quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O nosso falar: trogalho

É um trogalho, trogalhão ou trogalheiro quem se engana frequentemente naquilo que quer dizer. Troca tudo, mete os pés pelas mãos.
O dicionário informa-me que um trogalho é uma pequena corda para servir de atilho. Não foi por aqui que os nossos antepassados qualificaram quem diz trogalhices.
Trogalho significa também uma pessoa desajeitada. Mais não diz o dicionário e por isso ficamos sem saber se esta falta de jeito se aplica a tudo ou só ao falar, como na nossa freguesia.
Chamar a alguém trogalhão ou trogalheiro é uma forma carinhosa de se referir às suas dificuldades em se expressar pela fala. Normalmente, aplica-se às crianças e aos idosos, pessoas em quem a trogalhice é natural. Mas, por uma questão de respeito, raramente a usamos em relação a alguém que diz trogalhices por motivos de saúde.

sábado, 1 de outubro de 2011

Os eleitores de 1838

Em Outubro de 1838, a Junta da Paróquia reuniu, sob presidência de José Hipólito, estando presentes ainda João Duarte Marques (Regedor), João Agostinho, Gregório Lopes e Jacinto Nunes.
A ordem de trabalhos era o recenseamento dos eleitores da freguesia, a fim de votarem nas eleições municipais.
Segundo a legislação da época, só podiam votar os homens maiores de 25 anos, com posses para sustentar a família. Era o voto censitário, reservado aos mais ricos (com o mínimo de 100$000 réis de rendimento anual).
Considerando a população da freguesia, anos antes, no Censo de 1801 (323 fogos e 1397 habitantes), os 82 eleitores recenseados representam 25% dos chefes de família. Em média, por cada 4 famílias(fogos), o chefe de uma delas tinha direito a votar nas eleições.

Eleitores da freguesia de S. Vicente da Beira, em 1838

Vila
Francisco António Leitão
António Leitão
Manuel Duarte Durão
José Henriques Sénior
Francisco Vaz Raposo
Joaquim Duarte
António Ferreira de Carvalho
Bernardo António Robles
Manuel de Oliveira
O Reverendo Padre Joaquim Marques
Manuel Simão
João Agostinho
Caetano José dos Santos
António Roiz(Rodrigues) Castanheira
João Duarte Marques
Joaquim Se.(?) Gonçalves
Francisco Cardoso de Almeida
João Duarte Neto
O Reverendo Vigário Manuel Marques Leite
Francisco Duarte Lobo
João Robalo da Cunha
O Doutor José Maria de Moura
José Hipólito
Gregório Lopes
Joaquim Nunes
Bonifácio José de Brito Coelho de Faria
Francisco Rodrigues Lobo
Francisco Cardoso
João Duarte Remoaldo
Jacinto Nunes
Francisco Henriques
João dos Santos Vaz Raposo
O Reverendo Padre João António Ribeiro
Domingos da S.ª(Santa?)
João de Mesquita

Pereiros
João de Oliveira
António Fernandes Pedro
José António
Manuel Roiz(Rodrigues)

Paradanta
Manuel Leitão
João Mendes

Partida
Manuel Martins Dâmaso(?)
António Fernandes Varanda
João Fernandes Pedro
Manuel Martins Pedro
José João
João da Costa
António Martins
José Freire

Vale de Figueiras
João Martins
Manuel Francisco
Domingos Vicente
José Rodrigues

Violeiro
Francisco Vaz da do meio
José Fernandes Sapateiro(?)

Mourelo
Manuel Leitão Matias
João Faustino
Francisco Varanda
João Miguel
Manuel António
João Diabinho
Manuel Roiz(Rodrigues) Bartolomeu
José Varanda
João Francisco Diabinho

Tripeiro
João Ribeiro Garrido
José Martins
Paulo Lourenço
Francisco Valentim
Francisco Afonso
João Ramalho
Joaquim Francisco Magueijo
Francisco José de lopio(Lopo?)
José Lourenço Sénior
Francisco Ramos
João Marcelino

Casal da Serra
Francisco Rolão
Manuel Freire
José Cruz
Manuel Cruz
Joaquim Cruz
José Caetano
Joaquim Martins

