quarta-feira, 8 de março de 2017

Judeus

A Libânia visitou a Casa da Memória, em Castelo Branco (Rua das Olarias, entre a Sé e o Jardim do Paço), logo que o José Manuel deu aqui notícia da sua abertura. Entretanto, questionou-me sobre um Manuel Joaquim Henriques de Paiva, uma das personalidades em destaque na exposição e que é apresentado como filho do vicentino António Ribeiro de Paiva, boticário na Vila.
Contactei a equipa de genealogias com quem trabalho (a propósito de um estudo nesta área que o José Miguel está a realizar) e mandaram-me o material que se segue. Muitos são cristãos-novos, vários tiveram problemas com a Inquisição por prática de judaísmo e há vicentinos de diferentes gerações (não o boticário que vivia na Vila, pois era de Penamacor e depois foi viver para Castelo Branco, onde lhe nasceu o filho mais novo, o tal Manuel Joaquim Henriques de Paiva). 
Para perceber a genealogia que se segue, ter em consideração que os pais são os que têm um número que é o dobro do número do filho (mais 1 para as mães). Exemplo: o boticário António Ribeiro de Paiva, com o número 2, era filho de Gaspar Rodrigues de Paiva (n.º 4) e Maria Nunes Ribeiro (n.º 5). Do inglês, born é nasceu, died é faleceu, first é primeira, generation é geração, second é segunda, christened é batizada, married é casada...


First Generation

      1. Manuel Joaquim Henriques de Paiva-126565  was born on 23/12/1752 in Castelo Branco, Castelo Branco. He died on 10/03/1829 in Brasil, Baís.

Cristão-novo

Matrículas - Filosofia, 4.11.1773; Medicina (exame), 22.5.1776.

Graus - Bacharel em Filosofia, 19.6. 1775. Bacharel em Medicina, 23.1.1781; Formatura, 14.7.1781.

Cadeiras - Química (1774-1775), demonstrador interino; Química (1775-1783), demonstrador;
Farmácia (1804-1808), 7º lente; Farmácia (1818-1822), 6º lente.

Cargos - Mestre de oficina do Laboratório Químico (10.1.1775-1783).

Publicações - Vasta bibliografia científica, da qual se destacam as seguintes obras: Dissertatio
medica de actione vesicantium corpus vivum in aforismos digesta (Madrid, 1776); Directório para se
saber o modo e o tempo de administrar o alcalino volátil fluido nas afixias ou mortes aparentes, nos
afogados, nas apoplexias, na mordedura das víboras, de lacraus e outros insectos, etc. (Lisboa,
1782); Elementos de Química e Farmácia, relativamente à medicina às artes e ao comércio (Lisboa,
1783); Farmacopeia lisbonense ou colecção dos símplices, preparações e composições mais
eficazes e de maior uso (Lisboa, 1785); Aviso ao povo sobre as asfixias ou mortes aparentes, e
sobre os socorros que convém aos afogados, às crianças recém-nascidas com aparência de mortas,
e aos sufocados por uma paixão veemente da alma, pelo frio ou calor excessivo pelo fumo do
carvão, ou pelos vapores corruptos dos cemitérios, poços, cloacas, canos, prisões, etc. (Lisboa,
1786); Curso de Medicina teórica e prática, destinado para os cirurgiões que andem embarcados,
ou que não estudaram nas universidades (vol, 1; Lisboa, 1792); Novo, fácil e singelo método de
curar as feridas de pelouro, etc. (Lisboa, 1801); Reflexões sobre a comunicação das enfermidades
contagiosas por mar, e sobre as quarentenas que se fazem observar em alguns países (Lisboa,
1803); Preservativo das bexigas e de seus terríveis estragos, ou história da origem e descobrimento
da vacina, e dos seus efeitos ou sinfonias, e do método de fazer a vacinação (Lisboa, 1801);
Bosquejo de Fisiologia, ou ciência dos fenómenos do corpo humano no estado de saúde (Lisboa,
1803); Farmacopeia naval ou colecção dos medicamentos simples e compostos que cumpre haver
nas boticas dos navios (Lisboa, 1807); e ainda memórias científicas e diversas traduções do francês,
inglês e latim.

