quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Hipólito de Jesus

A 15-09-2015, publiquei o registo de casamento do soldado Hipólito de Jesus, que ocorreu a 29 de outubro de1787, o qual deu origem ao apelido de família Hipólito.
Na altura, informei que meses depois a viúva de um Hipolito de Jezus casara de novo, mas não se tratava da mesma pessoa.
Levantei a questão da relação que existiria entre os dois, talvez um padrinho e outro afilhado, o que justificaria aquele Galecho ter um nome tão estranho à família.
Agora encontrei o registo de casamento deste Hipolito de Jezus, o presumível padrinho do outro, o soldado, ambos Galecho.
Casou a 28 de abril de 1756, com Joanna Baptista de Oliveira. Ele era filho de Manoel Rodrigues Galecho e de Izabel Rodrigues, todos de São Vicente da Beira. A noiva era de Castelo de Vide.
Só estou a trabalhar com registos de casamento, pelo que ainda não tenho respostas para tudo. Quanto ao parentesco, deixamos ao Ernesto o trabalho das ligações.


Nota: Tens razão FB, estas descobertas são as pequenas (grandes) alegrias dos investigadores. Aparecem após muitas horas de estudo, quando já se perderam as esperanças. Por vezes vai-se a Lisboa, passam-se horas na Torre do Tombo e nada. Mas de repente, ALELUIA!

José Teodoro Prata

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Uma graça de filho

Toda a vida foi um castigo para o tirar da cama. Cama é como quem diz, que para falar verdade, era uma faixa de palha, numa tarimba, na loja da burra; de verão era ao relento, debaixo da figueira, defronte da casa.
Foi assim também no dia do casamento, e a mãe numa lamúria:
- Alevanta-te, filho, que se faz tarde! Não tarda nada, começam a chegar as pessoas e tu ainda nesse preparo… Valha-te Deus, que nem num dia destes tens tino!
E o ti Jaquim, o pai, a clamar:
- Rais parta tal pringueiro que tanto gosta da cama! Quero ver como é que vai governar a mulher e os filhos, se tiver porte para fazer algum!
Mas ele queria lá saber… Continuou a dormir, de papo para ar, que, ainda pra mais, a véspera tinha sido comprida, nas vendas da Vila.
Já os convidados estavam a chegar quando se pôs a pé. Lavou-se à pressa, vestiu o fato novo e, com o chapéu na cabeça e as botas penduradas ao ombro, pôs-se à frente do cortejo, serra acima. Não eram muitos; só a família mais chegada, e quase tudo só homens e canalha pequena, que as mulheres ficaram em casa a fazer o comer.
Ainda era uma esticada, do Rabaçal ao Casal da Serra, por isso tiveram que alargar o passo. A seguir ainda tinham que fazer quase outro tanto, até à Vila.
Chegaram estafados e na esperança que em casa da noiva lhes dessem qualquer coisa para meter na boca; mas não. Mal deu por eles, veio de lá a mãe da rapariga, tão danada que até parecia que havia de os comer a todos:
- Só agora é que lá vindes, almas do diabo? A cachopa aqui farta de esperar, toda inquietada, que até lhe ia dando uma coisa!
- Atão o que é que quer, o caminho é longe! Chame-a lá, que a gente tem pressa.
- Onde é que ela já vai, a estas horas! Estava farta de esperar e foi andando com o pai e os padrinhos, para adiantar caminho. Inde depressa se os quereis agarrar.
Bem correram, mas já só os alcançaram ao pé de S. Sebastião, que tinham parado para se calçarem e compor a roupa. E ele enfiou também as botas e compôs o chapéu. Quando chegaram à igreja, já o senhor vigário estava à espera, com umas beiças que chegavam à porta da rua. Mas foi um alívio quando ela lhe ouviu o sim, de boca cheia, e pôde finalmente sentir-se uma mulher casada. Era o que mais queria da vida: ter um homem que lhe desse um ranchinho de filhos, como a mãe dela tinha tido.
Depois do casamento, tornaram para o Rabaçal, onde era a boda. A mesa estava posta debaixo da figueira, mas só tinha lugar para os homens; mulheres, só as madrinhas e as avós mais velhas, que as outras tinham que servir o comer. Os cachopitos sentaram-se no chão e nas escadas do balcão da casa, com o prato, de cobulo, ao colo. Foi canja de galinha, arroz no forno e borrego guisado com batatas. Doces, os do costume, à descrição. Tudo feito a meias, menos o vinho, que esse foi o pai da noiva que teve muito gosto em o dar todo. Boa pinga!
Quando se levantaram da mesa, já era quase noite. Bem comidos e bebidos, cada um foi à sua vida. Os noivos também abalaram. Tinham arranjado uma casita mais abaixo, à roda do caminho da Senhora da Orada. Quando os viu partir, o ti Jaquim ainda suspirou para a mulher:
- O que é que vai ser da vida deste desgraçado, se ele não tomar rumo...
E ela:
- E quem é que o há de tirar da cama, de manhã, para tomar conta ao menos duma hortinha e fazer alguma jorna?
Ao outro dia, bem cedo, o ti Jaquim levantou-se, porque era dia de despejar a presa que tinha nas Quintas. A casa do filho ficava-lhe em caminho. Quando chegou perto, nem queria acreditar: o seu Francisco já estava a traçar um molho de mato.
- É para a cama dum bacorinho, que ainda hoje hemos de ir buscar ao Fundão; eu mais minha Maria. Ainda se há de fazer até ao inverno. E também quero uma cabra, que precisamos de leite para o cachopinho que aí vem…  
Não disse nada, o ti Jaquim, mas, enquanto regava o milho, não lhe saía da ideia o que tinha visto e ouvido. Olhou para cima e benzeu-se. Era uma graça ter um filho assim, capaz de fazer pela vida!


