sexta-feira, 17 de julho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos Lourenço


Domingos Lourenço nasceu na Partida, a 11 do mês de junho de 1895. Era filho de Manuel Lourenço, cultivador, e de Maria Ana, natural de Rochas de Cima.
Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se alistou, no dia 29 de junho de 1915. Assentou praça, em 13 de maio de 1916, sendo integrado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, de Castelo Branco. 
Mobilizado para a guerra, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria 21, como soldado, com o n.º 612 e a chapa de identificação n.º 9776. Foi vacinado.
Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:
a)    Baixa ao hospital, a 15 de setembro de 1917; alta em 18 do mesmo mês;
b)    Punido pelo Comandante do Batalhão, em 5 de novembro de 1917, com cinco dias de detenção, por ter faltado à instrução sem motivo justificado;
c)    Embarcou para Portugal, com o Regimento de Infantaria 21, no dia 25 de fevereiro de 1919, e desembarcou em Lisboa, no dia 28.
Passou à reserva ativa, no dia 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.
Condecoração: Medalha de bronze comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra, com a inscrição França 1971-1918.


Família:
Domingos Lourenço casou em Aldeia de Joanes, passado pouco tempo de ter regressado de França. Desse casamento terão nascido dois filhos (Adelino e Mercês?), mas não foi possível confirmar esta informação.
Enviuvou poucos anos depois e, em fevereiro de 1935, mudou o domicílio para o Fundão, onde voltou a casar com Maria das Dores, também já viúva. Não terá tido filhos deste casamento, mas também não foi possível confirmar este dado.
Para além do trabalho no cultivo de uma quinta que tinham e onde moravam, o casal teria também um forno comunitário. O sobrinho José da Silva (José “Marau”) diz que, ainda criança, se lembra de ir com o pai, a pé, da Vila até ao Fundão e, no regresso, traziam de lá uma bolsa cheia de pão que o tio lhes arranjava. Voltavam durante a noite, às escondidas, não só porque tinham medo de ser assaltados e ficar sem comer por uns tempos, mas também porque naquela altura era proibido transportar assim tanto pão. Estava-se no princípio dos anos 40 e havia muita fome por causa do racionamento imposto durante a 2.ª Guerra Mundial.
Filomena, uma das sobrinhas que vive na Partida, conta que tem poucas memórias deste tio, mas se recorda de o ter visto numa altura em que foi com os pais à feira do Fundão e dormiram em casa dele. Lembra-se que era um homem muito bonito e de ouvir dizer à mãe que toda a gente, na família, gostava muito dele, talvez por ser o único rapaz entre os cinco irmãos. Falavam também das lágrimas que tinham chorado quando ele abalou para a guerra e depois do desgosto quando o viram, no regresso: «Contava a minha mãe que só trazia a pele e o osso, de tanta fome que por lá passou. Nem parecia ele. Toda a gente dizia que não escapava. Foi preciso mais que tempos para arribar e voltar a ter forças para fazer qualquer coisa.» (a sobrinha Filomena)
Domingos Lourenço terá passado os últimos tempos de vida em Lisboa, provavelmente em casa de algum dos filhos. Foi lá que faleceu, na freguesia da Pena, no dia 13 de Agosto de 1966. Tinha 71 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração dos sobrinhos José da Silva, Aurélio da Silva e Maria Filomena)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Poupas e perdizes

A passarada já começa a rarear, partiu para outras paragens há procura de melhor pasto. Ficam os frugívoros. Aliás, aproveito para deixar uma correção: após o incêndio de 2017, escrevi aqui que os esquilos não tinham desaparecido, a julgar pelas nozes e amêndoas comidas. Infelizmente conclui que elas são comidas pelos pássaros, quando a casca ainda está suficientemente mole para eles a romperem.
Durante semanas, às 6 da manhã, encontrava-me com uma poupa no Carvalhal Redondo. Há dias que a não vejo. Deve ter partido também. Era parecida com esta, mas mais castanha.

