segunda-feira, 9 de maio de 2022

Devoção a Santa Bárbara

A capela de Santa Bárbara situa-se no Casal da Fraga, mas apenas desde os anos 30 do séc. XX. Antes, localizava-se no limite entre o Sobral do Campo e São Vicente da Beira, um pouco a sul do Valouro.

Estava em ruínas, no início do séc. XX. Fora uma capela da Câmara (o concelho foi extinto em 1895) e por isso as gentes de São Vicente da Beira (sede do antigo concelho) ganharam o processo em tribunal, contra as gentes do Sobral do Campo, tendo trasladado as pedras principais, para o Casal da Fraga.

Destaca-se o pórtico de arco levemente quebrado, com decoração manuelina.

A festa realiza-se no segundo domingo depois da Páscoa.

 

Orações a Santa Bárbara:

 

Santa Bárbara, Bendita

Que no céu está escrita

Com raminhos de água benta,

Livrai-nos desta tormenta.

Espalhai-a lá para bem longe

Onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem raminho de figueira,

Nem mulheres com meninos,

Nem ovelhas com borreguinhos,

Nem pedrinhas de sal,

Nem nada a que faça mal.

Amém!

 

Santa Barbara, S. Jerolme,

Que lá estais no céu escritos

Com raminhos de água benta,

Livrai-nos de tal tormenta.

Magnífica! Magnífica!

Engrandecido seja o Senhor!

Valha-nos o Bom Jesus

E a Flor donde nasceu.

E a hóstia consagrada

Onde Jesus Cristo morreu.

Amém!

 


Publiquei aqui este texto, a 26 de março de 2015, em Roteiro da Fé. No calendário litúrgico da Igreja Católica, o dia de Santa Bárbara é o 4 de dezembro. Entretando, em São Vicente, a festa realiza-se agora no terceiro e não no segundo domingo depois da Páscoa, como no passado. Desde quando? É para não coincidir com a Senhora de Mércoles e com a Senhora do Almortão? Certo é que todas elas e outras romarias da Beira que ocorrem até fins de maio (por exemplo, a nossa Senhora da Orada) estão incluídas nas festas do ciclo pascal.

 

Encontrei esta oração à santa, diferente da que a Libânia aqui publicou e eu usei na síntese acima apresentada.

“Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

Do site: https://cruzterrasanta.com.br/significado-e-simbolismo-de-santa-barbara/64/103/

José Teodoro Prata

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Flor de laranjeira

Raramente temos um ano como este, em que o período da floração dos citrinos se faz sempre com bom tempo.

Já apanhei flor de laranjeria por duas vezes: estende-se um lençol no chão, abanam-se os ramos e as pétalas caem no lençol. Depois é só tirar os lixos e colocar ao sol. Como as pétalas até são bastante carnudas, esta é a fase mais delicada, se houver muita humidade no ar, pois as pétalas ganham bolor. Em tempo seco como este ano, secam em 3 dias e depois é só embalar e guardar.

A infusão de flor de laranjeira é especialmente aromática e tem qualidades medicinais: calmantes, digestivas...

José Teodoro Prata

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Santa Bárbara

O mundo não está muito para festas, mas andarmos todos tristes também não ajuda a melhorar nada. É bom voltarmos à normalidade nas nossas pequenas comunidades, e dela fazem parte também as festas e romarias.

Não será muito antiga a festa de Santa Bárbara aqui no Casal da Fraga, porque, como se sabe, a primitiva capela situava-se no Valouro, mesmo no limite entre São Vicente e o Sobral. Penso que não se sabe quando foi mandada construir (o José Teodoro não o refere no livro sobre o Concelho de São Vicente da Beira), mas seria bastante antiga e importante para as povoações à volta (o registo de óbito de Violante Antunes, no dia 4 de junho de 1728, diz que era ermitoa da capela de Santa Bárbara; outro registo de 27 de janeiro de 1744 diz também que faleceu Sebastiana Nunes, pobre, ermitoa da mesma capela).

Há quem se lembre de ouvir contar histórias sobre a maneira como, após a extinção do concelho, os da Vila trouxeram a imagem da Santa e conseguiram escondê-la dos do Sobral. Parece que ainda houve grandes zaragatas e os ressentimentos mantiveram-se por muitos anos. Depois trouxeram também as pedras de cantaria que foram utilizadas na construção da atual capela.

No Valouro já é difícil encontrar vestígios da antiga capela, mas, um pouco mais adiante, construíram um altar com a imagem da Santa, e, na segunda-feira a seguir à Páscoa, muita gente do Sobral junta-se lá para rezar e conviver.

O Casal da Fraga visto da Devesa 

M. L. Ferreira

quinta-feira, 28 de abril de 2022

O nosso falar: à lhana

O dia estava ventoso e ameaçava chuva. Saí de casa para o Ribeiro de Dom Bento, mas voltei a entrar, exclamando para a minha mulher:

- Ia à lhana, com este tempo!