M. L. Ferreira

domingo, 17 de janeiro de 2016

O Bodo


Bodo de São Sebastião ou de São Vicente? Paposseco e/ou filhós e tremoços?
Para proteger das tempestades (paposseco), dos gafanhotos ou das pestes (filhós)?
O palestrante, Florentino Beirão, enquadrou o nosso bodo nos bodos desta região, havendo-os do ciclo do Natal, como o nosso, da Páscoa e das colheitas do estio, como em Alcains.
O ponto de partida foi "A Festa das Papas de Alcains", um livro do Florentino, editado há alguns anos.
A palestra foi organizada pelo Movimento Monárquico Português, com a colaboração da nossa Junta.

Havia quase ninguém, por muitas razões, sendo a minha culpa o não ter publicitado aqui o evento. Mas recebi o convite há já algumas semanas e, embora tenha programado a minha presença, esqueci-me de o anunciar aqui. É imperdoável, mas não há nada a fazer, a cabeça não deu para mais.
Valha-nos o próximo domingo, pois a comissão da festa do São Sebastião promete festa rija!

José Teodoro Prata

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Futilidades

Demóstenes

Vou contar uma verídica história
Que se passou na Antiguidade
Numa grande e próspera cidade
Atenas; urbe de grande memória

Demóstenes o filósofo, discursava
Na grande praça central
A multidão passava e não parava no local
O povo distraído não lhe ligava

Atenienses; clamava irritado
Certo dia de muito calor e seca
Um rapaz alugou uma pileca
Para o levar a um determinado lado

Era a hora do meio-dia
Não havia sombra para o ir tapando
Aproveitou a sombra do burro e ia andando
O dono não gostou do que via

Eu aluguei meu burrinho
Não aluguei sua sombra benfazeja
Se a quiser aproveitar como deseja
Tem que me dar mais dinheirinho

Não acredito no que estou a ouvir
Diz o rapaz incrédulo e espantado
Ao alugar o burro sua sombra hei alugado
Nada mais tenho que pagar; disse o jovem a rir

Depois disto contado
Demóstenes desceu do púlpito
Perguntou o povo, de súbito
Que aconteceu ao coitado!

Então o grande orador
Para o céu os olhos voltou
Deuses, vejam como o povo se interessou
Por este conto balofo e sem grande valor

Assim é no tempo actual, de agora
Há interesse por futilidades
E lança-se o que é bom fora


Zé da Villa

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Casal da Fraga



Temos acima o registo de casamento de José Antunes e Maria Gonçalves, no ano de 1754. Ela era filha de Manuel Rodrigues e Luzia Gonçalves, moradores no Casal de Duarte da Fraga. Trabalharia para o Duarte da Fraga (antepassado dos Jerónimo) e por isso vivia no seu casal.
A segunda imagem é um pormenor da primeira, na qual está ampliado o nome do casal: Casal de Duarte da Fraga.
Para entender melhor esta questão, aconselho a reler a publicação Jerónimo. Basta escrever Jerónimo na janela do canto superior esquerdo. É a 3.ª publicação que aparece (salvo erro).

José Teodoro Prata

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Atrás de tempo, tempo vem

Talvez, na Taberna da Viúva

Chegou. 
Era um estranho de vestes brancas e longas! 
Assomou à porta da Taberna e disse à sociedade:
— Que estão vocês aqui a fazer, reunidos?!
— A olhar o calendário do ano de 2016 e a mirar de soslaio o passado – disseram.
— Já viram por aí os anos de 1893, 1924, 1951 ou 1960?!
— Ói, ói, ói, ói! Lá para trás, lá para trás!... Parece que somos os velhos destes tempos.
E o forasteiro, autoritário:
— Vocês já estão mortos, ouviram? E os vossos filhos também! Vocês são um "Coro de Defuntos".
— Ah! Sim?
— E quem é você?
— Sou um anjo do Senhor.
Jerolme tomou a palavra e disse:  
 — Atrás de tempo, tempo vem!
— Palavras de sábio - asseverou Canhoto.
E mais não queriam eles dizer!
Que as cruas palavras do anjo lhes tinham ferido fundo a alma, provocando-lhes enorme inquietação!
Mas Garrancho ergueu a voz para um dos mirones do adjunto, de modo que todos ouvissem:
— Sabes o  que é isto meu rapaz?
— Humm!
— É a senilidade!
Houve  um grande rumor entre os presentes.
E, de facto, como declarara o homem das vestes brancas, viu-se que se assemelhavam a um "Coro dos Tribunais", de voz fria e atitude austera.
Todavia, o anjo no seu esplendor, buscando alguma harmonia:  
- Olhai: os velhos de hoje não são vocês. São os vossos netos!
Ora, porque essa era a pura da verdade, não puderam responder-lhe.
Contra fatos não há jumentos! Pois todos sabiam que estes apenas usam albarda.  
Então, o anjo limpou a parede às suas vestes!
E, tal como surgira, assim dali se sumiu, lesto.
Mas antes, desejou:
— Tenham um bom futuro!


Boris de Viana

domingo, 10 de janeiro de 2016

Das trovoadas

Não encontrei a música sugerida pela Libânia (Santa Barborinha Bendita), mas esta é igualmente bela, vem das nossas raízes e também pede proteção contra as trovoadas.
Pertence ao album Cenários, dos Realejo. É um tema tradicional da Beira Baixa.



José Teodoro Prata