domingo, 15 de maio de 2016

Pintassilgos, melros...

Que sorte, viver na cidade e poder ter galinhas, mesmo que cocós! A mim, mesmo com um quintal grande, dizem-me que não as posso ter por causa dos vizinhos… Mas não me falta cá criação!
Esta primavera, apesar de pouco amiga das cerejas e da horta, não afetou os amores da passarada. Para além de dezenas de ninhos de melros, pardais e outras espécies que por aqui vivem, um casal de pintassilgos fez o ninho mesmo por baixo da varanda. Foi vê-los, numa fona, a fazer o ninho, a chocar os ovos e depois a acartar comida para os quatro comilões, sempre de bico escancarado.


Mas o pior era quando se apercebiam dos gatos por perto e piavam, aflitos, a avisar os filhotes do perigo. Fazia doer o coração, mas eles percebiam e faziam-se de mortos.
Hoje de manhã, quando me levantei, estranhei o silêncio e fui espreitar. Tinham abalado! Bem vi nos últimos dias os pais a esvoaçar diante do ninho, como que a ensiná-los a ganhar asas, mas gostava de ter assistido ao primeiro voo…

M. L. Ferreira

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A mãe e o filho

Os nascimentos são porventura os nossos momentos de maior encantamento. Quando era criança, esses momentos mágicos não eram tanto os nascimentos das minhas irmãs, cheios de silêncios e segredos, mas os dos pintainhos, porquinhos e chibinhos, só os gatos não nos davam a liberdade de partilhar com eles o milagre da vida, eles lá sabiam porquê.
Como desisti de refazer a minha colónia de periquitos, lembrei-me das ninhadas de pintos que anualmente a minha mãe tirava das galinhas. A meio do choco, costumávamos ir de noite à loja, ver a galinha choca que estava num cesto com palha. Colocávamos cada ovo entre o nosso olho e a luz do candeeiro a petróleo, para ver se cada ovo estava escuro e por isso com um novo ser ou se continuava claro e não vingara. Tirávamos estes, para que os outros tivessem mais espaço para receber o calor da mãe galinha. Depois, no nascimento, ajudávamos os pintainhos a nascer, tirando pedacinhos da casca dos ovos que já estavam picados ou até parcialmente abertos. É que às vezes os pintainhos não conseguiam quebrar as cascas tão duras. Ou seria a nossa vontade de participar.
Decidi criar galináceos, pois a gaiola é suficientemente grande para isso. Mas não para galinhas, só cocós. A minha mãe tinha na Tapada um casal e pedi-lho emprestado, só para tirar uma ninhada. Ela disse-me que não eram dela, mas da São.
No dia em que os fui buscar, a minha mãe estava de molho, em casa. Ficámos a conversar.
Esta noite, como sabia que vinhas cá, fartei-me de pensar nos cocós. Quem mos deu foi a tia Maria José. Pedi-lhe para me vender a cocó, mas ela respondeu que “Quem levar a mãe, leva o filho.” E contou-me uma história com este dito.
Um dia, um homem encontrou uma galinha de ouro e a seguir o filho dela, também de ouro. Foi oferecê-los ao rei que morava em Monsanto. Ele ficou tão contente que disse ao homem que lhe pedisse o que ele quisesse, como paga. Então o homem indicou todos os campos que se avistavam do alto do monte e disse ao rei que queira todas aquelas terras e ele deu-lhas. O homem ficou a viver das rendas dos camponeses que trabalhavam nessas terras.
A tia Maria José deu-me o casal de cocós. Tiraram a primeira ninhada na altura em que a burra me partiu o nariz com um coice. Quando soube que ficava internada no hospital, mandei recado à tua irmã Fátima, para ir à Tapada buscar a cocó e os ovos, pois estavam quase para nascer. Depois dei um casal à tia Stela. E vê lá tu: nós acabámos com eles, mas os teus tios não. Por isso o João deu agora um casal à São. Ainda são dos mesmos que a tia Maria José me deu!
A minha casa anda num desassossego. O macho é imperial, de cores avermelhadas, com esporas nas patas que parecem dentes de javali! Canta todo o dia, sobretudo de manhã, e não sai de junto da fêmea, sempre que ela passa pela penosa tarefa de pôr o ovo quase diário. Ela é fraca ave, mas os ovos são enormes, parecem de galinha. Não os tiro do ninho, para lhe despertar o instinto da maternidade.
Muito me engano ou qualquer dia dou-vos notícias, e imagens, do choco e da ninhada de cocós pequeninos.