Ausente na Corte a partir de 9.1783. Foi redactor principal do Jornal Enciclopédico a partir de 1788.
Autor do primeiro livro português onde se aconselha a prática de exercícios Físicos como factor
educativo (1787). Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo. Médico da Real Câmara.
Deputado da Real Junta do Proto-Medicato. Censor Régio da Mesa do Desembargo do Paço. Sócio
da Academia Real das Ciências (retirado em 1807), da Real Academia de Ciências de Estocolmo,
da Academia Real de Medicina de Madrid, e da Sociedade Económica de Haarlem. Deixou o
exercício docente em 1808, Pertencendo à Maçonaria, foi perseguido por jacobino após as invasões
francesas, preso pela Junta da inconfidência em juízo de 24.3.1809, exautorado de todos os cargos
e honras, e condenado a degredo para o Ultramar. Fixou-se na Baía (Brasil). Foi reintegrado nas
suas honras e prerrogativas por decreto de D. João VI de 6.2.1818 e Aviso Régio de 14.11.1818,
sendo reinstalado na cadeira de Farmácia como 6º lente. Foi-lhe suprimido o vencimento, por
ausência no Brasil, por portaria de 12.10.1822. Nomeado em 1824 para reger as cadeiras de
Farmácia, Matéria Médica e Terapêutica no Colégio Médico-Cirúrgico da Baia.

Second Generation

      2. António Ribeiro de Paiva-126563  was born on 12/12/1721 in Penamacor, Penamacor. He married MRIN:49737 Isabel Aires Henriques-126564 on 06/06/1740 in Castelo Branco, Castelo Branco.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 6980 de 1746-09-24

PT/TT/TSO-IL/028/06980

Acusação: Judaísmo

Data da prisão: 14/10/1746. Sentença: auto-da-fé 24/09/1747. Confisco de bens, abjuração em
forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo, penitências espirituais.

Morador em São Vicente da Beira

Cristão-novo

      3. Isabel Aires Henriques-126564  was born on 13/04/1726 in Castelo Branco, Castelo Branco.


Third Generation

      4. Gaspar Rodrigues de Paiva-126442  was born on 06/01/1675 in Penamacor, Penamacor. He died in 1747. He married MRIN:49708 Maria Nunes Ribeiro-126493 in Penamacor, Penamacor.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 1183 de 1712-02-08

PT/TT/TSO-IL/028/01183

Acusação: Judaísmo 

Data da apresentação: 08/02/1712  Sentença: auto-da-fé privado de 15/02/1712. Abjuração em
forma, instrução na fé católica, penitências espirituais, pagamento de custas.

Residente em Penamacor

Cristão-novo

      5. Maria Nunes Ribeiro-126493  was born about 1688 in Castelo Branco, Monforte da Beira.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 9144 de 1711-12-22

PT/TT/TSO-IL/028/09144

Acusação: Judaísmo

Data da apresentação: 22/12/1711  Sentença: auto-da-fé privado de 04/01/1712. Confisco de bens,
abjuração em forma, instrução na fé católica, penitências espirituais, pagamento de custas.Em 05/
01/1712, a ré foi solta, não podendo sair do reino sem licença da Mesa.

Residente em Penamacor

Cristã-nova

      6. João Henriques Ferreira-124989  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira. He was christened on 21/09/1682 in Castelo Branco, São Vicente da Beira. He died on 10/09/1756 in Castelo Branco, Castelo Branco. He married MRIN:49739 Clara Maria da Cunha-126571 on 27/07/1722 in Castelo Branco, Castelo Branco.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 8269 de 1704-11-06

PT/TT/TSO-IL/028/08269

Acusação: Judaísmo

Data da apresentação: 06/11/1704  Sentença: auto-da-fé privado de 1707]. Abjuração em forma,
instrução na fé católica, penitências espirituais, pagamento de custas.

Cristão-novo

      7. Clara Maria da Cunha-126571  was born on 23/11/1700 in Castelo Branco, Castelo Branco.


Fourth Generation

      8. Gaspar Rodrigues de Paiva-77754  was born on 31/01/1641 in Idanha-a-Nova, Proença-a-Velha. He married MRIN:49687 Leonor Henriques-126443 on 12/05/1666 in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 461 de 1632-03-29

PT/TT/TSO-IL/028/00461

Acusação: Judaísmo

Data da prisão: 29/03/1632  . Sentença: auto-da-fé de 02/04/1634. Abjuração de veemente, cárcere
a arbítrio dos inquisidores, penitências espirituais.

