terça-feira, 23 de novembro de 2010

Óvnis na Gardunha?

A revista VISÃO desta semana (N.º 924, 18 a 24 novembro 2020) trouxe-nos à lembrança os fenómenos óvnis na serra da Gardunha. O artigo da revista (2012 A profecia lusitana, pp. 98-110) vai mais longe e situa, na Penha Grande, um dos portais de acesso ao Reino de Lis, um mundo paralelo ao nosso.
A Penha Grande é um morro granítico que sobressaia acima da linha da serra, quando se olha para Castelo Novo, a partir da A23. O Santuário da Senhora da Penha ou da Serra situou-se primitivamente ali, onde também existem vestígios arqueológicos de um castro da Idade do Bronze, tal como o do Castelo Velho. Curiosamente, a lenda desta ermida tem muitas semelhanças com a da Senhora da Orada, situada não muito distante.
Mas a inquietação, em São Vicente da Beira, tem origem num fenómeno ainda não conhecido fora de portas.
Frequentemente, entre a meia-noite e a madrugada, avistam-se luzes muito fortes, na meia encosta acima do Caldeira, onde fica a serra dos Candeias, dos Barroso e dos Hipólito. São visíveis do Casal da Fraga, situado em frente, e já há numerosas testemunhas. As luzes são muito mais potentes do que as de um automóvel e avistam-se por alguns minutos e outras vezes durante horas.
Para terminar, deixo-vos com duas notícias de encontros imediatos, nesta encosta sul da Gardunha, publicadas no blogue : http://www-ufologia.blogspot.com/2010/05/misterios-da-serra-da-gardunha.html.


Foto tirada do miradouro da Baldaia. Penso que o penhasco mais alto é a Penha Grande.

Erguendo-se a 1225 metros de altitude, a serra da Gardunha é uma das elevações mais importantes da Beira Baixa, em Portugal. Os repetidos fenómenos inexplicáveis, os seus símbolos e arqueologia, fazem da serra um dos «pontos quentes» onde o fenómeno Ovni se manifesta com maior intensidade no país.
São comuns as histórias sobre misteriosas luzes que surgem no céu silenciosas e a grande velocidade, luzes que bailam em ângulos rectos perfeitos. Segundo curiosos e aficionados do fenómeno, as luzes podem ser vistas quase todos os dias a sair da serra, por volta das 23:00h, e, no regresso, por volta das 02:00h da madrugada. É entre Setembro e Dezembro a altura mais propícia para avistar estes fenómenos, segundo referia o «Guardião da Serra», o Sr. Américo Duarte.
Américo Duarte, era o maior estudioso sobre os mistérios da serra. Dedicou-se a estudar a arqueologia ali existente, como os fenómenos luminosos que eram observados á noite. Infelizmente já falecido, conhecia a serra como ninguém. Entre outras revelações, Américo Duarte confidenciou que certo dia teve um encontro imediato com um ser humanóide no quintal da sua casa. Foi esse ser que o levou um dia, a conhecer a base subterrânea de Ovnis que existia ali na serra. Segundo ele, aquela base era uma de quatro espalhadas pelo mundo, utilizadas pelos supostos seres para estudar o nosso planeta. Disse que, quando esteve no interior da base, viu uma espécie de galeria de naves espaciais num precipício, o que lhe impediu de prosseguir caminho. Também revelou que os objectos voadores entravam na montanha por desmaterialização. Dizia-se o escolhido ou contactado para guardar ou proteger a base que o interior da Gardunha guardava. Para sempre ficou conhecido como o «Guardião da Base».
Os últimos anos da sua vida, dedicou-os a tentar alterar o trajecto de um túnel que iria ser feito e trespassar a serra na localização exacta da suposta base subterrânea. Coincidência ou não, o projecto inicial foi alterado e desviado para outro local.

Em Setembro de 1996, Ricardo Machado Oliveira passava pela serra, mais precisamente no local designado por Cabeço da Penha, quando decidiu explorar uma gruta que existia ali perto.
Após ter entrado na gruta, Ricardo desmaiou. Quando recuperou os sentidos, encontrava-se num hangar subterrâneo enorme, onde observou diversas naves de forma oval e prateadas. De seguida foi confrontado com a presença de três espécies distintas de seres humanóides. Estes seres informaram Ricardo que eram parte de uma aliança de mundos interestelares associados para observar a Terra e que a base subterrânea onde se encontrava era uma das quatro bases de observação espalhadas pela Terra. Após isso Ricardo perdeu novamente os sentidos e quando acordou, já era de noite, e encontrava-se deitado no chão, no exterior da gruta.


