Mostrando postagens com marcador maria libânia ferreira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador maria libânia ferreira. Mostrar todas as postagens

sábado, 22 de abril de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Maria Gama

José Maria Gama nasceu em São Vicente da Beira, no dia 20 de maio de1896. Era filho de Carolina Gama, jornaleira, residente na rua Manuel Mendes. 

Terá ficado órfão ainda jovem porque, de acordo com o seu boletim individual de militar do CEP, o familiar vivo mais próximo, na altura da partida para França, era o padrinho, Manuel da Silva Lobo (apesar desta referência, sabe-se que José Maria foi criado pelos avós maternos, como se fosse mais um filho).

Mobilizado para a guerra, embarcou em 26 de setembro de 1917, com o posto de 1.º Cabo da 4.ª Bateria do Regimento de Artilharia 8 (Abrantes?) com o número 665 e a chapa de identificação n.º 64941. Integrava a bateria de reforço das tropas que já estavam no terreno há algum tempo.

Do seu boletim individual consta o seguinte:

·        Baixa à ambulância n.º 8 em 24 de novembro de 1917; alta em 2 de dezembro(?);

·        Colocado no 3º Grupo de Batarias de Artilharia em 24 de abril de 1918 onde ficou até janeiro de 1919;

·        Condecorado com a medalha comemorativa da expedição a França pela Ordem de Serviço nº 31 de 27/2/1919 do 3º G.B.A.

Família:

Após o regresso a Portugal, José Maria Gama ficou a residir em Lisboa, onde ingressou na Guarda-Fiscal. Foi lá que casou com Silvina(?) de quem teve uma filha: Beatriz Gama. A esposa terá falecido passado pouco tempo e José Maria assumiu sozinho a educação da menina.

Em 29 de junho de 1935, voltou a casar, no Posto do Registo Civil de Sarzedas, com Maria José Rodrigues, natural daquela localidade (Maria José era prima direita de José Maria, uma vez que o pai era natural de São Vicente da Beira e tio materno de José Maria). Deste casamento nasceu mais uma filha: Maria do Carmo Gama(?).   

José Maria vinha muitas vezes à terra, principalmente pela Senhora da Orada e pelas Festas do Verão, e trazia quase sempre a filha mais velha. Contam que era um homem bonito, elegante e sempre alegre. Era muito querido por toda a família e pelos amigos. Quando vinha a São Vicente todos queriam que ficasse em sua casa, e mimavam-no com tudo o que tinham de melhor. Ele retribuía da mesma forma, ajudando toda a gente que precisasse e lhe pedisse um favor. Dizem que foi ele que, naquele tempo, levou alguns rapazes da idade dele, e outros mais novos, de São Vicente para Lisboa, e os ajudou a entrar para a Guarda-Fiscal, onde era muito considerado.    

José Maria Gama faleceu na Freguesia da Lapa, no dia 31 de dezembro de 1973. Tinha 77 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Leitão

José Leitão nasceu em São Vicente da Beira, no dia 9 de agosto de 1893, filho de António Leitão Canuto e Maria do Patrocínio, moradores na rua Velha.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça em Castelo Branco, no dia 9 de julho de 1913; foi incorporado no Regimento de Infantaria 21, 2.º Batalhão, em 13 de janeiro de 1914.

Pronto da instrução da recruta em 30 de abril, foi licenciado em 1 de maio, domiciliando-se em São Vicente da Beira. Apresentou-se novamente no dia 4 de fevereiro de 1915 e foi licenciado em 1 de maio. Nesta altura recebeu instrução de corneteiro, mas não a concluiu por “inabilidade artística”, como consta na sua folha de matrícula.

Voltou a ser convocado em 5 de maio de 1916 e, fazendo parte do CEP, embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, incorporado na 6.ª Companhia do 2.º Batalhão, 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 72 e chapa de identidade n.º 9128.

No seu boletim individual de militar do CEP e folha de matrícula constam as seguintes informações:

a)   Baixa ao hospital em 16 de junho de 1917, por ferimento por gases; alta a 20;

b)   Ausentou-se sem licença no dia 24 de agosto de 1918 e foi considerado desertor passadas 24 horas;

c)    Apresentou-se de deserção, no dia 28 de agosto, e foi detido na prisão da base em 30;

d)   Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em sete de setembro, foi libertado poucos dias depois;

e)   Foi punido em 17 de setembro, por ter feito uso de um passe regulamentar fora da data para que lhe fora concedido, ausentando-se indevidamente do seu local de estacionamento;

f)     Baixa ao hospital em seis de março de 1919 e alta em 24, seguindo para o Depósito Disciplinar 1 a 25 de março;

g)   Punido em 23 de maio de 1919, pelo Comandante, com sessenta dias de prisão correcional, por ter exigido ser transportado por um camião quando se dirigia da base para a sua unidade na frente, dizendo que estava muito fatigado (Este castigo ficou sem efeito, em virtude da Ordem de Serviço n.º 156 de 11/6/1919);

h)   Foi repatriado com o Depósito Disciplinar 1, a cinco de julho de 1919;

i)     Desembarcou em Portugal, no dia 8 de julho de 1919, e regressou a São Vicente da Beira.

Em outubro de 1919, passou ao Batalhão n.º 1 da GNR com o posto de soldado de 2.º classe. Em 21 de outubro, passou a soldado da classe de aprendiz de corneteiro e em 27 de abril de 1920, após ter terminado a especialidade, passou a soldado de 1.ª classe. Em 4 de janeiro de 1921, foi promovido a 2.º cabo corneteiro.

Licenciado em 21 de junho de 1921, mudou a residência para a freguesia de Santos, em Lisboa, passando ao Regimento de Infantaria n.º 1.

Por ter terminado o tempo de serviço nas tropas ativas, passou ao Regimento de Infantaria nº 1 de Reserva em 31 de dezembro de 1923, à reserva activa em 31 de dezembro de 1926 e à reserva territorial em dezembro de 1934.

Na sua folha de matrícula consta um castigo de 15 dias de prisão correcional aplicado pelo comandante da companhia em maio de 1921, por «no dia 23 de Maio do corrente, pelas 10h, estar entre um grupo de praças referindo-se aos últimos acontecimentos e dizendo: se nós temos muitas tropas eles também as tinham, e se nós éramos republicanos eles também o eram, que a nossa bandeira se achava içada e a deles andava à frente da força, e mais disse que os oficiais da 4ª companhia tinham sido uns falsos por terem abandonado a sua companhia» (Foi amnistiado deste crime pela Lei n.º 1629 de 15/7/1924).

Condecorações e louvores:

·        Medalha militar de cobre comemorativa com a inscrição França 1917-1918;

·        Medalha militar de cobre de classe de comportamento exemplar.

Família:

José Leitão casou com Benvinda de Oliveira, natural do Gavião, na 2.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, no dia 23 de julho de 1922. Não foi possível saber se tiveram filhos, nem qual foi o seu percurso de vida, mas o castigo que sofreu em maio de 1921 pode significar que seguiu a vida militar ainda por algum tempo e terá estado colocado na cidade de Lisboa, provavelmente integrado na GNR.

Faleceu na freguesia do Campo Grande, no dia 2 de fevereiro de 1967. Tinha 73 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 25 de março de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Joaquim dos Santos 

José Joaquim dos Santos nasceu no Ninho do Açor, no dia 1 de outubro de 1893. Era o filho mais velho de Joaquim dos Santos e de Rosa Maria. Terá sido nessa localidade que viveu toda a sua infância e juventude.

Assentou praça em 8 de julho de 1913, como recrutado, pertencendo ao contingente de 1913, a cargo do distrito de Castelo Branco. Presente no Regimento de Infantaria 21, foi incorporado no 2.º batalhão em 12 de janeiro de 1914.

Ficou pronto da recruta em 30 de abril 1914 e regressou ao Ninho do Açor.

Tomou parte na Escola de Recruta. Presente em 16 de setembro de 1915, foi licenciado novamente em 2 do mesmo mês.

Em 5 de maio de 1916 voltou a apresentar-se, para marchar a caminho de Tancos, onde recebeu alguma instrução militar antes de partir para França. Embarcou a 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia(?) do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado n.º 69, com placa de identidade n.º 9866 do C.E.P.

Terá seguido no primeiro comboio de navios de transporte para França, saído do cais de Alcântara, que terá iniciado a viagem apenas a 23. Todavia, outras fontes indicam que foi somente a 30 de janeiro de 1917 que zarparam do Tejo três vapores britânicos levando a bordo a 1.ª Brigada do CEP, comandada pelo general Gomes da Costa. Estes navios chegaram ao porto de Brest três dias depois. Em 8 de fevereiro chegaram à Flandres francesa e em 4 de abril de 1917 as primeiras tropas portuguesas ficaram entrincheiradas.