Cristão-novo

      9. Leonor Henriques-126443  was born in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

Cristã-nova

    10. Manuel Nunes Mendes-126478  was born about 1664 in Castelo Branco, Monforte da Beira. He married MRIN:49703 Ana Nunes-126477 in Castelo Branco, Monforte da Beira.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 4145 de 1711-06-12

PT/TT/TSO-IL/028/04145

Acusação: Judaísmo

Data da prisão: 06/07/1711  Sentença: auto-da-fé de 26/07/1711. Confisco de bens, abjuração em
forma, cárcere e hábito penitencial perpétuos, penitências espirituais.

Cristão-novo

    11. Ana Nunes-126477  was born about 1677 in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 662 de 1711-06-12

PT/TT/TSO-IL/028/00662

Acusação: Judaísmo

Data da prisão: 04/07/1711  Sentença: auto-da-fé de 26/07/1711. Confisco de bens, abjuração em
forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo, penitências espirituais.

Residente em Monforte da Beira

Cristã-nova

    12. Antão Vaz Ribeiro-117043  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira. He
married MRIN:45821 Isabel Ferreira-117044 on 17/04/1673 in Castelo Branco, São Vicente da Beira.

Cristão-novo

    13. Isabel Ferreira-117044  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira.

Cristã-nova

    14. Miguel da Cunha de Oliveira-126472  was born about 1664 in Fundão, Alcaide. He married MRIN:49699 Isabel Aires-126471 on 26/09/1683 in Castelo Branco, Alcains.

Cristão-novo

    15. Isabel Aires-126471  was born on 05/04/1663 in Castelo Branco, Castelo Branco.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 9839 de 1711-02-15

PT/TT/TSO-IL/028/09839

Acusação: Judaísmo

Data da apresentação: 15/02/1711  Sentença: auto-da-fé privado de 27/02/1711. Confisco de bens,
abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial, instrução na fé católica, penitências espirituais,
pagamento de custas.Por despacho de 26/02/1711], a ré teve permissão para ir para sua casa,
donde não podia ausentar-se sem licença da Mesa.

Residente em Lisboa

3/4 de Cristã-nova

Fifth Generation

    16. Luís Vaz de Paiva-63542  was born about 1610 in Idanha-a-Nova, Proença-a-Velha. He married MRIN:26100 Isabel Lopes-63543.

Cristão-novo

    17. Isabel Lopes-63543  was born in Idanha-a-Nova, Proença-a-Velha.

Cristã-nova

    18. Manuel Nunes Sanches-124341 .Manuel married MRIN:48765 Catarina de Paiva-124342 on 26/04/1634 in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

    19. Catarina de Paiva-124342 .

    20. António Ribeiro de Paiva-97024 .António married MRIN:37731 Perpétua de Lucena-97025.

Cristão-novo

    21. Perpétua de Lucena-97025 .

Cristã-nova

    22. Francisco Lopes Porto-123685 .Francisco married MRIN:48462 Isabel Nunes Ribeiro-123682.

    23. Isabel Nunes Ribeiro-123682  was born about 1637 in Castelo Branco, Sarzedas.

Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 8150 de 1711-06-12

PT/TT/TSO-IL/028/08150

Acusação: Judaismo

Data da prisão: 06/07/1711 #Sentença: auto-da-fé de 26/07/1711. Confisco de bens, abjuração em
forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo, instrução na fé católica, penitências espirituais.

Residente em Monforte da Beira

Cristã-nova

    24. João Mendes-117045  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira. He married MRIN:45822 Leonor de Paiva-117046.

    25. Leonor de Paiva-117046  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira.

    26. Baltazar Henriques-117047  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira. He married MRIN:45823 Maria Ferreira-117048.

    27. Maria Ferreira-117048  was born in Castelo Branco, São Vicente da Beira.

    28. António Fernandes Vaz-126576  was born in Fundão, Fundão. He married MRIN:49742 Beatriz da Cunha-63403 on 23/05/1664 in Fundão, Fundão.

    29. Beatriz da Cunha-63403  was born on 15/08/1637 in Fundão, Alcaide.

    30. Duarte Rodrigues Mendes-60876  was born on 16/08/1628 in Castelo Branco, Monforte da Beira. He married MRIN:24938 Clara Henriques-60877.

Parte Cristão-novo

    31. Clara Henriques-60877  was born about 1635 in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova. She died on 03/12/1710 in Castelo Branco, Alcains.

