domingo, 17 de março de 2019

O Hospital Civil de S. Vicente da Beira

A Libânia enviou-me o registo de óbito que se segue, o qual indica que a defunta morreu no Hospital Civil de São Vicente da Beira.


Há anos, consultei o arquivo do nosso hospital, para fazer um estudo sobre a pneumónica em São Vicente da Beira, que publiquei na Revista Cadernos de Medicina da Beira Interior.
Voltei agora aos apontamentos da época e deixo-vos as seguintes notas:
1. O livro n.º 1 intitula-se "Movimento do hospital da Santa Casa da Misericórdia de S. Vicente da Beira". Nele, o registo de doentes começou em 8 de março de 1894.
2. Ata da sessão da Mesa, em 14.01.1894: "Foi resolvido que no dia primeiro de Março proximo futuro se abra o novo hospital desta Santa Casa de que se lavrará o competente auto dando-se copia aos Administradores do Concelho, Governador Civil e hospital de S. José."
3. As listagens dos doentes internados eram entregues, mensalmente, ao Administrador do Concelho [que no concelho representava o Governo Civil].
4. Entre 1910 e 1918, os termos de abertura dos livros chamam ao hospital Hospital do Pe. Simão [o P.e Simão Duarte do Rosário, do Sobral do campo, falecido em 1893, deixou em testamento o dinheiro para construir o nosso hospital, ainda em vida do benemérito, como parece].
5. O livro de receitas e despesas, de julho de 1918, chama-lhe Hospital Civil de S. Vicente da Beira.
6. Até 1918, era a Misericórdia que pagava ao médico, depois passou a ser o Estado.
7. A 27 de outubro de 1918, o hospital recebeu 200$00 do Governo Civil, para ajuda no combate à pneumónica.

Conclusão: apesar do pouco rigor usado na designação do hospital, este parece ter pertencido, sempre, à rede pública e por isso ter sentido ser chamado de hospital civil, mesmo que administrado pela Santa Casa da Misericórdia. 

José Teodoro Prata

quinta-feira, 14 de março de 2019

O nosso falar: sagorro

Ao escrever o texto dramático Pagar o vinho, já aqui publicado, usei a palavra sagorro e na altura consultei os dicionários.
Curiosamente, sagorro é sinónimo de avarento, enquanto na nossa terra é sinónimo de saloio.
Vá-se lá saber porquê esta colagem do avarento ao saloio! Talvez porque o avarento, por sê-lo, vive como um saloio.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 11 de março de 2019

Gente nossa


João Moreira, provavelmente em São Vicente onde gosta de vir, principalmente nas Festa de Verão.

Quem o viu ao lado de Conan Osíris, percebe que se lhe deve grande parte do êxito da canção vencedora do Festival RTP da Canção 2019. E, pela coreografia, agilidade de movimentos e sobretudo por aquela queda que terá deixado muita gente em sobressalto, não nos passaria pela cabeça que não fosse um bailarino profissional.
A verdade é que não tem formação em dança: foi aluno da Escola António Arroio, onde se formam grandes artistas de várias áreas; terá também formação em teatro. Mas o que o distingue, segundo dizem os amigos, é a alegria, a irreverência e o prazer com que faz as coisas. Notou-se. Primeiro estranhámos e achámos que “Telemóveis” não iria longe; mas depois, muitos dos que seguimos o Festival, começámos a torcer para que fosse a vencedora.
Eu fiquei contente. Fiquei ainda mais quando, há dias, soube que o João Reis Moreira tem raízes, pela parte do pai, em São Vicente. Descende, como muitos Sanvicentinos, do José Moreira, que nasceu em Aldeia das Dez em 1786, e veio para São Vicente onde se casou e teve muitos filhos, dando origem aos vários ramos da família Moreira que por cá existem atualmente. João Reis Moreira é neto de Joaquim Moreira (Joaquim da Rita) e Maria Alice, que viveram no Caldeira, e onde criaram os muitos filhos que tiveram, entre eles o pai do João.  
Oxalá “Telemóveis” tenha, em Israel, o mesmo êxito que está a ter em Portugal! Em São Vicente estaremos todos a torcer.

Nota: falei com duas ou três pessoas para obter a informação que aqui deixo, mas se alguma coisa não estiver correta, há sempre a possibilidade de corrigir ou acrescentar outros dados através dos comentários ou outro meio qualquer.

M. L. Ferreira 

sábado, 9 de março de 2019

quarta-feira, 6 de março de 2019

Arte rupestre na Gardunha


O José Barroso mandou-me esta foto logo a seguir à descoberta deste núcleo de gravuras rupestres, na Serra da Gardunha, freguesia de Alcongosta.
Por vários motivos, só hoje a publico.
As gravuras foram noticiadas como sendo do Calcolítico (3300 a 1200 a. C.), o período em que as ferramentas eram de cobre. Do período seguinte, Idade do Bronze, é o machado de bronze descoberto no Castelo Velho e exposto do Museu Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco.
Mesmo que distem 1000 anos entre os artistas que fizeram as gravuras e os construtores da fortificação a que chamamos Castelo Velho, há uma inegável continuidade no povoamento da Gardunha. E se a eles juntarmos os achados arqueológicos da Penha, acima de Castelo Novo,  concluímos que há urgência em estudar os primórdios do povoamento na serra. Talvez seja desta que o Castelo Velho sai do esquecimento a que tem sido votado.

José Teodoro Prata

terça-feira, 5 de março de 2019

Carnaval


Hoje é Carnaval, ninguém leva a mal

Na Antiguidade, tanto os povos do Mediterrâneo, egípcios, hebreus, gregos e romanos, como os povos germânicos do Europa Central realizavam festas religiosas em que se agradeciam aos deuses as boas colheitas ou o fim de um ciclo de escuridão, o inverno, e a aproximação de um novo ciclo, este de luz. O carnaval seria então um ritual de passagem da escuridão para a luz, do inverno para o verão.
Todas estas festividades pagãs de povos tão diferentes, que se realizavam entre novembro e fevereiro, com duração variável, tinham em comum a inversão dos papéis sociais (homem-mulher, senhor-escravo) e a prática de diversão e de excessos.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, vários concílios tentaram acabar com estas festas pagãs, mas sem sucesso. Por isso as cristianizaram, fixando-as nos três dias anteriores ao início da Quaresma, mas no dia seguinte lembrando aos homens que são pó e em pó se hão de tornar.
Assim, para os cristãos, no Carnaval é permitido fazer tudo o que apetecer, mas que é interdito na Quaresma, um longo período de jejum e abstinência.
Na povoação da Partida, até meados do século passado, os rapazes iam aos palheiros tirar palha para fazer os entrudos, uns bonecos de palha que vestiam com roupas de pessoas. Depois colocavam-nos no cimo de um pau comprido. Na tarde do dia de Carnaval, os rapazes levavam o entrudo numa carroça, pelas ruas, e todos gritavam e choravam. No final, queimavam-no.
Outra tradição era, na noite de Carnaval, irem para o telhado da capela gritar, com um funil, coisas caricatas e ridículas que tinham acontecido às pessoas da aldeia. Era a choradela de entrudo.

José Teodoro Prata
(Hoje, na Rádio Castelo Branco)