No seu boletim individual do CEP constam as seguintes informações:

a)   Punido com 10 guardas, em 16 de fevereiro de 1917, por ter comparecido com meia hora de atraso à chamada para o café e ração fria;

b)   Baixa ao Hospital em 23 de abril; alta a 28 do mesmo mês;

c)    Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com o número 616 porque, «encontrando-se com prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente do inimigo insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores»;

d)   Diligência do Depósito Disciplinar 1 para o Tribunal de Guerra de Base, em 22 de fevereiro de 1919, ficando à disposição do mesmo tribunal;

e)   Condenado na pena de 7 anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar.

f)      Foi repatriado com o Serviço de Adidos, a 5 de junho de 1919. Desembarcou em Lisboa a 9 junho de 1919, e passou ao presídio militar de Santarém, em 25 de julho, a fim de cumprir a pena que lhe foi aplicada. Foi amnistiado pela Lei 1198 de 2 setembro de 1921 e libertado.

Durante o tempo que passou na prisão terá aprendido a ler e escrever, uma vez que na sua folha de matrícula militar consta a informação de que era analfabeto. Terá também aprendido a profissão de alfaiate, embora, de acordo com os registos, demonstrasse pouca aptidão para o ofício.

Licenciado em 11 de janeiro de 1922, voltou para o Ninho do Açôr. Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de dezembro de 1923, e à reserva ativa, em abril de 1928. Passou às tropas territoriais e ao Distrito de Recrutamento e Reserva 21, em 31 de dezembro de 1934, e ao Distrito de Recrutamento e Mobilização, a 15 em 30/11/1939, nos termos das instruções para a execução do decreto n.º 29957 de 24/10/1939. Teve baixa de todo o serviço militar, em 31/12/1942, por ter terminado a obrigação de serviço.
Condecorações:

·        Medalha militar de cobre comemorativa com a legenda: França 1917 1918" (segundo o neto Hugo Martins, José Joaquim nunca terá visto ou ouvido falar nesta medalha).






Família:

De regresso ao Ninho do Açor, José Joaquim dos Santos casou com Carmina de Jesus Martins, natural do Tripeiro, no dia 19 de fevereiro de 1922. Foi ali que o casal ficou a viver, e lá nasceram os três filhos que tiveram:

1.    António Martins dos Santos, que casou com Maria Joaquina Martins dos Santos e tiveram 2 filhos;

2.    Isabel Martins da Conceição, que casou com Artur Afonso e tiveram 2 filhos;

3.    Aurora de Jesus Martins, que casou com José Joaquim Varanda e tiveram 2 filhos.

Carmina de Jesus veio a falecer com tuberculose pulmonar, no dia 6 de maio de 1939, e José Joaquim dos Santos voltou a casar com Maria Joana Lourenço, em 15 de novembro do mesmo ano. Deste casamento nasceu uma filha: Maria de Deus Faustino, que casou com Adelino de Jesus Faustino e tiveram 4 filhos.

Maria Joana Lourenço faleceu de parto, em outubro de 1940, e José Joaquim continuou a viver no Tripeiro, onde foi sempre muito respeitado por todos.

«Passou a vida a trabalhar no campo e vivia do que a terra lhe dava. Também foi ganhão e quando havia menos trabalho no campo acarretava lenha para os fornos da telha, no Freixial do Campo.

Sempre foi muito temente a Deus e quando falava no tempo em que tinha andado na guerra, não se cansava de dizer que, se estava vivo, o devia à proteção da Nossa Senhora, porque às vezes as balas eram tantas a passar-lhe rentinhas ao capacete que só mesmo um milagre é que o tinha salvado.

E foi mesmo um milagre porque, apesar de tudo o que por lá passou, não trouxe moléstia nenhuma, como tantos outros companheiros que lá andaram com ele, que vieram cheios de doenças, fora os que por lá ficaram.

Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo que passou na Guerra porque diziam que, como tinha terras, não precisava.» (testemunho da filha Maria de deus)

José Joaquim faleceu no dia 8 de julho de 1970. Tinha 77 anos. Está sepultado no cemitério de São Vicente da Beira.