É apenas o sol, por entre as ramagens dos pinheiros, no Ribeiro de Dom Bento.

sábado, 20 de novembro de 2010

Marmelada


Tive marmelos no Ribeiro de Dom Bento, fiz marmelada e já se comeu.
Trouxe mais marmelos da Oriana e voltei a fazer marmelada.
Dantes, fazer marmelada era uma empreitada, pois tirava-se a casca ao marmelo, o que tornava a tarefa muito custosa.
A minha irmã Celeste ensinou-me uma nova maneira, que aprendeu com pessoas, na Vila, e agora fazer marmelada é facílimo.
Lavam-se e limpam-se os marmelos, cortam-se às fatias, casca e tudo, excepto o caroço, e metem-se na panela de pressão. Já sei que a panela de pressão leva 3 quilos de fatias de marmelos e, como deito um terço do peso em açúcar, nem preciso de pesar.


Junta-se meio copo (pequeno) de água, um quilo de açúcar amarelo, dois paus de canela e o sumo de um ou dois limões (pequenos).
Põe-se o lume no mínimo, sem apertar a tampa, até derreter o açúcar. Quanto estiver em líquido, aperta-se a tampa e deixa-se ferver, ainda em lume brando, pois a panela ficou muito cheia. Ferve perto de uma hora. Se a panela não estiver tão cheia, o lume pode ficar mais forte e o marmelo coze em menos tempo.
Depois tiram-se os paus de canela e tritura-se. Deixa-se arrefecer um pouco e coloca-se nas malgas. Como leva pouco açúcar, não se conserva tanto tempo e o melhor é congelar uma parte. Fica bom na mesma.
Esta nova maneira de fazer marmelada tem a vantagem de aproveitar a casca, rica em substâncias nutritivas e que reforça o sabor do marmelo.
A minha marmelada fica em ponto de barrar o pão. Quem a quiser mais seca, basta deixar ferver mais tempo, depois de triturar, mas mexendo frequentemente.



Receita:
3 kg de fatias de marmelo
1 kg de açúcar (os gulosos devem juntar mais)
1 limão (sumo)
2 paus de canela
meio copo (pequeno) de água

Alteração após dois anos de experiência (6/10/2012):
Já só deito o sumo de menos de meio limão, pois fica menos ácida e mais cremosa. Uso sim a casa inteira do limão, cortada fininha, o que dá à marmelada um agradável sabor citrino.
Também não coloco a tampa na panela e assim a marmelada fica com a sua cor natural, amarela.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pneumónica 2

Os óbitos de Outubro

A freguesia de São Vicente da Beira registou, entre 1917 e 1919, uma média mensal de 4,8 óbitos, sem contar com Outubro e Novembro de 1918, os meses da gripe pneumónica. Nestes, o número de mortos subiu para 20, em Outubro, e 66, em Novembro.
Esta maior mortalidade em Novembro contraria a tendência nacional, em que o mês mais mortífero foi o de Outubro.
Como os registos do Hospital só nos dão informação detalhada de 4 óbitos por gripe pneumónica, temos de utilizar os registos paroquiais, que não apontam a causa da morte.
Nem todos morreram por gripe pneumónica, nestes dois meses, mas foram a quase totalidade. A gripe pneumónica atacou sobretudo os jovens e adultos jovens, pelo que temos de excluir os idosos, possivelmente já imunizados por uma epidemia da mesma doença ocorrida em 1889. Os bebés talvez também tenham sido vitimados pela gripe pneumónica, embora nestes não haja tantas certezas, pois ainda era habitual morrerem muito e raramente eram levados ao hospital.
Apresentam-se, hoje, os óbitos de Outubro de 1918. Transcrevem-se os nomes tal como foram registados.

02-10-1918: Leopoldina, de 1 ano, filha de Manuel Joaquim e Maria Domingas, naturais e moradores no Tripeiro.

02-10-1918: Maria, de 16 meses, filha de Antonio Soares cruz e Maria Serra, jornaleiros, naturais e moradores no Casal da Serra.

04-10-1918: Gracinda, de 4 anos, filha de Antonio Afonso e Maria da Conceição, jornaleiros, naturais e moradores no Tripeiro.