Parte cristã-nova


Sixth Generation

    36. António Ribeiro-63549 .António married MRIN:26110 Mécia Nunes-126577.

    37. Mécia Nunes-126577 .

    38. Francisco Lopes Morão-126574 .Francisco married MRIN:49741 Maria Franco de Paiva-126575 on 17/12/1613 in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

    39. Maria Franco de Paiva-126575  was born in Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova.

    46. António Rodrigues-123683  was born in Espanha . He married MRIN:48461 Ana Nunes-123684.

Cristão-novo

    47. Ana Nunes-123684 .

Cristã-nova

    56. Francisco Vaz-63547  was born in Guarda. He married MRIN:26079 Isabel Henriques-63548 on 14/07/1625 in Fundão, Fundão.

    57. Isabel Henriques-63548  was born in Fundão, Fundão. She died about 1645 in Fundão, Fundão.

    58. Martinho de Oliveira-63302  was born about 1600. He died before 1663. He married MRIN:4600 Juliana da Cunha-63303 about 1628.

    59. Juliana da Cunha-63303  was born on 25/04/1604 in Fundão, Alcaide. She was christened on 28/04/1604 in Fundão, Alcaide. She died before 1669.

    60. Marcos Mendes-126572  was born in Castelo Branco, Monforte da Beira. He married
MRIN:49740 Maria Aires-126573.

    61. Maria Aires-126573  was born in Castelo Branco, Monforte da Beira.

62.  Francisco Lopes Morão-126574  is printed as #38 on page 5.

63.  Maria Franco de Paiva-126575  is printed as #39 on page 5.


Seventh Generation

  112. Rodrigo Vaz-63568  was born in Guarda. He married MRIN:26164 Leonor Rodrigues-63569.

  113. Leonor Rodrigues-63569  was born in Guarda.

  114. António Fernandes-63570  was born about 1568 in Fundão, Fundão. He died on 08/11/1641 in Fundão, Fundão. He married MRIN:26165 Guiomar Henriques-63571.

  115. Guiomar Henriques-63571  was born in Fundão, Fundão.

  116. Brás de Oliveira-63531  was born about 1575. He married MRIN:26071 Isabel da Cunha-63532 about 1600.

  117. Isabel da Cunha-63532  was born about 1578 in Sabugal, Alfaiates. She died on 01/06/1637 in Fundão, Alcaide.

Também pode ser de Fundão, Alcaide

  118. Miguel Henriques Falcão-63533  was born about 1587 in Fundão, Alcaide. He married MRIN:26072 Beatriz da Cunha-63534.

  119. Beatriz da Cunha-63534  was born about 1575 in Lisboa.

  122. Duarte Rodrigues-124339 .Duarte married MRIN:48764 Perpétua de Lucena-124340.

  123. Perpétua de Lucena-124340 .


Eighth Generation

  228. António Fernandes-63572  was born in Fundão, Fundão. He died in 1613. He married MRIN:26172 Beatriz Rodrigues-63573.

  229. Beatriz Rodrigues-63573  was born in Fundão, Fundão.

  236. Henrique Fernandes-63552  died on 26/03/1599 in Fundão, Alcaide. He married MRIN:26159 Júlia Falcão-63553 in Fundão, Alcaide.

  237. Júlia Falcão-63553  was born in Fundão, Alcaide. She died on 16/08/1618 in Fundão, Alcaide.

  238. Rodrigo da Cunha-63554  was born about 1535 in Alfaiates. He married MRIN:26160 Maria Henriques-63557.

  239. Maria Henriques-63557  was born in Castelo Branco, Castelo Branco.


Ninth Generation

  476. Pedro da Cunha-63555 .Pedro married MRIN:26167 Beatriz do Mercado-63556.

  477. Beatriz do Mercado-63556  was born in Sabugal, Alfaiates.

  478. Manuel Rodrigues-63565 .Manuel married MRIN:26168 Beatriz de Santilhana-63566.

  479. Beatriz de Santilhana-63566 .

José Teodoro Prata

terça-feira, 7 de março de 2017

Juiz de fora

Este é o registo de casamento da filha do juiz de fora de São Vicente da Beira, celebrado na igreja matriz desta vila, no dia 21 de junho de 1705.
Casaram, então, o Doutor João Baptista, viúvo de Ângela da Mota da Fonseca, natural de Abrantes, e
Dona Beatriz de Andrade, filha do Doutor André Lopes de Andrade, juiz de fora de São Vicente da Beira, e de sua mulher Dona Maria de Andrade.
Assina como testemunha um outro ilustre de São Vicente, naquela época, o Doutor Manuel Jaques de Morais.
José Teodoro Prata

domingo, 5 de março de 2017

O carnaval antigamente

Tradições de carnaval, recolhidas pelos alunos do 2.º ano da E.B.I. de São Vicente da Beira

«No entrudo come-se tudo» dizia-se antigamente, isto porque era preciso comer muito e estar bem gordo para dançar, brincar, puxar as carroças, hoje carros alegóricos, para tocar música, levar os cabeçudos e outras tantas coisas. É que neste ambiente festivo que precede a quaresma tudo era permitido, até se dizia «É carnaval, ninguém leva a mal».                  
Zaza Kivi Gonçalves.   

O Carnaval de antigamente era diferente de hoje em dia.
 Na terra da minha mãe (Aboboreira, concelho de Mação), como todas as famílias tinham burros, na véspera de Carnaval trocavam os burros das pessoas.
Havia pessoas que se davam mal. No dia seguinte tinham que se falar para voltar a ter o seu burro.
Era uma grande partida de Carnaval.
Também nessa noite levavam todas carroças para o largo principal da aldeia.
No dia seguinte as pessoas viam que não tinham as suas carroças no palheiro e iam buscá-las ao largo da aldeia de Aboboreira.
No dia de Carnaval as pessoas vestiam roupas velhas, colocavam máscaras e andavam pelas ruas da aldeia a jogar ao Carnaval.
Era assim que as pessoas comemoravam o Carnaval.
Pedro Carvalho

Casal da Fraga
O Carnaval de antigamente era bem diferente, as meninas não dançavam com pouca roupa como no Brasil. As pessoas mascaravam-se e pregavam-se partidas umas às outras.
Queimavam-se também os entrudos. Muitas vezes os homens vestiam-se de mulheres e as mulheres de homens.
Mário Silva

Ninho do Açor
Antigamente, no carnaval, faziam a contradança que era um pau com fitas. As pessoas agarravam as fitas e dançavam.
As pessoas mascaravam-se muito bem para ninguém as conhecer. Vestiam-se com roupas velhas e uma meia na cara. Faziam bailes e vinham bombos a tocar. Juntavam-se grupos de pessoas que iam cantar e bater à porta das pessoas e recebiam doces e alimentos.
Também jogavam ao jogo do lenço e pregavam partidas umas às outras, com farinha e água.
Eva Amaral

Sobral do Campo
Na quarta-feira antes do domingo gordo, os rapazes faziam as comadres. Quando algum rapaz gostava de uma rapariga, tirava à faca. Significava que tinha que pagar dinheiro.
No carnaval não se podia ter a porta aberta porque deitavam cacadas e fugiam. As cacadas eram cebolas podres, bogalhas, batatas podres ou cacos velhos.
Faziam bailes de carnaval sem máscaras e em vez de papelinhos, usavam farinha.
Sofia Dias

Partida
Antigamente a rapaziada fazia um entrudo de palha e punham-no na ponta de um pau no largo da capela. Uns rapazes tiravam os vasos de flores às pessoas para enfeitar o entrudo. Durante o dia, a malta mais nova vestia-se de palhaços e andavam pelas ruas da aldeia.
 À Noite queimavam o entrudo e choravam muito.

Leonardo Carvalho

quinta-feira, 2 de março de 2017

Torturas

Bom homem, o Ti Zé Cipriano. Cantava que nem um rouxinol e para contar histórias, estava por ali… Mas ai de quem se risse ou dissesse alguma coisa enquanto ele falava, que abria muito os olhos e punha logo tudo em sentido. Um dia contou-nos esta assim, a mim e à minha mãe:
«Quando vim da Guerra, fiquei em Lisboa como impedido dum General. Gostava muito dele, e ele a mim tratava-me como a um filho. Para onde quer que fosse levava-me sempre a acompanhá-lo, e foi com ele que aprendi muitas das coisas que sei hoje
Um dia fomos os dois à Torre do Tombo, que ele era muito dado a essas coisas antigas, e encontrou lá um livro que contava a história dum padre que por modos, entre missas e confissões, não havia saias nas redondezas com que não se metesse. Era raro o ano em que não aparecia na terra mais um ou dois cachopitos que eram a cara chapada dele. Por modos chegaram a conhecer-se-lhe p’ra cima de trinta, entre fêmeas e machos.
E andou por lá muitos anos a pregar, a comer boas galinhas e a esfregar as mãos de contente enquanto sacudia a batina.
Na terra toda a gente sabia dos pecados do padre, mas eram tempos de miséria e de medo, e muitas vezes até as mães e os pais fechavam os olhos e os ouvidos, na esperança de verem as filhas fugirem à pobreza em que viviam. Que havia alguns que aperfilhavam os filhos e até punham casa às raparigas. Mas este é que não ia nessa, e nunca reconheceu nenhum dos inocentes, nem deu uma fatia de pão a ninguém, apesar de todos saberem que tinha muito de seu.
Naquele tempo reinava em Portugal um rei que o que queria era divertir-se e comer do bom e do melhor. Como não tinha mão no País, era o ministro que mandava e fazia tudo à maneira dele. Por modos até era bom ministro e leal ao rei, mas era um ganancioso, com a mania das grandezas e mau como as cobras. Só fazia o que tinha na ideia e lhe desse proveito, nem que tivesse que mandar expulsar ou matar os que lhe fizessem frente.   
Um dia chegou-lhe aos ouvidos a história do padre e ele próprio ditou-lhe a sentença: Que o atassem a um cavalo montado por um cavaleiro com boas esporas, e dessem tantas voltas ao castelo quantas fossem precisas até não ter pinga de sangue; e no fim de morto que deitassem os restos às feras. Os bens dele, todos confiscados, que logo se veria o que fazer com eles.
Assim que lhe chegou aos ouvidos a sentença do ministro, o padre tratou de se esconder o melhor que pode. E tal era o esconderijo que durante uns tempos ninguém soube onde é que se tinha metido. Passados uns tempos, o rei morreu e, como não tinha filhos varões, quem lhe sucedeu foi a filha. Diziam que tinha pouco juízo, mas coragem não lhe faltava. Tratou logo de despedir o ministro e acabar com muitas das leis que ele tinha feito.
Quando lhe chegou aos ouvidos a sentença do padre, mandou-o procurar e perguntou-lhe quantos eram os filhos que tinha tido.
- Saiba Vossa Alteza que são dezoito machos e pr’aí uma dúzia de fêmeas.
De boca aberta, a rainha virou-se para o novo ministro e exclamou:
- Como é que se pode mandar matar um homem que deu tantos filhos à nação? Ainda por cima sendo homens, o mais deles!
E para o padre:
- Abale lá para a sua terra e a partir de agora cumpra os Mandamentos e dê de comer a quem tem fome!
- Creia Vossa Alteza que assim farei.
Por modos já estava velho e nunca mais se ouviu falar dele, nem de mais nenhum rebento».

Esta história foi-me contada há algum tempo por uma vizinha que ainda se lembra do senhor José da Silva Lobo, mais conhecido por Zé Cipriano. Lembrei-me dela quando há dias vi estas imagens de instrumentos e práticas de tortura da Inquisição:




Voltei a lembrá-la há umas semanas, a propósito das declarações de Donald Trump sobre a eficácia da tortura e a ideia de que se deve combater o fogo com o fogo. Se é por demais lamentável que, apesar de proibida, a tortura seja ainda uma prática frequente em muitos países, incluindo Portugal, há alguma diferença entre essas situações (que mais não seja porque podem ser denunciadas e punidas) e o que defende o presidente de uma das nações mais influentes do mundo.

«Olho por olho, e o mundo ficará cego…», M. Gandhi

M. L. Ferreira

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Desfile de Carnaval da Escola







Umas semanas antes do desfile de Carnaval da escola, começámos a preparar as máscaras com a professora Idalina, utilizando figuras do mundo mágico da Disney. Também fizemos molduras amarelas e enfeitámo-las com desenhos e recortes.
Quando chegou o dia do desfile (dia 23), ainda fizemos maracas com a professora Maria da Luz. Uma hora depois, saímos da escola, acompanhados dos meninos do Jardim de Infância e dos alunos mais velhos e andámos com as máscaras e as maracas até ao ringue. Aí metemos as molduras e ficámos muito giros!
 Começámos o desfile: fomos pela estrada até à Santa Casa, continuámos, passámos pela praça, pela pastelaria, pela piscina, até que chegámos de novo ao parque do ringue.
As mães e familiares acompanharam-nos sempre. A tia do Mário ia disfarçada de noivo abandonado e levava uma pistola de água. A mãe do Mário ia disfarçada de mecânico, levava um carrinho e papelinhos.
Foi um desfile cansativo, mas muito divertido!


Mário, Pedro e Zaza, 2.º Ano


Este é o Mário Silva que, no desfile concelhio deste domingo, em Castelo Branco, ganhou o prémio da melhor fantasia de Carnaval.
A trupe de São Vicente era formada pelos elementos do rancho, dos bombos...

Maria da Luz Teodoro

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Natureza limpa


O inverno pôs a descoberto mais um ninho de lixo dos madeireiros, desta vez no Carvalhal Redondo.
A Cáritas lançou, em Castelo Branco, uma campanha de recolha de plásticos para comprar uma cadeira de rodas a alguém necessitado, mas sem posses. 
Este lixo vai ajudar uma pessoa e ao mesmo tempo garante uma natureza limpa, que não comprometa a saúde das gerações vindouras.

Nota: Acabei de fazer (dos nossos) bolos da Páscoa. Uma delícia...

José Teodoro Prata

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Mudam-se os tempos

Hoje acordei com muitas ideias. Como o sonho comanda a vida, vou tentar colocá-las nos seus devidos lugares, cronologicamente falando.
Comecei por passar em revista as casas da nossa vila, como eram as habitações e como são nos nossos dias.
Passavam de pais para filhos, estes mantinham-nas tal qual as recebiam, medievas, a cheirar a mofo, com pouca luz, sem conforto, mas acolhedoras. Guardavam dentro de si recordações, histórias únicas; a luz bruxuleante da candeia, o candelabro, as velhas lucernas, a lamparina de azeite, tendo ao meio uma torcida que se mantinha acesa com a ajuda de um pequeno disco de cortiça com um furo ao meio de onde saía o pavio, iluminava o quarto, a sala… As nossas ruas possuíam em locais estratégicos candeeiros a petróleo. Assim que começava a anoitecer, um lanterneiro, escada numa mão, lata do petróleo na outra, acendia-os. “Já era bem bom”, como me contou um dia o senhor Zé coelhito.
Graças à eletricidade, tudo mudou. A noite escura desapareceu das nossas moradas e das nossas povoações, a pasmaceira que seria se ainda se vivesse assim. A energia eléctrica chega a todo o lado, os velhos artefactos foram substituídos pelas lâmpadas.
Eu sou a Luz do mundo, disse Jesus.
Não viviam somente as pessoas nas casas, as lojas eram ocupadas pelos animais que ajudavam nas lides domésticas, fossem vacas, burros, cabras, galináceos. Se a casa possuía mais que uma loja, a segunda destinava-se a guardar o vinho, a salgadeira, o azeite, as ferramentas… As paredes exteriores eram construídas com pedra granítica, miúda; por dentro, as divisões eram feitas de taipa, adobe; assoalhados de madeira… Cheiravam a mofo as casas dos nossos pais, mesmo assim eram acolhedoras.
A casa dos meus pais, da qual eu gostava bastante, certo dia foi totalmente derribada, só ficaram as paredes exteriores. Uns anos mais, o interior de outra casa medieva desaparece, julgo ter sido a pioneira no advir, morada da Maria do Ninho, casa grande feita de grossas paredes e taipa. Um dia chegaram pessoas vindas de fora, orientadas pelo pai do general Eanes, “construtor da obra” as madeiras foram substituídas por placas, vigas de cimento, o solar ficou irreconhecível por dentro, o cimento, o tijolo… começou uma nova era na edificação de edifícios
A vida na vila continuava a fazer-se como sempre se fez até aos anos setenta do passado século. As galinhas esgravatam as pedras da calçada, na esperança de encontrarem algum miolo, minhoca…; à porta das lojas as cordas que guiavam os burros eram atadas a argolas, as mulheres munidas de um caldeiro, onde iam as lavaduras e os restos de comida, desciam as escadas e limpavam a pia, despejando nela a vianda. Quando os porcos comiam bem, eram uma boquinha lavada.
Por vezes perdiam o apetite, a dona do animal ia à casa da pessoa que sabia tirar o mau-olhado. Feito o esconjuro, o porco voltava a comer, era um louvar a Deus. Por altura do Carnaval, os vicentinos ofereciam ao Santo António chouriças, nacos de toucinho, presunto, farinheiras, morcelas… O Chico Calmão empunhava o pau do santo e andava de rua em rua a pedir para o ramo de Santo António.
