sábado, 5 de novembro de 2016

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Pequenos leitores

O lançamento do livro “Dos Enxidros...”, está a revelar-se um fenómeno que já ultrapassou muito as expectativas. Quando soube que ía ser apresentado na escola, disseram-me que era mais para o 2.º e 3.º ciclos. Reclamei e acrescentaram a apresentação a todos os ciclos.
Apesar de achar as histórias de difícil compreensão para alunos da faixa etária do 1.º e 2.º anos, achei importante assistir, já que considero que os alunos devem contactar com livros o mais cedo possível, para adquirirem o gosto pela leitura e pela escrita. Qual não é o meu espanto, quando constatei que não só absorveram muita informação das histórias lidas, como alguns adquiriram o livro.
Ontem, após a realização da ficha de avaliação intermédia de português, fiquei incrédula quando vi a Zaza, uma aluna de 7 anos, tirar o livro da mochila e começar a ler. Imediatamente pensei “tenho de registar isto”.
Tenho ouvido muitos comentários de pessoas mais velhas dizerem que gostam muito das histórias do livro, porque lhes fazem recordar a sua infância e as histórias contadas à lareira, mas a Zaza não tem raízes na região, a mãe é estoniana, o pai da zona de Carcavelos. Vê-se que é uma família que valoriza a natureza (os pais são aquele casal que retira óleo das estevas), a música e os livros.
Aqui fica o seu testemunho  e um desafio:

Chamo-me Zaza,  moro no Louriçal, tenho 7 anos  e comprei o livro “Dos Enxidros aos Casais: Histórias e gentes de São Vicente da Beira”.
A história de que eu mais gostei foi a do Chalim, porque no fim o Chalim dá uma tânjara e também porque afinal ele era bom homem, mesmo parecendo mau, por não o conhecerem bem.
Gostava muito que um desenho meu saísse no próximo livro.
Zaza.
M.ª da Luz Teodoro

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Recriar a agricultura

O aquecimento global e sobretudo um maior conhecimento estão a mudar a nossa agricultura tradicional.
Contaram-me que o sr.º Chico Ventura cultiva muitas das hortícolas durante todo o ano. Vindo de Angola, onde isso se faz, não ficou preso ao nosso tradicional e tantas vezes desnecessário calendário agrícola e tem legumes frescos todo o ano.
Há anos que me admiro da forma como os meus vizinhos cultivam os quintais: no fim do inverno já têm cebolas novas, plantam-se couves em qualquer época...
A última novidade é a batata-doce. Este ano também experimentei, embora o meu jardim-quintal comece a ser demasiado sombrio.
Em abril, coloquei batatas-doces em frascos, parcialmente mergulhadas em água. Os rebentos foram surgindo e, quando atingiam um palmo de altura, transplantava-os para a terra. Pegaram todos (é preciso manter a terra húmida) e no verão tive a terra do jardim atapetada com um lindo manto verde.
Já fiz parte da colheita. As mais produtivas são as que estavam bem expostas ao sol. Também precisam da terra cavada funda, bem mexida. Entretanto, contaram-me que em certas regiões do país se faz um cômaro e colocam-se plantas dos dois lados. As batatas desenvolvem-se dentro do amontoado de terra fofa.


José Teodoro Prata

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

19 anos!


Fotografias das obras de construção da nossa escola cedidas pelo José Manuel Santos

Parece que foi ontem, e já lá vão quase duas décadas, completadas na passada quinta feira! Grande, novinha em folha, bem apetrechada e cheia de crianças.


Atualmente já não são tantas, mas ainda foi preciso um bolo bem grande para chegar para todas.


Que venham mais dezanove! Foram os nossos votos. E quem sabe? O Adelino Costa diz que ultimamente a irmã tem tido muito trabalho na maternidade do Amato Lusitano: em média dois partos por turno. A manter-se assim, talvez a Escola não acabe tão cedo por cá…


M. L. Ferreira

sábado, 29 de outubro de 2016

A azenha dos meus sonhos

Há muitos anos, a ribeira entre o Violeiro e Almaceda era um meio gerador de economia e subsistência para a população. Ao longo da ribeira havia azenhas, lagares e hortas. No entanto, com a emigração nos anos 60, foi ficando tudo ao abandono. E mais tarde os incêndios destruíram o pouco que ainda se mantinha, agora o que resta são as ruínas e a beleza da paisagem que se renova sempre.