(Pesquisa feita com a a colaboração da filha Maria de Deus Faustino e do bisneto Hugo A. dos Santos Gomes Martins)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quinta-feira, 9 de março de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Francisco Afonso


José Francisco Afonso nasceu no Tripeiro, no dia 8 de março de 1985. Era filho de Francisco Afonso, cultivador, e Maria Sebastiana.

De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se alistou em 13 de janeiro de 1916. Foi incorporado nesse mesmo dia no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21 de Castelo Branco.

Após a conclusão da recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado número 540 e tinha a placa de identidade n.º 8957.

A sua folha de matrícula e boletim individual referem o seguinte:

a)   Baixa ao hospital no dia 29 de maio; alta em 19 de junho;

b)   Marcha para o Quartel General de Base em 7 de fevereiro de 1919, a fim de ali ficar á disposição do Tribunal de Guerra, porque na manhã de 23 de setembro de 1918, juntamente com outros militares, encontrando-se em prevenção de marcha para um novo acantonamento mais avançado em relação à frente inimiga, se recusou a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando matar com granadas de mão e atirar com a metralhadora a quem tal fizesse, e recusando-se a obedecer às intimações que lhe foram feitas pelos superiores;

c)   Condenado à pena de sete anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de deportação militar (Ordem de Serviço n.º 105 de 8/4/1919).

d)   Regressou a Portugal com a Secção de Adidos, no dia 9 de junho de 1919, e passou ao presídio militar de Santarém, para cumprir a pena a que tinha sido condenado.

Foi libertado por ter efeito da Lei nº 1198 de 2 de setembro, publicada em Diário do Governo de 5 de setembro de 1921, que amnistiava os castigos de guerra.

Licenciado em 11 de janeiro de 1922, passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1936.


Família:

José Francisco casou com Maria de Jesus da Conceição, também natural do Tripeiro, no dia 9 de setembro de 1922. Tiveram três filhos:

1.   Joaquina Antunes Afonso, que casou com José Venâncio e tiveram 5 filhos;

2.   Francisco Afonso Martins, que casou com Olívia de Jesus e tiveram 2 filhos;

3.   Elisa da Conceição, que casou com António Marques e tiveram 2 filhos.

Conta uma das netas que se lembra de ouvir o avô falar do tempo que tinha passado na guerra, mas como era muito pequenina se recorda mal do que ele dizia. Lembra-se apenas de uma vez se voltar para ela e lhe perguntar: «Olha lá, filha, sabes como é que chamam às batatas lá na França? Chamam-lhe pão da terra!». Diz que nunca mais se esqueceu.

José Francisco Afonso trabalhou quase sempre na agricultura, mas também foi pastor e madeireiro. Teve uma vida difícil, como quase toda a gente nessa altura, mas conseguiu que lhe fosse atribuída a pensão a que tinha direito por ter participado na guerra, o que o ajudou a viver um pouco melhor durante a velhice.

Faleceu no dia 29 de outubro de 1972. Tinha 77 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do filho Francisco Martins)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 17 de dezembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José dos Santos

José dos Santos nasceu em São Vicente da Beira, no dia 11 de maio de 1895, filho de Theodósio dos Santos, natural de Alcongosta, e de Joaquina Mateus.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça, como recrutado, em 1916.

Após a conclusão da recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia 19 de janeiro de 1917, integrando a 8.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado n.º 586 e chapa de identificação n.º 9753.

Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:

a)   Baixa ao hospital em 19 de maio de 1917; alta no dia 22 do mesmo mês;

b)   Passagem à 3.ª Companhia. por Ordem de Serviço de 28 de janeiro de 1919.

c)    Regressou a Portugal com o Regimento de Infantaria 21, em 25 de fevereiro de 1919, a bordo do navio Helennus.

Família:

José dos Santos casou na 6.ª Conservatória de Lisboa, com Vitória Maria Quintela, natural da Póvoa de Rio de Moinhos, no dia 23 de dezembro de 1922.

O casal terá vivido em Lisboa, e posteriormente em Águeda, pois, de acordo com os averbamentos dos respetivos registos de batismo, foi nessa cidade que ambos faleceram. Não foi possível saber qual foi o seu modo de vida nem se deixaram descendência.