José Teodoro Prata

terça-feira, 10 de maio de 2016

Lugares aonde se torna - 9

Faltou-nos um projecto desafiante
Já conhecia ambas, a primeira, de ter ouvido falar; a segunda, de uma visita anterior. São sítios onde se vai aos livros, para ver e comprar. Como eu fiz. O Miguel Ferreira levou-me lá, a Hay-on-Wye, num sábado de manhã; a ida a Óbidos, num fim-de-semana, este Inverno, foi prenda da namorada.
Hay-on-Wye (na língua da terra o nome da localidade é muito mais complicado, mas aqui não vale a pena entrar em pormenores) é na fronteira entre o País de Gales e a Inglaterra. Chega-se lá de carro, atravessando campos de carneiros a pastar; também há cavalos. A vontade de empreender a viagem começara numa anterior estada na capital do Reino Unido, que incluiu deambulações pelos alfarrabistas de Charing Cross Road e a frequência de uma feira de profissionais livreiros na cave de um hotel, na Russel Square, ao lado do Museu Britânico. Ali comprei uma biografia de Dom João de Castro, em língua portuguesa, escrita por Jacinto Freire de Andrade, uma bonita edição in octavo da Typographia Rolandiana, 1786. Nunca tinha pago um valor tão alto por um livro, 75 libras, e durante algum tempo duvidei que tivesse feito uma boa compra; percebi que tinha feito bem quando li, bastante mais tarde Rubens Barbosa de Moraes: «nunca se arrependa por não ter comprado…». Enquanto me aliviava daquela verba, o livreiro ficou mais familiar – foi ele quem sugeriu que colocasse Hay na agenda: «a cidade dos livros, não conheces? Vem gente de todo o mundo, bibliófilos e curiosos. Tens de ir lá!»
Estava frio, na ida a Hay-on-Wye, alguma neblina; enquanto por lá andámos, uma cacimba desagradável estabilizou-nos a temperatura corporal em níveis para o baixo. Um tempo de excepção foi o que tivemos – bom tempo, quero dizer, que o mais comum, lá, é chuva a sério e mais frio. Os locais pareceram-me deslocados para tais geografias: nós perfeitamente ambientados, roupinha quente, um impermeável, eles de roupa ligeira, muitos em t-shirt de meia manga. Com aquelas temperaturas, em tais preparos?! Duvidei que cheguem a velhos.  
Esta história de Hay-on-Wye resultou do voluntarismo de Richard Booth, ao declarar a independência de Hay, proclamando-se rei do lugar, nomeando o seu cavalo como primeiro-ministro. Estava-se no “dia das mentiras”, 1 de Abril, em 1977, o ano da fundação do reino dos livros. A ideia de base parece ter sido a criação, a nível local, de uma indústria de turismo centrada no comércio do livro, que Sua Majestade projectava como remédio para a continuada decadência da localidade, atolada na inércia, e sem motores de desenvolvimento económico. O próprio rei Ricardo Coração de Livro (Richard Booth) abriu a sua primeira livraria em 1961, ainda lá está, em Hay. O livro em segunda mão é a alma de Hay-on-Wye, numa filosofia de que todo o livro é valioso e para cada livro existe um cliente. Ao todo, são uns 25 pequenos negócios de venda de livros, a que se juntaram mais recentemente lojas de outros tipos de artigos; uma velha fábrica, uma capela e mesmo o castelo são locais onde se vendem alfarrábios e outros manuseados, vulgaridades e raridades, a bons preços. Há-as especializadas (infantil/juvenil, viagens, comics, crime e mistério, etc.) e as generalistas; e