Há um mês, também no Carvalhal Redondo, fui surpreendido por uma perdiz a passear os seus oito bebés. Foi assim:
https://youtu.be/4L0buUttDHw

E esta?! Mostra-nos a importância dos comedouros e bebedouros para os animais selvagens, nos tempos de escassez.
https://youtu.be/9Jwh1rUHyHE 

José Teodoro Prata

sábado, 11 de julho de 2020

Vicentinos ilustres

António de Azevedo Pimentel Galache

«Por agora, resta-me saudar e louvar a memória de António de Azevedo Pimentel, bom português e vassalo fiel, capitão-mór da minha vila natal, muito provàvelmente comandante militar de avoengos meus, soldados nas primeiras refregas com tropas castelhanas na fronteira beiroa, a lutar pela restauração de Portugal.»
(Hipólito Raposo, “Um Beirão restaurador” em Oferenda, 1950.

VIDA E OBRA
- António Pimentel nasceu em São Vicente da Beira, no ano de 1567.
- Era filho do 2.º casamento de Fernão de Azevedo, Moço Fidalgo da Casa Real, com Maria de Brito, natural de São Vicente da Beira.
- Foi Moço Fidalgo e Senhor de São Felices dos Galegos (Espanha), um morgado transmitido por sua avó paterna Isabel Ferrão Galache, de Castelo Branco.
- Casou com D. Maria de Lemos Pereira de Almeida e, em segundas núpcias, com a sobrinha Joana da Costa, de São Vicente da Beira. Com ela teve Tomás Fernando de Azevedo Pimentel, nascido no ano de 1642, em São Vicente da Beira.
- Ocupou o cargo de capitão-mor de São Vicente da Beira e, em Dezembro de 1640, foi o primeiro a proclamar D. João IV como rei de Portugal, nesta vila e em Castelo Branco.
- Com a Restauração, perdeu o Morgado de São Felices dos Galegos, no valor de 20 mil cruzados. Em 1641, pediu a D. João IV que, em compensação, lhe doasse um morgado existente na Guarda, propriedade de um espanhol de Cidade Rodrigo.
- Ofereceu-se para servir na Guerra da Restauração, com dois sobrinhos e cunhados.
- Faleceu em São Vicente da Beira, no ano de 1643.

 Casa seiscentista, na Rua Manuel Simões.

Painel / bandeira da Misericórdia, datado de 1628.
(Este quadro e a casa anterior são da época em que António Pimentel viveu na nossa terra e aqui foi capitão-mor da ordenanças do concelho)

José Teodoro Prata

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos João


Domingos João nasceu no Mourelo, a oito de Fevereiro de 1893, filho de Francisco João e Maria Isabel, cultivadores.
Assentou praça em Castelo Branco no dia 9 de Julho de 1913, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em 14 de Julho de 1914. Na altura era analfabeto e jornaleiro.
Pronto da recruta em 30 de Abril de 1914, foi licenciado a 1 de Maio, vindo domiciliar-se em São Vicente da Beira. Apresentou-se novamente no dia 16 de setembro de 1915, mas foi licenciado no dia 26 do mesmo mês.
Em 5 de Maio de 1916 voltou a apresentar-se e foi mobilizado para partir para França, integrando as tropas do CEP. Embarcou no dia 21 de Janeiro de 1917, rumo ao porto de Brest, fazendo parte da 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 635 e a placa de identidade n.º 25985.
O boletim individual dá pouca informação sobre Domingos João, durante o tempo em que esteve em França. Refere apenas que passou à formação de Infantaria 21, com o carro de munições, em Novembro de 1918, e que  regressou a Portugal, em 3 de Abril de 1919, a bordo do navio Menomminé (destacamento de gado), domiciliando-se em São Vicente da Beira.

