domingo, 9 de junho de 2019

Sabugueiro


Este sabugueiro está dentro do ribeiro e por isso recuperou tão depressa do fogo (e eu ainda o cortei por baixo, na altura julguei que todo). À direita, o silvado junto ao caminho da Orada. Ao fundo, mimoseiras em plena ascensão.
O sabugueiro tem um caule lenhoso, mas quase oco por dentro, apenas com uma medula muito frágil e por isso fácil de extrair. Era o material ideal para fabricarmos as pistolas, quando éramos meninos, nos anos 60. Até as disparávamos na sala de aula, quando a professora estava de costas...
A flor tem aplicações medicinais e do fruto, em bagas, até de fazem compotas.

Acabei cedo a época das cerejas, por serem ainda poucas e porque quis ganhar a corrida contra os carneiros (colhi-as antes dos insetos as sentirem). Com a ajuda da armadilha para insetos que mostrei há dias, este ano ganhei eu: comi muito menos proteína, mas gastei uma porrada de massa!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Livro da Senhora da Orada

Não estive na romaria e por isso só agora tive contacto com o novo livro sobre a ermida da Senhora da Orada.
Há muito que se esgotara, na edição e no estilo, o meu livro de 2001, editado pelo Gega e feito em colaboração com os co-autores desta nova obra.
Bem fizeram a Inácia Brito e o Tó Sabino ao concretizarem este projeto sobre a menina dos nossos olhos.
As fotos antigas do Tó Sabino dão ao livro um valor documental muito importante. Quanto à documentação oral e escrita, o livro apresenta uma boa síntese do que estava no anterior livro, do mais que entretanto se foi sabendo, em parte já revelado neste blogue, e de coisas novas que os autores descobriram.
O livro começa por um texto muito bonito do Pe. José Leitão, em que os afetos são a cola da amálgama da religiosidade com o dia a dia sofrido das nossas gentes, nas encostas da Gardunha.
Importante também a ligação da obra à Comissão da Senhora da Orada, embora não se perceba de quem é a edição do livro.
A tradução de partes do livro para francês e inglês ajuda extraordinariamente a alçançar o objetivo do livro: a divulgação da Senhora da Orada junto de todos, sanvicentinos ou forateiros, nacionais ou estrangeiros.
A qualidade gráfica é excelente, como nos habituou o Tó Sabino.
Parabéns aos autores!

