quarta-feira, 18 de julho de 2018

Voltando aos oragos


Há tempos, a propósito de um artigo do J.M.S., alguém sugeriu que se referissem os oragos das nossas anexas. Pareceu-me haver alguma ironia ou lamento por se falar pouco dessas terras, mas acho que ninguém, melhor que os que lá vivem, para responderem ao desafio e darem conta do que se passa por lá.
Fiquei à espera que alguém desse notícias, mas como ninguém avançou, aqui vai o que consegui saber, provavelmente com algumas imprecisões, mas é de boa vontade. Começando pela que nos fica mais perto:

Pereiros – O orago dos Pereiros é São Lourenço e a festa realiza-se no dia 10 de agosto ou no fim de semana anterior ou no seguinte (este ano parece que é no fim de semana de 11 e 12), por isso, por vezes, coincide com as Festas de Verão da Vila ou com as da Partida.
«Pelo São Lourenço vai à vinha e enche o lenço…» diz-se por lá;

Igreja dos Pereiros com um painel de São Lourenço na fachada principal

Partida – Para além do Santiago, que partilham com o Violeiro, o Vale de Figueiras e o Mourelo, cuja festa mais rija é no 1.º de Maio, a Partida festejam também o dia de São Sebastião, em janeiro, e a Nossa Senhora da Assunção e Santo António, no dia 15 de agosto;
Santiago, em dia de festa, na capela do Cabecinho

Vale de Figueiras – A festa no Vale de Figueiras é em honra do Anjo da Guarda. Antigamente faziam-na em outubro, mas há muito que passou para agosto, no fim de semana a seguir à festa da Partida (parece que atualmente já há alguma dificuldade em encontrar mordomos…);   

Casal da Serra – O orago do Casal da Serra é o Santo António e a festa realiza-se no dia 16 de agosto ou no fim de semana seguinte. Tem sido uma das maiores, mas já dizem que talvez não se realize este ano. Pode ser que não seja verdade…;

Violeiro  A festa no Violeiro é em honra da Nossa Senhora do Bom Sucesso e realiza-se no 2.º fim de semana de agosto. Na procissão sai também a Nossa Senhora de Fátima e os restantes santos da capela. Em janeiro comemoram o dia de S. Vicente;

Mourelo – O padroeiro do Mourelo é Santo António e a festa realizava-se no 1.º fim de semana de agosto, mas há alguns anos que deixou de se fazer…

Imagem de Santo António na fachada da capela do Mourelo. Interessantíssima, pela simplicidade

Tripeiro – A festa no Tripeiro é em honra da Nossa Senhora dos Remédios e, por enquanto, continua a realizar-se no 2.º fim de semana de setembro;

Altar da capela do Tripeiro. A cicerone, orgulhosa da sua capelinha, foi a D. Emília

Quando as gentes do Vale de Figueira passavam por lá, cumprimentavam assim a Senhora:

Ó Senhora dos Remédios,
O vosso altar tem fitas,
O nosso Anjo da Guarda
Manda-vos muitas visitas.

Paradanta – A padroeira da Paradanta é a Senhora dos Aflitos, mas, por falta de festeiros, a festa deixou de se realizar há alguns anos… 

Fachada da capela da Paradanta com um painel da Senhora dos Aflitos

Ainda não percebi bem se o Casal da Fraga também conta como anexa, mas, pelo sim pelo não, não quero deixar para trás a nossa Santa Bárbara, cuja festa se realiza no 3.º fim de semana depois da Páscoa.

Imagem de Santa Bárbara na capela do Casal da Fraga

As festas nos vários lugares coincidiam sempre com o dia do calendário do respetivo santo, mas nas últimas décadas, por causa dos emigrantes, a tendência foi passarem quase todas para o mês de agosto, embora em alguns lugares se diga missa e faça uma procissão no dia que é dado. 
Interessante é vermos que em bastantes terras da freguesia se festeja o Santo António, e, mesmo que não seja o orago, lá está também no altar e sai nas procissões. É de facto um dos principais Santos da Igreja, venerado em todo o mundo católico. Sinto-me honrada quando o encontro fora de Portugal, mas é um pouco frustrante quando, nas legendas, vejo chamarem-lhe sempre Santo António de Pádua.
Há tempos, numa passagem por Madrid, encontrei esta imagem. Acho-a extraordinária, pela alegria que transmite, mas sobretudo porque, finalmente, se desvenda o mistério do sexo dos anjos…

Imagem de Santo António na igreja de São Jerónimo, em Madrid

Nota: Estas informações foram-me dadas por várias pessoas, mas pode haver algumas imprecisões e dados a acrescentar, porque não pude ir a todo o lado e algumas fotografias já foram tiradas há algum tempo.

M. L. Ferreira 

10 comentários:

Anônimo disse...