também vendas ao ar livre, como vem nas fotografias do lugar. De todas, preferi a Addyman Annexe e a (não podia ser outra) Richard Booth, que se ufana de ser a maior loja, em todo o mundo, de livros em segunda mão. Trouxe de lá um Humours of History, verdadeiro manual de interpretação humorística de 160 episódios da História de Inglaterra – a colheita possível, que nas primeiras visitas, se me deslumbro, a compra me é sempre penosa, pelo muito que tenho de rejeitar. De todo o modo, um dia de papinho cheio.
A Óbidos era uso ir-se pela ginja, o passeio na muralha, a paisagem envolvente e para lhe percorrer as ruas; os mais afortunados ficavam de um dia para o outro. Há uns anos, conheço eu quem fosse lá ao Festival do Chocolate, passando meio dia a tentar estacionar, para sete minutos de degustação do santo cacau tratado com competência e imaginação – a quê mais podia aspirar um justo?
O homem dos livros em Óbidos foi – é – um senhor chamado José Pinho. Tinha fundado a Ler Devagar, um espaço livreiro que se dá a frequentar em Alcântara, numas antigas instalações industriais, que agora levam o nome de LX Factory. Em Óbidos, o projecto (já completo?) é de 12 livrarias, incluindo duas infantis. Querendo, pode-se conferir a filosofia do conceito, numa entrevista de Pinho, na revista Ler, de Setembro de 2013, e a sua aplicação, in loco, em Óbidos.
Desfrutei, especialmente, de três livrarias de Óbidos: primeira, a Santiago, instalada numa antiga igreja, desactivada, generalista, cheia de luz e de livros, um prodígio de design interior ao serviço da nova função, operada (a livraria de Óbidos) pela editora/livraria Letra Livre (conhecem, ali na calçada do Combro, um pouco abaixo da Liga dos Amigos de São Vicente da Beira, que ainda lá está, na Marechal Saldanha); segunda, a Livraria alfarrabista generalista da Adega, no Espaço Ó, à entrada da localidade, e, terceira, a Livraria do Mercado, aquela onde mais me demorei e enfeirei com critério, Urbano, Régio, Manuel da Fonseca, José Gomes Ferreira, coisas velhas, um de cada. Outra surpresa, da oferta estalajadeira da Vila Literária foi a estadia, pernoita incluída, literalmente no meio de livros – assim é, agora, o antigo convento (concluído, afinal, fora de tempo, em 1830, tempo de secularização, pelo que não chegou a receber religiosas), que virou hotel literário, as paredes forradas de estantes, livros nos espaços de estar, de comer, de dormir. Também vendem livros – foi de lá que a namorada trouxe uma velha edição inglesa de Mulherzinhas, da avó Louisa May Alcott.
Tivessem Booth ou Pinho, num momento de alucinação, agulhado para a N352 e a vila dos livros nacional podia ter nascido ao quilómetro 16 da estrada que liga Castelejo a Escalos de Baixo! Que nós (quero dizer, na nossa modesta apreciação) para fazer uma coisa assim, em São Vicente, nem precisávamos de gente que tal; era querermos! Mas, aí, só se o projecto valesse a pena – tivesse alguma vez havido um projecto desse género, à altura das nossas ambições, e haviam de ver, minha gente, uma verdadeira vila dos livros, a sério e em grande! Com a enorme vantagem, na versão indígena, de não termos de aturar o mau feitio do José Pinho, nem, cruzes!, de ser governados pelo cavalo do galês. Valeu-nos a Providência, como sempre.