12-10-1918: Antonio, de 1 ano, filho de João Caio e Serafina da Conceição, jornaleiros, naturais e moradores no Casal da Serra.

12-10-1918: João Nunes, de 45 anos, solteiro, mendigo/jornaleiro, natural do Mourelo. Faleceu no Hospital, de febre paratifóide.

16-10-1918: Maria dos Anjos da Silva Leal, de 35 anos, casada, doméstica, natural dos Pereiros, filha de Joaquim da Silva Leal e Isabel Maria, proprietários.

22-10-1918: Jose Duarte Soalheira, de 70 anos, viúvo de Antonia Clara, jornaleiro, natural e morador em S. Vicente da Beira, filho de Francisco Duarte e Luiza Bernarda.

22-10-1918: Albertina, de 20 meses, filha de Francisco João e Joaquina Alves, naturais e moradores na Paradanta.

24-10-1918: Jacinta Maria, de 34 anos, casada com Joaquim Bartolomeu, natural e moradora na Partida, filha de João Alexandre e Joaquina Maria.

26-10-1918: Adrião Mateus, 27 anos, solteiro, jornaleiro, natural e morador em S. Vicente da Beira, filho de José Mateus e Maria Luxindra, também de S. Vicente.

26-10-1918: Maria de Oliveira, de 52 dias, filha de Lopo Vitorino e Carolina de Oliveira, naturais e moradores em S. Vicente da Beira.

28-10-1918: Maria Luisa, de 3 anos, filha de Alexandre Caio e Antonia Carlota, naturais e moradores no Casal da Serra.

29-10-1918: Maria Amalia Roque, de 21 anos, solteira, doméstica. Filha de Manuel Roque e Ludovina Varanda, moradores em S. Vicente da Beira, na Rua Nicolau Veloso.

30-10-1918: Emilia do Rosario, de 23 anos, doméstica, filha de Francisco Afonso e Maria Sebastiana, naturais e moradores no Tripeiro.

30-10-1918: Maria do Rosario, de 23 anos, doméstica, filha de Antonio Fernandes (já falecido) e Maria Ludovina, moradora em S. Vicente da Beira.

30-10-1918: Antonio Caio, de 16 meses, filho de Alexandre Caio e Antonia Carlota, naturais e moradores no Casal da Serra.

31-10-1918: Ana Ramalho, de 29 anos, doméstica, filha de João Ramalho e Maria de São Pedro, todos naturais e moradores no Casal da Serra.

31-10-1918: Antonio Lourenço, de 28 anos, natural do Tripeiro, filho de José Lourenço e Maria Joaquina, moradores também no Tripeiro.

31-10-1918: Antonio Candeias, de 14 anos, pastor, filho de Manuel Luis Candeias e Maria da Conceição, naturais e moradores em S. Vicente da Beira. Faleceu de gripe pneumónica, no Hospital.

31-10-1918: João Marcelino, de 25 anos, filho de Joaquim Marcelino e Maria Ana, todos naturais e moradores no Tripeiro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pneumónica 1

Óbitos no Hospital
Em Outubro e Novembro de 1918, estiveram internados, no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente da Beira, um total de 34 doentes, sofrendo 29 deles de gripe, pneumonia gripal, gripe brônquica ou bronco-pneumonia. Com diferentes diagnóstivos e complicações, a maioria destes terá tido gripe pneumónica e alguns uma simples gripe que, no entanto, os obrigou a internamento.
Os doentes ali internados, nestes dois meses, eram todos de São Vicente, ao contrário do habitual. Talvez se tenha evitado a deslocação de doentes e porque o Hopostal só tinha 10 camas e esteve com o pessoal auxiliar também doente, assim como quase toda a direcção.
Os (dois) médicos, então de serviço, só não conseguiram curar 4 dos seus doentes, que acabaram por falecer. Quatro é muito pouco, num universo de 86, a totalidade de mortos, na freguesia, durante esses dois meses. Mas a eles chegarei, noutro dia. Hoje, ficamo-nos pelos que faleceram no Hospital, todos de São Vicente da Beira. Faz agora anos, por estes dias:

31-10-1918: Antonio Candeias, filho de Manuel Luis Candeias e de Maria da Conceição, jornaleiros. Tinha 14 anos e era pastor.

01-11-1918: Francisco Jeronimo, filho de Jose Jeronimo e de Olalia da Conceição. Tinha 26 anos, era cultivador e estava casado com Maria da Luz Romualdo.

08-11-1918: João Agostinho, filho de Andre Agostinho e de Maria da Conceição. Era sardinheiro e tinha 19 anos.

18-11-1918: Maria de Jesus Hipolito, filha de Joaquim Hipolito de Jesus e de Maria Antonia. Tinha 30 anos(35, segundo o registo da Igreja), era doméstica e estava casada com Joaquim Maria dos Santos Caio, funileiro e, na época, enfermeiro do Hospital. Deixou dois filhos menores: um, com 5 anos, Joaquim Caio; outro, com 7 anos, João Caio. Na sessão ordinária de 12 de Janeiro de 1919, a gerência do Hospital deliberou autorizar o enfermeiro a comer no local de trabalho, descontando-se-lhe do ordenado.

Nota:
O óbito de Francisco Jerónimo está registado no Hospital e na Igreja Matriz, mas levanta-nos, a nós Jerónimos, uma questão que ainda não consegui esclarecer, embora já tenha ido falar com a minha tia Eulália(como a avó).
Jose Jeronimo e Olalia da Conceição tiveram pelo menos 6 filhos: a minha avó Maria do Rosário Jerónimo, a tia Rosa Jerónimo (mãe de Maria do Céu Jerónimo Matias), o tio João Jerónimo (dos Arrebotes), o tio Miguel Jerónimo (do Cimo de Vila)o tio Albano Jerónimo e este Francisco Jerónimo. Só que ele foi combater para África, talvez na 1.ª Guerra Mundial, casou lá e nunca mais voltou. Os irmãos colhiam a azeitona da sorte dele, herdada dos pais, um ano cada um. Depois, devem ter dividido o terreno, entre si.
Por outro lado, Maria da Luz Romualdo, que ainda conheci moradora no Ribeiro de Dom Bento, foi casada com outro homem, de quem teve filhos. É possível que tenha voltado a casar, até porque os registos consultados não referem filhos menores que Francisco Jerónimo tenha deixado.
Mas, o mesmo Francisco Jerónimo, com duas vidas? Impossível. Irmãos? É possível!

sábado, 13 de novembro de 2010

Nas XXII Jornadas de Medicina

Acabo de chegar das XXII JORNADAS DE MEDICINA DA BEIRA INTERIOR DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI, realizadas, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, nestes dias 12 e 13 de Novembro de 2010.
Tive a companhia de Albano Mendes de Matos, habitual nestas Jornadas, há muitos anos. Albano de Matos é natural do Casal da Serra e vive na região de Lisboa. Em anos anteriores, já fez comunicações sobre temas da sua terra natal.
Apresentei, oralmente, o estudo A GRIPE PNEUMÓNICA EM SÃO VICENTE DA BEIRA, da minha autoria e do meu filho Tiago Rodrigues Teodoro. O trabalho precisa ainda de ser aprofundado e escrito, para depois ser publicado, nas próximas jornadas, daqui a um ano, na Revista CADERNOS DE CULTURA, onde anualmente se publicam as intervenções do ano anterior.
Este estudo tem por base consultas que fiz no Arquivo da Santa Casa da Misericórdia, a quem agradeço, na pessoa do Provedor Pedro Matias, toda a disponibilidade manifestada. Também consultei os livros de registos dos óbitos da Paróquia de São Vicente da Beira, graças à boa vontade do pároco, o Pe. José Manuel, a quem também deixo o meu bem-haja.

A gripe pneumónica atacou Portugal em três vagas: a 1.ª, em Maio a Julho de 1918, bastante benigna; a 2.ª, em Outubro e Novembro desse ano, desta vez muito mortífera; uma última, em Fevereiro e Maio de 1919, novamente pouco violenta.
Na nossa freguesia, apenas em Outubro/Novembro de 1918 a gripe pneumónica foi fatal, tendo-se, nos outros dois períodos, confundido com as gripes normais da época.
Brevemente, publicarei informações de que já disponho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Insa

As matações juntam novos e velhos, alguns de convívio diário, mas outros que só se vêem de ralo em ralo. Por isso, contam-se sempre muitas histórias antigas.
Numa em que participei, já lá vão uns anos, o matador era o Insa, que nos contou a história da alcunha da sua família.
No início do século (1918) grassava a pneumónica e poucos foram os que ela não amarrou à cama. Um deles fora o seu avô, Francisco Marques, morador no Casal da Fraga, que passou largo tempo no Hospital da Misericórdia de São Vicente da Beira.
Quando o iam visitar, mandava toda a gente embora, «...porque senão insa tudo daqui até ao Casal!»
E ficou o Insa, talvez porque já poucos soubessem o significado da palavra que ele usara.
Regressado a Castelo Branco, fui consultar o Dicionário Morais, à Biblioteca Municipal. Lá estava, insar significa infetar.
Tinha razão o Francisco Marques e não era caso para lhe porem tal alcunha!

