sábado, 1 de novembro de 2025

Vespas asiáticas

Na última semana, morreram 3 homens na Galiza, em ataques da vespas asiáticas. E desta vez com uma novidade: todos pisaram ninhos de vespas feitos no chão, o que não era habitual.

Já no ano passado, o meu sobrinho António Craveiro encontrou um ninho no tronco de uma oliveira, pouco antes da colheita da azeitona. Também não era habitual, segundo los técnicos que vieram matar as vespas.

Temos de redobrar de cuidados, começando por analisar cada árvore antes de aceder a ela, para colher frutos (colher azeitona), fazer podas, etc. No ano passado, foi notícia a morte de um homem, no nosso país, que subiu a um diospieiro para colher os primeiros diospiros e foi atacado por dezenas de vespas asiáticvas que tinham o ninho no meio da rama.
Nos Cebolais, tenho tido problemas, nos últimos dois anos, com ninhos no chão, mas de vespas mais pequenas, as estorninhas, também diferentes das que todos estavamos habituados a ver.

Neste outubro, apanhei dezenas de vespas asiáticas nas armadilhas que coloquei no Ribeiro Dom Bento. Eliminar estas vespas no outono é muito importante, pois cada uma que sobreviver vai criar um novo ninho na primavera.

Comentários a este texto, no facebook:

José Manuel dos Santos
Um ano destes encostei a escada a uma oliveira, saiu um pelotão de uma "taloca"
Fugi dali para fora
Já quase à noite deitei gasolina para o pulverizador coloquei o tubo no buraco pulverizei...
No outro dia encontrei-as todas mortas
Com a machada rasguei o buraco, os favos eram grandes...

Paula Candeias
Também tenho experiência neste assunto. Um ninho subterrâneo, creio que de vespas comuns, e um dia ao chegarmos à quinta deparamo-nos com um ninho gigante de vespas asiáticas no alprendre. No primeiro caso afastamo-nos e evitavámos esse local, no segundo contactámos a entidade competente para as eliminar que foi muito eficiente. Foi curioso que estas últimas já tinham anteriormente feito uma tentativa mas abandonaram o ninho, ficou em meio fazer e nem ligámos, mas regressaram e construíram um novo ao lado e habitaram-no. Que bichos agressivos que haviam de aparecer e que, que eu saiba, não têm predador.

sábado, 25 de outubro de 2025

Quando o mar bate na rocha...

 A propósito da perda de eleitores na nossa freguesia (mais de cem) entre as Autárquicas de 2021 e as de 2025. Embora a “fome” não seja exatamente a mesma, este texto é extraordinário, até pela crueza, na justificação da perda de população no interior do País no tempo da ditadura:

«O reino naquela época tremia de frio e desconfiança.

Tinha-se deslocado mais para a beira-mar, não se sabe bem porquê, mas calcula-se: fome.

A fome vinha do interior e varria tudo para o oceano. Nesta leva desgarrada, escapavam os camponeses, que tinha a barriga curtida, em cardos, e que se cravavam na terra à dentada, como uns danados.

Espalmavam-se nas tocas e nas dobras das montanhas para deixar passar a ventania, pareciam calhaus, seres empedernidos; depois voltavam ao trabalho; à semente que se enterra e ao fruto que se arranca.

Tinham-se habituado de tal maneira à má sina que fome para eles era o pão de cada dia.

Os restantes, os que não conseguiam enganar os vendavais, fugiam de roldão pelo país, atravessando aldeias e planícies, vinhas e repartições, hoje fazendo família neste ponto, amanhã mais naquele, até se verem diante do mar, acossados.

Uma vez ali, ou entregavam o corpo aos caranguejos ou faziam como o mexilhão: Pé na rocha e força contra a maré.

Daí o nome de Reino do Mexilhão, que lhe pôs a geografia, em homenagem a esse marisco mais que humilde, só tripa e casca.»

Do livro Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires

ML Ferreira

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A azeitona já está preta

 

Acabei ontem a azeitona. Foram dias de tal suadouro, que só apetecia cantar Ó que calma vai caindo / sobre as gentes do campo… Mas, como continuar Por cima ceifa-se o trigo / por baixo fica o restolho…, se eu andava empoleirado nas oliveiras a ripar azeitona?!

A canção certa seria A azeitona já está preta / já se pode armar aos tordos..., mas cantá-la naquele ritmo apressado e folgazão debaixo de tal calmaria?! Nem poderia gritar Ó João, dá cá o podão! Para quê? Pra malhar aqueles que além vão! Pois se não se avistava vivalma!

Verdade, verdadinha, a canção que andei sempre a cantar foi mesmo Ó que calma vai caindo, mentalmente claro, não queria que me chamassem maluco! Como escreveu Aquilino Ribeiro, na primeira página do Malhadinhas, «…os dias de hoje não os conheço.»

Porque comecei tão cedo? Medo da gafa que aí vem e indisponibilidade na próxima semana.

Nota: a gafa é uma doença que provoca o apodrecimento da azeitona, devido a um fungo que se desenvolve em ambientes quentes e húmidos.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Autárquicas 2025

 Resultados oficiais, por esta ordem: Câmara, freguesia SVB/concelho; Assembleia Municipal, freguesia SVB/concelho; freguesia SVB

PS - 40,45/36,21 (3 vereadores); 37,89/33,26; 43,46 (3 mandatos)

PSD+CDS - 46,77/32,63 (3 vereadores); 45,86/31,65; 53,98 (4 mandatos - presidente da Junta)

CH - 6,17/10,72; 8,42/12,99

IL - 2,56/13,98; 2,56/13,66 (1 vereador)

PCP+PEV - 1,05/1,55; 0,75/2,18

L+BE - 0,75/2,12; 2,11/2,63

Nas Autárquicas 2021, SVB tinha 1032 eleitores e votaram 685; nestas Autárquicas 2025, temos 927 eleitores e votaram 648.

Como em 2021, a nossa freguesia votou em dissonância com o concelho (nas legislativas e presidenciais tem havido concordância desde 2009). A dissonância de agora é diferente da de 2021: então, SVB desconhecia o candidato do PS e conhecia o candidato do Sempre. Nestas eleições, a nossa freguesia conhecia bem o Leopoldo Rodrigues e a sua obra no concelho: cumprimento das promessas à Misericórdia - Lar e telhado da Igreja desta irmandade - feitas por José Augusto Alves, no anterior mandato (em substituição de Luís Correia); arranjo dos retábulos franciscados da Orada; paragem do fogo que lavrara desde Arganil, sem que ninguém o detivesse até entrar na nossa freguesia; criação de condomínios de aldeia na Paradanta e Violeiro, para evitar os incêndios; presença assídua em muitos momentos da nossa vida comunitária; apoio à edição de 2 livros; reparações várias na escola; obras no largo da Partida e apoio às Jornadas do Património; etc (no total, a Câmara terá gasto na nossa freguesia mais de 500 000 euros!) É verdade que quem anda à chuva molha-se, mas cheira um pouco a ingratidão. Po outro lado, prefiro pensar que o João Filipe Goulão fez um trabalho tão bem feito que levou as pessoas a pensar que íamos ter finalmente uma câmara e uma junta da mesma cor política. Ora isso nunca esteve nas previsões realistas, antes era do domínio dos sonhos e dos desejos, legítimos, claro (era mais que previsível uma subida da IL e do CH, que se verificou, tendo a coligação de direita perdido um vereador - antes, o Sempre tinha 3 e o PSD tinha 1; agora têm 3). Para entenderem melhor o que quero dizer, observem os resultados das freguesias onde as juntas foram ganhas pelo PSD+CDS (tp.pt/eleicoes/autarquicas-resultados/2025/eleicao-AF/990000): quase todas deram a vitória para a Câmara ao Leopoldo Rodrigues.

Como sempre, os meus parabéns à Junta de Freguesia eleita. Pode contar com a minha colaboração, em tudo o que precisar e estiver ao meu alcance.

Na Câmara, haverá 3 vereadores do PS, 3 do PSD+CDS e 1 da IL. Não sei como se vão entender, mas faço votos para que acabe o ambiente de crispação introduzido pelo Sempre no anterior mandato (em contraste com a atitude responsável do vereador do PSD) e que Câmara e Junta se esforcem por trabalharem em conjunto, para bem da nossa freguesia. Afinal, foi  para isso que foram eleitas!

José Teodoro Prata

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Estrada romana

 

Os humanos já vivem há milhares de anos, nesta encosta da Gardunha, os poderosos é que foram mudando, mas trazendo sempre consigo novas gentes.

Na época romana, a estrada vinda do Ribatejo passava por Castelo Branco, Alcains e logo a seguir atravessava a ribeira da Ocreza (a ponte está submersa pela água da barragem de Santa Águeda).

Depois dividia-se em duas. Uma voltava a atravessar a Ocreza abaixo do Louriçal e seguia pela Soalheira, Castelo Novo e serra acima até ao Fundão. A outra, a nossa, seguia na direção das Vinhas, fonte da Portela, Marzelo, Corredoura, Pinheiro, Ribeiro Dom Bento, Quintas, Orada e aqui subia até à Portela de São Vicente, agora Alto da Portela, e continuava pela outra vertente da serra.

Neste agosto, o meu sobrinho António Craveiro avisou-me de que as obras de captação de água pela Fonte da Fraga estavam a degradar a estrada. Contactei a Junta, a Câmara e um amigo arqueólogo, que me informou estar a estrada registada na plataforma de registo do património arqueológico, graças a uma iniciativa do GEGA, há uns bons anos!

De regresso, fui ver e tirei as minhas conclusões, que enviei às entidades acima referidas e à Fonte da Fraga. Resumidamente, o que observei, no troço entre a Senhora da Orada e a casa do Rabaçal foi: degradação pelo uso de tantos séculos; degradação pelas obras de captação e canalização da água oferecida à povoação pela família Matias; degradação pela água que corre continuamente nas margens da estrada, vinda de uma das captações/canalizações; degradação pela movimentação das máquinas para realizar as atuais captações da Fonte da Fraga.


A Fonte da Fraga disponibilizou-se a colaborar num projeto da restauração da estada (o presidente da Junta já a contactara, sobre o assunto) e o presidente da Câmara comprometeu-se a tratar do problema no próximo mandato.

No domingo, realizam-se as eleições autárquicas e, sejam quais forem os resultados locais e concelhios, faço votos para que possamos congregar vontades para preservarmos esta estrada milenar, que tantos trabalhos terá custado aos nossos antepassados de então.

Atenção: os turistas querem é conhecer coisas genuínas, aquilo que temos de peculiar, que nos carateriza; não o que nos torna iguais a todos os outros!

José Teodoro Prata

terça-feira, 30 de setembro de 2025

domingo, 28 de setembro de 2025

Rua do Forno?

Encontrei esta imagem na net, site httpspt.wikipedia.orgwikiS%C3%A3o_Vicente_da_Beira#mediaFicheiroRForno.jpg.

É mesmo da nossa Rua do Forno (se for, é antiga), de outra rua ou de uma das anexas? Alguém pode esclarecer?

Jopsé Teodoro Prata

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Condomínios de aldeia na Paradanta e no Mourelo

 

Finalmente foram autorizados os condomínios de aldeia, solicitados pela Câmara Municipal.
Desejo que aproveitem esta oportunidade para afastar as chamas das suas aldeias.
O artigo abaixo é do Jornal Reconquista desta semana.
José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Lume

 

(Tirado do facebook)
José Teodoro Prata

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Incêndio de 2025: um balanço

 

Esta imagem foi publicada no facebook, pelo José N R Silva. Um silêncio ensurdecedor!

