quinta-feira, 6 de abril de 2017

Na casa Hipólito Raposo


Espreitando pela janela da casa ao lado.


No quintal.


No jardim, mais de perto.
A camélia não sobreviveu às obras.

José Teodoro Prata

terça-feira, 4 de abril de 2017

O tesouro da Partida

Há muitos anos vivia na Partida uma família a que chamavam “As Mari’ Joanas”. Eram duas irmãs solteiras que viviam com o pai, e já naquele tempo eram consideradas das pessoas mais abastadas da terra.
Um dia, já rente à noite, bateram-lhes à porta. Estranharam a hora, mas foram assomar à janela e viram dois homens, cada um com sua mula pela mão, que disseram ser almocreves. Pediram que lhes dessem alguma coisa que cear e os deixassem dormir por uma noite, que vinham com fome e cansados do muito caminho que tinham andado. E que não tivessem medo, que tinham com que pagar o comer e a dormida.
Fazendo justiça à fama da hospitalidade das gentes da terra, as duas irmãs prepararam logo ali num instante uma bela sopa de couves temperada com um bom naco de presunto. Os viajantes comeram-na tão sôfregos e calados que até parecia que não comiam há uma semana. Entretanto foram fazer as camas com os melhores lençóis de linho que havia na casa.
Depois de comerem, os viajantes levantaram-se da mesa e disseram que queriam fazer contas. O dono da casa bem disse que não senhor, que as contas se faziam de manhã, e que ficassem mais um pouco para dois dedos de conversa e a reza do terço. Disseram que não, que tinham que abalar de manhã cedo, antes do nascer do Sol, mas antes agradeciam muito que lhes indicassem para que lados era um sítio, ali nas redondezas, que dava pelo nome de Porto, e qual era o melhor caminho para lá chegarem.
O dono da casa achou estranha a pressa dos dois homens em abalar, mas desconfiou ainda mais da curiosidade deles em saberem onde era o tal lugar. Não pregou olho em toda a noite, a pensar no caso e à escuta de qualquer barulho, não fossem eles abalar sem ele dar conta. Já agora não queria perder a partida de tão estranhos hóspedes e ver se tirava a limpo as intenções que os trazia a vaguear por aquelas bandas.
Ainda o dia vinha longe, sentiu o ranger das tábuas. Deviam ser eles a levantarem-se, e ficou à escuta. Mal ouviu a porta da rua a ranger, pôs-se a pé e foi espreitar. Viu-os a descer a rua, cada um montado na sua mula. Nem se preocupou de estar em camisa de dormir e barrete na cabeça; enfiou só as botas nos pés e foi atrás deles. Quando chegaram lá ao sítio, viu-os parar e pôs-se à espreita, um pouco mais longe, a ver o que é que eles faziam. Nem queria acreditar quando os viu a encherem umas sacas e a carregarem uma das mulas com elas. Aproximou-se mais e viu que eram moedas de ouro o que estavam a ensacar. Assim que o viram, os dois homens voltaram-se para ele, zangados:
            - Se não tivéssemos comido ontem à sua mesa e dormido nos seus lençóis, era hoje aqui o fim da sua vida. Mas, assim sendo, nós já cá levamos o nosso quinhão; ainda aí fica esse pote, acabe vossemecê de o rapar.
O homem não perdeu tempo e, tão depressa quanto pôde, apanhou as moedas que restavam no fundo do pote e encheu o barrete com elas. Correu depois para casa o mais depressa que as pernas deixaram, não fosse alguém dar por ele, e foi contar às filhas o sucedido.
Se já eram abastadas, as Mari’Joanas ficaram ainda mais ricas. Quando morreram, como eram solteiras e nem sobrinhos tinham, quem herdou tudo foram os primos Fernandes. Vem desses tempos a fama, e só eles sabem se o proveito, de serem das famílias mais ricas da terra.


M. L. Ferreira

domingo, 2 de abril de 2017

No adro da Igreja


Era assim.


Primeiro tirou-se o chapéu...


...e depois quase todo o resto.


Falta pouco para concluir a limpeza.