Sebastião Baldaque

domingo, 8 de maio de 2016

As casas

As casas, os castelos, os palácios têm alma, guardam histórias, alegrias, tristezas, emoções de quem as habita ou habitou, são sacras as casas.
Verdadeiros alfobres, sejam ricas ou pobres, são beléns, ninhos de amor; carnal, filial, locais de união familiar, recordações que nos trazem à memória a nossa meninice, nossos pais e avós.
Todas as casas são lugares sagrados, refúgio para os seus.
Quando terminam o ciclo de darem guarida aos legítimos proprietários, outros as deviam utilizar:- associações de carácter lúdico ou social.
Preferível será “vende-las ou cede-las” a quem delas cuide e mantenha que deixá-las apodrecer, cair. Porque não as autarquias criarem mecanismos que incentivem à recuperação das casas degradadas através de regulamentação, apoiando no material: “areias, cimentos, tintas”…
As casas têm alma, fazem parte da paisagem urbana ou rural onde se situam, representam uma determinada época mais ou menos longa, se as pedras falassem, quantas confidências, quantas histórias, aventuras, não contariam as casas.
Cada vez que deixamos cair uma, o lugar fica amputado, pode nascer outra mais moderna, funcional, mas a história da anterior caiu com ela. É um ciclo novo que nasce, a alma daquelas pedras sagradas no momento da demolição desapareceu.
Há por aí tanta gente a necessitar de uma habitação condigna, vivem nas ruas, em casebres, sem qualquer conforto, sujeitos às intempéries.
Antes de caírem, reconstruam-se, mantendo a fachada original, depois; aluguem-se por um preço justo. É preferível, que abandoná-las como quem abandona um animal.
As casas têm alma, ao olharmos para elas imediatamente nos vem à memória pessoas da nossa geração que nelas habitaram, nossos pais e avós contavam-nos também nomes de vizinhos que nunca vimos mas ficámos a saber que para além dos Antónios, Josés, Marias… nossos e nossas contemporâneas outras e outros as habitaram.
Nesta existiu um sapateiro; naquela, um latoeiro; mais acima um barbeiro; naquele portão vendia-se vinho a copo, era uma taberna; um pouco mais abaixo nos baixios de um solar havia grandes tonéis onde os taberneiros se abasteciam, era uma adega; na mesma rua, comerciantes mercadejavam toda a espécie de mercadoria…
As casas têm alma enquanto estão de pé, quando caem; adeus.
Não são gente, mas deram e continuam a dar guarida às pessoas, a ser a pátria de cada um de nós; por isso e por cada casa que desaparece do mapa digo:
- Réquiem.

J.M.S.

