypriano da Silva, filho de Francisco Roiz Lobo
11 – Domingos Vaz, filho de Joaõ Duarte Nepto
12 – Francisco da Conceiçam, filho de Joaõ da Conceiçaõ
13 – Francisco Folgozo, filho de Joze Folgozo
14 – Francisco Gomes, filho de Diogo Gomes
15 – Francisco Joaquim, filho de Joze Joaquim
16 – Francisco Roque, filho de Francisco Roque
17 – Joaõ Alvres, filho de Domingos Alvres
18 – Joaõ Agostinho, filho de Joaõ Agostinho
19 – Joaõ Cardozo, filho de Francisco Cardozo
20 – Joaõ do Couto, filho de Joaõ do Couto
21 – Joaõ Duarte Lobo, filho de Francisco Duarte Lobo
22 – Joaõ Ferreira Marques, filho de Joze Duarte Marques
23 – Joaõ Henriques, filho de Joaquim Henriques
24 – Joaõ Paulino, filho de Joaõ Paulino
25 – Joaquim Botelho, filho de Joaquim Botelho
26 – Joaquim de Brito, filho de Bonifacio de Brito
27 – Joaquim Marques, filho de Joze Joaquim
28 – Joaquim Marcelino, filho de …(omisso)
29 – Joaquim Ramalho, filho de Manoel Joaquim
30 – Joaquim Ramos, filho de Joze Ramos
31 – Joze da Conceiçaõ, filho de Joaõ da Conceiçaõ
32 – Joze Duarte Nepto, filho de Joaõ Duarte Nepto
33 – Joze Lalanda, filho de Joaõ Barbalhoz
34 – Lourenço dos Santos, filho de Domingos dos Santos
35 – Manoel de Brito, filho de Bonifacio de Brito
36 – Manoel da Conceiçam, filho de Joaõ da Conceiçaõ
37 – Manoel dos Santos, filho de Mathias dos Santos
38 – Manoel Henriques, filho de João Duarte Marques
39 – Manoel Paulino, filho de Manoel Paulino
40 – Manoel Alexandre, filho de Antonio Alexandre

NOTAS:
- Franciso Duarte Lobo, o mestre-escola, era proprietário, além de professor.

- É possível que alguns destes alunos fossem naturais das povoações anexas à Vila, residindo aqui em tempo de aulas. Isso acontecia no Sobral do Campo, cem anos antes, em que os filhos de alguns dos ilustres da região viviam no Sobral para terem aulas com o cura da terra. O que me leva a esta hipótese é o apelido Alexandre, gente da Partida originária da Póvoa de Rio de Moinhos. Mas faltam os Martins, os Fernandes...

José Teodoro Prata

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Matilha dos Nove

«Minério na Paradanta? Ná… Por modos passou por lá muito, que no tempo da guerra havia muita candonga e contam-se algumas histórias. Esta foi logo no ano a seguir a eu ter saído da escola; vai lá um bom par d’anos. Já andava na resina e um dia cheguei a casa, já noite, e era um reboliço tão grande na terra que só visto: tinha vindo a Guarda e levado nove homens, todos algemados, para Castelo Branco. Só depois é que se soube o que tinha sucedido:
Na véspera, à tardinha, tinham chegado à entrada da Paradanta quatro homens, cada um com sua saca às costas. Chegaram lá a um certo sítio, apousaram as sacas e esconderam-nas debaixo dum aqueduto, tapadas com mato. Lá terão feito as contas e dois dos homens abalaram pelo mesmo caminho d’onde tinham vindo, os outros dois ficaram assentados ali ao pé, a fumar um cigarro. Passado um bocado também se meteram ao caminho, p’ros lados do Vale D’Urso. Por modos foram a comer a uma casa de pasto que por lá havia naquele tempo.    
Tiveram azar porque uma mulher que morava numa casa lá mais adiante tinha visto chegar aqueles estranhos e ficou à espreita, desconfiada, a ver o que é que eles faziam. Quando os viu abalar saiu porta fora e foi ver o que é que as sacas tinham. Assim que viu como é que elas estavam cosidas e o peso que tinham, desconfiou logo do que é que se tratava. Ainda quis pegar numa, mas não foi capaz de poder com ela. Foi então chamar um dos filhos que já tinha vindo da escola, e os dois lá conseguiram carregar uma das sacas até casa.
Puseram-se a fazer contas: não seriam menos de 50 quilos de minério, a um conto de réis cada um, dava cinquenta contos. Estavam ricos!
O cachopito ficou tão contente que, apesar da mãe lhe ter dito que não dissesse nada a ninguém, foi para a rua e contou logo ao primeiro que encontrou, o achado que tinham feito. E que no mesmo lugar ainda lá tinham ficado mais três sacas.
A notícia chegou depressa aos ouvidos do taberneiro que esfregou as mãos de contente e, juntamente com mais oito que àquela hora estavam a fazer sociedade na taberna, foram logo a correr para o sítio onde diziam que estavam as sacas.
Quando lá chegaram já lá estavam os outros dois homens, sentados à entrada do viaduto, ao pé da mercadoria. O taberneiro pegou na arma que trazia à cintura, deu dois tiros para o ar e berrou:
- Mãos ao ar e ala daqui p’ra fora!
Os outros nem se mexeram.
- Mas que mal é que tem estarmos aqui um pouco a descansar? Os caminhos não são públicos?
- Já disse o que tinha a dizer! Os primeiros foram p’ro ar, mas os próximos vão-vos direitos aos cornos!
Ao ouvirem isto, os dois homens levantaram-se e desataram a fugir estrada fora. Só devem ter parado já longe dali.
Por modos eram do Juncal, e eram contrabandistas de minério, mas deviam ter as costas bem quentes que ao outro dia apareceram na Paradanta uns poucos de guardas da GNR e, quem foi, quem não foi, conseguiram levar para Castelo Branco a matilha completa.
Passaram a noite nos calaboiços da prisão à espera de serem levados ao juiz no dia a seguir. Mas o taberneiro que é quem tinha sido o cabecilha daquilo, durante a noite começou com falinhas mansas para os outros: que podiam dizer ao juiz que ele não tinha tido culpa nenhuma; que só tinha ido apartar porque senão armava-se ali uma grande zaragata; que uma pessoa da categoria dele era uma vergonha se fosse presa e ficava com a vida desgraçada para sempre; e mais isto, e mais aquilo…
- Então vossemecê é que nos meteu nesta alhada toda e é que deu os tiros, e agora quer pôr-se de fora?! Não senhora; ou vamos todos p´ra cadeia ou não vai nem um!
- Se me safarem, prometo que dou um conto de réis a cada um de vós.
Olharam uns para os outros e concordaram.
- Assim é que é falar! Esteja descansado que a gente faz como vossemecê diz.
Naquele tempo um conto de reis era muito dinheiro, que um homem por dia não ganhava mais que sete e quinhentos; e não eram todos…
Foi solto o taberneiro e os outros ficaram presos durante um mês. Quando saíram vinham todos contentes e foram logo a ver se recebiam a paga pela mentira que tinham dito ao juiz, mas o outro negou-se. E que remédio tiveram senão calar-se, com medo, que ele era o Cabo d’Ordens e se os tomava de ponta, estavam desgraçados…
Ficaram conhecidos pela “Matilha dos Nove” para o resto da vida. E o Cabo d’Ordens não escapou da fama, mas nunca se provou…».

Nota: Esta história foi-me contada pelo Ti Chico quando, a propósito da história “As Mulheres da Paradanta” do Joaquim Bispo, lhe perguntei se era verdade que havia volfrâmio na terra dele. 

M. L. Ferreira