José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sábado, 30 de julho de 2016
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Partida - estrutura social
1 – Vestígios de organização comunitária
a) – Generalidades:
Ao observador
menos atento poderia parecer não existirem na população da Partida quaisquer
manifestações de comunitarismo, dado não existirem terras comuns, antes se
encontrando a propriedade muitíssimo dividida e ser a exploração feita
individualmente.
Porém, e como não
podia deixar de ser num meio onde cada um depende do seu vizinho para a
realização de múltiplas tarefas e suprimento das mais diversas dificuldades,
são muitas e variadas as formas como as pessoas aqui se agregam para, em
conjunto, realizarem o que a cada um seria impossível.
– Fornos públicos
Existem os da
Barroca, da Barreira, do Cabeço, do Esteval e o do Cordágua.
Fornos do Esteval e da Barreira, na atualidade.
O único
verdadeiramente de todo o povo é o da Barroca, que é também o mais antigo. Os
restantes já foram construídos pelos moradores das proximidades do local onde
se situam, aos quais se restringe geralmente a sua utilização. Não há, no
entanto, qualquer registo de propriedade e a posse é meramente costumeira. A utilização por um não-dono
é sempre por empréstimo, nunca dando lugar ao pagamento de qualquer aluguer.
Não existe a
profissão de forneiro ou forneira. Cada mulher que deseja utilizar um forno
começa por colocar nele um sinal (pequena
porção de lenha colocada na boca do forno). Se já houver nele outro sinal tem
que procurar saber a quem pertence, para saber o dia e a hora que convém à
primeira, e se a quantidade de pão de ambas couber numa fornada e a hora de uma
convém à outra, combinarem cozer juntas.
Acontece quase
sempre juntarem-se duas, três ou mais vizinhas para uma cozedura, por cada uma
cozer pequenas quantidades de pão e ser assim necessária menos quantidade de
lenha de cada uma para aquecer o forno.
Por meio dos
sinais colocados no forno é estabelecido um calendário cujo cumprimento decorre
quase sempre na melhor ordem. Se uma vez por outra surgem discussões entre as
vizinhas interessadas, são resolvidos sem recurso a qualquer autoridade
pública, embora não deixem de ser aproveitadas para cada uma apontar à outra os
defeitos que supõe ter.
Terminada a
cozedura, cada uma leva o seu pão, não havendo qualquer poia ou maquia, pois como
já se disse não há forneiro ou forneira, sendo os fornos utilizados
directamente pelos interessados.
b) – Moinhos, lagares e azenhas
Aqui verifica-se uma propriedade colectiva, mas não
pública. Cada lagar, moinho ou azenha tem os seus donos e os vizinhos que deles
se quiserem servir terão que pagar uma poia
ou maquia.
I –
Lagares:
Existem três
lagares para fabrico de azeite. O Cimeiro, o Novo ou do Portabeira e o
Fundeiro, cada um com duas varas.
Parte do engenho da
moagem da azeitona do lagar Cimeiro.
A roda foi reutilizada como escultura no
Parque Natural da Ribeirinha
O quinhão base é
o oitavo, o que não quer dizer que o número de condóminos seja rigorosamente de
oito. Pode um só dono possuir mais do que um oitavo, ou um mesmo oitavo
pertencer a mais que um dono. Isto acontece sobretudo por motivo de herança,
pois, não raro, vários herdeiros mostram interesse em ficar com uma fracção de
um quinhão a herdar. É que todos os lagares têm também azenhas para moagem de
cereais que funcionam fora do período de fabrico de azeite e enquanto as
ribeiras levam água suficiente para o efeito.
Quanto ao fabrico
do azeite, cada ano há um avinhador a quem compete fornecer a primeira módura e contratar os 2 lagareiros, bem como o fornecedor de lenha. Os lagareiros tiram
uma poia proporcional ao azeite
produzido por cada módura (são dez partes para o dono e uma para o lagar) e
vão-na despejando no pote da poia.
Desta é tirado um litro por módura
para o ganhão que transporta a azeitona para o lagar. Do azeite produzido por
cada módura é ainda tirado um litro para o fornecedor de lenha.
Finda a campanha
e depois de retirado o azeite para os ganhões e fornecedor da lenha, e entregue
aos lagareiros a quantidade de azeite devida pelo serviço, é o azeite vendido
pelo avinhador que convoca os outros
condóminos para um determinado dia e hora, para fazerem as contas.
As contas são
normalmente feitas em casa do avinhador
que apresenta as despesas feitas durante o ano, assim como os respectivos
rendimentos. É um acto revestido de certa solenidade, findo o qual os sócios
bebem uma boa quantidade de vinho. No mesmo acto é a chave entregue ao
avinhador do ano seguinte.
II
– Azenhas:
Quanto ás azenhas
que funcionam em cada um dos lagares, o seu uso limita-se quase exclusivamente
aos respectivos proprietários, moendo cada um o seu próprio cereal e portanto
sem que lhes seja retirada qualquer maquia. A utilização por não-donos é
excepcional e só pode ser feita na vez de um dos donos. É que se azenha fosse
utilizada com fins lucrativos seria considerada uma indústria e teria que pagar
a respectiva contribuição.
Não se verifica
normalmente uma rígida limitação do tempo de utilização da azenha por cada
dono.
Embora,
logicamente, o tempo de utilização deva ser proporcional ao quinhão, é dado a
cada um o tempo suficiente para moer todo o cereal de que necessita. O critério
da proporcionalidade apenas é utilizado em ocasiões de escassez de água ou
quando vários donos querem moer ao mesmo tempo.
III – Moinhos:
Moinho
(azenha?) das Fragoeiras, na Ribeirinha.
A capacidade
destes moinhos é bastante menor que a das azenhas dos lagares e, por esse
motivo, há maior necessidade de limitar o tempo de utilização do moinho por
cada um dos donos, de acordo com a quota parte de cada um. Cada um é moleiro do
seu próprio cereal
c)– Extinção de incêndios
À semelhança do
que se verifica na maior parte das aldeias portuguesas, também aqui não há
qualquer organização de bombeiros voluntários.
Ora, dado que os incêndios
ocorrem quer em construções quer em pinhais e que o recurso aos bombeiros
voluntários da sede de concelho não é viável, a não ser para incêndios de
grandes proporções, o que felizmente se não tem verificado, era natural que se
criasse o costume de serem os próprios moradores da povoação a extingui-los,
ajudando-se mutuamente. Este costume verifica-se de facto e constitui uma das
mais belas manifestações de solidariedade a que é dado assistir.
Logo que se
espalha a notícia de um incêndio, a pessoa que primeiro consegue chegar ao sino
da capela de S. Sebastião começa a tocá-lo a rebate. Imediatamente toda a
população válida se dirige para o local do incêndio, assinalado pelo fumo ou
indicado pelo tocador do sino, levando logo cheias de água as vasilhas que
tiver à mão. (…) Enquanto as mulheres e as crianças transportam a água, os
homens procuram lançá-la sobre as chamas, muitas vezes com risco da própria
vida. Cada um faz o máximo que pode e o trabalho só termina depois de o fogo
estar completamente extinto.
É necessário
salientar aqui que muito raramente alguém deixa de acorrer a ajudar a extinguir
um incêndio por motivo de inimizade com o dono do prédio sinistrado. Ao
contrário, é frequente as pessoas ajudarem nestas circunstâncias até mesmo os
próprios inimigos. Impõe não só a consciência de cada um, mas também o senso
comum da população que reprova a falta de colaboração, independentemente das
relações existentes entre os interessados.
e) – Rebanhos de cabras pertencentes a vários donos ou meeiros
(…) a propriedade
encontra-se excessivamente fragmentada, sendo poucos os proprietários que
trabalham exclusivamente nos seus próprios terrenos e não havendo nenhum que
possa dar-se ao luxo de não trabalhar no campo.
A exploração
pecuária torna-se difícil e daí o agrupamento de pequenos rebanhos de dois ou
mais donos, chamados meeiros, num
único rebanho à guarda de um só pastor, o que permite não só uma melhor
utilização das pastagens, como também o mais fácil pagamento da soldada do pastor.
O pastor é
alimentado às semanas pelos meeiros e
é-lhe dada a possibilidade de escolher uma cabra merendeira. O leite desta é utilizado pelo pastor como complemento
da merenda levada de casa. A soldada anual consta de uma soma em dinheiro – de
300 a 1000 escudos - e de algumas peças de vestuário e calçado. Um fato e meio,
três camisas, três pares de ceroulas, umas botas e um gavão. Por vezes recebe também uma cria (chiba), escolhida pelo
pastor entre as de cada ano.
f)– Arranjo dos caminhos pelo Carnaval
Este é um costume
que se vai perdendo (….).
Para o arranjo a que nos estamos referindo era mais uma
vez o sino da povoação que chamava as pessoas ao trabalho. No dia de Carnaval,
logo pela manhã, o cabo de ordens ou alguém por si mandado, dava umas badaladas
no sino, após o que vários homens isolados ou em pequenos grupos e munidos das
necessárias ferramentas, se dirigiam para os locais onde os caminhos
necessitavam de reparação, procurando cada um reparar aqueles que mais
directamente lhes interessavam. Este trabalho prolongava-se apenas pela parte
da manhã porque a tarde, essa era reservada para os folguedos tradicionais.
g) – Arranjo de «encanamentos» e
«presas» colectivas no princípio do Verão:
Existem várias
regadias interessando simultaneamente
maior ou menos número de agricultores, por vezes dezenas.
Dado o
vigoroso acidentado do terreno e o acentuado declive do leito dos ribeiros,
todos os anos os encanamentos ou
captações de água para as levadas são danificados pelas cheias, pelo que têm
que ser reparados ou construídos.
Interessando
estes «encanamentos» a todas as pessoas que beneficiam da respectiva rega,
juntam-se as mesmas em dia previamente combinado e vão meter a água à regadia.
h) – Águas públicas (aduas):
(…)
Se a água
abunda e nem todos os agricultores da regadia estão interessados em regar, a
conjugação de interesses não é difícil de conseguir e basta que se vá seguindo
na rega a mesma ordem por que os prédios se encontram na regadia.
Quando a
água escasseia o procedimento é diferente, conforme a regadia tem adua ou não.
Se tem adua, o que quer dizer que há um número
de horas de rega para cada prédio, constante da própria matriz, a água é aduada e começa no cimo da regadia a
utilização dela por cada proprietário durante as horas que lhe competem.
Cada
interessado vai-se informando onde é que anda
a água, procurando tomar conta dela no momento exacto em que passa a
pertencer-lhe. Chegada ao fim da regadia, volta novamente ao princípio.
Nas
regadias que não têm adua, o princípio
orientador é o da água passar sucessivamente de um proprietário para outro até
dar a volta a toda a regadia. Como não há um número de horas estabelecido, cada
um procura regar o seu terreno de uma só vez. Assim, frequentemente os direitos
de uns são atropelados e os prejudicados são normalmente os situados no fundo da regadia. É fácil aos que estão
mais acima abrir os tornadouros e
regar, ainda que não seja a sua vez.
