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quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Geoparque da Naturtejo


O Geoparque
A UNESCO, em conjunto com a União Internacional de Ciências Geológicas, criou, em 2004, a Rede Mundial de Geoparques.
Um geoparque é, por definição, um território de limites bem definidos, com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio-económico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura.


O Geoparque da Naturtejo
O Geoparque da Naturtejo abrange os concelhos de Idanha-a-Nova, C. Branco, Vila Velha de Ródão, Nisa, Proença-a-Nova e Oleiros.
A Naturtejo é a empresa intermunicipal que gere este geoparque.
Para saber mais, consultar www.naturtejo.com. À direita, clicar em Geossítios.

A Rota da Gardunha


Esta rota é uma das várias rotas do Geoparque da Naturtejo. Mais informação pode ser encontrada na página da Internet acima indicada, clicando, à direita, em Rotas Naturtejo.
Aquando da criação desta rota, em 2006, o Geoparque estudou a hipótese de pelo menos mais uma rota na freguesia de S. Vicente da Beira: pelo vale da Ribeirinha, desde a Vila à Senhora da Orada. Mas ocorrera então o grande incêndio e a rota ficou para mais tarde. Até hoje.



Algumas notas sobre a Rota da Gardunha:
Em vez de partir do Louriçal e subir a serra íngreme, pode começar-se no Casal da Serra e seguir pelo percurso P. R. 1. 1, em direcção à Casa da Floresta. Mas abandonar esse percurso a cerca de 800 metros do Casal e continuar pelo caminho à esquerda. Depois subir e descer novamente para o Casal (clicar no mapa acima, para ver melhor).
Junto à Casa da Floresta, há um parque de merendas. Mesmo ao lado, fica a mata dos cedros, para os esfomeados de natureza.




O Castelo Velho está fora da rota. É um castro da Idade do Bronze, mas com reutilizações posteriores. O caminho do percurso passa a cerca de 150 metros. Tem de se virar à esquerda e ir por entre matos e rochas, em direcção à crista do galo e continuar depois desta, até ao picoto. O limite das freguesias do Louriçal e de S. Vicente passa precisamente neste cume.


O Castelo Velho nunca foi estudado, embora tenha um potencial arqueológico enorme. No final do século XIX, cerca de 1890, alguém o visitou e levou alguns achados arqueológicos, que se encontram no Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. Mas os vários poderes nunca se interessaram pelo Castelo Velho, embora esteja ali, possivelmente, a génese do povoamento desta região.


A não perder: descer o percurso entre o Casal e a Torre. É curto, fácil e lindíssimo. Há poucas semanas, os representantes de uma cidade francesa, com a qual o Louriçal se geminou, fizeram esse percurso, apenas.






quarta-feira, 3 de junho de 2009

Rota da Gardunha


Foi na Primavera de 2007, menos de um ano após o grande incêndio que despiu a serra.
Participei na inauguração da Rota da Gardunha, a mais bonita rota do Geoparque, na opinião de um dos seus criadores, o geólogo Carlos Carvalho.
Ao chegar a casa, pus no papel o que me ia na alma. Aqui vai:



Louriçal do Campo, 9 horas, recinto de festas. Apresentação do Geoparque e da Rota da Gardunha e partida. Contornamos a Igreja, é de São Bento, bi ne di te, como informa a pedra com a cruz de Avis. O templo foi construído por Petrus, em 1559, segundo o Edgar Fernandes, com o latim mais fresco que o meu. Viramos a nordeste, pela Rua do Casalinho e seguimos, entre casas e hortas, com ramos floridos debruçados nos muros, a ver-nos passar.
Enfim, a serra, sempre a subir, a subir. Por entre pinheiros, tojos, carquejas, estevas e giestas. O corpo já aquece, mas a brisa arrefece à medida que trepamos.
Cruzamento para o Casal da Serra, primeiro reforço, de águas, maçãs e laranjas. E uma oportunidade a quem não quer trepar mais e segue pelo percurso alternativo.
Continuamos. Mais acima, o bosque dos cedros, onde apetece descansar e merendar. O caminho dá agora uma grande volta e na curva espera-nos a recompensa, um bonsai de carqueja, com tronco ressequico e retorcido, no alto da rocha. Seguimos até ao miradouro da Baldaia, com o anfiteatro de Castelo Novo ao fundo e em volta rochas e mais rochas, paisagem lunar que o último incêndio realçou. Mas é terrena, pois tojos teimosos exibem as suas flores e o chão já se cobre de florinhas cor-de-rosa.
A nossa direcção é o Castelo Velho e por isso viramos à esquerda. Já se avista a rocha em crista de galo, daqueles que antes se criavam para haver ovos galados para o choco. Mas ainda não vamos para lá. Continuamos em direcção ao cume da Gardunha e pasmamos com uma paisagem cravada de penedos. A alguns, o tempo cortou talhadas, a outros, esquartejou a superfície, em quadrícula arredondada. São as meninas dos olhos do geólogo Carlos Carvalho.
Cortamos a mato, para o Castelo Velho. A crista de galo, já mais perto, dá boas fotos aos caminheiros, que também levam consigo a rocha com cara em cabeça de râguebi.
Deixamos o percurso e viramos à esquerda, para o castro lusitano, em homenagem aos nossos antepassados de há três mil anos. É difícil encontrar um acesso até ao picoto. Atravessamos panos de muralha derramados pela encosta, que ninguém já reconstrói. No alto, o deslumbramento, o prémio para quem ousou. Apetece ficar, sentado na laje, a beber toda a paisagem que se estende a nossos pés. À esquerda, o cume de Monsanto espreita pela toalha de nevoeiro, em frente, dois altinhos, Cardosa e S. Martinho, ajudam-nos a localizar Castelo Branco. Em baixo, azul, no verde acastanhado, a água da Marateca.
Mas não podemos ficar. Voltamos ao caminho e descemos a serra quase a correr. Por baixo dos nossos pés, o sussurro de água. Nos anos 40 e 50, tiveram que esventrar a serra, para saciar Castelo Branco, que crescia. Até ao Casal da Serra, é como se deslizássemos dentro de uma concha, até abaixo, onde camponeses desbravaram a terra e fizeram um casal. Há uma vaca, que nos fixa com olhar calmo, mas afinal é um boi. À frente, um cavalo, na sua elegância vaidosa. Depois um sardão, daqueles grandes e verdes, que mal se vê, porque desapareceu no buraco, escaldado de maus tratos.
Enfim, a casa dos telhados em bico, que Salles Viana projectou, a pensar nos Alpes Suíços. Segundo reabastecimento. As sandes de carne assada acabaram-se, mas há um queijo fresco, grande como a roda de um carro. Atrasados, não temos tempo para ele e por isso ensarroamo-nos de fruta, prontos a saltar do colo em que a Gardunha envolve o Casal, desfiladeiro abaixo, com a Ocreza, até ao campo.
A natureza excedeu-se, aqui. Eu andava quase morto na cidade e o paraíso aqui tão perto! A Ocreza atira-se à maluca, serra abaixo, despenha-se, espraia-se em lagoas, torna aos precipícios e nós, embalados com a sua música, mas mais prudentes, vamos descendo, às vezes em três, outras em quatro, com correntes de ferro a ajudar nos sítios mais difíceis.
Entramos num moinho pelo telhado e saímos pela porta. O moleiro já cá não vem, nem há taleigas pelos cantos. Atravessamos a Ocreza para a outra margem. Cabrinhas brancas, em verde de fetos, casas e mais moinhos abandonados. Um burro espoja-se na terra e o dono diz-me que este casal é o dos Pinhões.
Mais casas e moinhos, é a Torre. Durante séculos, este vale da Torre, junto com o vale de Castelo Novo, com mais de cinquenta moinhos, mataram a fome de pão à comarca de Castelo Branco, segundo documentos antigos.
Voltamos a atravessar a Ocreza, agora em pontão de madeira, e ficamos por ali, entre o verde e a água irrequieta e pura, sem vontade de continuar. Mas são quase catorze horas. Seguimos por veredas, entre hortas. Agora chega, o corpo já pede trato e descanso. Depois da capela de S. Sebastião, rua fora e final. O almoço reconforta-nos.
E regressamos, mas ainda vamos espreitar o casarão que foi o colégio jesuíta de S. Fiel. Os portões estão fechados e, da sabedoria que aqui bebeu o nosso nobel Egas Moniz, nem sinais.
Pela estrada, que foi o caminho dos moleiros em direcção à estação de comboios da Lardosa, sinto-me como o Malhadinhas do Aquilino Ribeiro, que já com dois carros de anos em cima ainda gostava de saborear a vida.