domingo, 25 de abril de 2010

Em Abril, lutas mil

Era uma vez um povo que labutava de sol a sol, para garantir o pão de cada dia. A sabedoria das suas coisas simples condensava-a nos provérbios que fazia:

Em Abril, águas mil.
Em Abril, salga o teu olivil.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
Abril molhado, sete vezes trovejado.


Uma vida simples, sem ambições e de horizontes estreitos.

Bendita seja a miséria, porque faz o povo humilde.
(Cardeal Cerejeira)


Mas os poetas vêem as coisas noutra perspectiva.

Habito o sol dentro de ti
descubro a terra aprendo o mar
rio acima rio abaixo vou remando
por esse Tejo aberto no teu corpo.

E sou metade camponês metade marinheiro
apascento meus sonhos iço as velas
sobre o teu corpo que de certo modo
é um país marítimo com árvores no meio.

Tu és meu vinho. Tu és meu pão.
Guitarra e fruta. Melodia.
A mesma melodia destas noites
enlouquecidas pela brisa no País de Abril.
...
(“A Rapariga do País de Abril”, Manuel Alegre)


E semearam a inquietação:

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


ou

Eles comem tudo
eles comem tudo
eles comem tudo
e não deixam nada


ou

Grândola, vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, ó cidade
(José Afonso)


E no dia 25, até o poeta se comoveu ante a realização do sonho.

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Depois, o povo fez desse dia 25 de Abril um marco divisório, entre um antes...

O tempo da fome
O tempo da outra senhora
Um tempo dum filho da p…


...e o depois:
o direito ao voto para todos,
melhores salários,
mais educação,
melhor saúde...

sábado, 24 de abril de 2010

Flores silvestres

É Primavera. As plantas desabrocham em flor.


O pinheiro bravo.



A polígala.
Para saber mais, consultar a publicação de 14 de Março de 2009


A giesta branca.


A serradela.


Não sei o nome, mas abunda em S. Vicente e é muito bonita.


A carqueja (carqueija, como nós dizemos).


O rosmaninho.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Artista determinada

A nossa Luzita desceu à cidade, para receber um prémio. A notícia e a foto são do jornal Reconquista, que aqui reproduzo, para quem está longe. É fácil identificá-la, no centro da fotografia.


Os participantes do concurso "A minha cidade é Arte", organizado pela Biblioteca Municipal de Castelo Branco, receberam no passado dia 14 de Abril, os prémios pela realização dos respectivos trabalhos numa cerimónia informal.

Numa nota enviada à nossa redacção refere-se que os objectivos lançados por este concurso foram integralmente atingidos e passavem pela promoção da escrita criativa e valorização da expressão literária.
Esta foi, igualmente, uma forma de estimular o interesse pelas artes plásticas e dar a conhecer os artistas plásticos do concelho.
Segundo reza a mesma nota, a participação ultrapassou os limites geográficos definidos e no decorrer do prazo porposto para realização e entrega dos trabalhos, inúmeros foram os albicastrenses, mesmo os que residem fora do concelho, a procurar informação para melhor adptarem a sua obra ao concurso.

Destaca-se a participação de Maria da Luz Candeias que não quis faltar à cerimónia de entrega dos prémios, deslocando-se de S. Vicente da Beira, numa ambulância, devido à sua deficiencia motora. Trouxe inúmeros admiradores dos seus trabalhos artísticos nas áreas de desenho e escrita, mas acima de tudo da sua determinação e criatividade.