CAPA

CONTRACAPA

José Teodoro Prata

domingo, 2 de junho de 2019

Por terras do padre José Miguel

Lembram-se do Pe. Miguel do Meimão, autêntico fenómeno dos anos 80/90? Recebi este texto do António Fernandes e não resisti a partilhá-lo convosco.
Amanheci cedo para uma viagem que há dias estava acertada, uma passagem por Terras de Missão do Padre Zé Miguel, natural do Soito (Sabugal), e muitos anos Pároco no Meimão (Penamacor).
Há muito que não passava pelos Três Povos-Escarigo (Fundão), onde fixei os meus olhares na pintura mural “O Almocreve”, avistei igrejas, campanários e capelas com grandes tradições religiosas, rodeadas por pomares floridos.
A primeira paragem foi na Meimoa (Penamacor) e, junto à Capela de São Domingos, saboreamos o almoço, com a bênção daquele frade.
Partida para o Meimão, mas antes de chegarmos à população visitámos a Capela de Nossa Senhora do Pilar, mandada construir pelo Padre José Miguel Garcia Ferreira.
Descemos à freguesia que na sua génese simbólica tem um javali, embora também fosse habitat de linces, da Serra de Malcata.
A pastoral do Padre José Miguel naquelas terras foi muito marcante e nada melhor do que ouvir a voz daqueles que foram seus paroquianos:
Manuel Joaquim Domingues Borrego, ex-taxista: “conduzi mais de quarenta anos o meu táxi e transportei muita gente para o país e para o estrangeiro. Levei muita gente a bruxos, bruxas, curandeiros, astrólogos, endireitas, padres para lhes libertar os maus espíritos, mas não acredito em milagres. A verdade é que aos fins de semana chegavam ao Meimão muitas centenas de viaturas. Num desses, cheguei a contar setenta e dois autocarros e várias dezenas de automóveis. Vinham de todo o País e até de Espanha. Transportes do Alto do Tâmega, da zona de Chaves e Trás-os-Montes, contei doze autocarros. Veja o que esta gente dava ao Meimão, mas gentes mais poderosas, com invejas do protagonismo dos outros, forçaram-no a sair daqui.
O Padre José Miguel recebia diariamente muitas cartas de cidadãos nacionais e estrangeiros. Por todos estes factos, as memórias do Padre José Miguel estão bem vivas e ficarão para sempre na história da nossa terra.”
José Martins Frederico, empregado da Junta de Freguesia: “com o Padre Miguel era uma alegria e de que maneira! Era bom homem e já não aparece aqui um padre como ele.”
Deolinda Oliveira, ex-comerciante: “gostava dele como pessoa, tinha os seus defeitos como todos nós. Nesses tempos tinha aqui um comércio e ganhei muito dinheiro. Vendia-se tudo. Muitas vezes, apesar de muitas fornadas, o pão não chegava para as encomendas. Se não tivesse saído daqui, esta terra seria totalmente diferente.”
Guilhermina Augusto da Fonseca, reformada: “nunca aceitou que vivesse com o meu companheiro, com o qual faço vida conjugal há mais de quarenta anos. Viuvei e se voltasse a casar perdia a reforma. Não deixou ir os meus filhos para o seminário, apesar de o meu companheiro ajudar sempre que necessário nas necessidades da igreja.”
José Maria Reino, emigrante: “fui muito amigo do Padre Miguel e tinha-lhe um grande apreço. Sempre que o visitava pedia-lhe para me tocar no volante da viatura. Com muitos e muitos milhares de quilómetros nunca tive um acidente”.
Maria de Lurdes Fonseca, proprietária do Café Lince: “o Senhor Padre José Miguel nunca pedia dinheiro a ninguém, mas as pessoas eram generosas e lá tinham as suas razões. Foi pena não ter arranjado pessoas da sua confiança no Meimão. Escolheu um senhor da zona do Fundão que lhe não foi fiel e honesto. Não soube gerir algumas situações. Se tem investido na nossa terra nós seríamos um local privilegiado. O meu filho andou por diversos hospitais e só encontrou cura nas mãos do Senhor Padre José Miguel”.
Uma senhora idosa, no Lar da Santa Casa da Misericórdia do Fundão, ainda hoje guarda religiosamente um simbólico objeto ofertado pelo Padre Miguel, referindo-se com emoção à fé e à espiritualidade daquele sacerdote.
Seguimos para o Sabugal e paramos no antigo curral de António Ferrão, “O Peças”, onde o transporte, a montada do Padre José Miguel, descansava e era alimentado, findas as lides pastorais.
Esse antigo local de recolha de animais está hoje situado na Rua Nuno de Montemor, padre, poeta e escritor. No seu livro “Maria Mim” também encontramos alguns “milagres”, quando os contrabandistas de Quadrazais e limites, na sua gíria linguística, acordavam esconder nos altares o material trazido de Castela, fitando as autoridades.
 Como são diferentes os tempos de hoje, já temos as fronteiras abertas e os “evangelizadores” andam com carros de alta cilindrada e puxados por muitos cavalos.
O Padre José Miguel nunca precisou de automóvel para fazer apostolado a bem do povo de Deus.
Passa-se pela Biblioteca do Sabugal e não se encontra uma obra, um livro dedicado ao Padre José Miguel.
Nascido no Soito (Sabugal), onde está sepultado, ordenado padre em 1936, por D. João de Oliveira Matos, que nas palavras do Padre Miguel era “um exemplo de santidade, o meu guia espiritual, o verdadeiro representante de Deus na terra, o heroico defensor da verdade, e sobretudo e acima de tudo foi um crente extraordinário… Vi-o cair em êxtase místico, adorando a cruz em lágrimas… Jejuava dias inteiros. Percorria de bordão os caminhos da sua Diocese… ouvia em confissão os mais humildes das pequenas aldeias. Dava esmolas aos pobres… era de uma humildade extrema...era um Santo” (cf. páginas 147 e 148 do Livro “Os Milagres da Esperança” de Cunha Simões, Edição do Semanário “A Província”).
Esteve no pensamento do Padre José Miguel a constituição de uma Fundação com o nome de D. João de Oliveira Matos, que por razões que desconheço não chegou a concretizar.
A vida e obra merecem um estudo humano, social e religioso aprofundado, porque se todos “perdêssemos” alguns minutos a ouvir e a pensar nos outros, o mundo seria diferente.
A grandeza do Padre José Miguel ultrapassava mentalidades mesquinhas, talvez com sede de protagonismos. “Tens Fé, acredita e vai porque esta move montanhas e a Manuela amanhã tem o problema de saúde resolvido e sairá do hospital bem.” E saiu… muito bem.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Março/2019

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Os sanvicentinos na Grande Guerra


Anselmo Fernandes



Anselmo Fernandes nasceu numa casa na Senhora da Orada, no dia 10 de dezembro de 1892. Era filho de António Fernandes, natural de Pescanseco, Pampilhosa da Serra, e de Maria de São João, de São Vicente da Beira.

Embarcou para França, em 21 de janeiro de 1917, com o posto de soldado, integrado na 4ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, com o número 513 e placa de identidade n.º 9694.
A sua participação na Grande Guerra foi bastante curta, uma vez que terá sido ferido ou adoeceu gravemente pouco tempo depois de ter chegado a França.
Do seu boletim individual do CEP consta apenas o seguinte:
  1. Baixa ao Hospital n.º 26, em 10 de março de 1917;
  2. Evacuado para a Base, no dia 12 do mesmo mês, deu entrada no Hospital General n.º 18, em 13;
  3. Evacuado para o Hospital General n.º 26, no dia 19 de março;
  4. Alta para o depósito da Base Portuguesa, em 27 de abril, e baixa ao Hospital n.º 26, no dia 30;
  5. Alta para o depósito da Base Portuguesa, em 6 de Maio;
  6. Foi julgado incapaz para todo o serviço, em sessão do dia 14 de maio, e evacuado para Portugal, a bordo do vapor inglês Bohemian;
  7. Desembarcou em Lisboa, no dia 15 de junho de 1917.