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma sede para a banda


Com 100 anos, a Filarmónica Vicentina já merece uma casa sua. A Direcção e a Câmara Municipal estão a tratar disso.
O local é um dos mais bonitos da Vila: a casa e quintal que foi de João Coxo, junto à Fonte Velha, e uma outra casa encostada, a dar para a Rua Dona Úrsula.
A nossa banda ganha uma sede e requalifica-se aquele espaço, já em ruínas.
Só falta a casa da família Cunha e o largo da fonte ficará um brinquinho!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O nosso falar: malina

A palavra tem outros significados, mas, nos sentidos que lhe damos, é o mesmo que maligna.
No referente à saúde das pessoas, a palavra malina designa uma doença contagiosa, como uma gripe, mas tem sobretudo o sentido de algo ruim, incurável.
Nas plantas, aplica-se a doenças como o oídio (cinza) e o apodrecimento dos gachos ou a cinza e os piolhos nos feijoeiros. Como viram em recente comentário do Ernesto Hipólito, a vindima este ano foi fraca, porque deu a malina dos gachos.
Conheço um agricultor de fim de semana que se iludiu com o bom tempo do ano passado, não tratou as videiras, nesta primavera, e agora restam-lhe as uvas morangueiras. E viva a festa!
Mas malina também pode usar-se para apreciar o carácter de uma pessoa. Uma mulher malina é maldosa, mal-intencionada, gosta de fazer mal. No masculino, a mesma coisa e ainda sinónimo de diabo. Ele que não existe no feminino, talvez porque, quando foi criado, as mulheres não eram suficientemente importantes para serem dignas da maldade de que ele é capaz.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A côngrua de 1836

A Junta da Paróquia reuniu, no dia 9 de Outubro de 1836, a fim de «…arbiterar ao Reverendo Parrocho desta Freguesia huma congrua decente e razoável, conforme o seo trabalho e as posses dos Fregueses…».
A ordem vinha do poder central, via Câmara Municipal, acompanhada de cópia do decreto de 19 de Setembro.
O que sendo tomado em consideração «…com toda a madureza, que o objecto demanda, acordou a Junta que em atenção áo trabalho, que o Reverendo Parrocho tem na Administração dos Sacramentos por ser esta Freguezia numerosa e constar de Povos dispersos, que a Congroa annual fosse arbiterada na quantia de duzentos mil reis em dinheiro não só por que nesta quantia veria a emportar a sua congroa antiga, que as Comendas lhe pagavaõ em géneros, mas (…) naõ devia parcer excessiva tendo consideraçaõ á grandeza da Freguezia.»

Há séculos que as comendas de Avis e de Cristo beneficiavam dos rendimentos da Igreja, no concelho, e por isso pagavam as suas despesas. Em 1758, Ordem de Cristo pagava ao Vigário 17500 réis em dinheiro, 4000 réis em casas de aposentadoria, 300 alqueires de pão meados trigo e centeio, 40 almudes de vinho em mosto, 7,5 alqueires de azeite e metade do pé de altar; a Ordem de Avis pagava-lhe 14000 réis e metade do pé de altar.
Mas a revolução liberal de 1820, confirmada pela vitória dos liberais na guerra civil de 1828-34, acabou com essa realidade, ditando novas regras, que aqui dou a conhecer.

O mesmo decreto mandava «…arbiterar áo cobrador huma cota razoável pelo seo trabalho…» e por isso acrescentou-se a quantia de seis mil reis, «…que vinham a ser dois e meio por cento como se costuma dar aos recebedores da fazenda Publica.»
E era necessário ordenado para o sacristão «…que ajude o Parrocho no serviço da Igreja…» . Como a Junta não tinha dinheiro para lhe pagar, decidiu-se cobrar mais cinco mil e setecentos e sessenta réis.
Côngrua para o pároco + ordenado do sacristão + pagamento ao cobrador = duzentos e onze mil, setencentos e sessenta réis. Esta quantia devia ser derramada (dividida) pelos fregueses.
No dia 1 de Janeiro do ano seguinte, o rol (lista) dos chefes de família da freguesia já estava pronto e por isso se decidiu cobrar a côngrua, imediatamente, sendo nomeado, para cobrador, João Duarte Marques.

sábado, 17 de setembro de 2011

O nosso falar: gacho


Gacho de moscatel branco.