Terá depois mudado a residência para outra localidade, pois foi considerado ausente, sem domicílio, por não se ter apresentado à revista no ano de 1921. Foi por isso condenado a pagar uma multa de 1$00. Voltou a não se apresentar nos anos de 1925, 1932 e 1934, pelo que foi novamente condenado nas multas de 10$00, 40$00 e 40$00, respetivamente. Foi amnistiado destas multas, nos termos do Despacho 21.140, de 9 de abril de 1932.
Passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1934.
Condecoração:
Recebeu a Medalha Militar de cobre com a legenda: França 1917-1918.

No Mourelo, não há quem tenha qualquer memória de Domingos João. No seu registo de batismo também não consta qualquer averbamento que possa informar sobre um possível casamento ou a data e local da sua morte.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

domingo, 5 de julho de 2020

Amália no Fundão

O António Fernandes, de Aldeia de Joanes, publicou no facebook um texto sobre Amália Rodrigues no Fundão, o seu concelho de origem.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Vicentinos ilustres

D. Álvaro da Costa

Em 2012, participámos nas Jornadas Europeias do Património. O tema era O FUTURO DA MEMÓRIA. Entre outras iniciativas, deram-se a conhecer os vicentinos mais insignes (se é que há uns mais que outros). Essa foi a parte que me coube, a pedido da Junta de Freguesia, de que resultou um conjunto de placares, cada um com uma personalidade. A exposição foi apresentada na casa Hipólito Raposo, à Fonte Velha.
Os materiais perderam-se, mas tenho-os em PDF, assim como os documentos necessários para compor cada placar. 
Vou dá-los a conhecer a partir de hoje, seguindo a ordem alfabética.

Pintura representando o casamento do rei D-Manuel. D. Álvaro da Costa será a personagem à direita do rei, de barbas brancas, com a cruz da Ordem de Cristo ao peito.

VIDA E OBRA
- Nasceu em São Vicente da Beira, cerca de 1470.
- Era filho de Martim Rodrigues de Lemos e de Isabel Gonçalves da Costa, herdeira da fazenda vinculada do Ninho do Açor. Martim de Lemos foi comendador de São Vicente da Beira na Ordem de Avis. O casal tinha casas na vila.
- Álvaro da Costa tornou-se escudeiro-fidalgo da Casa Real, por influência de D. Jorge da Costa, o cardeal de Alpedrinha, seu familiar. Foi guarda-roupa e camareiro-mor de D. Manuel I e depois armeiro-mor do Reino e conselheiro de Estado. Recebeu do rei o título de Dom.
- Casou com D. Beatriz de Paiva e tiveram 5 filhos: D. Gil Eanes da Costa (vedor da Fazenda e membro do Conselho de Estado de D. Sebastião), D. Duarte da Costa (armeiro-mor do Reino e 2.º Governador Geral do Brasil)…
- Foi embaixador de D. Manuel I a Espanha e a Roma.
- Deteve a comenda de São Vicente da Beira na Ordem de Cristo, organização de que era membro.
- Desempenhou o cargo de vedor da Casa da rainha D. Leonor.
- Foi o 1.º provedor da Misericórdia de Lisboa.
- D. Álvaro da Costa foi sepultado no Convento de Nossa Senhora do Paraíso, em Évora, num túmulo do escultor renascentista Nicolau de Chanterene.

 Uma das nossas jóias do estilo artístico chamado manuelino: pia de água benta da capela da Senhora da Orada.
Como comendador da comenda de São Vicente da Beira da Ordem de Cristo, este Grande do Reino era o dirigente máximo da empresa (a comenda) que geria os bens religiosos no concelho de São Vicente da Beira. Esta pia e outras obras de arte da nossa terra terão sido adquiridas por D. Álvaro da Costa. O futuro museu de arte sacra dar-nos-à a conhecer outras preciosidades com que o comendador proviu as nossas igrejas e capelas.

Brasão dos Costa

Carta de D. Álvaro da Costa ao rei D. Manuel.

Túmulo de D. Álvaro da Costa, no Museu de Évora, proveniente da capela mor do convento dominicano do Paraíso, Évora, demolido em 1899.

José Teodoro Prata