É provável que tenha falecido pouco tempo após o seu regresso a Portugal, logo em 1917, uma vez que os familiares que ainda vivem no Casal da Serra não têm qualquer memória de terem ouvido falar nele. No seu registo de batismo, também não existem quaisquer averbamentos que possam informar sobre a sua vida depois de ter regressado de França, nomeadamente um possível casamento ou a data e local da sua morte. Nos registos paroquiais e nos registos de internamentos no Hospital da Misericórdia de São Vicente também não existe qualquer referência a Anselmo Fernandes, o que pode significar que ele não terá sequer regressado à terra. 

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Eleições Europeias

 Resultados na freguesia de São Vicente da Beira

PS: 43,33%

PPD/PSD: 28,46%

BE: 5,64%

CDS: 3,08%

CDU: 3,08%

PAN: 2,31%

Aliança: 2,05%

PCTP/MRPP: 1,03%

Outros partidos: abaixo de 1%

Estes valores assemelham-se aos resultados nacionais, como de costume.

José Teodoro Prata

domingo, 26 de maio de 2019

Boletim agrícola

APICULTURA: Cá vou dando os primeiros passos. Este enxame está com alguns problemas (culpa minha), mas o outro já tem mel armazenado. Soube na Central Meleira que a vespa asiática já chegou a São Vicente da Beira. Estão a distribuir um produto para colocar em armadilhas, fáceis de fazer.

AQUECIMENTO: Esta ameixeira não se dava no Ribeiro Dom Bento, por causa do frio. Nunca deu fruto. Já antes arrancara um damasqueiro e uma ameixeira rainha-cláudia, pelo mesmo motivo. Esta salvou-se por inércia minha, mas este ano carregou! Aos anos que não vejo gelo daquele que greta a terra...

PESTICIDAS: Zangado com os pesticidas, adotara uns biológicos espanhóis (mostrei-os no ano passado), mas não fizeram nada. Este ano estou a experimentar uma armadinha de insetos, que se vende na Agriloja. Darei notícia. Como se vê, as cerejeiras não recuperaram totalmente do incêndio.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Aníbal dos Santos




Aníbal dos Santos nasceu numa casa da Rua Velha, em São Vicente da Beira, no dia 29 de janeiro de 1892. Era filho de João Gaspar dos Santos, alfaiate, natural de Janeiro de Cima, e de Maria do Rosário, criada nos Pereiros.
Assentou praça, em 2 de julho de 1912, como recrutado, pertencendo ao contingente de 1912, ao cargo do distrito de Castelo Branco. Presente no Grupo de Bateria do Regimento de Artilharia de Montanha, foi incorporado em 14 de janeiro de 1913. Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Pronto da instrução da recruta, em 30 de março de 1913, passou ao quadro permanente, em virtude de sorteio, e ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 30 de novembro. Foi licenciado no dia 5 de junho de 1914, altura em que se domiciliou na freguesia da Anunciada, em Setúbal.
Apresentou-se novamente, em 28 de agosto, e foi mobilizado para a província de Moçambique. Embarcou no dia 11 de setembro de 1914, a bordo do navio inglês Durban Castle, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquele território, com o objectivo principal de reforçar a defesa das fronteiras dos ataques alemães.
Após mais de um mês de viagem, chegou a Lourenço Marques e daí seguiu viagem para Porto Amélia, a norte de Moçambique. Regressou à Metrópole em novembro de 1915.
Em fevereiro de 1917, foi de novo mobilizado para a província de Moçambique, para onde seguiu em 2 de julho, fazendo parte das tropas de reforço à 3.ª Expedição que, na altura, se encontrava muito enfraquecida devido às baixas provocadas pelas tropas inimigas e pelas doenças que vitimaram muitos militares. Participou na coluna móvel que operou na região do lago Niassa, no período entre 28 de fevereiro e 3 de junho de 1918. Embarcou de regresso à Metrópole, em 19 de março 1919, e foi licenciado em 14 de julho, domiciliando-se novamente em Setúbal.
Passou ao 2.º escalão do Exército e ao 4.º Grupo de Bateria de Reserva, em 1 de janeiro de 1923; ao depósito de licenciados do Regimento de Artilharia n.º 3, em 1 de outubro; à reserva territorial, em 3 de dezembro de 1933.
Condecorações:
·       Medalha comemorativa das operações militares, na província de Moçambique;
·       Medalha da Vitória.
Não foi possível saber se casou e deixou descendentes, nem a data e local do seu falecimento. É provável que tenha sido em Setúbal.


Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.