José dos Santos faleceu em Águeda no dia 22 de maio de 1962. Tinha 67 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Domingos

José Domingos nasceu na Partida, a 18 de Março de 1893. Era filho de António Domingos e Joaquina Freire.

Assentou praça no dia 9 de Julho de 1913, como recrutado, pertencente ao contingente de 1913, a cargo do concelho de Castelo Branco. Foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, no dia 13 de janeiro de 1914. De acordo com a sua folha de matrícula, sabia ler, escrever e contar, e tinha a profissão de jornaleiro.

Terminou a instrução da recruta em 4 de julho de 1914, e regressou à sua terra. Foi novamente mobilizado em Agosto desse ano, e destacado para a província de Angola, para onde embarcou em 11 de setembro, integrando a 1ª Expedição enviada para aquela província ultramarina. Chegou a Moçâmedes no dia 1 de Outubro de 1914.

De acordo com a sua caderneta militar, tomou parte na ação do dia 18 de Dezembro de 1914 contra os alemães, fazendo parte das tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao destacamento do Humbe, onde entrou em 7 de julho de 1915. Fez parte do destacamento de reconquista e ocupação do Cuamato, de 12 a 27 de Agosto, e participou no combata de Chana da Mula, em 24 do mesmo mês, dia em que, com o mesmo destacamento do Cuamato, se reuniu às forças do destacamento de conquista do Cuanham de Mongua. Fez também parte do estacamento da Ngiva, de 4 de setembro de 1915. Regressou à Metrópole, no dia 16 de Novembro de 1915, e desembarcou em Lisboa, a 4 de Dezembro.

Licenciado em 15 de Março de 1916, foi promovido a 1.º Cabo em 9 de Abril. Apresentou-se novamente em 27 de Abril e foi destacado para fazer parte das tropas da 3.ª Expedição enviada para Moçambique. Seguiu viagem no dia 24 de Junho de 1916 e desembarcou no porto de Palma, a 24 de julho. Terá participado nos combates levados a cabo para conquistar o território na margem norte do rio Rovuma, nos quais muitos militares perderam a vida. Felizmente não fez parte desse número e regressou à Metrópole, em 31 de Março de 1918.

Passou ao Batalhão n.º 1 da Guarda-Fiscal, como soldado de Infantaria, em 25 de Outubro de 1918, e novamente ao Regimento de Artilharia de Montanha em 25 de outubro de 1921. Licenciado em 28 de outubro, fixou residência na freguesia dos Olivais, em Lisboa, onde terá feito formação numa área relacionada com o seu percurso profissional futuro.

Em Janeiro de 1922, José Domingos regressou a Moçambique e foi colocado na Companhia do Niassa, no norte de Moçambique (o seu primo Albano Frade, que na altura se encontrava em Lourenço Marques, refere-se a ele, em notas biográficas que deixou, dizendo que José Domingos tinha passado por aquela cidade, em maio de 1922, a caminho do Niassa). Mais tarde exerceu o cargo de Chefe de Posto, na região de Porto Amélia.

Passou à Companhia de Trem Hipomóvel, em 2 de Setembro de 1930, e à reserva territorial, em 31 de Dezembro de 1934.

Condecorações:

·        Medalha das Operações no Sul de Angola 1914-1915;

·        Medalha da Vitória.

Família:

José Domingos voltou à Metrópole uns anos depois e casou com Maria Ana Lourenço, natural dos Pereiros, no dia 21 de Fevereiro de 1927. Era uma rapariga muito bonita, uns anos mais nova que o noivo, e que gostava muito da sua terra. Terá sido por isso que, tendo acompanhado o marido de regresso a Moçambique, e apesar da viagem de núpcias que ele lhe proporcionou através do Canal do Suez, com escalas e passeios pelas várias cidades por onde passaram, nomeadamente Veneza, nunca se adaptou à vida em África, nem superou as saudades da terra. Regressou pouco tempo depois, já grávida da primeira filha, que nasceu em dezembro de 1927.

José Domingos permaneceu em Moçambique por mais alguns anos, nesta altura já como Chefe de Posto da Administração Civil, na região de Porto Amélia. Apesar de alguma insistência por parte da esposa, para que regressasse à terra, só voltou quando a filha estava quase a completar a instrução primária e Maria Ana lhe terá dito que ia pô-la a aprender costura. Foi esta notícia que fez com que José Domingos regressasse mais depressa, porque não estava de acordo com a esposa quanto ao futuro da menina e queria que ela prosseguisse os estudos. Tiveram depois mais uma filha.