Como as coisas são; afinal a santa protectora da Paradanta é outra
Julguei que era o São Filipe
A ridente povoação do Violeiro, guarda na sua capelinha uma linda imagem de São Vicente; sempre me convenci que era o protector dos seus moradores; afinal enganei-me
E o nosso Santo António!
Grande taumaturgo, pregou em muitos lugares, um deles foi a catedral de Bourges, França. Quando entramos pela porta do lado direito vê-se logo a sua imagem. É um Santo António alegre, segura na sua mão esquerda um livro aberto, de pé em cima do livro o Menino sorridente, na peanha a legenda:-Santo António de LISBOA
Lisbonense-Paduano, Santo António pertence a toda a gente
Como dizia o grande padre António Vieira:- Um palmo de terra para nascer, o mundo todo para morrer
Nós os Portugueses somos assim
J.M.S

Anônimo disse...

A santa mais linda é Sta. Bárbara. Bem aventurado o pessoal do Casal da Fraga.Mesmo com pouca gente as capelas estão um brinco, o que mostra o seu acareio e o seu respeito por algo que é de todos. Por outro lado, confirma o que já sabemos...a desertificação humana é inexorável no interior. No entanto, aqui por Lisboa andamos aos montes e já são mais os estrangeiros que os indígenas, como o Pulido Valente gosta de nos designar.
FB

Anônimo disse...

Tambem tinha ideia de que o orago da Paradanta ser S. Filipe. Nem sempre os santos mais devotos das lococalidades são os oragos, ainda para mais em aldeias pequenas em que apenas existe uma capela edificada, a capela pode ser dedicada a um santo mas o mesmo não ser o orago.

Há aqui na zona exemplo de grande devoção a santos que não os oragos da respetiva terra, como em Tinalhas a grande devoção à Rainha Sta. Isabel sendo o orago Nossa Srat da Assunção, na Soalheira há um grande culto a Nossa Sra. das Necessidades mas o orago é S. Lourenço, ou um exmplo em Louriçal do Campo, a grande devoção a S. Fiel mas sendo S. Bento o padroeiro.

José Teodoro Prata disse...

Tenho dúvidas se podemos considerar orago uma divindade não pertencente a uma igreja matriz (sede de paróquia).

Anônimo disse...

Não se existe a nivel paroquial um levantamento dos oragos de cada localidade, mas seria uma boa fonte para tirar conclusões. Até em aldeias que não possuem igreja matriz, o facto de apenas existir uma capela edificada a um santo não indica que o mesmo tenha de ser necessariamente o orago.

José Teodoro Prata disse...

Estive a fazer algumas consultas e de facto parece que o conceito de orago usado neste artigo é o que está mais correto.
A divindade principal de uma igreja matriz, protetora de uma paróquia, é o conceito primitivo, que não exclui o alargamento do conceito atualmente.

M. L. Ferreira disse...

Também me interroguei sobre se o santo em honra do qual se realiza a festa principal de uma localidade, como as anexas da nossa freguesia, poderia ser considerado orago, mas não aprofundei o tema e fui um pouco atrás do conceito deixado pelo leitor anónimo que colocou a questão.

Sobre ser o São Filipe o orago da Paradanta, perguntei a duas pessoas de lá e ambas me falaram na Senhora dos Aflitos, mas, como disse na altura, pode não ser bem assim.

Achei interessante que, há dias, encontrei um registo da casamento de meados do século XIX que falava de um casamento realizado no Tripeiro, na capela da Senhora dos Remédios, no dia 8 de setembro. Isto significa que aquela capelinha já lá está há bastante tempo, com o mesma Senhora. Pelos vistos não eram autorizados os casamentos fora das igrejas matriz, porque foi necessária uma autorização especial de uma entidade, creio que civil, mas não tenho a certeza.

Lúcio disse...

Para a relização de casamentos fora da igreja matriz sempre foi necessário pedir autorização à diocese, e era bonito ver antigamente casamentos e até crianças batizadas nas aldeias pequenas, isto no tempo em ainda havia muita gente, por exemplo era muito comum acontecerem casamentos na igreja de São Fiel, que apesar de não ser uma capela tambem não é a igreja matriz da paroquia, e entao pedia-se uma autorição à diocese da Guarda.

Anônimo disse...

Julgo que as referências a S. Filipe são muito recentes e surgiram somente com a família Filipe da Paradanta, sendo os mais conhecidos os donos/criadores da antiga Iofil em Castelo Branco... :)

Anônimo disse...

Boas, Vale de Figueira tem 2 festas.
Anjo da Guarda, ultimo fim de semana de Julho. E do Sagrado coração de Jesus no fim se semana antes do de Carnaval.
A dificuldade em ter mordomos, são outros politiquices de quem não é da aldeia.