Fotos de José Teodoro Prata

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Antes do amanhecer

A condição da mulher no Estado Novo
                                                                 
         A Revolução do 25 de Abril foi o acontecimento mais importante da História contemporânea do nosso país, pelas mudanças que proporcionou em quase todos os setores da sociedade, permitindo uma evolução extraordinária nas vidas de todos nós. Mas, se as alterações foram enormes para a maioria dos portugueses, foram ainda mais significativas para as mulheres, descriminadas, quase sempre, pela lei, pelos costumes e preconceitos de toda a ordem.
         A Constituição da República Portuguesa de 1933, embora em vários aspetos mostrasse algum retrocesso relativamente à de 1910 e ignorasse as mudanças que aconteciam já em muitos países, continuava a pretender consagrar a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. No artigo 5º escrevia-se: «A igualdade perante a lei envolve … a negação de qualquer privilégio de nascimento, nobreza, título nobiliárquico, sexo, ou condição social, salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família…». Esta redação era contraditória com o conceito de igualdade que queria fazer crer e, na prática, significava que, aliados aos efeitos da ditadura que negava muitos direitos a todos os cidadãos, as mulheres sofriam ainda as descriminações decorrentes da sua condição feminina, ficando reduzidas, quase exclusivamente, ao papel de donas de casa, mães e companheiras, e vendo diminuídos muitos dos seus direitos de cidadania, de liberdade, de independência e até o direito à sexualidade.
         Além de não poderem votar (esse direito era exclusivo dos homens maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever, dos chefes de família e de algumas mulheres em condições muito bem definidas – menos de 2% do total da população), às mulheres era ainda dificultado, ou mesmo vedado, o exercício de cargos políticos, na magistratura ou na diplomacia.
         É exemplar o caso de Carolina Beatriz Ângelo que, em 1911, aproveitando-se de uma lacuna na legislação que se referia aos chefes de família, mas não especificava o sexo, invocou a sua situação de viúva, e por isso chefe de família, para exigir o direito ao voto. Foi a primeira mulher a votar em Portugal. A partir de então esse direito sofreu alguns avanços e recuos, mas foi autorizado quase sempre em situações muito específicas, dependendo do nível de escolaridade ou estatuto social e económico. Só depois do 25 de Abril, votar se tornou um direito igual para todos os homens e mulheres maiores de idade. Em termos profissionais, salvo raras exceçõe, eram poucas as mulheres que, fora dos trabalhos agrícolas, domésticos ou fabris, tinham uma atividade profissional remunerada. As que eram casadas tinham de ter autorização dos maridos para exercerem determinadas profissões e, a qualquer momento, podiam ver cessar o contrato de trabalho a mando deles. Acrescia ainda o facto de o salário que lhes era pago ser significativamente mais baixo que o dos homens, mesmo que o trabalho fosse igual. Para além de injusto, isto deixava-as numa situação de grande fragilidade e dependência relativamente aos maridos, com as inevitáveis consequências daí decorrentes.
         O papel da mulher no seio da família era muito importante, mas, como diz o ditado «Cá em casa manda ela e nela mando eu», também de submissão ao marido. O homem era o chefe e a ele estavam cometidos muitos dos direitos sociais e políticos da família; competia-lhe também o seu sustento. À mulher estava reservado o governo da casa e a educação dos filhos.
         Não era permitido às mulheres ter conta bancária nem ausentar-se do país sem o consentimento do marido, mesmo que tivessem possibilidades financeiras para o fazer. Não seria o caso de muitas, mas essa situação mantinha-se mesmo que o casal estivesse separado de pessoas e bens.  
         As enfermeiras e hospedeiras de bordo não podiam casar-se e as professoras tinham que pedir autorização superior para o fazer. No caso de o homem não ser considerado pessoa de bem ou não tivesse um ordenado igual ou mais elevado que o da mulher, a autorização era negada.
     O divórcio não era permitido e os filhos nascidos fora do casamento eram considerados ilegítimos, mesmo que assumidos pelo pai biológico. Esta situação era altamente penalizadora para as mulheres, mas também para as crianças que viam reduzidos muitos dos seus direitos, para além da descriminação social a que estavam sujeitas.
A moral sexual vigente até quase ao final do Estado Novo era dominada pela visão altamente castradora da Igreja Católica que defendia a sexualidade apenas dentro do casamento. Desse modo, a finalidade das relações sexuais era a procriação, sendo pouco valorizadas as questões da afetividade e, sobretudo, do prazer.
         Mas a rigidez desta visão, baseada em crenças morais e religiosas muito redutoras, aplicava-se sobretudo às mulheres, já que aos homens eram toleradas as relações antes do casamento e extraconjugais. Em alguns meios esta prática estava de tal modo enraizada e era tão bem aceite que fazia parte do estatuto social de certos homens. No caso das mulheres, se não fossem virgens na altura do casamento, era motivo para a anulação do matrimónio. O homicídio, em caso de adultério, era tolerado socialmente e a pena aplicada pelos tribunais tinha muitas atenuantes; a maior parte das vezes não ia para além do afastamento temporário da residência habitual, continuando a usufruir das regalias de que beneficiava anteriormente.
         O aparecimento e progressiva despenalização legal e social dos métodos contracetivos, assim como as consultas de planeamento familiar e saúde materno infantil contribuíram significativamente para ajudar a vencer os medos, a vergonha e muitas ideias preconceituosas relativamente ao sexo. Permitiram também, a homens e mulheres, viverem a sua sexualidade de forma mais equilibrada, igualitária, e gratificante.
         Passados mais de quarenta anos após o 25 de Abril, refletir sobre estas questões, mesmo que de forma breve, pode fazer lembrar feminismos já ultrapassados, mas a realidade mostra que não é bem assim. Apesar das alterações legislativas e das mudanças em termos dos costumes e mentalidades, as mulheres continuam a ser o elo mais fraco duma sociedade de características ainda marcadamente masculinas: recebem salários mais baixos em muitas profissões; são quase sempre as mais atingidas pelo desemprego; continuam a ser descriminadas pela maternidade; sofrem ainda de chantagem e assédio nos locais de trabalho; têm mais dificuldade em aceder a lugares de chefia, quer nas empresas quer na política (a lei da paridade estabelece que 33% da composição das listas para a Assembleia da República, Autarquias e Parlamento Europeu têm que ser mulheres, mas na prática não serve de muito porque, para além do número ser altamente discriminatório, as mulheres são muitas vezes colocadas em lugares dificilmente elegíveis).
         Os números da violência doméstica e dos homicídios praticados no seio da família dizem-nos que a lógica que regulou a vida das nossas avós e das nossas mães não está tão distante como possamos imaginar. Por isso vale a pena ter memória e a consciência de que os direitos adquiridos, neste e noutros setores, não são conquistas sem retorno.
Ceifeira, de Almada Negreiros, atualmente no CCC de Castelo Branco.