O primeiro prémio foi entregue a Ana Teresa Serra Lourenço, na categoria ‘Prosa’, escalão Infanto-Juvenil. Nesta mesma categoria, no escalão Adulto, o primeiro prémio foi arrebatado por Odete Gavina, e o segundo por Maria da Luz Teodoro Candeias e Carlos Alberto Pires Poças. Já p terceiro prémio também foi repartido entre Helena Pires Alves e Luís Tiago Carvalho.
Na categoria ‘Poesia’, no escalão Adulto, ficou em primeiro lugar António José Alves Oliveira; o segundo lugar foi conseguido por Maria Deolinda Nunes.
Sofia Manuela Cameira Afonso conseguiu o primeiro prémio, na categoria Fotografia, escalão Adulto; Pedro dos Reis Antunes, o segundo.
O primeiro ligar da categoria Desenho, escalão infantil, foi entregue ao Jardim-Escola João de Deus - Bibe Encarnado, sala dos 4-5 anos, cabendo o segundo ao Jardim de Infância Santa Casa da Misercórdia n.º1, sala dos 5 anos.
A Casa de Infância e Juventude ficou em primeiro lugar na categoria Desenho, escalão Infanto-juvenil, em simultâneo com a Escola EB1 da Mina, (6 – 10 anos). em segundo ficaram João Pedro Martins e Cristiano Filipe Lopes Pedro. Já em terceiro, nesta mesma categoria ficou o Centro Social Amigos da Lardosa.
A categoria Desenho, escalão Adulto, foi conquistada ex-aequo por Ana Matias e Carlos Alberto Pires Poças.

domingo, 18 de abril de 2010

Jovens músicos


Ao olharmos para estes jovens músicos da Banda Filarmónica de S. Vicente da Beira, ficamos optimistas quanto ao futuro da nossa banda.

A notícia estava para ser a participação da Banda Filarmónica na festa do também centenário Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, no sábado, dia 17 de Abril. Mas uma pancada de água e a antecipação do programa, pela chegada da Ministra da Cultura antes do previsto, fizeram da minha notícia uma não notícia.


Foto roubada ao blogue "O Albicastrense".

Creio que foi o fundador do Museu, Francisco Tavares Proença Júnior, quem explorou o castro do Castelo Velho, nos inícios do século XX, tendo trazido alguns achados arqueológicos para a sua colecção pessoal, com a qual criou o museu, no dia 17 de Abril de 1910.


Machado de bronze proveniente de S. Vicente da Beira e pertencente ao Museu Francisco Tavares Proença Júnior. Data de antes do ano 500 antes de Cristo, pois foi cerca dessa data que chegaram os Celtas, com armas de ferro e por isso mais fortes.
Foto do Tó Sabino.



Machado de bronze encontrado no Castelo Velho e exposto na Secção de Arqueologia do Museu Francisco Tavares Proença Júnior. Este machado é também anterior à chegada dos Celtas, os quais se misturaram depois com os povos da região, formando os Lusitanos. Foto do Tó Sabino.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os Hipólito

Tive de voltar às investigações, pois as dúvidas nunca acabam (desta vez, dei por concluído o trabalho).
Os Hipólito estavam tão à mão de semear, que não resisti em anotá-los. Já dá para montar uma pequena genealogia, com cinco gerações que viveram entre as décadas de 1720/30 e as décadas de 1880/90:

1. Francisco Duarte Galecho estava casado com Maria Antunes, ambos naturais e residentes em S. Vicente da Beira. Terão casado em meados do século XVIII.

2. Hipólito de Jesus era filho dos anteriores e prestava serviço militar no Regimento de Cavalaria de Almeida. Estava casado com Brísida Maria da Trindade, natural de S. Miguel d´Acha. O casal teve uma filha (Ana), no dia 26 de Janeiro de 1788, e mais filhos, nos anos seguintes.

3. José Hipólito de Jesus era filho dos anteriores e casou, no dia 22 de Novembro de 1813, com Ana Joaquina de Oliveira, filha de José Pereira e de Brites Maria do Rosário, ambos de S. Vicente da Beira. Tiveram um filho, chamado José, no dia 17 de Março de 1814.

4. José Hipólito, filho dos anteriores, casou, no dia 16 de Novembro de 1840, com Ana Raposa, filha de Francisco Vaz Raposo e Maria Candeias.

5. António Hipólito de Jesus, outro filho do número 3, casou, no dia 8 de Fevereiro de 1854, com Maria Amália, filha de João Agostinho e de Maria Eufrásia.

