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sexta-feira, 30 de junho de 2017

O apelido Paradanta


Prometi ao Joaquim Bispo pagar-lhe o texto poético sobre as mulheres da Paradanta com informações sobre este casal, embora ele não seja de lá (ver o comentário que ele postou no seu texto).

Os assuntos que vou focar, a propósito do registo de nascimento acima apresentado, não são novos, mas vale a pena voltar a eles:

- Ainda hoje existe o apelido familiar Paradanta, em pessoas da Partida. O avô do Manuel, o bebé deste registo, chamava-se Manuel Rodrigues Paradanta e era natural da Paradanta (por isso ganhou este apelido).
- O pai do batizado, Luís Rodrigues, era das Rochas de Cima. No século XIX (este batismo é de 23.05.1824) inúmeros jovens da freguesia de São Vicente casaram com jovens da freguesia de Alamaceda, sobretudo das povoações vizinhas (Mourelo, Partida, Vale de Figueira e Violeiro / Rochas de Cima, Ingarnal, Almaceda, Rochas de Baixo e Martim Branco). Nos séculos anteriores, isso não era tão frequente.
- O avô paterno do bebé Manuel era incógnito. Teve sorte o pai Luís, não ter sido abandonado para a roda, como então era costume. Parabéns à sua mãe Joaquina Rodrigues! Os filhos naturais (nascidos fora do casamento) eram muito menos frequentes do que os filhos expostos.
- Os avós maternos vivam na Partida (a avó Josefa Freire era de lá), mas a filha Joaquina Freire e o genro Luís Rodrigues vivam no Vale de Figueira. Existia e existirá ainda uma relação muito estreita entre as gentes da Partida e do Vale de Figueira (como entre São Vicente e o Casal da Fraga).
- Normalmente, as testemunhas dos batismos (não os padrinhos) eram o sacristão e o padre tesoureiro da Igreja: Joaquim Marques e Francisco José de Oliveira. Reparem na forma de assinar o nome: o mais recente, como o do padre, e o tradicional, com o nome próprio, seguido do sinal + e depois o apelido (Joaquim + Marques)

José Teodoro Prata

segunda-feira, 27 de março de 2017

Profissão: serrador

Numa vista de olhos recente pelos registos de batismo dos anos vinte e trinta do século passado constatei que muitos dos pais das crianças batizadas tinham a profissão de serrador. Eram muitos, principalmente no Mourelo, Pereiros, Partida, Violeiro e Vale de Figueira.
Achei interessante esta informação porque, entre outras coisas, nos dá conta da importância da floresta na economia da nossa terra e de como a madeira, talvez a par da pedra e do barro, foi um dos materiais de construção mais importantes de outros tempos.
Nesta ruína que encontrei há dias no Fundão, mas que podia ser por cá, podemos ver bem a quantidade de madeira que era necessária para construir uma casa, e como ela era imprescindível em todas as fases da sua construção: telhado, paredes, chão, portas, janelas, varandas…

   
Não sei se é por serem só materiais da terra e dizerem tanto do trabalho árduo dos nossos antepassados, mas ao olhar para estas ruínas sinto a mesma emoção de quando aprecio a obra de um grande artista.

M. L. Ferreira

terça-feira, 29 de março de 2016

Lugares com histórias

Namoros antigos
  
Como é que começámos a namorar? Olhe que já lá vão uma tormenta d’anos, mas ainda me alembro como se fosse hoje.



Andava com o meu pai a fazer aquela casa além em cima e via-a passar para a fonte ou a caminho da horta, com a cesta enfiada no braço. Havia dias que abalava logo de manhã, com um molho de mantas à cabeça, e só voltava já rente ao sol-posto. Assim que a via aparecer ao fundo da rua, até parece que o coração me queria saltar do peito e já nem as pedras assentavam como devia ser, umas em cima das outras. Às vezes até me esquecia que o meu pai podia ver e ficava parado a olhar e a sonhar que ainda um dia ela havia de ser minha.
Era a rapariga mais linda das redondezas! Mas o diabo é que ela tinha tanto de bonita como de arisca e, se calhava estar à porta ou à janela quando eu passava, assim que me via arrecadava-se logo para dentro. De modo que o tempo foi passando e não havia meio de arranjar maneira de chegar à fala com ela. Um dia, já andávamos nas empenas, o meu pai volta-se para mim e diz-me assim:
- Mas que raio de homem és tu que nem tens porte para pedir namora à cachopa!
- Qual cachopa é que vossemecê diz?
- Atão eu não te tenho visto a olhar para aquela além?
E eu a julgar que ele ainda não tinha percebido nada…
- Vossemecê não está bom da cabeça! Onde é que me viu a olhar p’ra ela?
- Não que não vejo… E olha que a rapariga até é bem asadinha! E há de ser trabalhadora, que não pára, sempre numa fona de um lado para o outro.
Passados uns dias, estava ela sentada à porta de casa.
- Estava a migar couves para as pitas.
Vê como ela também ainda se lembra dessa parte?
E eu já não aguentava mais. Peguei numa pedrinha e atirei-a devagar, não fosse acerta-lhe na cabeça. Foi-lhe cair mesmo aos pés. Deve-se ter assustado que olhou a toda a roda e, quando deu comigo lá em cima, perguntou-me, a modos que zangada:
- O que é que tem que andar a atirar-me com pedras?
- Olhe que não fui eu! Ia lá agora atirar pedras a uma rapariga tão linda…
- Se não foi vossemecê, deve ter sido o meu anjo da guarda.
- Nunca se sabe…
Quando foi à noite, que largámos, passei-lhe à porta e já não se escondeu. Dei-lhe a salvação e ela, ainda meio entre dentes:
- Vão lá com Deus.
Nos dias a seguir, sempre que a via, a mesma coisa; e por fim até já dava um sorriso. E os olhos dela ficavam ainda mais lindos quando se ria! Passados uns tempos, a um domingo, esperei-a à saída da missa e acompanhei-a até à porta de casa. E mal arranjei maneira de começar esta casinha para nos metermos cá dentro, pedi-a em casamento. Até hoje!
-­­ Está a ver como as coisas são? Mal sabia eu que havia de ser ele o meu Anjo da Guarda! E olhe que bem me tem valido, nas horas boas e nas más, que também têm sido muitas…
- Então e não foi aquilo que prometemos um ao outro no altar?

M. L. Ferreira