As desavenças são
aqui mais frequentes, mas não têm passado de simples toca de palavras. Com
efeito não há notícia de qualquer questão de regas ter levado a ofensas
corporais de qualquer natureza.
i)– Contribuição espontânea para obras de interesse
colectivo:
Pode afirmar-se
que, dentro das suas possibilidades, os habitantes da Partida se mostram muito
generosos sempre que são chamados a colaborar com dinheiro, trabalho ou outros
meios para obras de interesse colectivo. A atestar este espírito de cooperação
estão a igreja, a casa paroquias, a capela de S. Sebastião, a capela de S.
Tiago, os troços de calçada das ruas e alguns pontões de madeira para passagem
de peões, tudo construído ou reconstruído sem ajuda oficial.
Porém, também
aqui tem sentido o ditado que diz que «Santos da casa não fazem milagres».
Embora nunca desmentida, a aludida generosidade mostrou-se no entanto mais
claramente quando o Reverendo Padre Manuel de Oliveira Campos, natural do Souto
da Casa, aqui exerceu o seu ministério há alguns anos. Homem dinâmico e
conhecedor da natureza humana, facilmente obtinha a adesão dos habitantes aos
empreendimentos a que metia ombros. Naturalmente generosa e superiormente
orientada, contribuiu a população da Partida naquele período com mais de duas
centenas de contos e muitos dias de trabalho para várias obras de interesse
geral.
Retirado
de «PARTIDA - COMUNIDADE DA ZONA DO
PINHAL NA BEIRA BAIXA», de Luís Leitão -
Composto e impresso nas Oficinas Gráficas do Jornal do Fundão, 1991.
Nota.
As fotografias são atuais e foram acrescentadas ao texto original.
Para
além dos fornos referidos, os autores falam ainda de outro que existe num local
ermo, chamado Forno dos Mouros, que poderá provar o período da fundação da
Partida.
Falaram-me também de um lagar que existe na ribeira entre
a Partida e o Vale de Figueira onde se podem ver ainda vestígios de uma mão
moura. Parece é que está comido pelas silvas…
M.
L. Ferreira
terça-feira, 26 de julho de 2016
Lugares aonde se torna - 11
Já sabemos de
notícia anterior que o inquisidor Marcos Teixeira passou em São Vicente, em
missão, acompanhado de notário do Santo Ofício, para receber denúncias, em
Junho de 1579. Foi bem fornecido de nomes de “prevaricadores”, para acção
posterior da Inquisição, como se verá.
Essa visitação, como outras, recolhe
dois tipos de testemunhos: as já referidas denúncias e reconciliações. Estas,
basicamente, são confissões de heresia, feitas pelos próprios, tecnicamente de
forma voluntária. São em menor número que as denúncias: em São Vicente, 80
denúncias, mas somente 2 reconciliações, um cenário em tudo idêntico ao das
outras localidades.
Aos reconciliados promete-se que, ao
denunciar-se, tenham a graça do perdão da heresia, deixando entrever que não
serão objecto de perseguição ou outra acção repressiva visando designadamente
cristãos-novos praticantes da religião judaica.
Os dois registos respeitantes a São
Vicente datam de 9 e 10 de Junho de 1579 (Livro
de reconciliações da visitação do Santo Ofício nas Ilhas dos Açores, e
Continente, fls. 140 e 141, abrangendo as seguintes localidades: Angra, e Vila da Praia, Ponta
Delgada e Vila Franca, nos Açores, Portalegre, Arronches, Castelo de Vide,
Nisa, Abrantes, Sarzedas, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Monsanto, Penamacor,
São Vicente da Beira, Alpedrinha, Belmonte e Guarda).
Catarina Fernandes, cristã nova, cuja
idade se desconhece, foi a primeira que se apresentou; casada com um
cristão-novo da vila, sapateiro, que se acusa de ter dito certas palavras
quando as vizinhas lhe disseram que varresse a rua porque ia passar nela o Santíssimo
Sacramento; sabe que algumas vizinhas iriam denunciá-la por isso. No dia
seguinte, foi Isabel Rodrigues, cristã velha, de 45 anos, viúva de um lavrador
e criador de gado, da vila; denuncia-se de palavras que disse, que cada um
podia ter a religião que tivesse, pois Deus era tão misericordioso que a todos
perdoava. Nenhuma das duas sabia assinar. Saíram dali após serem admoestadas, com
as melhores palavras dum “oficial” da «nossa sagrada fé católica», como consta
do livro da visitação.