Vivi a tragédia à distância. Às primeiras notícias sobre a passagem do fogo para o nosso concelho, na zona da Paradanta, avisei o meu vizinho David, para que fugisse para a Vila. De noite, o vento mudou de direção e mandou o fogo para a Orada e consequentemente para as Lameiras e Casal da Serra. O Ribeiro Dom Bento ficava na rota das chamas. Nessa noite, a minha gente afastou-o das casas na Tapada da Dona Úrsula. De manhã, o David mandou-me mensagem dizendo que ia subir, a ver como estava o Ribeiro Dom Bento. Ao chegar, nova mensagem, informando que não ardera, mas o fogo estava a chegar, ia chamar os bombeiros. Ao fim da tarde, a boa nova: não ardera.

Voltei lá uma semana depois e surpreendeu-me a forma errática como o fogo avançou, ao sabor da ventania, deixando pequenos núcleos intocados, os que tinham menos combustível ou estavam nas margens da rota do vento. Mas quem apagara o fogo que foi ficando para trás e depois o travou no Louriçal e na Charneca?

Perguntei ao meu sobrinho Vicente e a resposta dele foi exemplar: muitas pessoas é que tiveram de apagar o fogo, porque para um fogo desta dimensão não havia bombeiros que chegassem. Um exemplo de serenidade, vindo de alguém que terá passado dias e noites sem ir à cama. E num tempo de emoções à flor da pele!

Tendemos a realçar o lado mau das coisas, mas a verdade é que o fogo, que avançara livremente desde Arganil, foi travado na vertente sul da nossa Gardunha. É verdade que os aviões já haviam sido reparados, que houve tempo para a chegada de mais bombeiros (na primeira noite, os meios eram muito diminutos), que eventualmente se foi aprendendo com os erros e corrigindo as ações a desenvolver. Mas devemos estar orgulhosos pelo que fizemos (comunidade, bombeiros, autoridades..., todos os que estiveram no terreno)!

Por outro lado, olhando para o Caldeira, eucaliptos encostados às casas, a norte, junto à estrada, e pinheiros encostados às casas, na parte sul. À margem da lei e prontos para o próximo banquete de chamas!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Fungos

Este cogumelo nasceu no tronco a apodrecer de um eucalipto, no Ribeiro Dom Bento, São Vicente, serra da Gardunha. Já lá vive há vários anos e anualmente surge uma nova geração (em baixo, são visíveis os do ano passado).

José Teodoro Prata

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Poesia Simples: Apresentação

 

Texto da apresentação do livro Poesia Simples, da autoria de José Augusto Alves, por José Miguel Teodoro; dia 3 de agosto, na Igreja da Misericórdia

Chega hoje ao fim a segunda de três vidas desta Poesia Simples, de José Augusto Alves, o Zé da tia Rita.

Teve uma primeira vida - que foi o tempo em que foram compostos estes versos.

Estimamos, um período de quase 20 anos, começado em 1969 ou 1970. Não sei se, antes disso, o José Augusto Alves já fazia poemas; sabemos, porque ele o escreveu, que foi a partir do diagnóstico de uma doença grave que encheu de poemas os 4 ou 5 cadernos que nos chegaram.

José Augusto Alves nasceu em S. Vicente, em 1918, e aqui viveu até aos 70 anos. Filho da tia Rita e do tio Augusto Manha.

Falemos agora da segunda vida desta Poesia Simples.

Para contar rapidamente como é que aqui chegámos, neste projecto realizado a três, que três são os responsáveis editoriais do livro - o José Teodoro Prata, a Maria Libânia Ferreira e eu próprio.

Talvez, no ano passado, falou-se de autores de S. Vicente, que pudessem dar um livro.

Inevitavelmente, falou-se de José Pires Lourenço.

E aí se falou de outros nomes, falou o ZTP, além do José Lourenço, a Ana Vitorino Silva e o José Augusto Manha.

Fez-se depois à localização e recolha dos materiais:

- no jornal Pelourinho, que se publicou em São Vicente, a partir de 1960, onde encontrámos o José Lourenço, a Ana Vitorino Silva, também o José Bernardino, e outros

- contactos com particulares, e com o GEGA.

Lemos tudo isso.

O que publicar, então, que fosse mais interessante para as pessoas de São Vicente?

Até podia ser um livro que incluísse poemas de vários autores.

Acabámos por nos decidir pelo José Augusto Alves.

Mais de 200 poemas, de temas muito diversos, tudo em verso: uma História de Portugal; uma reportagem, digamos, da visita do Papa a Portugal; uma biografia de São Francisco; creio que outra de Santo António; acontecimentos nacionais (a seca, os fogos, eleições, etc.); família; a doença, consultas, etc.; São Vicente, locais e pessoas.

Decidimo-nos por estes.

Depois, foi passar o manuscrito em processador de texto, e tratar de toda a parte editorial, cujo resultado aqui trazemos, na forma deste livro.

Mantivemos o título, Poesia Simples, atribuído pelo poeta a todo o conjunto do que escreveu.

É nosso o subtítulo, Versos sobre a minha terra, São Vicente da Beira, que resume o conteúdo, em concreto.

O que nos parece mais assinalável nestes versos e no livro:

- as nossas coisas - a igreja, as capelas, festas, eventos sociais, ruas, a praça, o pelourinho, a fonte velha, a banda, o clube de futebol, a casa do povo, o hospital, etc.

- as pessoas - pessoas que conhecemos e que ele nomeia, pelos nomes próprios, muitas vezes pelas alcunhas: Zé Té-Té, o Pinura, o Arrebotes, o Tó Relojoeiro, o Zé Ar, a Filha do Talanga, o João Cagarola, ele próprio, José da Tia Rita e a mulher, Palmira Sardinheira.

- a visualidade - ele dá a ver, quando descreve uma rua, uma capela, é quase um repórter, ou um pintor, ou desenhador (tem uma porta, 15 janelas, pilares, o telhado é assim...), e nós é como se estivéssemos a ver, a conferir...

- a relação, o compromisso com o leitor, parece estar sempre a dialogar connosco, ao ponto de escrever - traduzo - agora tenho de voltar atrás, porque me esqueci de...

- o volume enorme da sua produção.

Foi assim, a segunda de três vidas desta Poesia Simples.

Neste ponto, devo registar e agradecer a colaboração e disponibilidade dos descendentes de José Augusto Alves; o apoio do GEGA no acesso aos materiais para este livro; o acolhimento pela Santa Casa, que aceitou fazer a edição; os apoios financeiros, sem os quais não seria possível vender o livro por este preço - a Câmara de Castelo Branco, a Fonte da Fraga, e a Junta de Freguesia de São Vicente; o apoio da Comissão das Festas do Verão e do José Candeias, da Antena 1, na divulgação.

Pessoalmente, agradeço aos meus companheiros desta jornada - José Teodoro Prata e Maria Libânia Ferreira - ao Ricardo Santos e ao Artur Santos, que produziram o livro.

Inicia-se, agora a terceira vida da Poesia Simples.

O livro passa a ser dos leitores.

Adquiram um exemplar e deliciem-se com a oportunidade de viajarem no tempo, em locais conhecidos e com pessoas que conhecemos pessoalmente ou de quem ouvimos falar.

Bom proveito.

Muito obrigado.

(Publicado por José Teodoro Prata)

sábado, 23 de agosto de 2025

Protocolo Igreja-Câmara


Melhoramentos em São Tiago (Partida) e na capela de São Sebastião (São Vicente).

Sem dar nas vistas, como é o seu estilo, o Pe. Zé Manel vai fazendo o seu caminho.

