sexta-feira, 23 de junho de 2017

Incêndios

Quinta rodeada de árvores escapou ao fogo


Propriedade é de uma empresária holandesa que vive em Portugal há dez anos
A Quinta da Fonte, em Figueiró dos Vinhos, "sobreviveu" aos vários incêndios que deflagraram no centro do país desde o sábado passado. As chamas estiveram muito perto da quinta da holandesa Liedewij Schieving, que vive em Portugal há dez anos. Tudo ardeu à volta, menos as árvores plantadas há décadas.
"Aqui ardeu praticamente tudo. Havia muitos eucaliptos que não resistiram às chamas", refere a empresária holandesa. Uma mancha verde destaca-se da paisagem negra envolvente. "A única coisa que não ardeu foram os carvalhos, os castanheiros, oliveiras e sabugueiros", explicou ao JN.
No Facebook, a mulher, de 50 anos, publicou vídeos e fotografias da zona envolvente à propriedade.
Os bombeiros "não estiveram no local" e as árvores que lá estão "há muitas décadas protegeram a quinta e sobreviveram por si", disse Liedewij Schievin.
Diário de Notícas, 23.06.2017

José Teodoro Prata

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Há Feira Medieval



José Teodoro Prata

Santa Águeda: e se se multiplicarem cerejais

Julgo que não achará descabida, ou prematura, esta pergunta. Realmente, se o Estado, através da interpretação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), entendeu que a lei não proibia a implantação de um cerejal numa albufeira de abastecimento de água a dezenas de milhares de pessoas, por que não equacionar (e temer) uma corrida a este novo faroeste dourado? O que vale para um, vale para todos, sejam quantos forem; presumo que a APA o avaliou, quando assim decidiu. 
            Imagine que a criança da fábula perguntava a quem não quer ver a nudez do rei: “E se estes 17 hectares passarem a ser 34 e 68 e 136 e por aí fora?” A decisão da APA abre esse caminho para o tal faroeste. Isto, não falando na eutrofização já instalada por outras razões e cujas causas terão anos de vigência a montante da albufeira e estão equacionadas por especialistas. 
            No imediato, enfrentamos o cerejal de 17 hectares e o cortejo de poluentes que são carreados para esta nossa albufeira no rio Ocreza. A comprovada utilização do fungicida “Pomarsol” contamina gravemente o meio aquático e, segundo peritos, terá sido a causa de morte de dezenas de peixes na altura das primeiras pulverizações. Ainda na fase inicial, estando as árvores apenas com dois palmos e ocorrendo já problemas desta natureza, imagino o que virá a passar-se quando as cerejeiras forem adultas e tiverem mais corpo com dois, cinco, dez anos...
            Ainda temos água de boa qualidade garantida pela Estação de Tratamento de Água (ETA) mas os poluentes provenientes dos fungicidas, herbicidas e pesticidas, utilizados na exploração do cerejal, e a crescente poluição em fósforo e manganês diminuirão a eficiência da ETA até ao limite de não poder garantir a necessária capacidade de tratamento. Entretanto, haverá aumento substancial dos custos e degradação, tecnicamente previsível, da qualidade da água que abastece as populações que vivem no concelho de Castelo Branco e em parte dos de Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão. 
            A APA também sabe o que aconteceu durante anos e anos em tantas áreas protegidas e de reserva agrícola e ecológica que foram desqualificadas para uso de interesses especulativos. A APA sabe (e o país também vai sabendo) de rias Formosas, Caparicas, Furadouros, Tejos, Almondas, pastas de papel, fábricas de óleos, Nabões, suiniculturas, um rol infindável gerido e comandado por egoísmos que vegetam em terras e águas más. A APA sabe que muitas atividades trocaram equilíbrio, bem comum e visão de futuro por laborações poluentes que as administrações do Estado foram (e vão) permitindo. A APA sabe muito mais do que nós acerca das dinâmicas dos obscuros interesses que por aí andam. 
            Também sabe e todos sabemos, não só na pele como no mais extenso e fundo corpo de comunidade, o que tivemos de pagar em recursos financeiros e em não-desenvolvimento (e antidesenvolvimento) nestas operações que satisfazem os deleites dos servidores do deus dinheiro.
            Na falta do Estado de que precisamos, e perante o menos (e pior) Estado com que nos vêm castigando, precisávamos, por exemplo, de uma operação de investigação jornalística qualificada que ouvisse especialistas, como ouvimos, em 29 de maio, na Conferência Técnica em Defesa da Albufeira de Santa Águeda/ Marateca. Uma investigação que desvendasse a realidade de muitas suspeições e as relacionasse com a realidade dos dados e dos factos. E que iluminasse as sombras onde vegetam muitos silêncios. 
Costa Alves - mcosta.alves@gmail.com
Reconquista, 14/06/2017
José Teodoro Prata 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Fonte de São João