José Teodoro Prata
Fotos da Libânia Ferreira e do José Teodoro

sexta-feira, 31 de março de 2017

Agência da CGD em São Vicente da Beira



No ano 1989 já se falava que iria para a vila uma agência da Caixa Geral de Depósitos.
Em conversa que tive na altura com um funcionário do banco, disse-me que tinha havido mudança de director; com a nomeação do novo responsável, a abertura ou não cabia ao novo gestor.
Finalmente, em 1991, o semanário “Gazeta do Interior” nº 156 dedica uma página inteira à nova agência.
Na mesma altura, enviei algumas notícias para o Jornal do Fundão; -13 Setembro 1991-sobre alguns acontecimentos, entre eles dava conta da abertura da Caixa em São Vicente.
Já passaram vinte e cinco anos e “tal”, a Caixa não pode fechar, para além da distância que se encontra das agências mais próximas:- Fundão, 23 Km; Alcains, 20 Km; Castelo Branco, 28 Km-, serve alguns milhares de pessoas não só da freguesia como das freguesias limítrofes.
Já lá vão uns anitos, a certa altura disse-me uma pessoa natural e residente na vizinha freguesia de Ninho do Açor.
-Antes da haver banco em São Vicente tinha que apanhar a camioneta da carreira para Castelo Branco e perder pelo menos meio-dia. Agora apanho a camioneta da Partida e, enquanto vai à Partida e vem, vou ao banco, à farmácias, ao supermercado…. Em duas horas faço a minha vida e fica muito mais barato.
Exemplos destes acontecem amiúde.

J.M.S

quinta-feira, 30 de março de 2017

Não fecha?!

Acabo de ler no Diário de Notícias online: as agências que fecham são só 61 e da lista não consta a de São Vicente da Beira!

José Teodoro Prata

Ainda a delegação da CGD

Recebi do Bloco de Esquerda, enviado por Carlos Couto, um comunicado à imprensa sobre o anunciado fecho da agência da Caixa Geral de Depósitos, em São Vicente da Beira. O comunicado vem em PDF, pelo que não consigo aqui reproduzi-lo (nem é imprescindível).
Nele se informa de uma reunião já realizada no dia 27, segunda, com as juntas de freguesia de Tinalhas, Ninho + Sobral, Louriçal, São Vicente e Almaceda; da tomada de posição do deputado municipal Luís Barroso, na próxima Assempleia Municipal; e do questionamento ao Ministério das Finanças, por parte do deputado Pedro Soares, da Assembleia da República.

Dou aqui notícia deste comunicado, porque, em democracia, uma das formas de os cidadãos se fazerem representar é através dos partidos políticos. E também de opiniões pessoais, como uma das várias apresentadas pelo autor anónimo do comentário acerca da notícia do jornal Reconquista, aqui publicada.
Embora sejam duas tomadas de posição completamente diferentes, em vários aspetos, têm em comum (além da defesa da permanência da agência da CGD) a crença de que o problema é político e não de gestão financeira, que através da pressão política se poderá alterar uma decisão económica interna de uma empresa.
Duvido, mas tenho esperança de que estas tomadas de posição, políticas, ajudem a sensibilizar a empresa para considerar que também tem a ganhar com o respeito pelas comunidades que lhe confiam o seu dinheiro. 
Acho muito importante o comentário do Vítor Sousa, na publicação anterior a esta: a importância da unidade entre as freguesias, as ações conjuntas, as interajudas... Se perdermos esta batalha, pelo menos teremos ganho essa consciência, que poucos têm.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 27 de março de 2017

Profissão: serrador

Numa vista de olhos recente pelos registos de batismo dos anos vinte e trinta do século passado constatei que muitos dos pais das crianças batizadas tinham a profissão de serrador. Eram muitos, principalmente no Mourelo, Pereiros, Partida, Violeiro e Vale de Figueira.
Achei interessante esta informação porque, entre outras coisas, nos dá conta da importância da floresta na economia da nossa terra e de como a madeira, talvez a par da pedra e do barro, foi um dos materiais de construção mais importantes de outros tempos.
Nesta ruína que encontrei há dias no Fundão, mas que podia ser por cá, podemos ver bem a quantidade de madeira que era necessária para construir uma casa, e como ela era imprescindível em todas as fases da sua construção: telhado, paredes, chão, portas, janelas, varandas…

   
Não sei se é por serem só materiais da terra e dizerem tanto do trabalho árduo dos nossos antepassados, mas ao olhar para estas ruínas sinto a mesma emoção de quando aprecio a obra de um grande artista.

M. L. Ferreira