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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Ambrósio



José Ambrósio nasceu em São Vicente da Beira, no dia 26 de julho de 1891. Era filho de Manuel Ambrósio, jornaleiro, natural da Aldeia do Cabo, e de Catarina Narcisa, moradores na rua Manuel Lopes.

Assentou praça em Castelo Branco, onde fez a instrução da recruta. Alguns anos após ter sido licenciado, foi novamente mobilizado para fazer parte do CEP. Embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 1.ª Bateria do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 156 e placa de identidade n.º 8798.

Do seu boletim individual constam as seguintes ocorrências:

a)   Baixa ao hospital, no dia 1 de outubro de 1917; alta a 6 do mesmo mês;

b)   Baixa à Ambulância n.º 3, no dia 27 de dezembro; evacuado para o Hospital Sangue n.º 1, no dia 31;

c)   Evacuado para o Hospital Canadiano n.º 3, em 2 de janeiro de 1918; alta no dia 15; baixa à Ambulância n.º 3, no dia 26, e evacuado para o H. de Sangue 1 no dia 27; alta a 28; baixou de novo à ambulância em 2 de fevereiro; julgado incapaz para todo o serviço no dia 11;

d)   Embarcou para Portugal, no dia sete de Abril de 1918, a bordo do Cruzador Auxiliar Pedro Nunes.

Família:

José Ambrósio casou com Maria Inês Martins, no dia 2 de Abril de 1921. Maria Inês era natural dos Pereiros e foi aí que ficaram a viver e criaram os quatro filhos que tiveram:

1.   Justina Inês, que casou com João Lourenço e tiveram 6 filhos;

2.   Maria do Carmo, que não se casou nem deixou descendência;

3.   Maria Natividade, que casou com Joaquim Louro, mas não teve filhos;

4.   António Joaquim, que casou com Maria Angelina Varanda e tiveram 1 filho.

José Ambrósio trabalhou a vida inteira na agricultura, nas terras que herdou e noutras que foi comprando. Tinha uma casa farta de tudo o que a terra dava, o que, juntamente com a pensão que lhe foi atribuída por ferimentos na guerra, lhe permitiu ter sempre uma vida desafogada.

«Eu era o neto mais velho do meu avô e, se calhar por causa disso, gostava muito de mim e dava-me muitos mimos. Eu também gostava muito dele e, se me queriam encontrar, era atrás dele. 

Às vezes chegava da escola e ia destapar a panela para ver o que era o comer; se não me agradava, saía porta fora e ia direitinho à casa dos meus avós, porque sabia que lá se comia melhor. Já havia arroz, açúcar e tudo, coisa que na casa dos pobres era rara, naquele tempo.

Lembro-me dele lá ter um copo de esmalte, com uma asa, que disse que tinha trazido da França, e era por ali que eu gostava de beber sempre. Ele ficava todo orgulhoso e comovido por eu estimar assim tanto aquela recordação que tinha trazido da Guerra com tanto empenho.

Como naquele tempo a casa do meu avô era das mais fartas da terra, era lá que o padre Tomás ia comer muitas vezes, nos domingos em que ia dizer a missa aos Pereiros. Faziam-lhe sempre uma galinha para o almoço e ele, enquanto a não comia toda, não se levantava da mesa. Eu bem andava ali à roda a ver se me dava alguma coisa, mas ele até fazia que não me via.

Nos dias da feira, o meu avô trazia-me à Vila e comprava-me roupa e calçado novo. Era uma alegria!

E o tempo foi passando. Quando chegou a altura, fui para a tropa, para Moçambique, e andei por lá três anos; depois casei e fui viver para Lisboa. Mas sempre que podia vinha à terra, e ia sempre visitá-lo aos Pereiros.

Morreu já lá vão uns bons anos, e continuo a ter muitas saudades dele.» (testemunho do neto Domingos Lourenço).

José Ambrósio faleceu no dia 10 de Abril de 1981. Tinha quase noventa anos.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do neto Domingos Lourenço)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra