sábado, 20 de junho de 2009

Memória Local

Acabo de chegar de Idanha-a-Nova, onde participei no "Colóquio Internacional - Memória e História Local", promovido pela Universidade de Coimbra e pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova. S. Vicente da Beira foi das povoaçãos mais faladas neste colóquio:
- A água que se bebia era fonte da fraga.
- Ontem, sexta-feira, o Dr. João Marinho Santos, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e natural das Sarzedas, lançou o livro "Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas". A apresentação coube à Dr. Maria Helena Coelho, da mesma faculdade, que fez cerca de uma dezena de referências a S. Vicente da Beira.
- Hoje, depois do almoço, apresentei a minha intervenção, com o título "A Guerra dos Sete Anos em S. Vicente da Beira: a casa da Câmara e a festa do Santo Cristo". Em breve, publicarei aqui um resumo.



O livro do Dr. João Marinho Santos contém as várias notícias, publicadas no século XVIII, das povoações do actual concelho de Castelo Branco.
Sobre S. Vicente da Beira, traz:
I - Memória de 1758 (Já publicada pelo Dr. Pedro Rego, com o apoio da Junta de freguesia de S. Vicente da Beira, onde se realizou o lançamento)
II - Notícia de 1708 (P.e António Carvalho da Costa, Corografia portuguesa, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal...)
III - Notícia de 1711 (Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário mariano e história das imagens milagrosas de Nossa Senhora...)
IV - Notícia de 1768 (Paulo Dias de Niza, Portugal Sacro-profano, ou catalogo alfabetico de todas as freguezias dos reinos de Portugal, e Algarve, das igrejas com seus oragos...)
V - Notícia de 1800 (D. José de Cornide, Estado de Portugal en el año de 1800, Tomo II, in Memorial Histórico Español)

O livro tem a vantagem de reunir numa mesma obra todas estas notícias e memórias.
Custa 15 euros e é editado pela editora Palimage.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Andorinhões


Habituado às andorinhas que nidificam no meu beirado, em Castelo Branco, já esquecera os andorinhões de S. Vicente. Mas eles continuam a reinar nos céus da Praça.
Fui fotografar os antigos paços do concelho e lá andavam, nas suas acrobacias vetigionosas. Mas apanhei-os! Vejam.



O seu nome engana. Nem sequer são da família das andorinhas. Os asiáticos comem os ninhos dos andorinhões a que chamam ninhos de andorinha, uma especialidade culinária.
Não perder o artigo da Wikipédia sobre os andorinhões.



Imagens: a primeira e a última são da Internet.

sábado, 13 de junho de 2009

Parlamento Europeu


Eleições para o Parlamento Europeu, 2009

RESULTADOS:

Total nacional (percentagem):
PSD - 31,69%; PS - 26,57%; BE - 10,73%; CDU - 10,66; CDS - 8,37%

Distrito de Castelo Branco (votos):
PSD - 24 381; PS - 22 570; BE - 7 321; CDU - 5 437; CDS - 5 252

Concelho de C. Branco (votos):
PSD - 5 930; PS - 6 157; BE - 2 488; CDU - 1 254; CDS - 1 517

Freguesia de S. Vicente da Beira (votos):
PSD - 267; PS - 216; BE - 41; CDU - 20; CDS - 36



Sede do Parlamento Europeu, na cidade de Estrasburgo, França.


Estados-membros da União Europeia (a vermelho) e países candidatos à adesão (a amarelo).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Geoparque da Naturtejo


O Geoparque
A UNESCO, em conjunto com a União Internacional de Ciências Geológicas, criou, em 2004, a Rede Mundial de Geoparques.
Um geoparque é, por definição, um território de limites bem definidos, com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio-económico local. Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura.


O Geoparque da Naturtejo
O Geoparque da Naturtejo abrange os concelhos de Idanha-a-Nova, C. Branco, Vila Velha de Ródão, Nisa, Proença-a-Nova e Oleiros.
A Naturtejo é a empresa intermunicipal que gere este geoparque.
Para saber mais, consultar www.naturtejo.com. À direita, clicar em Geossítios.

A Rota da Gardunha


Esta rota é uma das várias rotas do Geoparque da Naturtejo. Mais informação pode ser encontrada na página da Internet acima indicada, clicando, à direita, em Rotas Naturtejo.
Aquando da criação desta rota, em 2006, o Geoparque estudou a hipótese de pelo menos mais uma rota na freguesia de S. Vicente da Beira: pelo vale da Ribeirinha, desde a Vila à Senhora da Orada. Mas ocorrera então o grande incêndio e a rota ficou para mais tarde. Até hoje.



Algumas notas sobre a Rota da Gardunha:
Em vez de partir do Louriçal e subir a serra íngreme, pode começar-se no Casal da Serra e seguir pelo percurso P. R. 1. 1, em direcção à Casa da Floresta. Mas abandonar esse percurso a cerca de 800 metros do Casal e continuar pelo caminho à esquerda. Depois subir e descer novamente para o Casal (clicar no mapa acima, para ver melhor).
Junto à Casa da Floresta, há um parque de merendas. Mesmo ao lado, fica a mata dos cedros, para os esfomeados de natureza.




O Castelo Velho está fora da rota. É um castro da Idade do Bronze, mas com reutilizações posteriores. O caminho do percurso passa a cerca de 150 metros. Tem de se virar à esquerda e ir por entre matos e rochas, em direcção à crista do galo e continuar depois desta, até ao picoto. O limite das freguesias do Louriçal e de S. Vicente passa precisamente neste cume.


O Castelo Velho nunca foi estudado, embora tenha um potencial arqueológico enorme. No final do século XIX, cerca de 1890, alguém o visitou e levou alguns achados arqueológicos, que se encontram no Museu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco. Mas os vários poderes nunca se interessaram pelo Castelo Velho, embora esteja ali, possivelmente, a génese do povoamento desta região.


A não perder: descer o percurso entre o Casal e a Torre. É curto, fácil e lindíssimo. Há poucas semanas, os representantes de uma cidade francesa, com a qual o Louriçal se geminou, fizeram esse percurso, apenas.






quarta-feira, 3 de junho de 2009

Rota da Gardunha


Foi na Primavera de 2007, menos de um ano após o grande incêndio que despiu a serra.
Participei na inauguração da Rota da Gardunha, a mais bonita rota do Geoparque, na opinião de um dos seus criadores, o geólogo Carlos Carvalho.
Ao chegar a casa, pus no papel o que me ia na alma. Aqui vai:



Louriçal do Campo, 9 horas, recinto de festas. Apresentação do Geoparque e da Rota da Gardunha e partida. Contornamos a Igreja, é de São Bento, bi ne di te, como informa a pedra com a cruz de Avis. O templo foi construído por Petrus, em 1559, segundo o Edgar Fernandes, com o latim mais fresco que o meu. Viramos a nordeste, pela Rua do Casalinho e seguimos, entre casas e hortas, com ramos floridos debruçados nos muros, a ver-nos passar.
Enfim, a serra, sempre a subir, a subir. Por entre pinheiros, tojos, carquejas, estevas e giestas. O corpo já aquece, mas a brisa arrefece à medida que trepamos.
Cruzamento para o Casal da Serra, primeiro reforço, de águas, maçãs e laranjas. E uma oportunidade a quem não quer trepar mais e segue pelo percurso alternativo.
Continuamos. Mais acima, o bosque dos cedros, onde apetece descansar e merendar. O caminho dá agora uma grande volta e na curva espera-nos a recompensa, um bonsai de carqueja, com tronco ressequico e retorcido, no alto da rocha. Seguimos até ao miradouro da Baldaia, com o anfiteatro de Castelo Novo ao fundo e em volta rochas e mais rochas, paisagem lunar que o último incêndio realçou. Mas é terrena, pois tojos teimosos exibem as suas flores e o chão já se cobre de florinhas cor-de-rosa.
A nossa direcção é o Castelo Velho e por isso viramos à esquerda. Já se avista a rocha em crista de galo, daqueles que antes se criavam para haver ovos galados para o choco. Mas ainda não vamos para lá. Continuamos em direcção ao cume da Gardunha e pasmamos com uma paisagem cravada de penedos. A alguns, o tempo cortou talhadas, a outros, esquartejou a superfície, em quadrícula arredondada. São as meninas dos olhos do geólogo Carlos Carvalho.
Cortamos a mato, para o Castelo Velho. A crista de galo, já mais perto, dá boas fotos aos caminheiros, que também levam consigo a rocha com cara em cabeça de râguebi.
Deixamos o percurso e viramos à esquerda, para o castro lusitano, em homenagem aos nossos antepassados de há três mil anos. É difícil encontrar um acesso até ao picoto. Atravessamos panos de muralha derramados pela encosta, que ninguém já reconstrói. No alto, o deslumbramento, o prémio para quem ousou. Apetece ficar, sentado na laje, a beber toda a paisagem que se estende a nossos pés. À esquerda, o cume de Monsanto espreita pela toalha de nevoeiro, em frente, dois altinhos, Cardosa e S. Martinho, ajudam-nos a localizar Castelo Branco. Em baixo, azul, no verde acastanhado, a água da Marateca.
Mas não podemos ficar. Voltamos ao caminho e descemos a serra quase a correr. Por baixo dos nossos pés, o sussurro de água. Nos anos 40 e 50, tiveram que esventrar a serra, para saciar Castelo Branco, que crescia. Até ao Casal da Serra, é como se deslizássemos dentro de uma concha, até abaixo, onde camponeses desbravaram a terra e fizeram um casal. Há uma vaca, que nos fixa com olhar calmo, mas afinal é um boi. À frente, um cavalo, na sua elegância vaidosa. Depois um sardão, daqueles grandes e verdes, que mal se vê, porque desapareceu no buraco, escaldado de maus tratos.
Enfim, a casa dos telhados em bico, que Salles Viana projectou, a pensar nos Alpes Suíços. Segundo reabastecimento. As sandes de carne assada acabaram-se, mas há um queijo fresco, grande como a roda de um carro. Atrasados, não temos tempo para ele e por isso ensarroamo-nos de fruta, prontos a saltar do colo em que a Gardunha envolve o Casal, desfiladeiro abaixo, com a Ocreza, até ao campo.
A natureza excedeu-se, aqui. Eu andava quase morto na cidade e o paraíso aqui tão perto! A Ocreza atira-se à maluca, serra abaixo, despenha-se, espraia-se em lagoas, torna aos precipícios e nós, embalados com a sua música, mas mais prudentes, vamos descendo, às vezes em três, outras em quatro, com correntes de ferro a ajudar nos sítios mais difíceis.
Entramos num moinho pelo telhado e saímos pela porta. O moleiro já cá não vem, nem há taleigas pelos cantos. Atravessamos a Ocreza para a outra margem. Cabrinhas brancas, em verde de fetos, casas e mais moinhos abandonados. Um burro espoja-se na terra e o dono diz-me que este casal é o dos Pinhões.
Mais casas e moinhos, é a Torre. Durante séculos, este vale da Torre, junto com o vale de Castelo Novo, com mais de cinquenta moinhos, mataram a fome de pão à comarca de Castelo Branco, segundo documentos antigos.
Voltamos a atravessar a Ocreza, agora em pontão de madeira, e ficamos por ali, entre o verde e a água irrequieta e pura, sem vontade de continuar. Mas são quase catorze horas. Seguimos por veredas, entre hortas. Agora chega, o corpo já pede trato e descanso. Depois da capela de S. Sebastião, rua fora e final. O almoço reconforta-nos.
E regressamos, mas ainda vamos espreitar o casarão que foi o colégio jesuíta de S. Fiel. Os portões estão fechados e, da sabedoria que aqui bebeu o nosso nobel Egas Moniz, nem sinais.
Pela estrada, que foi o caminho dos moleiros em direcção à estação de comboios da Lardosa, sinto-me como o Malhadinhas do Aquilino Ribeiro, que já com dois carros de anos em cima ainda gostava de saborear a vida.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Albano Jerónimo


A revista VISÃO, n.º 846, de 21 a 27 de Maio, traz reportagem sobre o nosso Albano Jerónimo. Não o lavrador, já falecido, mas o neto, jovem actor já consagrado.
O autor da notícia escreve, a certa altura:
«Não haverá nada de genético na sua decisão de ser actor. Nem os pais nem os irmãos – dois, mais velhos – estiveram alguma vez ligados à arte de representar.»
Engano, Albano. É mesmo dos genes! Lê a história que se segue e compreenderás.
E explica lá ao jornalista que ser actor e ser tímido são condições indissociáveis. Nós, os tímidos, exprimimos no faz de conta do teatro, do cinema, da escrita, dos blogues, o que os outros extravasam em cada momento do dia a dia.



Aqui vai a história:

O meu pai António Teodoro, de cognome, o Bravo, era primo direito da tua mãe, Jerónimo da parte da minha avó Maria Rosário Jerónimo, irmã do teu avô Albano Jerónimo.
Nasceu em Castelo Branco e dividiu a infância entre a cidade e S. Vicente da Beira, dependia do trabalho do avô Francisco, um hortelão de mão cheia, com quem aprendi a perfeição.
A escola encontrou-a só aos 14 anos, ainda em construção. Era moço de serventia dos pedreiros que erguiam o liceu de Castelo Branco e, a levar-lhes água e os ponteiros afiados, entre graçolas e ralhetes, vivia contente como um alho!
Mas a patroa da Feiteira deu em bater na tia Celeste, ainda menina, e o avô Francisco não esteve pelos ajustes. Porrada nos filhos, só ele! Mandou vir o carro de bois, enrolou os pertences numa manta e ala para a Vila.
O meu pai tornou-se pastor do tio Joaquim Teodoro que trazia arrendado o Rabaçal, a propriedade mais cimeira do vale da Senhora da Orada, situada ainda mais acima da capela, no caminho para o Fundão.
Em Maio, na calma da serra, tirava a roupa e enfeitava-se de flores dos matos. E vestido de ramos floridos descia as encostas da Gardunha, à hora de meter as cabras na corte.
Anos depois, antes de ir para a tropa, trabalhou nas Minas da Panasqueira. Com algum dinheiro que ganhou, comprou uma concertina. Aprendeu a tocar e animou festas e tascas. Comigo, teve dois desgostos: não era futebolista, nem sabia tocar concertina!
Mas isso foi mais tarde. Antes, casou e encheu-se de filhos. À hora da ceia, o único momento em que estava connosco, sentava os quatro mais pequenos ao colo, dois em cada perna, e vá de inventar histórias para nos encantar, como quando foi atacado por um rebanho de sardões à chegada ao Ribeiro de Dom Bento e valeu-lhe pegar numa varinha e tocá-los com jeito e manha, até os meter todos no palheiro e fechar a porta! Ou as lengalengas tradicionais, como aquela, nossa preferida, mas poucas vezes contada, da garrana dar um berro, que toda a gente atormentou, só uma velhinha ficou, atolhada num chocalho de merda até ao pescoço…
Nesse tempo, vivíamos na Tapada da Dona Úrsula. Na véspera dos Reis, o meu pai garantiu-nos que nesse ano é que os Reis iam mesmo passar pela Tapada. Claro que acreditámos! Ao entardecer, ele desapareceu, talvez tivesse ido a armar um ferro.
E no escuro da quelha, surgiu um vulto encoberto numa manta de trapos, dos lados da casa da minha madrinha. Nós e os meus primos, o João, o Tó e a Santita, ficámos perplexos, num encantamento temeroso. A medo avançámos para o Rei Mago e pedimos um presente. Deu algumas coisas aos da frente e desapareceu na esquina da nossa casa. Um grito da minha irmã Fátima! Duas das prendas eram metades de um livro da carrinha da Gulbenkian.
Houve ralhos e choros, mas o senhor Gulbenkian foi compreensivo.
Foi a única vez em que me apareceram os Reis Magos!
Depois, chegou a minha vez. Desde os 14 anos que faço ou oriento teatro. Coisas simples. Primeiro como actor, no Seminário do Tortosendo, depois como encenador, em S. Vicente e nas escolas por onde fui passando. No ano passado, a minha escola levou à cena, no Cine Teatro Avenida de Castelo Branco, uma peça da minha autoria.
Uma sobrinha minha, a Rita Costa, seguiu também as artes do faz de conta. Hoje, a minha filha Filipa sentirá pela primeira vez a magia de estar em palco, na festa da sua escola.
E isto será apenas a ponta do icebergue dos Jerónimos. Quantos mais não terão muitas outras histórias para contar?


Fiquei feliz por proibires a entrada a quem não andar espantado de existir. Há tantos anos que não encontrava alguém que vibrasse com as “Aventuras de João Sem Medo”! Um abraço. Merecido, por seres Jerónimo e por conheceres este livro do José Gomes Ferreira.


Fotos da revista VISÃO.

domingo, 24 de maio de 2009

Romaria à Senhora da Orada


Houve preces, a banda deu concerto, comeram-se as merendas, reencontraram-se amigos,o rancho encantou e bebeu-se água na fonte. A das nuvens ameaçou, mas não passou disso.
Trouxemos algumas fotografias.