6. Augusta Hipólito de Jesus, filha do número 4, casou, no dia 26 de Outubro de 1864, com Joaquim Cardoso, filho de Francisco Cardoso, natural de Castendo (bispado de Viseu), e de Ana Emília de S. Vicente da Beira.

7. João Hipólito Raposo, também filho do número 4, casou, no dia 16 de Outubro de 1872, com Maria Adelaide.

Arquivo Distrital de Castelo Branco, Registos Paroquiais de S. Vicente da Beira, Casamentos, Maço 96 (1803 a 1874).

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Curiosidades Genealógicas

A minha visita pascal à Torre do Tombo permite deixar-vos alguns dados genealógicos, cuja importância vai para além das meras curiosidades.

Os Barroso
Não tenho notícias deles antes de 1785. Nesse ano, a 5 de Outubro, nasceu o filho de Joze Barrozo e Anna Leitoa, ele do Salgueiro do Campo e ela de São Vicente da Beira, mas residentes na Vila. A criança foi batizada com o nome de Antonio.
Tinha esperança de poder dar uma boa notícia aos meus amigos Barroso, mas depois surgiu-me outro pai Barroso, originário de Castelo Branco.
E como não há duas sem três, nos anos seguintes vieram casar à Vila mais dois Barroso, estes do Casal da Serra.
Sem mais consultas, desconhecemos qual a origem genealógica dos Barroso de S. Vicente da Beira e se descendem todos do mesmo ramo.

Os Hipólito
Hipolito de Jesus era soldado no Regimento de Cavalaria de Almeida, regimento já referido na publicação “A fortaleza de Almeida”, de 5 de Março de 2010. Estava casado com Brizida Maria da Trindade, natural de São Miguel d´Acha. O casal tinha residência na Vila, terra natal de Hipolito de Jesus, filho de Francisco Duarte Gallecho e de Maria Antunes, ambos também naturais de S. Vicente da Beira.
Tiveram uma filha, chamada Anna, nascida em 26 de Janeiro de 1788. Nos anos seguintes, foram registados outros filhos do mesmo casal, o que significa que o soldado fazia deslocações anuais ao ninho doméstico, facilitadas pela sua categoria de cavaleiro.
Anos depois, a 17 de Março de 1814, nasceu o Joze, filho de Joze Hipolito e de Anna Joaquina. Os avós paternos eram os já referidos Hipolito de Jesus e Brizida Maria da Trindade.
De pai para filho, o nome próprio tornou-se apelido familiar (o processo é o mesmo do apelido do nosso primeiro rei: Afonso Henriques, porque filho de Henrique). Pode ser esta a origem da família Hipólito, em S. Vicente da Beira. A partir destes dados, impõem-se novas consultas. Mas é possível que as pessoas desta família possam recuar até este José Hipólito, apenas com base na tradição/sabedoria familiar.

Os Candeias
Candeias havia muitos, sobretudo mulheres.
Um dia, um Candeias do Casal da Serra explicou-me que a sua família tivera origem numa bebé enjeitada, abandonada no dia de Nossa Senhora das Candeias e por isso se lhe chamou Candeias.
Também encontrei mulheres de apelido Candeias.
Francisco Vas Rapozo estava casado com Maria Candeias. Tiveram uma filha, chamada Maria, no dia 4 de Novembro de 1820. Uma Catherina, no dia 18 de Fevereiro de 1823, outra Catherina, a 4 de Julho de 1829, e uma Joaquina, no dia 23 de Junho de 1831.
Os avós paternos eram João Vas Rapozo e Ignes Maria. Os maternos chamavam-se Manuel Marques e Anna Candeias dos Santos.
Esta Ana Candeias dos Santos era filha de Teodósio Duarte da Póvoa da Atalaia, e de Maria das Candeias de S. Vicente da Beira. Nasceu-lhes uma neta (desta filha Ana), chamada Inês, em 1786.
Mas isto são só umas pontas…

