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terça-feira, 11 de abril de 2017

Boa Páscoa!

Com a nossa doçaria...



...as flores da quadra...



...e o nosso património religioso.




E claro, o fundamental: familiares e amigos!
José Teodoro Prata

quarta-feira, 23 de março de 2016

Páscoa

A Páscoa dos cristãos, juntamente com a festa da Natividade, são as duas festividades mais importantes do calendário da Igreja.
A Natividade comemora o nascimento de Jesus, a Páscoa assinala a vitória da morte através da Sua ressurreição.
O tempo quaresmal recorda-nos os quarenta dias que Jesus viveu no deserto, onde passou privações de toda a ordem e foi tentado pelo demónio.
- Tudo isto Te darei se me adorares.
- Afasta-te de mim, satanás!
Durante quarenta dias, o povo crente jejua e faz penitência, é tempo de recolhimento.
 Antigamente as rádios, nomeadamente na semana maior, passavam música clássica, as folias terminavam na quarta-feira de cinzas.
A quaresma recorda-nos o sofrimento de Cristo até à sua morte na cruz.
A semana maior inicia-se Domingo de Ramos, com a entrada triunfal de Jesus e a Sua aclamação popular, na cidade de Jerusalém.
Quatro dias depois, o povo que o tinha aclamado condenou-O.
Interrogatórios, calúnias, e finalmente a morte na cruz.
Ao terceiro dia, Domingo de Páscoa, ressuscitou.
A Páscoa Judaica lembra a libertação do povo que esteve cerca de quatrocentos anos escravizado no Egipto. Os hebreus recordam também a passagem do anjo da morte pelas terras do Egipto. Nesse dia, o povo hebreu matou um cordeiro e com o sangue marcaram as portas, desta maneira o anjo passava. Nas casas que não tivessem o sinal, se houvesse nelas recém-nascidos, o anjo praticava a justiça…
É a festa da primavera, os hebreus assinalavam a Pessach, porque também se iniciavam as ceifas da cevada.
A Páscoa dos cristãos é um tempo de renovação, um tempo novo.
Através da Sua paixão e morte na cruz, Cristo redimiu-nos dos pecados e das tentações.

Jesus é o novo Cordeiro imolado, que libertou do pecado e da morte todos as criaturas que crêem na Sua ressurreição.


 Domingo de Páscoa, o senhor vigário percorria as casas do vicentinos benzendo-as e dando o Senhor a beijar a todas as famílias.
Os moradores das Quintas e do Caldeira recebiam o Senhor segunda-feira de Páscoa, o Casal no dia da festa da Santa Bárbara.
A Cruz florida simbolizava a vida, a ressurreição do Senhor. Cristo está vivo.


Ovos


Azeitinho das oliveiras de São Vicente


Açúcar



Aguardente


Envolve-se tudo muito bem, até a massa ficar rala, mas consistente


O forno está a ficar “branquinho”


Eis o produto final: são bolos da Páscoa de São Vicente da Beira


Esquecidos


Bolos de leite

Não há nada de novo, é só acrescentar mais um ponto e a história renova-se.
Para além da aguardente, açúcar e azeite, os nossos bolos levam também canela, leite, fermento…
Olhem, uma Páscoa feliz para todos!

J.M.S.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Boas Festas


Boas Festas, no Salvador, concelho de Penamacor, em meados do século passado.

Andava-se de casa em casa, o Vigário, o sacristão e o rapaz da campainha, com o Senhor, mais os amigos, os vizinhos e a criançada da zona. Havia uma mesa repleta de amêndoas, doces e tremoços. Ao centro, as flores da Primavera. E vinho, raramente aceite, para matar a sede ao senhor Vigário, e umas moedas ou uma nota, como paga do serviço.
Antes, horas e horas a alindar a casa. Uma vez por ano, cada família abria-se à comunidade e ninguém queria fazer má figura.
As Boas Festas eram domingo, na Vila, segunda-feira, no Caldeira e na Tapada, domingo de Santa Bárbara, no Casal da Fraga, e domingo da Senhora da Orada, nas Quintas. Elas eram a festa da partilha, o único momento em que o Senhor visitava as pessoas, na sua casa, “obrigadas” que estavam a deslocar-se todo o ano a casa d´Ele.
O desaparecimento das Boas Festas foi um sinal dos tempos, nos anos 70: a pouca higiene no beijar da cruz; frequentes rivalidades entre párocos e comunidades, nessa época; concentração de milhares de pessoas em cidades, onde por vezes os vizinhos nem se conhece; a maioria das pessoas terem deixado de ser católicos praticantes e proliferarem minorias de outras igrejas ou de nenhuma.
Mas, elas não terem sido retomadas pela Igreja, mesmo que reformuladas, é para mim um dos grandes mistérios da nossa Igreja Católica. Fala-se, por tudo e por nada, com muita razão, em policiamento de proximidade. Há programas que levam as autoridades policiais, assistenciais e de saúde a casa dos idosos mais isolados. Mas os pastores da Igreja prescindem, voluntariamente, de um dos momentos mais nobres de proximidade com o seu rebanho.