Foi particularmente quente o verão esse ano, durante o pino solar as temperaturas elevadas que se faziam sentir não eram convidativas para que se fizesse fosse o que fosse nos campos.
As ceifas tinham terminado, procedia-se à malhação dos grãos. Por todo o lado ouviam-se os manguais batendo ritmadamente nas eiras, “o calor é bom para a debulha”. À tardinha malhadores esperavam que o ar rarefeito trouxesse alguma brisa para que o trigo ou centeio se pudesse limpar; as praganas e os cachiços que estavam misturados com o grão voavam.  
Alguém, munido com um meio alqueire enchia-o e despejava-o nas sacas; contava a quantidade de medidas que ia deitando, atava-as, estas eram transportadas em carros de bois, burros ou às costas; conforme a quantidade de semente recolhida. Por vezes malhadores dormiam na eira em cima da palha; para a filharada era uma festa estarem deitados a olhar as estrelas ouvindo os ralos, as rãs coaxando nas presas, os cães a ladrar certamente afugentando alguma raposa, quiçá um lobo. Uma restolhada de gente dormindo ao relento.
Depois de um dia abrasador mal se estendiam começavam a ressonar; fadiga, cansaço; a cachopada, com os olhos abertos virados para o horizonte contavam estrelas…
A banda filarmónica vicentina esse ano tinha participado em muitas festas nas redondezas e mais longe; para se deslocarem partiam muito cedo a pé, em carroças… A filarmónica, menina dos olhos dos vicentinos; chegou a atuar em terras de Espanha tal a sua fama.
Naquela manhã os músicos entraram no ensaio que ficava na Rua da Misericórdia, pegaram nos seus instrumentos e foram de abalada a caminho de Castelo Branco. O relógio marcava cinco horas, chegariam à cidade por volta das dez.
Plérias, conversas de escárnio e mal dizer, anedotas…o tempo custava menos a passar. Ao chegarem a Castelo Branco dirigiram-se à estação onde estavam alguns malpiqueiros com suas carroças que os transportariam àquela aldeia raiana. Quando chegaram, mal tiveram tempo de repousar, deram uma arruada pelas ruas da povoação. O povo gostava das marchas tocadas pelos músicos, o arraial muito participativo, animado, todos dançavam ao toque da banda.
Terminado o concerto os músicos ajeitavam-se dormindo em casa dos festeiros, palheiros….
Quando a aurora acordou levantaram-se, prepararam-se, ei-los no largo principal da aldeia tocando a alvorada, foguetes estralejavam no ar enquanto percorriam novamente as ruas, o povo escancarava portas e janelas para ver passar a banda.
A missa de festa é mais demorada que uma missa normal, os músicos cantam e tocam durante a cerimónia, a procissão demorou bastante tempo a dar a volta, muitos crentes compenetrados entoavam cânticos e rezavam, a fome apertava. Findas as cerimónias, cada festeiro levou alguns músicos para suas casas onde almoçaram.
 Um foi parar à casa de uma família numerosa no meio da sala uma mesa rectangular tinha ao meio um grande alguidar que fumegava, não viu pratos na mesa, o chefe da família, a esposa e os filhos sentaram-se em redor… festeiro chamou o nosso músico que se sentou também.
Todos tiravam a comida do alguidar e comiam; músico cheio de fome quando viu aquilo perdeu o apetite
- Não come!
- Não tenho fome.
- Coma que está bom…
Ao lado, numa outra mesa estava um bolo de festa, nosso músico não fez mais nada, agarrou na faca e partiu uma fatia.
- O que é que está a fazer! Pergunta o dono da casa
- A partir uma fatia de bolo, respondeu:
- Ponha aí o bolo… primeiro come-se o que está no alguidar, e só depois …
Músico saiu porta fora vagueando pelas ruas da terra; nisto aparece o João Carvalho bem- disposto, vendo-o com cara tristonha, cabisbaixo, perguntou-lhe
- Há azar? - António Maria com a barriga a dar horas respondeu-lhe:
- Deixa-me cá, logo me havia de calhar uma casa onde todos comiam no mesmo caçoulo, os filhos com o ranho a sair do nariz, não fui capaz… estava um bolo em cima de uma mesita, quando ia partir uma fatia ele tirou-ma da mão…
- Vem comigo, eu levo-te à casa onde comi, gente boa, comida farta.
João Carvalho quando contou o episódio ao festeiro este respondeu:
- Sempre assim foi; sente-se e sirva-se à vontade…
António Maria comeu, bebeu e ficou saciado.

Canto da nossa praça onde existiu a fonte de São João de Brito.

Nota: a imagem está invertida (a casa da varanda é à esquerda), 
mas era esta a fonte de São João de Brito.

Na atualidade, parte da fonte em São Francisco.

O presidente da Junta daquela época chamava-se Manuel da Silva, quando chegava à praça todo ele se orgulhava: câmara, igrejas, casas solarengas… faltava qualquer coisa para o ramalhete ficar completo. Que bem ficava uma fonte naquele canto e não afectava nada a monumentalidade da praça. Contactou os outros elementos da Junta, um deles era o senhor João Prata; um dia rumaram a Castelo Branco, a verba apareceu e a fonte foi edificada.
Durante algumas décadas deu de beber aos moradores e aos viandantes.
A Rua do Beco era estreita a Junta da época pensou e muito bem alargar a artéria, houve necessidade de “roubar” um pouco à praça, a fonte teve que ser desmontada; findas as obras, voltaria para o seu lugar. Azar dos azares; a fonte de São João de Brito nunca mais foi reposta, algumas pedras desapareceram, a parte central trasladaram-na para junto do calvário, onde se encontra.
Faz este ano setenta anos, esquecida sem dar fruto ou seja sem jorrar água, julgo que deve voltar a erguer-se no local original nem que para isso tenha que se abrir uma subscrição pública para que a velha fonte regresse ao lugar que lhe pertence por direito.
Assim sendo; haja quem aja.
São João de Brito nasceu em Lisboa no dia 1 de Março do ano 1647; trezentos anos depois foi canonizado pelo papa Pio XII no dia 22 de Junho do ano 1947
Em sua homenagem nascia na praça uma fonte.
Fiquem bem

J.M.S

quinta-feira, 15 de junho de 2017

À nossa porta


O Boletim Oficial do Estado espanhol, correspondente do Diário da República português, publica esta sexta-feira as autorizações para dilatar os prazos de renovação das licenças de exploração das centrais nucleares de Almaraz (Estremadura espanhola) e Vandellós II (Tarragona).
No que diz respeito a Almaraz, unidade que se situa a cerca de 100 km de Portugal, numa das margens do rio Tejo, o limite da licença de exploração mantém-se até 8 de junho de 2020, mas o prazo para pedir a sua renovação é aumentado.
(...) as centrais terão de solicitar a renovação da licença, o mais tardar, no momento em que cada uma delas apresente a sua Revisão Periódica de Segurança, até mais ou menos um ano antes da expiração das autorizações de exploração vigentes, que no caso de Almaraz é 8 de junho de 2020
Vários grupos de defesa do ambiente em Portugal e Espanha têm contestado a construção de um aterro de resíduos nucleares em Almaraz assim como a continuação do período de vida da central para além do termo da autorização em vigor que caduca em 8 de junho de 2020.

Quando a crise chegou e muitos imigrantes voltaram aos seus países de origem, um aluno meu disse-me que a sua família nunca voltaria, porque o pai era originário da região de Chernobil, Ucrânia, e no acidente da central nuclear perdeu muitos familiares e amigos. Nunca mais se soube deles.
Penso que, no caso de Almaraz, cujo prazo de validade termina em 2020, andamos a assobiar para o lado. O prolongamento do prazo de funcionamento, sem garantias de segurança, pode significar o fim do mundo em que vivemos (a região de Chernobil foi completamente evacuada e nos arredores as pessoas sofreram e sofrem de múltiplos cancros - no youtube há vídeos elucidativos). 
Por outro lado, não sejamos hipócritas, parte da eletricidade que consumimos vem de Almaraz. Mas urgem alternativas limpas.

José Teodoro Prata

terça-feira, 13 de junho de 2017

Morreu Alípio de Freitas

Foi padre português, revolucionário brasileiro, cooperante em Moçambique. Privou com os grandes do mundo em Moscovo e partilhou a sorte dos camponeses no sertão nordestino. Preso, torturado, libertado, voltou a Portugal e foi jornalista da RTP. Morreu hoje, aos 88 anos de idade.