No princípio dos anos sessenta, Goa, Damão e Diu foram invadidas, ia sendo uma tragédia para os nossos soldados. Angola, Moçambique, Guiné; os mancebos partem aos milhares para as áfricas combater os “terroristas”. As feridas da segunda grande guerra ainda não estavam totalmente saradas na Europa, era preciso construir; voltar a reedificar estradas, pontes habitações… muitas famílias desapareceram do mapa, a Europa necessitava mão-de-obra. Portugueses, espanhóis, italianos… procuram uma vida melhor para si e os seus, grande parte dos trabalhos eram braçais, apesar de já existirem máquinas, a força do homem ainda imperava.
Partiam aos milhares a salto, passadores guiavam-nos até entrarem na terra prometida. Quando atravessavam as montanhas pirenaicas, em estreitas veredas cheias de perigos, se tivessem o azar de escorregar e cair precipício abaixo, iam parar ao rio e nunca mais… os outros seguiam cheios de frio, sujos…
Quando finalmente chegavam ao destino iam parar aos arredores da cidade onde se situavam os bidonvilles, barracas de lata cercadas de lama; os pioneiros viviam em condições péssimas, mesmo assim não desistiam, a vida aos poucos ia melhorando, ganhavam mais numa semana que em Portugal num mês, os trabalhos eram duros, verdade; valia a pena o sacrifício. As famílias juntavam-se, deixavam as barracas para viverem em habitações condignas, o sonho da casinha e da courela no lugar que os viu nascer tornava-se realidade. Só queriam ganhar dinheiro para construir a sua maison e adquirir um pedaço de terra. Os filhos crescem, fazem amigos, a palavra regressar não existia nos seus vocabulários. Havia o problema das guerras coloniais, mancebos fugiam a salto, as casas estavam construídas, olivais, courelas compradas. Foi passando o tempo, casaram os filhos, os netos surgiram e os pais, que só queriam realizar o sonho de terem uma linda casa, foram-se acomodando, a maior parte estão fechadas. É a vida.
Com o envio das remessas dos emigrantes, a construção civil progrediu, a paisagem medieva, rural, transformou-se.
As guerras coloniais não tinham fim à vista; 1974, militares milicianos protestam, o povo aproveita a boleia, surge a revolução do vinte e cinco de Abril.
Descolonização, mais de quinhentos mil desalojados portugueses abandonam haveres, terras, deixam tudo e regressam a Portugal.
Muitos nunca conheceram outra terra, Portugal era um lugar estranho; traziam experiência, conhecimentos, depressa se integraram na sociedade portuguesa, sangue novo foi injectado, floresceu o comércio, a indústria, a construção, o país aos poucos foi-se modernizando
Em 1985, Portugal assina o tratado de adesão à C.E.E., um ano depois entrava oficialmente. Todos os dias chegavam milhões de contos aos cofres. Auto-estradas, algumas quase paralelas, estádios, pavilhões… o dinheiro jorrava, os bancos emprestavam; “queres mil, leva dois mil” foi um fartar vilanagem.
Os valores especulativos dos bens caem, muitos bancos não aguentam a pancada e desmoronam-se, as casas desvalorizam drasticamente, a vida levou um tombo…
Portugal endividou-se, os empregos para toda a vida passaram a ser precários, a torneira foi-se fechando, muitas empresas abriram falência, o dinheiro fácil terminou. A sociedade actual é bem diferente da que era há meio-século atrás, as aldeias estão desertas, as cidades aumentaram a sua população, o perímetro urbano também, as vias de comunicação, os transportes, a saúde, a educação…tornaram-se realidades, a economia está nas mãos de empresas estranhas, a divida pública é enorme.
Os portugueses, povo forte e valente que sempre foi capaz de dar a volta por cima, um país que descobriu meio mundo, onde a língua de Camões é das mais faladas, um povo assim vencerá mais esta batalha.
As casas de outrora quase desapareceram das nossas aldeias, ainda há os resistentes que souberam preservá-las dando-lhes uma nova roupagem. Transformadas por dentro, acolhedoras, mantêm a traça exterior. Conserve-se o que ainda resta, há valores patrimoniais. Quando se esbarrondam, nunca mais se recuperam. Em vez de se esbarrondar, deve-se preservar, para que os nossos netos fiquem com uma ideia de como eram as habitações, as ruas estreitas e medievas no tempo dos seus avós.
O mundo é uma escadaria; sobem uns, descem outros, porque para trás mija a burra.
«Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida,
Que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.»
Rómulo de Carvalho

J.M.S