Notas breves:
Há meses, os padres redentoristas de Castelo Branco anunciaram, pela comunicação social, que ofereciam, diariamente, um certo número de refeições aos mais necessitados. Semanas depois, vieram protestar, nos jornais, pois nem uma pessoa aparecera para pedir ajuda. Extraordinário! Isto fez-me lembrar uma igreja da zona da Amadora, junto a uma zona residencial de emigrantes africanos, onde já fui por duas vezes e nunca vi uma única pessoa de raça negra.
Há dias, fiz uma curta visita à ti Maria dos Anjos e ela disse-me que o senhor Vigário lá estivera momentos antes. Mas uma andorinha não faz a Primavera, nem esta é uma crónica sobre a Igreja de S. Vicente da Beira. No entanto, são estas novas formas de pastoral que fazem falta à Igreja Católica!
Se acharem que não tenho nada com isso, dou-vos toda a razão. Mas estava aqui sentado ao computador, sem nada para fazer, e lembrei-me que hoje era o dia de dar as Boas Festas, na casa da minha infância. Nostalgias!

domingo, 5 de abril de 2009

Doçaria pascal


Depois do sofrimento e da morte, virá a alegria da ressurreição.
Não quero que vos faltem as nossas receitas tradicionais, para celebrar a festa da Páscoa!
Por isso vos deixo as dos tremoços, de dois doces e dos bolos. Juntei o queijo fresco, porque uma fatia de bolo da Páscoa coberta por queijo fresco é um manjar quase divino.
Aliás, nesta receita de bolos da Páscoa há um toque de excelência que só nos pode ter chegado da doçaria conventual.
Em toda a região se fazem bolos parecidos, mas têm mais sabores, além da canela, que nos nossos é muito suave. Depois, aquele toque do soro do leite é de mestre! Não esquecer que tivemos um convento de freiras durante séculos, com irmãs oriundas das mais variadas regiões e até de Inglaterra.
Esta receita foi-me dada pela minha mãe, que a aprendeu da sua mãe. Ora as raízes da minha avó Doroteia mergulham nos Santos e nos Mesquitas, que já vivem em S. Vicente há vários séculos.


Bolos da Páscoa


Ingredientes: farinha, 12 ovos, meio quartilho de azeite, canela, 1 copo pequeno de aguardente, 1 litro de soro de leite (pode ser substituído por água ou leite magro) e fermento do padeiro.

Batem-se os ovos e junta-se o azeite, o soro, a aguardente e a canela. Vai-se acrescentando a farinha com o fermento, amassando sempre, até a massa ficar boa para fintar. Depois de finta, tendem-se os bolos e cozem-se no forno de lenha.


Bolos de leite



Ingredientes: 1 kg de açúcar, 1 colher pequena de bicabornato(bicarbonato), 1 dúzia de ovos, 1 litro de leite, meio litro de azeite e farinha.

Misturam-se bem o açúcar, os ovos batidos, o azeite e o leite. Acrescenta-se o bicabornato e vai-se juntando farinha, até a massa ficar boa. Depois, com uma colher de sopa, deitam-se pequenas quantidades de massa nas latas, previamente untadas com azeite. Barra-se cada bolo com gema de ovo batida e polvilha-se com açúcar. Depois vão ao forno pouco aquecido.

Esquecidos
Ingredientes: 1 dúzia de ovos, 1 kg de farinha e 1 kg de açúcar.