Alípio Cristiano de Freitas nasceu em 1929, em Trás-os-Montes. Ordenado padre em 1952, desde logo quis viver junto das comunidades a quem se dirigia. Instalou-se primeiro junto dos camponeses pobres na Serra de Montesinho.
Foi depois para o Brasil, a convite do arcebispo do Maranhão. Deu aulas na universidade e fundou uma paróquia. Queria ser entendido e recusou dizer missa em latim. Disse-a depois em português, desafiando uma Igreja que ainda tinha por fazer o aggiornamentodo Concílio Vaticano II.
Mas a mensagem nada valia sem a ação: Alípio de Freitas empenhou-se em organizar a criação de uma escola e de um posto médico. Envolveu-se na luta política e apoiou a candidatura de Miguel Arraes ao governo do Estado de Pernambuco, numa ampla coligação de comunistas, trabalhistas e social-democratas. Essa ousadia valeu-lhe um primeiro sequestro por um grupo paramilitar e detenção durante mais de um mês à ordem do Exército.
A detenção não o intimidou, antes acresceu a sua determinação. Naturalizou-se brasileiro e, ao lado de Francisco Julião, tornou-se co-fundador das Ligas Camponesas. Organizou a ocupação de latifúndios no que era um sinal precursor do atual Movimento dos Sem Terra.
O dirigente bloquista Alberto Matos, que militou com Alípio na fase final da vida deste, recordou recentemente a indignação que ecoava ainda na voz do amigo, várias décadas depois, sobre os pistoleiros pagos pela oligarquia terratenente para matarem camponeses pobres, que queriam terra para dar de comer aos filhos.
Depois de ter enterrado vários desses pacíficos ocupantes de terras, Alípio cada vez mais se foi decidindo a organizar a autodefesa do movimento: pistoleiros e mandantes deveriam doravante recear as consequências dos seus crimes. Viria a ser citado anos mais tarde com o apelo: "Trabalhadores, ontem vos ensinei a rezar e hoje aqui estou para ensinar-vos a pegar em armas e lutar".
Com o golpe militar de 1964, o ex-padre partiu para Cuba, onde recebeu instrução de guerrilha. Antes, em 1962, estivera na URSS, para participar no Congresso Mundial da Paz. Aí conheceu o dirigente soviético Nikita Kruchev, o poeta chileno Pablo Neruda e a lendária dirigente espanhola Dolores Ibarruri.
Na clandestinidade, foi dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Em maio de 1970 foi capturado e sujeito a intensa tortura. Recusou sempre prestar declarações e apenas deve a vida à ampla campanha de solidariedade internacional de que foi alvo. Nessa campanha se inscreve a canção que lhe dedicou Zeca Afonso, no álbum Com as Minhas Tamanquinhas.


Libertado em 1979, após várias intervenções da diplomacia portuguesa, foi viver para Moçambique, e pôs a sua experiência nas Ligas Camponesas ao serviço da reforma agrária no novo país lusófono. Foi alvo de um atentado dos serviços secretos sul-africanos, que, por engano, vitimou um companheiro da mesma cooperativa onde trabalhava.
Regressou a Portugal ainda na década de 1980, tendo trabalhado na RTP até 1994. Foi co-autor de vários programas (“Fim de Semana”, com Mário Zambujal, Carlos Pinto Coelho e José Nuno Martins, “À procura do socialismo”, com Mário Lindolfo). Foi também eleito para a Comissão de Trabalhadores da RTP. A actual CT fez-se representar ao lado de centenas de pessoas, algumas delas trabalhadores da RTP, numa homenagem a Alípio de Freitas, em janeiro de 2017, recordando esse seu mandato precursor.
Embora tivesse perdido completamente a visão nos últimos anos, Alípio de Freitas continuava a ser uma presença constante, sempre guiado pela sua companheira Guadalupe, em movimentos de solidariedade internacional ou de protesto cívico. Ainda há poucos dias, recém-saído de um internamento hospitalar, interveio de forma marcante numa cerimónia realizada no Museu do Aljube.
O velório de Alípio de Freitas tem lugar hoje, terça-feira, a partir das 18 horas, na Basílica da Estrela. O funeral realiza-se amanhã, quarta-feira, para o cemitério do Alvito, Alentejo, onde viveu uma parte dos seus últimos anos.
Jornal PÚBLICO

José Teodoro Prata

Jerónimo

Ao contrário do que eu a certa altura conclui e aqui escrevi, o apelido familiar Jerónimo não vem do Jerónimo Duarte, filho do Fraga, que casou no Casal do Pisco. E consequentemente os Jerónimo não são os descendentes diretos dos Fraga (são os Teodoro).
A sua origem é a que se segue. Destes até à atualidade mediaram poucas gerações. Prometera a alguns parentes acabar esta genealogia, mas falta-me parte da atualidade, sobretudo o ramo do Zé Eletricista, Luís Jerónimo(Revelho)...

O documento regista o batismo de António, filho de Jerónimo Lopes e Antónia do Carmo, em 1822.

Aproveito para dar notíca de mais uma etapa da vida do ator Albano Jerónimo.


José Teodoro Prata