José Miguel Teodoro
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domingo, 24 de julho de 2016
Os pecados capitais
São sete os pecados capitais
Pela gula vou começar
O glutão as iguarias sabe amar
Só pensa em comer e nada mais
O avaro é um doente
Só pensa em amealhar
Nunca tem nada para dar
Está sempre a pensar
A maneira de mais juntar
O avaro é mesquinho
É um pobre coitadinho
Só está bem a aferrolhar
Seu deus é o dinheiro
Qual rei midas ganancioso
É arrogante e vaidoso
O ouro está primeiro
O homem continua a amealhar
Idolatrando os bens materiais
Esquece que há muito mais
Para além do dinheiro para dar
Vale mais uma palavra só
Que toda a riqueza acumulada
AMAR, deve ser a mais cobiçada
Coitado do avaro, mete dó
A luxúria é o prazer carnal
Para ela só há sexualidade
Só pensa no sexual
É lasciva e imoral
A ira é odienta, rancorosa
Irosa só pensa na vingança
Nunca está bem, nunca se cansa
É uma alma descontrolada e furiosa
A inveja é invejosa
Sua própria bênção ignora
Cobiça o que não lhe pertence, até chora
Sempre foi e há-de ser cobiçosa
O invejoso cobiça o que não lhe pertence
Olha para o próximo maliciosamente
Só ele é que pode ser gente
Resumindo, é um doente
Batem à porta pausadamente
Alguém à porta bateu
Quem bate dessa maneira! Sou eu
O preguiçoso, o negligente
Afasta-te da minha casa imediatamente
Não quero vadios na minha morada
Aqui nunca terás entrada
A preguiça é desleixada
Lenta e negligente
Trabalho não é com essa gente
É uma doença lixada
Eis a soberba, a vaidade
Arrogante e orgulhosa
É uma senhora famosa
Não passa de uma nulidade
Ai de quem tem melancolia
São chatos, irritantes e violentos
Há-os para ai aos centos
Andam sempre com azia
Zé da Villa
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quinta-feira, 21 de julho de 2016
Lugares aonde se torna - 10
A
mulher do próximo
Juro que não a cobicei! – mandamento é sagrado, do primeiro ao décimo, e nessa matéria, para mim, é comer e calar. Mas não é questão de cobiça o que segue, é outra coisa.
Contextualizando: Verão, calor, praia, sardinhas, cerveja, petisco, menos roupa, corpinho escaldado, havaianas, bolas de berlim, ainda mais calor, a água está um caldo, cuidado com as bolas, respeitar o tempo da digestão, não tirar os olhos dos miúdos, ver as espanholas, cuidado com o peixe-aranha, banhistas cristãos e de outros credos exibindo criativas ou vulgares tatuagens, as filas na ida e na volta.
Nós, o grupo do costume, é bola a abrir a jornada, café a seguir e vista de olhos nos jornais, eis que chegam as respectivas, aluguer dos chapéus e cadeiras, t-shirt fora, uma voltinha para estudar a evolução do fio dental e de caminho verificar se o Adão de peito depilado continua a ganhar terreno ao tradicional Adão peludo, por ali nos vamos entretendo, e tal, com comparências periódicas no poiso – os chapéus 8 a 10 de sempre e, este ano, também o 11, porque este Verão conseguimos trazer o pássaro esquivo, alguns de vocês conhecem, o Zé Miguel, foi uma surpresa e é uma grande alegria, como se percebe, e trazia a “legítima”, que nenhum de nós conhecia.
Mas, acontece que há um senão na coisa. De somenos, é verdade, mas desagradável; é do foro pessoal, mas no grupo de amigos, em que temos um padrão de convivência, uma medida para a felicidade, dói-nos quando alguém não se comporta como nós, na prática negando-se a ser feliz como nós. Explico: 30 graus celsius, a praia, a areia, o mergulho à vista, a temperatura a subir, 35 graus e mais, só um militar ou um recluso seriam capazes de conservar a t-shirt no corpo. E o nosso amigo pássaro esquivo também. Foi assim no primeiro dia, brincámos, exigimos, sugerimos jogar ao adivinha-e-despe, oferecemos dinheiro, e nada; seis dias passados, tudo igual nessa área. É com ele, está claro, mas enerva, todos dentro de água e ele não, todos de tronco nu a jogar às cartas, a lavrar a areia à procura de bivalves para o petisco ou de serviço ao churrasco, mas ele não. A coisa deixa-nos tristes, uma tristeza de cada um para si, mas generalizada ao elemento varonil, feminil e pueril – uma tristeza pegada!
Esta manhã decidimos avançar para a traição. A uma certa hora da manhã, o Zé Miguel e a respectiva costumam abandonar a posição 11 do nosso poiso colectivo, despedindo-se “à francesa”, vão dar uma volta, fazer o footing diário, por receita médica, no mínimo 5 quilómetros. Voltam duas horas depois, com o ar mais normal deste mundo. Hoje, dois de nós seguimos o casal, a uma distância prudente, eles na praia, os pezinhos dentro de água, nós no paredão que acompanha a linha das praias. Foi como suspeitávamos, ainda que inexplicável: umas centenas de metros andados, vimos o Zé Miguel tirar a bendita t-shirt, seguindo caminho de tronco nu, com evidente prazer. Ah, filho do meu pai, a coisa não podia ficar assim, havia que exigir explicações, que a amizade também é verdade e lealdade. Entrámos na areia, continuámos a caminhar paralelamente a eles, mais perto, cada vez mais perto do casal fugitivo. Foi quando se operou em nós o milagre da revelação.
Do lado direito da linha de cintura do Zé Miguel desenvolvia-se para cima, tatuada, uma moldura com palmo e picos de lado, tendo dentro, transposto, o rosto de uma mulher, tão bem tatuado que, a dois metros de distância, parecia a três dimensões, de altíssima qualidade gráfica. Seguiam de mão dada e nós a acompanhá-los, procedendo instintivamente às verificações ditadas pelas circunstâncias, da correspondência da mulher de carne e osso com a reprodução que o nosso amigo tinha à cintura – pelos vistos há homens capazes de se amarrar assim a um compromisso para toda a vida, gravando-o na própria carne para sempre. Senti crescer em mim a admiração pelo Zé Miguel.
Dois minutos depois, parámos e deixámo-los ir. Sem sabermos o que fazer quando voltássemos. Não fizemos nada, não comentámos com ninguém. A mulher que segurava a mão esquerda do nosso amigo não é a mesma da tatuagem.
Sebastião Baldaque
quarta-feira, 20 de julho de 2016
A 2.ª praga
Depois do frio e da chuva fora de tempo, que inviabilizou a produção de fruta em muitas espécies de árvores, temos agora os javalis esfomeados (e brutamontes).
Chegam a uma árvore com algum fruto ou mesmo nenhum (só a associação do cheiro a banquetes anteriores) e partem tudo!
Sei que os seus antepassados já cá andavam há milhões de anos, quando os nossos chegaram, mas...
Não há por aí um caçador a quem apeteça um pernil asado?
Vai ser um verão duro, para eles e para nós!
José Teodoro Prata
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Cultura, anos 80
Andava
eu procurando uns apontamentos “que ainda não achei”, quando encontro este
folheto do Teatro Experimental de São Vicente. Divulga mais uma peça teatral,
desta feita um auto do grande poeta e dramaturgo Gil Vicente: “Auto da Barca do
Inferno”. O encenador foi o professor Francisco Barroso “já nessa altura tinha
queda para a arte de Talma” O teatro Morcego de Coimbra editou um livro da sua
autoria, “Assim Fala Zaratustra”, uma adaptação teatral do meu cunhado Francisco.
A tiragem foi de 500 exemplares, teve o apoio do ministério da cultura e da
câmara municipal de Coimbra… adiante.
A
partir de certa altura, o grupo fez uma parceria com o Sport Clube de São
Vicente da Beira. Embora ligados, continuavam autónomos. Rapazes e raparigas
talentosos entregavam-se com denodo à arte de representar: Cila; António
Candeias; Edite, “faleceu tragicamente num acidente de viação”; António
Esteves; Manuel Leitão; Tó Luís; Luzita…
O
barracão paroquial era o nosso centro cultural. Filmes, teatros, exposições,
colóquios, casamentos, baptizados… nele se instalou “através do padre Branco”
uma pequena indústria:- confecção de malhas; mais de vinte jovens raparigas
trabalhavam nesse espaço, fazendo camisolas…
Tem
história o barracão. A missão para que foi criado há muito terminou, fica a
memória de tantos eventos que lá ocorreram.
Aproveitando
a embalagem, no mesmo momento encontrei este folheto da primeira exposição
organizada pelo GEGA e que o “barracão” acolheu. Desde trajes antigos, uma
grafonola, pedras com inscrições, cantareira… alguns objectos eram propriedade do
grupo, outros foram cedidos temporariamente por particulares. O entusiasmo, a
alegria, a entrega e o empenho, que muitos de nós demos ao trabalho de por de
pé este acontecimento, contagiou as pessoas. A RTP veio fazer uma reportagem
sobre o evento, foi um sucesso!
J.M.S
Belos tempos, boas recordações e grande encenador o Francisco Barroso! Pegou num grupo de jovens com diferentes ocupações e capacidades académicas e conseguiu pô-los a representar o "Auto da Barca do Inferno" e "Frei Luís de Sousa, fazer os adereços e os cenários, (o Tó Luís era um artisa). Fizemos um grande sucesso e chegámos a representar em aldeias próximas.
Aqui ficam fotos dos mesmos:
Barca do Anjo e do Diabo.(Eu, a Cila, o Paulo Inês (parvo), Tó "patrão",
Edite, Manuel, Maria José Lobo e Zé Carvalho.
Numa saída ao Casal da Serra.
Maria da Luz Teodoro
sábado, 16 de julho de 2016
No pinhal
No início de
1964, fui contratado para ir trabalhar para um pinhal, na zona de Casegas, de
um senhor chamado Bernardo, que tinha doze filhos. Na hora da refeição, até
parecia uma boda, tal era o tamanho da mesa. Um dia jantei lá e a comida era
batata cozida com farinheira. Todos comiam a pele da farinheira, mas eu não fui
capaz. Para não dar parte de fraco, meti a pele no bolso.
No fim do jantar, o patrão falou
comigo para ir à Barroca Grande carregar uma carrada de pranchas. Fiquei todo
feliz e contente por ir andar de camioneta. Carregámos o material e depois o
filho do patrão levou-me até uma localidade chamada Cebolas, que hoje é São
Jorge da Beira. Aqui chegados, disse-me que regressasse a pé, porque ele tinha
de ir para o Fundão e não ficava em caminho.
Como não conhecia nada para aqueles
lados, fiquei muito preocupado e com muito receio de fazer aquele percurso de
noite. Ele disse-me para seguir em frente, passar o cruzamento da Panasqueira e
depois o cruzamento da Pampilhosa em direção a Cambões. E depois sempre em
frente, até era perto. Ao todo, mais ou menos catorze quilómetros.
Meti-me ao caminho, sempre a rezar
para que Deus me ajudasse a fazer aquele percurso. Com muita dificuldade,
consegui chegar ao destino, por volta das duas horas da manhã. Como não havia
luz, entrei de gatas no palheiro, para me deitar no meio da palha, porque
mantas ou outra coisa para me cobrir era o que não havia. Reparei que estava lá
outro homem a dormir, um carvoeiro que andava a fazer carvão de torga nas
florestas do patrão. Como estava muito frio, o homem foi simpático e disse-me
para eu me encostar a ele, para me aquecer. Mas como tive medo, logo que vi que
ele estava a dormir, pus-me a caminho do pinhal, porque era lá que tinha a
merenda e a fome já era muita.
Alguns dias depois, vi uma rapariga
que andava guardar as cabras e me disse que tinha uma telefonia em casa, o que
para mim era um milagre. Pedi-lhe se podia ir lá ouvir um bocadinho a telefonia.
Ela disse que sim. Mas havia um problema. No caminho para casa dela, havia um
ribeiro que levava muita água e não o conseguia atravessar. Pensei então em
fazer um pontão e lá consegui ir ouvir a telefonia a casa da rapariga e passar
lá o serão. Já noite dentro, tive medo de regressar e cair no ribeiro. A rapariga disse-me que podia ir dormir no
palheiro dos bois e deu-me uma manta para me agasalhar. Só que o frio e a fome
eram tantos que resolvi voltar, mas, quando cheguei ao ribeiro, o pontão tinha
abalado numa enxurrada. Lá tive de voltar novamente para o meio da palha dos
bois. Logo de manhã, tive de contornar o ribeiro, andando cerca de quatro ou
cinco quilómetros. Voltas e voltas que dei, até chegar onde tinha as minhas
coisas.
Passados uns dias, recebi um
telegrama a comunicar-me para ir trabalhar para Lisboa. Fiquei muito feliz e
fui logo falar com o patrão, para me pagar a semana de trabalho que tinha
feito, o que me permitiu receber 240$00, ou seja, 40$00 por dia.
Quando o patrão me pagou, estava lá
um cigano que andava a vender machos ou mulas. Viu-me receber aquele dinheiro
todo e disse-me que tinha de lhe pagar uma ou duas cervejas e que à noite íamos
dormir juntos. Fiquei muito preocupado, porque o cigano até me chegou a ameaçar
que pagava a bem ou a mal. Percebi logo que ele queria era roubar-me o dinheiro
e então acabei por me esconder numa garagem. Fiquei lá sentado, sem cama e sem
sono. Como não tinha relógio, ouvia o sino da igreja todas as horas, desde as
dez da noite às três da madrugada. Como estava bastante frio, resolvi por-me a
caminho, com os meus pertences que eram uma manta, o machado, a panela de
ferro, batatas, feijão, garfo, azeite, sal e outras coisas. Ao fim de duas
horas de caminhada, cheguei à Barroca Grande, onde apanhei a camioneta até ao
cruzamento do Castelejo e depois a que vinha do Fundão para Castelo
Branco. Cheguei a São Vicente da Beira
às sete da manhã, são e salvo e com o meu dinheirinho.
Segui então para Lisboa, no dia
seguinte, que era véspera de Carnaval.
Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.
José Teodoro Prata
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quarta-feira, 13 de julho de 2016
Somos todos primos
Para
quem é de fora, é difícil acreditar quando dizemos que, cá na terra, somos
todos primos. Para nós, que crescemos com esta verdade, nem nos passa pela
cabeça pô-la em causa.
Esta
é a minha contribuição para provar que assim é. Recuei apenas à minha trisavó
materna, Maria Castanheira, e, pelo número dos descendentes do seu segundo
casamento até à minha geração, é fácil concluir que estaremos quase todos
unidos por laços familiares mais ou menos próximos.
Maria Castanheira nasceu no Souto da Casa no ano de 1844, filha de António
Castanheira e Rosaria Maria da Costa Domingues.
Casou
em 1865, com Lucas Martins, exposto
na roda de Alpedrinha e dado a criar no Souto da Casa. Ela tinha vinte e um
anos e ele quarenta e quatro.
Deviam
ser boa gente e uma mulher e homem d’ armas, que pegaram na trouxa e vieram
morar para S. Vicente. Viveram uns anos na Rua Nicolau Veloso, ela doméstica e
ele criado, e aí lhes nasceram as duas primeiras filhas:
1 - Mariana (1865) que herdou o nome da madrinha, Mariana Robles
Monteiro (é provável que o pai fosse criado daquela família). Casou com Joaquim António Craveiro e tiveram oito
(?) filhos:
Francisco (1885)
Auta
(?) (1887)
Álvaro (1888)
Patrocínia (1890)
António (1893)
Joaquim (1900)
Maria de Lurdes (1904)
Maria da Conceição
(1905)
2 - Maria (1887) que terá morrido ainda criança.
Maria Castanheira e Lucas Martins mudaram-se para a Rua da Cruz e foi
aí que lhes nasceu o terceiro filho:
3 - António (1872/1951) que casou no Souto da Casa com Josefa dos
Santos.
(Deste ramo da família de Maria
Castanheira descenderão os irmãos Craveiro, pelo que ficam aqui com muito
trabalho para fazer...)
Maria Castanheira enviuvou de Lucas Martins em 1880 e casou com José Carvalho em Maio de 1881. José Carvalho,
natural de Freixedo, Santa Comba Dão, tinha cinquenta anos e era também viúvo.
Tiveram uma filha:
Maria da Conceição Carvalho, mais conhecida por Maria Carvalha (1882/1954). Foi uma
das minhas bisavós e é a pessoa da família de quem tenho memórias mais remotas.
Lembro-me dela na casa da rua Velha e a caminho da Oles, de saias rabudas e
sempre de cesta enfiada no braço. Diz que era para apanhar as bostas com que
estrumava a horta.
Casou
aos dezassete anos com José Fernandes Trindade, de vinte e cinco, solteiro,
cultivador, e tiveram cinco filhos:
Maria
Carvalha (?) com alguns dos filhos e netos
1 - Maria do Rosário Carvalho (1901);
diz que era parecida com a mãe no corpo, mas sobretudo no génio lutador e no
amor pela sua Oles, onde via o dia a nascer e donde regressava já noite escura.
No verão tinha a casa sempre cheia de netos, filhos e noras que todos os anos
vinham passar férias, mas sobretudo ajudar nas hortas e na vindima.
Casou
com José Fernandes Candeias, também
ele um bom homem, trabalhador e amigo da família. Contam que um verão, só de
imaginar que os filhos podiam estar a comer pão seco, passou o tempo todo a
olhar para uma chouriça que a mulher lhe tinha posto na merenda que levou para
o quinto, sem coragem de a comer. Quando voltou trazia-a inteira e comeram-na
todos à ceia, uma talhadinha para cada um.
Maria
do Rosário com o marido, no dia em que festejaram as Bodas de Ouro
Maria do Rosário e José
Candeias tiveram sete filhos:
João
de Deus - Casou em primeiras núpcias
com Deolinda Torres, com quem teve dois filhos: Teresa Candeias e Luís
Candeias. Depois de enviuvar casou com Edite Pinto. Deste casamento não teve
filhos.
Joaquim
Fernandes Candeias - Casou com Ilda
Saraiva, com quem teve três filhas: Luísa Maria Saraiva Fernandes Candeias
(Alves) ; Teresa Maria Saraiva Candeias
(Rodrigues) e Anabela Saraiva Candeias
(de Assunção);
Guilhermino
Candeias - Casou com Maria de Jesus Candeias e tiveram tês filhos: João Manuel dos Santos Candeias, José
Carlos dos Santos Candeias e Ana Paula dos Santos Candeias;
Luís
Candeias - Casou com Maria da Conceição e tiveram duas filhas; Filomena Candeias e Maria José
Candeias;
António
Maria Candeias - Casou com Maria Augusta Vide e tiveram dois filhos: Nuno Filipe Vide Candeias e Maria Margarida Vide Candeias;
Francisco
Candeias - Casou com Lúcia Moura e tiveram dois filhos: Paulo José Moura
Candeias e Carla Alexandra Moura Candeias;
Maria
José Candeias - Casou com José Afonso Reis e tiveram dois filhos. Ana
Cristina Candeias Reis e Bruno Candeias Reis.
2 - Guilhermino Fernandes (1902) Um
lindo homem, com um coração que não lhe cabia no peito. Quem queria, era vê-lo
de charrua na mão ou à frente do carro de bois, sempre dum lado para o outro. Mas
aos domingos, depois da missa, passava as tardes na sociedade com os amigos, e
quando chegava a casa, noite alta e a cantar, tinha que ser algum dos filhos ou
dos netos a descalçar-lhe as botas. A tocar os pratos, na banda, ninguém o
igualava, sobretudo na alegria e gosto que tinha pela música.
Casou
com Maria José dos Santos, uma santa
mulher. Ouvi muitas vezes dizer que no tempo da guerra ajudou a dar de comer a
muita gente; e no verão não era só o homem e os filhos que espreitavam a ver se
já lá vinha ao fundo do caminho com o cesto da merenda à cabeça: havia sempre
uma malga de sopa ou um prato de batatas ou feijões a mais para alguém que andasse
ali por perto com fome. Para além dos muitos filhos que teve, ajudou também a criar
alguns dos mais de trinta netos.
Guilhermino
com o filho Joaquim
Guilhermino e Maria José
tiveram nove filhos:
Joaquim
Fernandes - Casou com Maria Angelina e tiveram cinco filhos: Maria da Luz
Fernandes, Maria José Fernandes, João Fernandes, José Manuel Fernandes e Maria
do Carmo Fernandes;
Maria
da Luz dos Santos - Casou com Luís Moreira e tiveram quatro filhos: Maria
Libânia S. Moreira, António S. Moreira, José Manuel S. Moreira e Maria José da Luz
Moreira;
Albertino
Fernandes - Casou com Maria Ascensão Moreira e tiveram cinco filhos: José
M. Fernandes, Luís M. Fernandes, Guilhermino M. Fernandes, Maria da Nazaré M.
Fernandes Maria de Fátima M. Fernandes
Maria
Esmeralda Fernandes - Casou com Luís pinheiro e tiveram quatro filhos:
Maria Manuela F. Pinheiro, José F. Pinheiro, Maria de Fátima F. Pinheiro e
Cristina F. Pinheiro;
Maria
Libânia Fernandes (morreu ainda jovem);
Maria
Patrocínia Fernandes - Casou com António Tomé; não tiveram filhos;
Maria José Fernandes - Casou com João Jacinto e tiveram cinco filhos: António F. Jacinto, José F. Jacinto, Maria de Fátima F. Jacinto, Maia Teresa F. Jacinto e Manuel F. Jacinto;
Maria
Leonor Fernandes - Casou com João Caio e tiveram seis filhos: João F. Caio,
José F. Caio, Maria de Fátima F. Caio, Luís F. Caio e Cristina F. Caio;
Maria
Adelaide Fernandes - Casou com Jaime Silva e tiveram três filhos: Isabel F.
Silva, Pedro F. Silva e Cláudia F. Silva.
3 - Benevides Fernandes (1904) Um excelente homem, trabalhador e amigo de ajudar quem
precisava. Dado à paródia, tinha sempre uma graça para tudo.
Em
novo, ainda solteiro, trabalhou na agricultura e depois na construção dos
caminhos de ferro. Casou com Maria Sabina Ramalho e abalaram para
Lisboa onde a fama de artista como jardineiro o levou a trabalhar na casa de
muita gente influente da sociedade lisboeta daquele tempo.
Benevides
Fernandes
Benevides e Sabina tiveram
um filho:
João
Fernandes - Casou com Maria da Conceição Azevedo e tiveram
um filho: João Fernandes.