sábado, 6 de novembro de 2010

A Canada do Carqueijais

Provisão que alcançou o Capitão-Mor desta vila, Francisco Caldeira de Brito, pela qual sua Majestade Fidelíssima, que Deus guarde, lhe há por confirmada a canada de seus gados(…)

Dom José, por graça de Deus, rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África senhor da Guiné (…), faço saber que Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz Albuquerque, Capitão-Mor da vila de São Vicente da Beira, me representou por sua petição que, tendo contígua às casas em que assistia na dita vila, uma fazenda grande cercada de parede, com currais de gado, no fim, onde mandava sempre recolher um rebanho de cabras, para adubar a dita fazenda, donde saíam para matos baldios da serra e se recolhiam para os mesmos currais todos os dias, sem fazerem prejuízo mais do que passarem por baixo de alguns castanheiros e na maior parte por estrada publica, e não podendo usar daquela passagem, por ter proibido o Corregedor* daquela Comarca*, em Capítulo de Correição*, entrar nos soutos gado, requereu à Câmara da referida vila lhe assinasse canada para passar o dito rebanho aos referidos matos baldios, consentindo os donos dos ditos castanheiros unicamente interessados e obrigando-se o suplicante a pagar-lhes todo e qualquer prejuízo que o dito gado fizesse, avaliado logo sem estrépito, nem figura de juízo, ficando nestes termos em seu vigor o referido Capítulo de Correição, que o mesmo suplicante de modo nenhum queria contrariar, antes com licença do mesmo Corregedor se assinasse a referida canada, que com efeito nesta forma se mandava pela dita Câmara assinar, como se via do despacho que ajuntava, e porque a tudo o mandado no dito despacho tinha o suplicante satisfeito, que era a licença do Corregedor, como mostrava o despacho deste, dado na petição que oferecia, constando igualmente de outros documentos, que também juntava, terem consentido todos os donos dos ditos castanheiros (…) hei por bem fazer-lhe mercê confirmar como com efeito confirmo e hei por confirmada a licença que a dita Câmara lhe deu na forma que o suplicante pede, cumprindo-se esta Provisão(…).
São Vicente da Beira, 9 de Setembro de 1773
Ferraz de Vasconcellos*
Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz*
Cláudio António Simões*


Vocabulário:
Cláudio António Simões – Escrivão da Câmara, em 1773, era filho de Manuel Lopes Guerra, que deu nome à rua Manuel Lopes, e sobrinho de Manuel Simões, que deu nome à rua Manuel Simões.
Comarca – Circunscrição judicial. A comarca de Castelo Branco, a que o concelho de S. Vicente da Beira pertencia, ia desde Vila Velha de Ródão até ao Sabugal.
Corregedor – Autoridade máxima da Comarca, representante regional do poder central, com funções político-judiciais.
Correição - Visita do corregedor à comarca, no exercício de suas atribuições. Dessa forma, a correição é um ato que visa a correção de condutas e que está ligada ao exercício do poder disciplinar.
Ferraz de Vasconcellos – Na época, era o Juiz de Fora do concelho de S. Vicente da Beira. Representava o poder central e presidia à Câmara e ao Tribunal. Respondia perante o Corregedor.
Francisco Caldeira Leitão de Brito Moniz – Era natural da Sertã e casou com a filha de uma das famílias mais ricas da Vila. Desempenhou o cargo de Capitão-Mor, o posto máximo do comando militar no concelho. O 1.º visconde da Borralha era seu neto e também se chamava Francisco Caldeira, tal como o 3.º visconde.


Muro exterior do cabanão da Quinta Nova, onde os descendentes de Francisco Caldeira guardavam os gados, nos séculos XIX e XX, tal como ele o fazia, em 1773.


Primeira página do documento acima transcrito. Clicar na imagem, para conseguir ler. Do Livro Geral das Leis e Ordens (1769-1774), folha 135, Câmara Municipal de S. Vicente da Beira, Arquivo Distrital de Castelo Branco.