As duas filhas de José Domingos e Maria Ana foram:

1.    Aurora de Jesus Domingos Lourenço que casou com Alexandre Domingos Lourenço, do Ninho do Açor, e tiveram 3 filhos;

2.    Emília da Conceição Domingos que casou com Manuel Canário e tiveram 2 filhos.


Embora não tivesse sido muito do agrado de José Domingos, que pretendia mudar-se para uma localidade maior, o casal manteve a residência nos Pereiros, onde construíram uma das maiores casas da terra e se estabeleceram com uma mercearia e uma taberna. Adquiriram também bastantes terrenos de cultivo (alguns já tinham sido comprados por Maria Ana com o dinheiro que o marido lhe enviava de Moçambique) e tinham a sua própria junta de bois com ganhão e um grande rebanho com pastor. Na terra há ainda quem se lembre de o ver a visitar as propriedades montado no seu cavalo, coisa pouco habitual naquela altura.

Talvez por ter estado em África, era um homem de horizontes largos. Gostava de viajar e fez parte da comitiva que acompanhou o Governador de Porto Amélia por vários países vizinhos de Moçambique. Também fez questão que as filhas estudassem, e ambas concluíram o antigo Curso Geral do Liceu (a mais nova formou-se em Assistente Social).

Passados muitos anos, o casal vendeu a casa e o comércio nos Pereiros e mudou a residência para Castelo Branco onde viveu alguns anos. Já no fim da vida, Maria Ana adoeceu e mudaram-se para o Ninho do Açor, para junto da filha mais velha, e foi aí que faleceram os dois.

As netas lembram-se dele, sentado num banco no quintal, a ler o jornal. Quando uma notícia lhe despertava mais a atenção, chamava a filha e punha-se a ler em voz alta. Acontecia isto sempre que via qualquer notícia sobre África, da qual guardou saudades para sempre. 

Maria Ana Lourenço faleceu no dia 13 de abril de 1977. José Domingos teve uma vida mais longa: faleceu no dia 10 de outubro de 1979. Tinha 86 anos de idade. Está sepultado no cemitério do Ninho do Açor.

(Pesquisa feita com a colaboração das netas Maria Cristina Lourenço e Maria Teresa Lourenço)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

domingo, 13 de novembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José de Matos 

José de Matos nasceu no Casal da Serra, em 30 de agosto de 1894. Era filho de Simão de Matos e Leonor Maria.

Assentou praça em Castelo Branco, a 9 de julho de 1914, no Regimento de Artilharia de Montanha. De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto, solteiro e tinha a profissão de jornaleiro.

Destacado para integrar o contingente de reforço militar das fronteiras de Moçambique, embarcou para essa província ultramarina, no dia 7 de outubro de 1915, fazendo parte da 2.ª Expedição enviada para essa província ultramarina. Nessa altura um dos irmãos, José Simão de Matos, encontrava-se destacado na província de Angola. Regressaram os dois com vida à terra, mas, segundo contam, já não a tempo de voltarem a ver o pai, a coisa que eles mais temiam. José de Matos regressou à Metrópole, no dia 26 de Setembro de 1916.

Licenciado em seis de Junho de 1919, passou ao 2.º Escalão do Exército e ao Batalhão de Reserva em 31 de Dezembro de 1924. Passou à reserva ativa em 31 de dezembro de 1935.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa da Campanha em África;

·        Medalha da Vitória.

Família:

José de Matos casou com Maria do Rosário Cruz, no dia 21 de Abril de 1932. Tiveram vários filhos, mas faleceram quase todos ainda crianças. Sobreviveu apenas uma filha, Maria Irene, que chegou à idade adulta, mas faleceu sem deixar descendência.

Quem o conheceu, diz que tinha alguns problemas de saúde, provavelmente consequência daquilo que passou durante o tempo em que esteve em Moçambique. Toda a vida trabalhou na agricultura, quase sempre como jornaleiro, e no cultivo de alguns pedaços de terra que herdara dos pais.