No entanto, uma filha da terra (Violeiro), Ester Grohe, emigrante na Suíça, e o seu marido reconstruíram a azenha da família, sendo esta a última a ter ficado inativa. Viveram muitos percalços para recuperar tradição e o ofício do seu pai moleiro. Mas realizou o seu sonho!

E nos dias 22 e 23 de Outubro, organizou um convívio aberto a toda a população, para mostrar todo o processo, desde a moagem dos cereais até à cozedura do pão. Estiveram presentes os presidentes das juntas de freguesia de Almaceda e São Vicente da Beira e ainda o presidente da Câmara de Castelo Branco.

Era bom que houvesse mais iniciativas destas, para trazer vida às nossas aldeias e preservar costumes e tradições.








 Célia Francisco

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Pedintes

Naquele tempo a vida diária na vila era muito vagarosa, medieval. As três classes da sociedade medieva ainda imperavam. O clero estava acima na pirâmide social, o senhor vigário era uma pessoa respeitada ou temida, à hora da catequese mesmo os mais arredios tinham que deixar as brincadeiras, as rotinas diárias e entrar na igreja para aprender a doutrina.
As catequistas pacientemente ensinavam o pai-nosso, acto de contrição, confissão, credo, salve-rainha… Senhoras Matilde, Resgate, irmãs passaraças, Estela e Maria, menina Maria de Jesus;  as irmãs professoras, Susana e Teresinha…  Mestras do catecismo boas e pacientes. Se por ventura algum catraio não entrasse na igreja à hora marcada, o padre Tomaz ralhava, ameaçava que diria ao pai.
Naquela época ainda se viam homens, mulheres, crianças descalças; as mulheres do Casal da Serra trocavam o calçado atrás da capela de São Sebastião. As que viviam na charneca trocavam as chinelas debaixo da sobreira que ainda hoje existe no Casal, à entrada da quelha que dá acesso à ribeira; quando regressavam às suas casas, os sapatinhos eram guardados e voltavam a calçar umas alpergatas ou faziam o percurso descalças.
Os senhores eram os donos de quase tudo, as melhores terras pertenciam-lhes, as melhores casas eram deles e situavam-se nos locais mais nobres da vila. A praça atesta aquilo que estou explanando: o clero com duas igrejas, a nobreza com seus solares e o mais nobre de todos, ao menos isso, a domus municipalis, símbolo do povo.
Para os senhores trabalhava o povo de sol a sol, a troco de uma escudela… No tempo da azeitona, aos colhedores por cada oito ou nove litros de azeite cabia-lhes um; os rendeiros, para além de pagarem uma determinada quantia em dinheiro, tinham que levar ao senhor uma cesta com os melhores frutos; as uvas, a azeitona eram para os senhores, o desgraçado estrumava, cavava e só arrecadava o que a terra produzia com muito trabalho e suor:- batatas, cebolas, couves, figos, maçãs…
Se isto não eram tempos medievos!
Aos “nobres” não lhes interessava nada que alguém quisesse progredir, um exemplo flagrante foi a construção da serração, a fábrica, que empregava no primeiro quartel do século umas duas dezenas de pessoas. Quanto tempo durou?
Há um dito que diz: "Os espanhóis foram conquistando… quando encontraram pedras deixaram aos portugueses." Quem passar por Salamanca, Ciudad Rodrigo e por aí fora, em redor da estrada a paisagem, apesar de seca, não é pedregosa. Assim que entramos em Vilar Formoso, começam as serranias graníticas, pedregosas, giestais, matorrais…
Na vila acontecia a mesma coisa: Casa Conde, Casa Cunha, Casa Visconde de Tinalhas e por aí fora. O pobre tinha as serras, courelas pobres difíceis de arrotear, caminhos mal andamosos, estreitos e tortuosos, onde só passava o homem e o burro.
Parece que tudo isto se passou há uma porradoria de lustros, mas não.
As coisas só começaram a mudar com a partida dos homens para as Franças… as guerras de África, as saídas para Lisboa… Todos tinham um objectivo comum, a melhoria das condições de vida, melhores ordenados, menos horas de labor diário. Os que ficavam, os senhores não tinham outro remédio senão acompanhar a evolução dos tempos.
A prosa já vai longa e ainda não escrevi nada sobre a ideia que me fez escrevinhar todas estas palavras.
           
Naquela época, estávamos ainda nos anos cinquenta do passado século, de vez em quando os tambores rufavam pelas ruas basálticas da vila, comediantes anunciavam a sua chegada. Na praça montavam o trapézio, à noite comediavam e o povo encantava-se com as momices que se iam desenrolando.
Os porcos eram criados paredes meias com as pessoas, as furdas situavam-se nas lojas rés-do- chão das habitações. Não eram só os porcos que lá viviam; burros, galinhas, vacas… As ruas eram “enfeitadas” com bostas, galinhas esgravatavam à procura do milho rei. Os ganhões transportavam nos seus carros toda a espécie de géneros, os rodados iam desgastando os granitos que se encontravam nos caminhos, deixando sulcos por onde escorriam as águas na estação invernal. A miséria campeava, era rainha em muitos lares, de vez em quando apareciam pessoas que andavam de porta em porta a pedir, eram os pedintes.
Um deles era o Mudo da Torre, pessoa simples, andrajosamente vestido, bonacheirão, risonho, não fazia mal a uma mosca. Quando o víamos, não o largávamos e clamávamos: "Mudo da Torre… Mudo da Torre." Voltava-se para nós com um brilhozinho nos olhos e um sorriso nos lábios, tirava a gorra levantava-a no ar e dizia "É! É! É! É…" e nós voltávamos ao princípio "Mudo da Torre…"
Havia um que era o oposto do Mudo da Torre, chamava-se Diamantino. Timantino um homem alto, bem-posto, fato coçado, andar meio torcido, na cabeça usava uma boina. Parece que era natural da Lardosa. Até certa altura tinha tido uma vida estável, uma desavença e foi parar à cadeia onde passou alguns anos. Quando saiu, transtornado com a vida, passou-se. Andava de terra em terra a pedir, Mudo da Torre aceitava tudo que lhe davam, Timantino só pedia nas casas ricas. Nós, os catraios, um pouco afastados, atanazavamo-lo gritando: "Ó Timantino… Ó Timantino, Tino, Tino…". Com cara de mau, corria atrás de nós com uma faca na mão…
Havia um pedinte discreto, natural de Niza. Uma vez por ano visitava a casa do senhor José Lourenço que lhe dava uma esmola.  José Lourenço era o senhor todo-poderoso da Casa Conde, punha e dispunha, ia às feiras ver os gados, comprava, vendia… Este pedinte, quando saía, dizia-lhe: "Senhor José, se algum dia passar por Nisa, terei muito gosto em o receber na minha casa."
O feitor sorria amareladamente. Certo dia, resolveu ir a Nisa a uma feira e lembrou-se de o procurar. Dirigindo-se a um transeunte, perguntou onde morava o tal pedinte, este só faltou pôr-se em sentido. "Vá por esta rua abaixo, a sua casa fica ao fundo da rua."
Seguiu as instruções do transeunte e quando chegou ao local indicado disse para o criado que tinha ido com ele: "Não pode ser esta a casa, isto é um palácio."~
Em todo o caso, bateu à porta e imediatamente aparece um criado. "Diga ao seu patrão que está aqui o José Lourenço de São Vicente da Beira…" Subiu as escadas do casarão e aparece à sua frente o pedinte. O pobre era mais rico que ele. "Olhe senhor José, foi a pedir que consegui o que tenho."
A partir dessa altura nunca mais voltou à vila.
Naquela época ainda havia usos, costumes e preconceitos muito arreigados entre as populações, as sociedades viviam em espaços rurais muito fechados, o espírito comunitário imperava, assim como a miséria grassava e campeava. Havia uma coisa nos nossos dias cada vez mais rara: alegria. As pessoas mesmo com a barriga vazia mourejando de sol a sol, cantavam, ajudavam-se e à noite, ao toque das ave-marias, viam-se ranchos que regressavam às suas casas rezando ou galhofando.
Hoje não falta nada, mas falta o principal que se chama alegria e amor solidário.
Fiquem-se com mais esta: A ambição cerra o coração; mas o amigo conhece-se na adversidade; em contrapartida, o amigo fingido conhece-se no arruído.


J.M.S

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Na escola de São Vicente


As professoras Rosa Caetano e Idalina Oliveira, respetivamente diretora do agrupamento e professora responsável pela ilustração do livro, 
em equipa com a professora Luísa Nave, ao seu lado na mesa.

No passado dia 20 o livro “Dos Enxidros aos Casais Histórias e Gentes de São Vicente da Beira” foi apresentado na escola de São Vicente.
A sala da biblioteca encontrava-se cheia de alunos; o livro também é deles, os alunos do segundo ciclo do agrupamento José Sanches de Alcains e São Vicente, com a ajuda das professoras, ilustraram muito bem com desenhos algumas das histórias.
À medida que ouviam as histórias que cada autor contava, parecia que queriam mastigar as palavras, tal a atenção, nomeadamente os mais novinhos.
A certa altura, um aluno perguntou se o livro trazia alguma história que falasse do Louriçal do Campo; o José Teodoro respondeu que sim, ficou contente.
Coube-me ler a lenda da Pedra da Sobreposta; finda a leitura, alunos do Louriçal fizeram perguntas.
Tão perto se encontra da vila e quase ninguém a conhece, vale a pena ir ao local, é enorme…
O envolvimento entre autores, professores e alunos foi notório; incentivaram-se os alunos a escreverem histórias que ouçam contar aos avós, pais...
A hora passou depressa, a campainha chamava-os para outra aula, os alunos partiram mais enriquecidos e nós também.
À directora do agrupamento, aos professores e funcionários que tão bem nos acolheram, bem hajam.

José Manuel dos Santos


Entrei neste projeto com muito entusiasmo e cheia de confiança, principalmente porque sabia que tinha a proteger-me, a mim e aos mais inexperientes, alguém com algum traquejo nesta andanças. Era um caminho que tinha tudo para dar certo.
Mas como em qualquer projeto, sabemos de onde partimos e não sabemos onde vamos parar. É assim quase como que um tiro no escuro; neste caso, penso que foi mais como um papagaio que lançámos e voou mais alto do que supúnhamos.
Há dias, à saída do Lar onde tínhamos ido retribuir aos nossos “Crescidos” algumas das histórias que eles nos tinham contado, o José Teodoro desabafava: «Só por este bocadinho já valeu a pena todo o trabalho que tive com o livro». Estou completamente de acordo com ele, e a prová-lo também está o comentário da Luzita Candeias sobre o assunto.
E a experiência repetiu-se nas escolas de Alcains e São Vicente. Foi muito gratificante ver o interesse com que os alunos nos receberam, a atenção com que ouviram as histórias que levámos para eles e a participação curiosa no final, com perguntas sobre o que tinham ouvido.
A nós (escritores, como eles já nos chamavam) faltou-nos tempo para falar de tudo o que tínhamos para dizer e ouvi-los com mais atenção. Mas esperamos que, para além do prazer que tivemos em estar todos juntos, lhes tenhamos deixado uma sementinha e dentro de algum tempo sejam eles a convidarem-nos para a leitura das histórias que eles mesmo tenham escrito.


M.ª Libânia Ferreira


Já se escreveu acima quase tudo o que eu poderia escrever. De entre os autores, nós os três tivemos a sorte de viver os melhores momentos no contacto com o público.
Este projeto ultrapassou todas as minhas melhores expetativas, quer em número de livros vendidos neste primeiros três meses, quer em contactos com o público, seja ele infantil, idoso ou diversificado.
Por outro lado, este êxito junto do público é também a prova de que juntos valemos muito mais cada um em separado. Só o trabalho em equipa permitiu o sucesso das apresentações, tal como já se provara na feitura do livro, quer pela equipa de autores, quer pela colaboração dos alunos do agrupamento de escolas de Alcains e São Vicente.
E por último, a valorização do nosso património. Temos sido muito bem recebidos, porque falamos às pessoas nas coisas que são suas, que fazem parte da sua cultura.
Proximamente, voltaremos a Alcains, para contar as nossas histórias aos alunos do 1.º ciclo. E no dia 5 de novembro, estaremos na Partida.


José Teodoro Prata

Os desenhos dos alunos do 1.º ciclo, após a nossa apresentação.




José Teodoro Prata
Colaboração da professora Maria da Luz Teodoro e da funcionária Célia Francisco