(fonte: jornal Reconquista)

José Teodoro Prata

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Poesia Simples

 

Domingo de Festas, dia 3 de agosto, a nossa comunidade vicentina vai homenagear um dos nossos poetas populares, José Augusto Alves. Ou melhor, vamos conhecer as homenagens que ele nos deixou, narrando acontecimentos e falando de nós em versos rimados.

A sua poesia é um retrato de São Vicente da Beira, nas décadas de 1970 e 80. Um retrato cheio de autenticidade e despojado de paternalismos.

Encontramo-nos na Igreja da Misericórdia, às 15:30h. A edição é da Santa Casa da Misericórdia. Não deixem acabar as Festas de Verão sem terem a Poesia Simples deste filho da ti Rita e do ti Augusto. O preço é acessível, só para os custos da impressão.

José Teodoro Prata

domingo, 13 de julho de 2025

O Mártir São Vicente

 

Pintura de Nuno Gonçalves, séc. V, Museu Nacional de Arte Antiga

Vicente de Saragoça foi um diácono cristão que sofreu o martírio pelos romanos, em Valência, no ano de 304. A sua recusa em abdicar da sua fé cristã tornou-se um exemplo para os outros cristãos. Foi e é venerado como santo, culto que se prolongou pelos períodos visigótico e árabe e após a Reconquista Cristã. Entre as muitas localidades e igrejas portuguesas de que é orago, contam-se a Diocese do Algarve e o Patriarcado de Lisboa, em cuja Sé se encontram as suas principais relíquias.

Os muçulmanos deixaram-nos notícias do seu culto, em texto reproduzido no livro “Portugal na Espanha Árabe” de António Borges Coelho.

“E quando [Abderramão] entrou em Valência [780], tinham aí os cristãos que aí moravam o corpo de um homem que havia nome Vicente; e oravam-no como se fosse Deus. E os que tinham aquele corpo faziam crer a outra gente que fazia ver os cegos e falar os mudos e andar os cepos. E quando os cristãos viram Abderramão, houveram medo dele e fugiram com ele. E disse Abulfacem, um cavaleiro natural de Fez, que andava com sua companha a monte [pirataria] na ribeira do mar: que achara, em cabo da serra que vem por mar sobre o Algarve e entra em aquele mar de Lisboa [cabo de São Vicente], o corpo daquele homem com aqueles que fugiram de Valência com ele, e que fizeram aí casas em que moravam. E que ele matara os homens e deixara aí os ossos do homem […].”

D. Afonso Henriques teve conhecimento destes factos e ordenou que trouxessem, secretamente, os ossos do santo para Lisboa, recém-conquistada.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Mimoseiras infestantes

 

O único método de acabar definitivamente com a infestação das mimoseiras é este: tirar a casca totalmente, numa área aproximada de dois palmos, a contar da terra. Não podem ficar restos de casca rente à terra, caso contrário a planta pode rebentar por aí. Em todo o caso, convém verificar se há alguns rebentos, meses depois de tirar a casca. Este trabalho deve ser realizado com luvas, pois a seiva das árvores deixa as mãos tão negras que até com lixívia pura são difíceis de lavar.

O corte das plantas não pode ser opção, pois do chão brotam imediatamente inúmeras plantas das raízes de cada mimoseira cortada.

É o único método eficiente e também o único ecológico, pois os pesticidas com base no glifosato, da empresa Monsanto, são altamente cancerígenos, de tal forma que a empresa que detém a sua patente está a pensar em deixar de o produzir, pois tem, nos Estados Unidos, centenas de milhares de processos judiciais contra ela (são mesmo centenas de milhares!) e os lucros da sua venda não compensam as indemnizações que tem de pagar pelas doenças que tem provocado. Por outro lado, as raízes das mimoseiras rebentam em novas plantas, um ou dois anos depois.

Notas:

- O que acima escrevi resulta da minha experiência pessoal.

- O glifosato foi criado pela alemã Bayer, que vendeu a sua patente à americana Monsanto; por ser um produto alemão é que a União Europeia nunca proibiu o glifosato, apenas restringindo o seu uso há pouco tempo.

José Teodoro Prata

terça-feira, 8 de julho de 2025

Sardão à rasca

 

Este lindo juvenil da espécie dos sardões foi ao lavatório da minha casa de banho, no Ribeiro Dom Bento, e ficou lá, porque não tem ventosas como a sua prima osga.

Empurrei-o com um pau, mas saltou demasiado e caiu na sanita. Puxei-o pelo rabo, mas deixou-me a ponta na mão e foi à vida (subterrânea).

Tantas queixas que os seres vivos terão de nós, humanos!

José Teodoro Prata

Festas de Verão, 2025

Cortei os patrocínios, para se conseguir ler, mas continua difícil, pois são muitos dias de festa e consequentemente a letra tem se ser pequena.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Cuidar de nós

 
Hoje, desde o raiar do dia até o sol abrasar, a passarada do Ribeiro Dom Bento ofereceu-me um maravilhoso concerto. A certa altura passei por esta amendoeira, uma das poucas que ganhou frutos após uma época de floração excessivamente chuvosa. Fiquei chocado, indignado com os pássaros frugívoros. Mas depois ri-me de mim próprio. Querias concerto de graça?!

José Teodoro Prata

terça-feira, 1 de julho de 2025

Quinteiro, de quinto, originou quinta?

 No livro “Portugal na Espanha Árabe”, de António Borges Coelho, na “II Parte – História do Andaluz, no subcapítulo “Partilha da terra entre os conquistadores” informa Ibne Mozaine de Silves:

«Conquistada Espanha, Muça […] dividiu o território da península entre os militares que vieram à conquista, da mesma maneira que distribuíra entre os mesmos os cativos e demais bens móveis colhidos como presa. Então deduziu o quinto das terras e dos campos cultivados […]. Dos cativos escolheu cem mil dos melhores e mais jovens e mandou-os ao emir dos crentes […], mas deixou os outros cativos que estavam no quinto, especialmente camponeses e meninos adscritos às terras do quinto, a fim de que o cultivassem e dessem o terço dos seus produtos ao Tesouro Público. Eram estes a gente das planícies e chamou-se-lhes quinteiros e a seus filhos, os filhos dos quinteiros.»

José Teodoro Prata

domingo, 29 de junho de 2025

Egitânia

Ando a ler o livro “Portugal na Espanha Árabe”, de António Borges Coelho. Sobre a nossa Idanha-a-Velha, informa do seguinte, na “I Parte – Geografia”, capítulo “O Garbe no século X pelo mouro Ahmede Razzi", subcapítulo “Do termo de Egitânia”:

 

«O termo de Coimbra parte com o de Egitânia. Egitânia encontra-se a oriente de Coimbra e ocidente de Córdova. É uma cidade muito antiga, situada sobre o Tejo, forte e bem dotada com um território bem provido de cereais, de vinhas, de caça e de peixes e um solo fértil. Neste território há fortes castelos onde o clima é muito são, tal como o de Monsanto, que é muito sólido; o de Arroches; o de Montalvão, que se encontra no cimo de um monte muito elevado; o de Alcântara que é uma bela localidade. Há em Alcântara uma ponte sobre o Tejo de que se não poderia encontrar semelhante no mundo; o território desta vila é propício à criação de gado, à caça e à criação de abelhas. De Egitânia a Córdova são 380 milhas.»

 

Notas: Neste mesmo subcapítulo, Ahmede Razzi faz referência ao castelo de Ourique (Ereyguez), no termo de Beja; Garbe designava o território ocidental do Andaluz (Espanha muçulmana), o qual abarcava o território ocupado hoje por Portugal e ainda as cidades de Badajoz e Mérida; o Garbe (Ocidente) foi encurtando com a Reconquista, até ficar reduzido ao Algarve, topónimo que dele deriva; a Egitânia era pois a cabeça de um grande território, entre os territórios de Coimbra, Santarém e Beja (Évora pertencia a Beja); foto do interior da catedral da Egitânia, com seus arcos em ferradura, da época em que foi mesquita muçulmana (de https://www.minube.pt/sitio-preferido/catedral-de-idanha-a-velha-a3651823).