M. L. Ferreira 

terça-feira, 3 de maio de 2016

Esperança

DE ABRIL A MAIO

De abril, arrojado,
Nasceu maio,
Entre a noite e a madrugada,
Cresceu o trabalho, em liberdade,
Num povo até aí escravizado.
Manhã há muito desejada,
Promessa de confiança,
Futuro de dignidade,
Em fúlgida primavera,
Horizonte de esperança.

Tu foste, na minha jovem idade,
Ainda sem nódoa, sincera,  
Num país em sossego, silenciado,   
Quase meu sonho de criança.

Foste só parte, foste ensejo,
Não pudeste ser o todo,
Eu sei,
Pois, mesmo uma boa ideia,
Com uma enorme fé e um colossal desejo,
- Oh! Gente nossa! Oh! Ingenuidade! -
Como eu sempre imaginei,
Não pode ser totalidade.

E ainda que a revolta,
Se diga justa e traga desagravos,
É sempre, em parte, desilusão,
Mesmo se em vez de balas, disparar cravos,
Diretos ao meu coração.
Porque, perfeita, só a utopia, intocável e distante,
Que somente resiste por um motivo,
E apenas por um instante.

Pois, agora, firmemente ligados,
Porque o projeto é indivisível,
O anseio é uno, num momento,
Mas logo, num ápice, afastados,
Cada um por si,
P’lo seu pensamento,
Certeiro, hábil, expedito!
É essa ilusão que, no fim, nos dói,
Em todas estas revoluções!
E o que ontem era herói,
Amanhã será proscrito!


João Gabriel Saraiva

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Alunos em visita de estudo

Visita de estudo à rádio Castelo Branco e ao jornal Reconquista





No dia 20 de abril de 2016, fomos a Castelo Branco visitar a rádio Castelo Branco e o jornal Reconquista.
Quando chegámos a Castelo Branco, lanchámos. De seguida, o nosso grupo formado pelo 1.º e 2.º anos foi visitar a rádio. Uma menina muito simpática mostrou-nos a sala de redação, a discoteca e o estúdio, onde se fazem as emissões em direto e onde estava o locutor que se chamava Ricardo. As paredes do estúdio e da discoteca eram de esponja para o som não se ouvir cá fora.
O Ricardo também era muito simpático, falava ao microfone e punha músicas. Quando entrámos entrevistou-nos, o Vasco e a Sofia falaram em direto e no final, cantamos uma canção.
Enquanto o grupo do 3.º e 4.º anos visitava a rádio, fomos conhecer o mercado e o parque infantil.
A seguir, fomos de autocarro até ao Parque da cidade, onde almoçámos e brincámos.
Depois do almoço, às 2 horas da tarde, fomos visitar o jornal Reconquista. O jornalista José Furtado mostrou-nos máquinas antigas, explicou-nos como se escrevem as notícias (em colunas), como se compõem as notícias e as fotografias no computador. De seguida são impressas numa chapa de metal, que é colocada na rotativa. Nessa máquina é colocado um rolo de papel reciclado de 500 quilos, que vai passando pelas chapas e o jornal vai sendo impresso. Depois são cortados e colocados em pilhas. Outra máquina dobra-os e embala-os em plásticos.
Por fim, são organizados por destinos, colocadas etiquetas com o nome e a morada dos assinantes e enviados pelo correio para todas as partes do mundo. Outros são vendidos em quiosques ou papelarias.
Gostámos muito desta visita de estudo e aprendemos como funciona a rádio e como se fazem os jornais.

EBI de São Vicente da Beira, Turma A - 1.º e 2.º anos (Texto coletivo)