Muni-me de guarda-chuva e casaco e voltei a sair, surpreendido pela expressão que me saíra da boca, que já não ouvia há tanto tempo.

Quase jurava não a encontrar no dicionário, mas foi fácil. Lhana significa simples, despretensioso, sincero, amável...

Sair de casa à lhana significará então ir vestido/equipado de forma simples, despretensiosa, sem grandes roupas ou equipamentos (guarda-chuva, boina, chapéu...).

José Teodoro Prata

terça-feira, 26 de abril de 2022

Ditadura / Democracia

 O jornal Publico tem um interessante artigo comparativo de Portugal, nos anos da ditadura e da democracia.

Não sei se poderão aceder: https://www.publico.pt/interactivo/ditadura-democracia-portugal

José Teodoro Prata

domingo, 24 de abril de 2022

A herança de Abril e Maio

Em 2009, publiquei este texto aqui no blogue. Repito-o, pois muitos não o leram na altura e outros, como eu, podem recordá-lo. Tem tudo o que para mim significa o 25 de Abril.

Em 1974, eu frequentava o 6.º ano (atual 10.º ano), no Seminário do Tortosendo.
No dia 25 de Abril, logo cedo, o P.e Guerra, pároco diocesano de Peraboa, chegou de carro e saiu a correr para a sala de professores. A seguir tivemos aula de Português. Com um rádio junto à secretária e outro no fundo da sala, em emissoras diferentes, tentávamos saber mais qualquer coisa do que se estava a passar em Lisboa. Contagiou-nos com o seu entusiasmo, mas cumpriu o dever de educador: atenção, pois liberdade rimava com responsabilidade! Uma chatice, para quem tinha 16 anos.

No dia seguinte, fomos ao Tortosendo. Pessoas ligadas ao Unidos disseram-nos que queriam o nosso P.e Jerónimo no comício de 28 de Abril!

O Unidos era o grande clube desta vila operária, um centro da oposição ao regime, com o qual o Seminário tinha uma boa colaboração cultural e desportiva.

E depois veio Maio.

Já conhecia as tradições das lutas dos operários do Tortosendo no 1.º de Maio. Anualmente, vários trabalhadores teimavam que era feriado e faltavam ao trabalho. Os patrões avisavam a GNR e, pela tarde, os guardas e a Pide iam buscá-los, eles que apenas estavam a comer umas chouriças assadas e a beber uns copos com outros amigos, à sombra de uma latada.

Mas o 1.º de Maio de 1974 foi diferente. A Vila preparou os farnéis e mudou-se para a ponte Pedrinha, no rio Zêzere. O meu pai andava a fazer a instalação da rede de esgotos no Cabeço e também foi à festa. Encontrámo-nos na estrada, mas eu fui com os outros seminaristas e ele com a família de um companheiro.

Meses depois, veio a greve dos operários dos Lanifícios. Nas últimas semanas, já havia fome. Os operários das aldeias em redor tiveram de trazer comida para os camaradas do Tortosendo. E venceram.
A Construção Civil foi igualmente beneficiada. Melhoraram os salários e reduziu-se a semana de trabalho. Com mais dinheiro e tempo livre, o meu pai já passava o sábado connosco e pode comprar e recuperar a casa da Vila, que se tornou a nossa morada. Ele costumava dizer que a nossa casa fora construída graças ao 25 de Abril.

Em 1975, criaram-se as camionetas dos estudantes e os adolescentes, bloqueados após a conclusão da Telescola, puderam prosseguir os estudos em C. Branco. Também eu, sem emprego, nem possibilidades de ir para a universidade, beneficiei delas um ano depois e tornei-me professor do Ensino Primário.

Durante muitos anos, em cada 25 de Abril, emocionava-me aos primeiros acordes da Grândola Vila Morena. Agora, felizmente, já não. A liberdade e os direitos dos trabalhadores tornaram-se tão naturais como o ar que respiramos. E se, infelizmente, as coisas não mudaram o suficiente para o bem de todos, temos a liberdade de contribuir para que tudo melhore.

José Teodoro Prata


sexta-feira, 22 de abril de 2022

A charneca

 Atravessei de novo a charneca (nome do passado, agora devia dizer-se pinhal).

Tem alguma magia (eu sinto-a) este território baixo e tão enrugado. Vejo-me a regressar à mãe Natureza, eu que nunca me afasto muito dela.

As fotos não são dignas da paisagem, mas foi o que arranjei.


Os Enxidros avistados da Lameirinha


A serra da Gardunha (a parte em que vira para sudoeste) 
vista de um alto entre os Pereiros e o Casal da Fraga


A estrada da Partida para o Casal da Fraga está a beneficiar de obras de requalificação: alargamento e corte de curvas.

José Teodoro Prata