4 - Maria de Jesus - Mulher
meiga, generosa e sempre de sorriso nos lábio, mas também uma mulher de armas. Contam
que numa noite de invernia lhe bateu à porta um homem a pedir alguma coisa de
comer. Depois de lhe ter aconchegado a barriga e aquecido a roupa ensopada,
reparou-lhe na falta de dedos numa das mãos; viu logo que era o Pistotira, que
por aqueles tempos era o terror das gentes da Vila e arredores. Mandou um dos filhos,
ainda criança, a chamar o pai à taberna do Arbotes, e foi assim que prenderam o
malfeitor. Casou com José Maria Prata,
primo direito, e tiveram seis filhos:
António Miguel Rodrigues - Casou com Maria Manuela Duarte e tiveram um filho-João
Manuel Duarte Rodrigues;
João Maria Rodrigues - Casou com Maria
Leonor Duarte e tiveram dois filhos: Maria Fernanda Duarte Rodrigues e
João Francisco Duarte Rodrigues;
Maria Fernanda Rodrigues - Casou com
Arnaldo Coutinho e tiveram duas filhas: Ana Cristina Rodrigues Coutinho e Carla
Alexandra Rodrigues Coutinho;
José Carvalho Prata – Não casou nem
teve filhos
Maria de Jesus Prata - Casou com
Miguel Hipólito Jerónimo e tiveram duas filhas: Carla Prata Jerónimo e Ana
Margarida Prata Jerónimo;
Miguel
Carvalho Prata – Casou com Maria José
Lourenço Prata e tiveram um filho: Luís Miguel Lourenço Prata.
5 - Maria dos Anjos (1907) -
uma das pessoas mais generosas que conheci. Abalou cedo a servir para Lisboa, e
por lá casou e ficou a viver. Na casa dela, pequenina, a porta estava sempre
aberta e havia sempre lugar para mais uma cama ou um prato à mesa para quem
precisasse. Raros foram os irmãos ou sobrinhos que não lhe tivessem batido à
porta. E contava histórias como ninguém. Foi com ela que aprendi a Formiga
Rabiga e a Cabra Cabrez.
Casou
com Francisco Martins que com ela
partilhava a generosidade e o amor à terra que adotou como sua. Nos últimos
anos de vida já pouco cá vinham, mas, sempre que encontravam portador, mandavam
visitas para toda a gente. Tiveram duas filhas:
Liliana
Martins - Casou com José Rodrigues e
tiveram dois filhos: José Rodrigues e
António Rodrigues;
Maria
José Martins - Casou com António Pinheiro e tiveram dois filhos: Joana
Martins Pinheiro e Gonçalo Marins Pinheiro.
Maria da Conceição Carvalho enviuvou de José Fernandes e casou com Joaquim
Marques, do Louriçal do Campo, em 1914. Tiveram três filhos:
Leonor
de Jesus - Casou com José Ramalho e tiveram um filho: João Ramalho – Teve dois filhos.
Ana
Marques - Casou com José (?) e tiveram um filho:
Vítor Carvalho que não teve filhos.
João
Marques – Lembro-me de o ver a subir a rua Nicolau Veloso, ao fim do dia,
com as ferramentas de resineiro às costas. Lembro-me também que vivia em frente
do Convento, numa casa que era o meu limite no avanço pelo Cimo de Vila. À
janela estava sempre uma das filhas, com olhar estranho, os cabelos que nem
palha, a balançar-se. O medo que aquilo me metia, a mim e às outras cachopitas
da minha idade. Mesmo assim subíamos muitas vezes a rua e púnhamo-nos cá de
baixo a fazer-lhe caretas. Ela ficava ainda mais agitada e arrepelava os
cabelos, e nós fugíamos pela rua abaixo.
Ao
longo da vida lembrei-me muitas
vezes desta e doutras cenas, motivadas pelo medo, pela ignorância e por alguma
crueldade própria da infância. Não lhes serviu de nada, mas muitas vezes dei
comigo a abraçar os meus alunos e a pensar no mal que fiz a esta minha prima,
ao Chalim, à Dita e a outras pessoas da nossa terra que nasceram diferentes,
num tempo em que a deficiência era ainda entendida como qualquer coisa de
demoníaco, da qual tínhamos que nos proteger.
João
Marques casou com Maria do Rosário
e tiveram quatro filhos: Maria do
Rosário Marques, Luís Marques, Isabel Marques e Maria da Luz Marques.
João Marques enviuvou e voltou a casar com Maria da Luz. Tiveram quatro filhos: Maria João Santos, Paula
Marques, Maria dos Anjos Marques e Nuno Marques.
Maria Castanheira enviuvou de José Carvalho e casou com António Prata
em 1884 (Este ramo da família de Maria Castanheira está referido em Prata 2 – Os avós mais novos). Contam
que no dia do casamento, durante a troca de alianças, ela se terá atrapalhado por
não saber em que dedo havia de a enfiar. Depois, para se desculpar, terá dito:
«Também não é todos os dias que uma pessoa se casa…», ela que se tinha casado
três vezes! O mais provável é nenhum dos noivos anteriores lhe ter oferecido
uma aliança e ter usado uma emprestada no dia do casamento, como era vulgar
naquele tempo.
Para
além dos muitos filhos que teve, Maria Castanheira foi parteira e ajudou a
nascer muitas crianças. Foi também ela que acareou e criou alguns dos meninos
expostos na roda da Vila, ao cimo da rua da Cruz, onde morava.
Mulher
de vida cheia e coração grande, terá sido dela que muitos dos filhos e netos
herdaram as qualidades de que tantos de nós, seus descendentes, pudemos
beneficiar.
Nota: Esta pesquisa está em aberto,
aguardando a contribuição de quem possa ajudar a corrigir alguma informação que
não esteja correta, ou a acrescentar dados e documentos a que
complementem.
M.
L. Ferreira
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