Batem-se bem os ovos e o açúcar, com uma colher de pau, até fazer fio. Depois junta-se a farinha e envolve-se tudo bem. Deita-se a massa nas latas, com uma colher de sopa, e vai ao forno pouco aquecido.

Tremoços
Ingredientes: água, tremoços e sal.

Demolham-se os tremoços, cozem-se e deixam-se duas semanas dentro de uma saca, no ribeiro, em água corrente, para adoçarem. Depois lavam-se, salgam-se e comem-se.

Queijo fresco de cabra
Ingredientes: leite de cabra, sal e coalho.

Ferve-se o leite e junta-se o coalho, que é um pedacinho do estômago seco de um cabrito morto no período da amamentação, antes de começar a comer erva. Deixa-se ficar até coalhar. Vai-se colocando a massa no cincho, com uma concha, e aperta-se com as mãos. Quando o cincho já estiver cheio e a massa bem apertada, sem largar soro, deita-se sal por cima e deixa-se ficar. Passadas horas, vira-se, sempre no cincho, e coloca-se sal no outro lado. Pouco depois, pode-se comer.
O soro, com os pedacinhos de coalhada que escaparam do cincho, adoça-se e bebe-se ou come-se com sopas de pão. Bem coado, também pode utilizar-se na feitura dos bolos da Páscoa.

(PRATA, José Teodoro – Instantes saborosos, “Estudos de Castelo Branco”, Julho de 2007, Nova Série, N.º 6, Direcção de António Salvado)

Fotografias de Sara Teodoro Varanda

sábado, 28 de março de 2009

Tradições da Páscoa













Cerimónias de Sexta-Feira Santa, no ano passado, 2008.
Fotos de Filipa Rodrigues Teodoro


A Semana Santa e a Páscoa já se fazem anunciar. Por isso vos deixo um trecho de um trabalho que publiquei, em Castelo Branco, no ano de 2007.
Para os mais velhos, é uma doce recordação e os mais novos vão perceber melhor a nossa nostalgia das próximas semanas.
O texto faz-nos retornar aos anos 60 e qualquer um da minha geração ou das gerações próximas pode lê-lo na primeira pessoa, pois todos vivemos estas tradições de forma semelhante.


A Semana Santa era tempo de tristeza e oração. À noite, depois da ceia, os populares faziam a Ladainha, à luz de tochas, das seiras dos lagares. Era uma espécie de procissão, mas sem sacerdotes. Por volta das onze horas, soavam os Martírios, que terminavam à meia-noite, no Calvário, junto ao cemitério, com as seguintes quadras:

Ó almas que tendes sede,
vinde ao calvário beber.
O Senhor tem cinco fontes,
todas cinco a correr.

Ó almas que estais dormindo,
nesse sono tão profundo.
Rezemos um padre-nosso,
pelas almas do outro mundo.

Na Quinta-Feira Santa, à tarde, havia a Missa do Beija-Pés e, à noite, a Procissão do Ecce Homo. Na Sexta-Feira Santa, depois do jantar, era a Procissão do Encontro, que terminava no Calvário, seguida da Adoração da Cruz, na Igreja. À noite, fazia-se a Procissão do Enterro, o ponto alto da compaixão por Cristo. Nestes dois dias, os sinos não tocavam, em sinal de luto, e só as matracas chamavam os fiéis à devoção.
Não se trabalhava na quinta-feira à tarde e em todo o dia de sexta-feira, era pecado. Esse tempo era do Senhor.
O sábado aproveitava-se para preparar a grande festa da Ressurreição. Semanas antes, tinham-se comprado os tremoços, que se deitavam de molho e depois se coziam. Mas amargavam e deixavam-se a adoçar na água do ribeiro das Lajes. Chegada a véspera da Páscoa, traziam-se para casa e salgavam-se.
O forno ardia toda a tarde. As mulheres andavam em volta da farinha e dos ovos, a amassar e a deitar colheradas de massa para as latas, que iam ao forno pouco aquecido. Depois tiravam-se os doces para as bacias e nós, os mais novos, raspávamos as latas e reacendíamos o forno. E isto ia-se repetindo, até chegar a ordem de aquecer bem o forno, para os bolos. Era nesta altura que, às vezes, a lenha se acabava e tínhamos de correr aos pinheiros a ver de mais. Valia-nos a barriga cheia de esquecidos e bolos de leite.
A minha mãe, que amassara os bolos e depois os deixara a fintar, enquanto fazia os doces, vinha agora a ver o forno, mandando meter mais lenha ou espalhando o brasido, à espreita dos lares, que deviam esbranquiçar, mas não demasiado. Se estava quase bom, corria à cozinha a tender os bolos. Depois chegava com o tabuleiro cheio e poisava-o ao lado da porta do forno. Com o rodo, puxava as brasas para a porta e, com o vassouro, varria o chão de brasas e cinza. Um de nós segurava a pá, com a ponta pousada na soleira da porta do forno, e a minha mãe ia pondo os bolos, que depois arrumava lá dentro. Se o forno estivesse muito quente, tirava algumas brasas para fora e deixava as outras à porta. E ia espreitando, a ver se eles coziam lentamente ou se coravam de repente e era preciso tirar mais brasas. Quando estivessem bem altos e tostadinhos, tirava um, espetava-lhe uma caruma seca de pinheiro e via se vinha húmida. Se não, estavam cozidos e tiravam-se. Agora já não cabiam no tabuleiro, mas era lá que se colocavam, de cobulo, em sinal de festa e abundância.
Às onze da noite, íamos à Missa da Aleluia. O senhor Vigário zangava-se com tanta conversa entre campainhas e chocalhos, antes da Aleluia. Quando finalmente dizia a palavra mais ansiada da semana, troava uma babel de sons, a que dificilmente punha fim, passados minutos. Depois cantava-se a Aleluia. À meia-noite regressávamos a casa, mas alguns rapazes iam a casa do Padre Branco, a desejar-lhe as boas festas:

Rex, Rex, senhor Vigário,
que já dá o sol na cruz.
Venha dar as boas festas,
ao coração de Jesus.

Aleluia, Aleluia,
Aleluia, Aleluia. (bis)

E continuavam com outras quadras, até que o padre viesse à porta, com uma garrafa na mão, a festejar com eles a Aleluia.
No domingo, a meio da manhã, fazia-se a Procissão da Aleluia, seguida da Missa da Páscoa. Depois jantávamos e vínhamos logo para a Vila, às Boas-Festas.
O senhor Vigário entrava em cada casa, benzia-a com a água benta e cumprimentava os da casa, trocando umas palavras com eles, que insistiam para que ele comesse ou bebesse alguma coisa. Entretanto, já o sacristão, o senhor António Maria, dera o crucifixo a beijar a toda a gente. Seguia-se outra casa e, se fosse da mesma família, todos saíam a correr, para ultrapassar o padre e chegar a tempo de beijar o Senhor. A cada saída, os mais novos tiravam da mesa repleta um doce ou uma mão cheia de tremoços. Se na rua já tinham acabado as casas dos parentes e amigos, iniciava-se então a volta ao contrário, entrando e ficando em cada casa, a comer e a beber, até que alguém dizia que o senhor Vigário já estava perto da casa de outra família chegada, a morar mais longe. Nesta correria, íamos fazendo a digestão dos tremoços e dos doces. O meu pai é que, sem a nossa ajuda, não conseguia subir a quelha para a Tapada, no escuro da noite, quando a festa chegava ao fim.
As Boas-Festas eram no Caldeira e na Tapada, logo no dia seguinte, segunda-feira. Da barreira víamos o Senhor a passar pelo ribeiro das Lajes e a subir, nas calmas, até lá acima. O senhor Vigário demorava-se em cada casa, pois só havia quatro famílias. Às vezes comia um doce e bebia um copo, de vinho ou de água, da mina da Barroca.
Duas semanas depois era a festa da Santa Bárbara, no Casal da Fraga, onde vivia a grande família do meu pai. Era então que se davam as Boas-Festas e nós, os Teodoros da Tapada, passávamos lá o dia, entre a missa, o beijar da cruz e os tremoços e bolos.
Só no quarto domingo de Maio, na romaria da Senhora da Orada, é que a festa da Páscoa terminava, com as Boas-Festas às casas das Quintas, à tarde, depois das merendas.

(PRATA, José Teodoro - Instantes saborosos, “Estudos de Castelo Branco”, Julho de 2007, Nova Série, N.º 6, Direcção de António Salvado)