Faleceu no Casal da Serra, a 7 de novembro de 1974. Tinha 80 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração do sobrinho José António de Matos)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José da Silva Lobo 

José da Silva Lobo, filho único de Cipriano da Silva Lobo e Emília Maria Jerónimo Lopes, nasceu no Casal da Fraga, a 23 de Agosto de 1895.

Frequentou a escola primária e teve como professor o Padre José Antunes que, para além de o ter ensinado a ler, escrever e contar, o ensinou também a falar línguas estrangeiras.

Na juventude, aprendeu a tocar requinta, na filarmónica de São Vicente da Beira, e aprendeu também o ofício de alfaiate, profissão que tinha quando assentou praça.

Após ter concluído a instrução da recruta, foi mobilizado para integrar o Corpo Expedicionário Português e embarcou para França, no dia 21 de Janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 438 e a placa de identidade n.º 8894.

Do seu boletim individual de militar do CEP constam, entre outras, as seguintes informações:

a)   Promovido a 2.º Cabo, em 1 de abril de 1917, e a 1.º Cabo, a 12 de maio do mesmo ano;

b)   Em setembro de 1917, iniciou serviço no S.B.F. (Serviço de Bandas e Fanfarras?) onde continuou até julho de 1918;

c)    Licença de campanha de 1 de maio até 23 de junho de 1918;

d)   Promovido a 2.º Sargento Miliciano, em 18 de outubro de 1918;

e)   Entre o final de 1918 e março de 1919, foi em várias diligências a Paris, a fim de ali desempenhar um serviço dependente da comissão de codificação das disposições de execução permanente em vigor no CEP (contava que acompanhava os seus superiores servindo de tradutor);

f)     Regressou a Portugal, em 4 de maio de 1919.




Louvores e condecorações:

·        Louvado em 17 de abril de 1918, pelo diretor do S.B.F., «pelas muitas qualidades demonstradas durante a ofensiva alemã de 9 de Abril, desempenhando dedicada e serenamente o serviço de que estava incumbido, contribuindo valiosamente para que se tivesse salvado o arquivo do S.B.F.» (boletim individual do CEP);

·        Medalha comemorativa das campanhas do Exército Português em França;

·        Medalha da Vitória;

·        Cruz de Guerra pelos actos heróicos praticados em França.

Para além destas, recebeu ainda outras condecorações que não foi possível identificar e terá estado na primeira fila do Desfile da Vitória, nos Campos Elísios, após a assinatura do armistício.




Família:

Depois de regressar a Portugal, José da Silva Lobo ainda permaneceu algum tempo em Lisboa, fazendo parte do quadro privativo da Escola de Guerra. Foi lá que conheceu Maria da Piedade Dinis Mendes, a companheira da sua vida. Tiveram três filhos:

1.    Cipriano Dinis Mendes da Silva Lobo, que casou com Celeste Apolinário e tiveram dois filhos;

2.    Alfredo Dinis da Silva Lobo, que casou com Aurelina Afonso e tiveram dois filhos;

3.    Zulmira Mendes da Silva Lobo (herdou do pai as mãos e a voz de artista), que casou com Manuel Barata Lopes e tiveram três filhos.

Passados alguns anos, o casal fixou residência no Casal da Fraga onde, além de carteiro, José da Silva Lobo foi também alfaiate. Mas do que ele mais gostava era de tratar da sua horta e do pequeno rebanho de cabras que tinha. Dizem que às vezes até se esquecia das horas, e tinham que o chamar para regressar a casa. Foi também secretário da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira durante alguns mandatos e pertenceu à Banda Vicentina.

Para além de ser um bom tocador de requinta, cantava muito bem, sobretudo o fado. Tinha um amigo, o Hermenegildo Marques, que tocava guitarra, e juntavam-se muitas vezes para tocar e cantar numa taberna que havia no Casal da Fraga. Era farra até altas horas. Outras vezes, de verão, quando ia regar de manhã ou à noite, ao serão, punha-se a cantar. Assim que o pressentiam, muita gente da Vila corria para a Estrada Nova só para o ouvir. Alguns até traziam bancos de casa para se sentar. De tão bem que cantava, chamavam-lhe o “Passarinho da Ribeira”.

José Cipriano foi toda a vida uma pessoa boa, e por isso muito querida dos seus conterrâneos. Faleceu no dia 11 de Abril de 1955. Ainda não tinha completado 60 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração da filha Zulmira da Silva Lobo e da neta Susana Lopes)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra