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José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quarta-feira, 6 de julho de 2016
domingo, 3 de julho de 2016
quinta-feira, 30 de junho de 2016
Os trabalhos e os ganhos
Sendo uma terra [São Vicente
da Beira] em que só havia agricultura, as pessoas não tinham emprego certo e
tinham que ganhar a vida das mais variadas formas. Os grandes proprietários, na
maior parte das vezes, não pagavam em dinheiro [anos 50 e 60]. Punham as terras
e os meios para tratar da lavoura e os trabalhadores apenas davam a
mão-de-obra. E a forma de pagar não era igual para todas as culturas. Por
exemplo, por um dia de trabalho normal, os homens recebiam meio litro de azeite
ou meio alqueire de trigo ou milho. Esta era a forma mais comum de serem
tratados os terrenos e os respetivo pagamento. Quando se tratava de uma cultura
específica, a forma de receberem já era diferente. Na cultura da batata, do
milho e do feijão, o proprietário dos terrenos, além de dar a terra, também
punha à disposição de quem trabalhava as ferramentas e a semente. O trabalhador
tratava de toda a faina agrícola, que passava pelo arranjo da terra, sementeira,
monda e rega, e quando se fazia a colheita era uma parte para o trabalhados e
três para o dono da terra.
No olival, a percentagem era
diferente. Aqui, o proprietário dava os terrenos e os olivais e o trabalhador
tinha que tratar das oliveiras, colher a azeitona, limpá-la e transportá-la
para o lagar que mais interessasse ao proprietário. Depois de recolhido o
azeite, o trabalhador ficava com uma parte e o dono do olival ficava com sete
partes. Naquele tempo, não ficava uma azeitona no chão. Tudo era aproveitado e
até havia quem, depois da colheita, ia ao rabusco,
ver se apanhava alguns quilos de azeitona, para poder fazer alguns litros de
azeite. Foram uns tempos muito difíceis, em que havia muita gente que nem
azeite tinha para pôr no caldo. O meu falecido pai ia do Valcaria para o Miguel
Vicente, a cerca de sete quilómetros, trabalhar na colheita da azeitona. Por
cada dia de trabalho, tinha de fazer catorze quilómetros a pé.
Na ceifa dos cereais, muitos
dos habitantes de São Vicente da Beira iam para os mais variados locais a fazer
a ceifa manual das grandes searas. O mais longe para onde foram trabalhar foi
para o Alto Alentejo e na zona da Beira Baixa iam para todo o lado: Tortosendo,
Lardosa, Alcafozes, Ladoeiro… Além do trigo, ceifavam centeio e aveia. Chegavam
a andar lá por mais de cinquenta dias, sem virem a casa. A percentagem que
recebiam era o chamado quinto, por isso diziam que iam ao quinto. Uma vida
muito dura! Quanto mais se ceifava, mais cereal trazíamos para casa. Por isso,
começava-se a trabalhar logo ao romper do sol, parávamos por volta das dez
horas para o almoço e à uma da tarde jantávamos. A seguir, dormíamos uma sesta
de uma hora e depois começávamos logo a ceifar. Isso durava até às seis da
tarde, quando comíamos a merenda e depois voltávamos ao trabalho até ao descorecer, altura em que era comida a
ceia. Dormíamos ao relento ou num cabanão de palha. Chegavam-se a juntar entre
trinta e cinquenta homens, todos a ceifar.
Depois da ceifa, tínhamos de
malhar os cereais. Numa eira grande, de terra batida ou de pedra, era espalhada
a palha e com os mongais ou em
propriedades maiores com as malhadeiras, que eram acionadas por tratores
através de uma polie. Acabada a malha
ou a debulha pela malhadeira, ainda se ficava lá mais dois ou três dias, para
se atar a palha ou fazerem-se uns castelos com a palha empinada. Finalmente,
regressávamos a casa com os cereais que foram ganhos com o trabalho e que eram
transportados em carros de vacas.
Andei nestas ceifas em 1963,
na Lardosa, quando o meu pai foi para a França. No ano de 1968, estive no
Tortosendo, para o mesmo trabalho. Eram sempre à volta de trinta homens, quase
todos já falecidos. Dos que me lembro, apenas cá andam três.
Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.
Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.
José Teodoro Prata
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terça-feira, 28 de junho de 2016
Justiças
Era um dia como todos os outros. O sineiro trazia a
vara do sino do concelho na mão e preparava-se para o badalar;
as portas dos paços da câmara abriram-se, na praça já havia cidadãos que
esperavam para resolverem assuntos pessoais
O meirinho chamou o carcereiro e disse-lhe para ir à
enxovia buscar o preso que tinha sido encarcerado na véspera, para ser presente
ao juiz de fora
Um pobre diabo que cometeu o erro de roubar uma
galinha ao senhor conde. A mulher estava muito mal, o boticário recomendou caldos
de galinha…
Coitado, dizia o povo em surdina. Quem rouba pouco é
ladrão, mas quem rouba muito é barão.
Era um dia outonal, o sol entrava por entre as grossas
grades da cadeia, o coitado estava sentado por detrás das grades, recebendo os
raios solares da manhã.
