quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Francisco Jerónimo

Francisco Jerónimo nasceu no Casal da Fraga, a 12 de agosto de 1892. Era filho de José Lopes, jornaleiro, e de Olália (Eulália) da Conceição.

Não se conhece muito sobre a sua participação na Grande Guerra, porque não foram encontrados documentos oficiais que o confirmem (folha de matrícula ou outro). Desse tempo sabe-se apenas o que contava Francisco Candeias, seu amigo e companheiro desde a recruta até às expedições em África.

Assim sendo, Francisco Jerónimo assentou praça em Castelo Branco, como recrutado, em 12 de julho de 1912. Foi incorporado no Grupo de Baterias de Artilharia de Montanha, em 14 de janeiro de 1913, e, pronto da recruta em 30 de março, passou à formação permanente em virtude de sorteio. Tomou parte na Escola de Recrutas de 1913 e passou ao Regimento de Artilharia de Montanha de Portalegre, em 1 de novembro. Foi licenciado em 5 de junho de 1914 e regressou à terra.

Apresentou-se novamente em agosto e, destacado para a Província de Angola, embarcou em 10 de setembro de 1914, fazendo parte da 1.ª Expedição para aquela província ultramarina. Chegou a Moçâmedes, no dia 1 de outubro, tendo depois seguido para sul, para a zona do rio Cunene, na fronteira com a Namíbia.

Participou na ação do dia 18 de dezembro de 1914, contra os alemães, fazendo parte das tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertenceu ao destacamento que reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, e tomou parte na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em 15 do mesmo mês. Com o mesmo destacamento, avançou em 20 de agosto sobre Cunhamano, a fim de restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24, participou no combate da Chana da Mula.

Embarcou de regresso à Metrópole, no dia 16 de novembro de 1915, e chegou a Lisboa a 5 de dezembro.

À semelhança do que aconteceu com o amigo Francisco Candeias, terá sido novamente mobilizado e seguido para Moçambique, integrando a 3.ª Expedição para aquela província ultramarina. É provável que tenha participado também nos ataques levados a cabo por aquela expedição para ultrapassar o rio Rovuma para a margem norte. Terá regressado à Metrópole, em dezembro de 1917.

Família:

Antes de partir para Angola, em 1914, Francisco Jerónimo já era casado com Luz Martins, natural da Partida. O casal passou a viver numa casa no Ribeiro Dom Bento, arredores de São Vicente, lugar onde os avós maternos de Luz Martins, Joaquim Duarte Remualdo (já falecido na altura do casamento) e Maria Martins, teriam algumas propriedades. Sabe-se que, nesse ano de 1914, lhes nasceu a primeira filha, Maria da Ascensão; provavelmente ainda antes da partida de Francisco para África.

Não se sabe muito mais sobre a vida de Francisco Jerónimo, para além de que faleceu de pneumonia gripal (pneumónica), no Hospital de São Vicente da Beira, no dia 2 de novembro de 1918. Tinha 26 anos de idade. Ironicamente, no dia da sua morte nasceu-lhe a segunda filha, Maria de Jesus.

Após a morte do marido, Luz Martins e as duas filhas emigraram para o Brasil onde já vivia uma irmã. A família de Francisco nunca perdeu a esperança de as ver regressar. Dizem que quando fizeram as partilhas dos bens herdados dos pais, guardaram a parte da herança que lhes caberia, durante muito tempo.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

Um comentário:

José Teodoro Prata disse...

Este é meu parente, irmão da minha avó Rosário e do tio Albano Jerónimo, entre outros.
Depois de duas incorporações na I Guerra Mundial, em Angola e Moçambique, caiu nas mãos da grande pandemia do século XX, a pneumónica, logo depois de regressar.
Desconfia-se que muitos soldados regressados da França e de África já vinham infetados, mesmo que ainda só com sintomas ligeiros. Ou sucumbiram à doença pelas fragilidades com que regressaram.