Os Jerónimo
Hironimo Duarte (do Casal da Fraga) estava casado com Maria Antonia (do Sobral do Campo). O casal teve um filho, chamado Joze, nascido a 11 de Março de 1796.
Os avós paternos do Joze eram Manoel Rodrigues Fraga (do Casal da Fraga) e Luiza Maria (do Casal dos Ramos).
Os avós maternos eram do Sobral do Campo e traziam arrendado o Casal do Pisco ao Conde de São Vicente. Chamavam-se Antonio Mendes dos Reis e Custodia da Cruz.
Será esta a origem do apelido Jerónimo(Hironimo), de que também não existe notícia anterior a esta data? É bem possível, pois sempre os conheci ligados à terra e aos gados, tal como o pai e o sogro de Hironimo Duarte.
Por outro lado, o processo de formação deste apelido familiar seria o mesmo que, possivelmente, deu origem à família Hipólito e, de certeza, originou a família Teodoro. Desta, darei notícias.

Fiz a consulta na Torre do Tombo, Lisboa, em: Registos Paroquiais de S. Vicente da Beira, Baptismos, Microfilme 144, Item 1 (1784-1801), Item 2 (1801-1822), Item 3 (1822-1841) e Item 4 (1841-1851).
A partir de 1851, os Registos de Baptismos estão no Arquivo Distrital de Castelo Branco, em Castelo Branco, situado no bairro do Castelo, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal.

sábado, 3 de abril de 2010

Procissão do Enterro


Passo em frente ao antigo Convento das Religiosas Franciscanas.

Passei a tarde e a noite de Sexta-Feira Santa, na nossa terra.
Ao sair de casa para a Procissão do Enterro, fui surpreendido pela escuridão das ruas. Com a iluminação pública desligada, voltou a magia dos nossos tempos de criança. Mas não é só isso. A escuridão liberta-nos de distracções e ajuda a encontrarmo-nos com nós próprios.
Depois, as duas longas filas de luzinhas, a bater metálico da matraca, o choroso toque da Banda e o canto da Verónica. Cada vez que o caixão do Senhor de aproximava de um Passo, todos paravam, para a ouvirem.
E na Rua da Costa, a que tira o fôlego à Banda, cantámos o Senhor Deus:

"Senhor Deus, Misericórdia!
Virgem mãe de Deus e mãe nossa
Alcançai o vosso amado filho, Misericórdia!"

É bonito de ver e viver!
Este ano, foi fácil reencontrar amigos, pois veio muita gente passar a Páscoa a S. Vicente da Beira.


Contaram-me uma história que não resisto em partilhar convosco, até para lutar contra o empobrecimento progressivo da Língua Portuguesa, em nome do politicamente correcto.
Em 1932, e apenas nesse ano, o pároco de S. Vicente da Beira foi o Padre Virgílio Alberto Cordeiro. O costume era contratar um ou dois padres para ajudar na Semana Santa. A Vila sempre teve muitos padres. No século XVIII, viviam aqui cerca de seis padres e a Câmara pagava, anualmente, a um pregador, quase sempre o capelão das Religiosas do Convento, para fazer os sermões da Semana Santa.
Ora, em 1932, o P.e Virgílio Alberto Cordeiro fez tudo sozinho: confessou os paroquianos, numa época em que toda a gente se confessava e comungava, disse as missas, fez os sermões, acompanhou as procissões do Ecce Homo, dos Passos e do Enterro do Senhor e ainda o esperava a festa da Aleluia, com mais duas missas, uma procissão e a visita a todos os lares da Vila.
Impressionado, o Ti Guilhermino chegou junto dele e disse-lhe:
"O Senhor Padre é um colhudo! Conseguiu fazer a Semana Santa sozinho!"



Capela do solar construído no local do antigo convento franciscano.
Numa terra onde nem sempre se respeita o património, o Doutor Lino continua a ser um exemplo de qualidade e bom gosto.
(Para quem vê apenas estas imagens, pode parecer despropositada esta minha opinião, mas, na realidade, não é.)