A noite tinha sido gélida, a palha lhe serviu de
cobertor, carcereiro chamou-o e levou-o à presença do juiz. A mulher
carregadinha de sezões tremia como se fosse uma cana agitada pelo vento, a
ninhada dos filhos agarrados à saia da mãe choravam copiosamente, as pessoas
pediam clemência, o vigário subiu as escadas do balcão da cadeia, entrou no
tribunal para interceder, já tinha ido falar com o senhor conde. O juiz
condenou-o a passar o dia no pelourinho e que não voltasse a fazer o mesmo; se
fosse apanhado a roubar, a forca seria o seu destino
Os condenados recebiam do juiz sentenças punitivas,
pecuniárias e condenatórias.
Nas punitivas, os réus eram expostos ao sarcasmo das
pessoas que passavam em frente ao pelourinho; à noite, soltavam-nos e seguiam
em paz para suas casas. Nas pecuniárias, o réu pagava uma coima ao tribunal e
ao queixoso e não passava pela vergonha de… Havia condenados, casos raros; ao
fim do dia eram desamarrados do pelourinho e levados para a forca que ficava na
Devesa, onde eram enforcados.
À frente, o pregoeiro anunciava o motivo da condenação,
atrás o vigário juntamente com o povo rezavam ladainhas para implorarem a
misericórdia divina, ao mesmo tempo abafavam a voz do pregoeiro…
Este ferro fazia parte da grade da cadeia,
situa-se numa propriedade no Valouro que pertence ao doutor Lino. (Não sei se
ainda lá se encontra).
J.M.S
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domingo, 26 de junho de 2016
Feira Medieval, 2016
Os Bombos VICENTINOS.
Os formidáveis galináceos do Zé.
Olha aquele!
Era este ou o que leva na mão.
Entretanto, a comitiva presidencial visita os expositores. Na foto, a tasca dos Bombos.
A Dulce a a filha voltaram a expor as suas lindas rendas.
A rapariga dos gansos e o pastor com o seu cão.
A comitiva dos filhos de algo.
A hora da janta.
E depois sofrer, até ao minuto 117.
José Teodoro Prata
sexta-feira, 24 de junho de 2016
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Animais de trabalho
A vida na agricultura era
muito diferente [nos anos 50 e 60] do que é agora.
Não havia tratores, nem
ouras máquinas agrícolas. Os fazendeiros tinham uma ou duas juntas de vacas,
que lavravam os terenos e transportavam as colheitas. Colocava-se uma canga em cima do pescoço de cada vaca,
composta por um tamoeiro e uma
correia de cabedal, com um bocado de corda que se atava ao cangalho e passava por baixo do pescoço da vaca. O cambão era engatado na canga. Estes
adereços serviam para atrelar o carro de vacas e a charrua de ferro, que havia do número um ao nove, conforme o
trabalho que era para ser feito. Antes de haver charruas, o trabalho da lavra
era feito com arados feitos de pau,
por um habilidoso ou por um carpinteiro.
Os carros mediam cerca de 3 metros de comprido por 1,20 de largura,
com um tiro ao meio onde era engatada
a canga. Toda a construção dos carros era em madeira, incluindo as rodas e o eixo. Faziam muito barulho quando o eixo começava a rodar e por
isso untava-se com gordura de porco ou sebo de cabra. O carro tinha em média
quatro buracos de cada lado, onde se enfiavam os afogueiros. Havia também uma peça de madeira, com aspeto de uma
forcalha, que se chamava zorra e
servia para as vacas transportarem pedras grandes.
Quando andava na lavoura, as
vacas traziam uma rede no focinho, chamada focinheira,
para não comerem o renovo. Estes animais também eram atrelados às noras, para
tirar água dos poços.
As vacas, quando andavam
muito em terra batida ou mais agreste, eram calçadas com canelos. Estes eram indispensáveis nas deslocações muito grandes.
Lembro-me de haver juntas de vacas que, com os seus carros, iam a Abrantes
levar neve e no regresso traziam sal e outras coisas.
As vacas eram cobertas e em
geral tinham crias uma vez por ano. Nos primeiros três meses, amamentavam os
bezerros e depois disso era aproveitado o leite para ser vendido para alimentação.
Uma
junta de vacas, a trabalhar, ganhava em média o ordenado de cinco homens. Um
dia inteiro de trabalho era chamado uma geira
e se fosse meio dia era meia-geira.
Os lavradores sem uma junta de vacas tinham outros animais que
ajudavam na lavoura. O mais comum era o burro, mas também a mula e o macho, que
faziam de tudo. Lavravam, transportavam cargas, faziam estrume e até aqueciam a
casa no inverno. Normalmente, eram guardados nas lojas por baixo das casas e,
como o isolamento era muito deficiente, o calor dos animais passava para a
parte de cima das casas. Dos muitos apetrechos que estes animais esavam,
destaco o cabresto, o bornal, a albarda, a canga, a carroça, as cangalhas, a tucinheira, etc.
As fêmeas faziam sempre criação e muitas das vezes até cruzavam
raças para terem animais mais resistentes. Era o caso do macho e da mula
que nasciam do cruzamento de uma égua com um burro. Para evitar o desgaste dos
cascos, todos eles eram ferrados com ferraduras, os sapatos, como lhes
chamávamos.
Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.
José Teodoro Prata
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