Com as vindimas quase no fim, há que recordar a palavra gacho. Este ano os gachos estavam fracos. A humidade primaveril favoreceu o aparecimento de doenças, sobretudo do oídio.
Andei toda a semana a pensar esta palavra, que não existe com o sentido que lhe damos. Gacho é a parte posterior do pescoço do boi, em que assenta a canga, o cachaço. Também se usa para designar uma pessoa baixa, atarracada.
Na quinta-feria, fez-se-me luz: gacho é a nossa maneira de dizer cacho. O nosso povo dizia cacho sem abrir suficientemente a boca e por isso os mais novos, ao aprenderem a palavra, percebiam gacho e assim ficavam a dizer.
Abrir a boca para dizer cacho era (é) uma trabalheira!
Cacho é um conjunto de flores ou frutos sustentados por pedúnculos. Exemplo: cacho de uvas. Cada bago é uma uva e o conjunto das uvas forma um cacho de uvas.
Na minha infância, nem sequer conhecia a palavra uva. Só dizia gacho. Agora quase desapareceu, já ninguém a usa.


Estes gachos são de morangueiro branco. São docinhos e não há malina que entre com eles.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Recenseamento militar - 1838

Na reunião da Junta da Paróquia de São Vicente da Beira, a 14 de Setembro, na Sacristia da Igreja Matriz (em obras desde 1918, pelo menos) deu-se cumprimento às ordens de Sua Majestade, a rainha Dona Maria II, recenseando os mancebos que estivessem nas circunstâncias de serem apurados para o exército permanente(de primeira linha).
A listagem elaborada foi a que se segue. Respeitou-se a ordem das pessoas e das povoações como consta da acta da reunião.

Vila
António, com 18 anos, filho de Eleutério dos Santos
José, com 19 anos, filho de José Moreira (com 60 anos)
António, com 24 anos, filho de Margarida dos Prazeres
António, com 22 anos, filho de Maria Luísa
José, com 19 anos, filho de Constantino Fernandes
Francisco, com 18 anos, filho de Inês Ribeiro e pai incógnito
José, com 23 anos, filho de António Leitão Salgueiro
Francisco, com 22 anos, filho de António Gil
João, com 14 anos, filho de João Duarte Remoaldo
António, com 22 anos, filho de José António Craveiro
António, com 19 anos, filho de Matias Vaz dos Santos

Casal da Serra
Caetano, com 22 anos, filho de Joaquim Martins

Pereiros
João, com 20 anos, filho de José Varanda
José, com 29 anos, filho de João Ramos
António, com 20 anos, filho de pais incógnitos, a viver em casa de Rosário Martins

Partida
José, com 20 anos, filho de João da Costa
António, com 23 anos, filho de António Rodrigues Paradanta
António, com 22 anos, filho de José Martins
António, com 19 anos, filho de Ana Leitão (viúva)
Firmino, com 19 anos, filho de pais incógnitos, a viver em casa de Maria (viúva)
Joaquim, com 18 anos, filho de Isabel Leitão (viúva)

Paradanta
Francisco, com 19 anos, filho de José Monteiro
António, com 22 anos, filho de pais incógnitos, a viver em casa de Martinho dos Santos
Júlio, com 19 anos, filho de pais incógnitos, a viver em casa de Rodrigo Leitão
Francisco, com 19 anos, filho de António Gonçalves

Violeiro
Joaquim, com 19 anos, filho de Domingos Lopes Folgado
João, com 24 anos, filho de Maria Martins Páscoa
António, com 20 anos, filho de Manuel Pires
José, com 19 anos, filho de José Pires

Tripeiro
Luís, com 18 anos, filho de Paulo Lourenço
António, com 22 anos, filho de Domingas Lourenço (viúva)

Neste ano de 1838, a Junta da Paróquia era assim formada:
José Hipólito, Presidente
João Duarte Marques, Regedor
Gregório Lopes
João Agostinho
António Leitão

Notas:
- Os bebés expostos eram criados por uma ama e ficavam a viver com ela até serem adultos ou, cerca dos 10 anos, iam trabalhar como criados, para outra casa. Nos casos acima referidos, não temos informações sobre qual destas duas situações se aplica a cada um deles, mas o normal era ficarem na casa que os recebera acabados de nascer.
- Não havia nenhum mancebo entre os 18 e os 24 anos, no Mourelo e no Vale de Figueiras.
- Na época, escrevia-se Peradanta e não Paradanta. Tal facto vem reforçar a hipótese da palavra derivar de Pedra de Anta (anta: construção sobre o solo, com grandes pedras, que servia de túmulo colectivo).