José Teodoro Prata

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ó meu São João Batista

 Acordei com um forte batuque e vozes de mulheres a cantar. Cheguei-me à janela e uma pequena multidão descia a rua, atrás de adufeiras, que cantavam e bailavam ao ritmo dos seus adufes.

São João subiu ao céu

A regar o seu jardim.

Trouxe um cravo p´ra Sant´Ana

Outro p´ra São Joaquim.


Vesti-me à pressa, saí para a rua e misturei-me com as pessoas. O que é isto?, perguntei. São as adufeiras de Penha Garcia, é uma homenagem à Ti Rita!, alguém me informou.


São João não tem capela

Venha cá que la darei.

Tenho cá cravos e rosas

E outras flores buscarei.


Descemos a rua e o cheiro a rosmano e marcela a arder sentia-se cada vez mais forte. Na praça ardia uma grande fogueira e em volta um grupo fazia coro com o Manel Ceguinho que tocava na concertina uma modinha do São João. As adufeiras e acompanhantes juntaram-se a eles e depois todos se dirigiram para o pelourinho, onde lançaram ginjas à rebatinha.

Esta noite hei de ir às ginjas

Esta noite hei de ir a elas – ai lindó.

Quem as tiver que as guarde – ai lindó

Se não ficará sem elas – ai lindó.


Fui beber água à fonte de São João. Como estava linda, enfeitada com vasos de cabeleiras brancas amareladas! Quem fez isto tudo? Como apareceram aqui? As crianças da escola!, disseram-me. E os papelinhos com as quadras ao São João? Também foram elas.

São João lá vai lá vai

Ai se lá vai, deixai-o ir.

Ai qu´ele é menino mimoso

Ai vai ao céu e torna a vir.


Desci a Rua do Beco e, em frente à padaria, as filhas da Sr.ª Céu tinham trazido um cântaro para a rua, que rapazes e raparigas, em fila e de costas, lançavam à pessoa que estava atrás de si. Além falhou e o cântaro caiu no chão e ficou em cacos. Risada geral.


São João era bom homem

Se não fosse tão velhaco.

Ia à fonte com três moças

E vinha de lá com quatro.


Mais animação no largo da Fonte Velha, também ela enfeitada com cabeleiras. Outra fogueira ardia, enchendo o largo de fumo acre do rosmaninho e adocicado da marcela. Rapazes saltavam as chamas, constantemente avivadas pelo guardião da reserva de rosmano ali ao lado. Um tocador desceu a Rua da Costa, vindo lá do alto de onde se avistava fumarada. Era o Zé Té-Té, com a concertina, que deu voltas à fogueira com os rapazes e as raparigas a cantar e a bater palmas.


Para o São João que vem

Já não moro nesta rua.

Inda não tenho casa

Menina arrende-me a sua!


Depois seguiu pela Rua Velha e eu segui os foliões. Ao fundo da Rua Nicolau Veloso, mais animação, e na Fonte de São António juntámo-nos às adufeiras acabadas de chegar. Os adufes e a concertina animaram um bailarico em frente à casa do sr.º Manel da Silva.


Donde vens tu São João

Donde vens tão molhadinho?

Venho do rio Jordão

De regar o cebolinho.


O cortejo voltou à Praça e, surpresa, já não era um tocador, eram muitos, cada um vindo de um cruzamento de ruas, todos convergindo para o centro. Quem são? Porquê tantos?, perguntei. São os da Carapalha e vieram recordar todos os nossos tocadores de concertina.


No altar de São João

Nasceu uma cerejeira.

Qual será a mais ditosa

Que lhe colherá a primeira?


O arraial de São João estava animado, mas eu regressei à minha rua, atraído pelo cheirinho a sardinha assada do tradicional arraial organizado pelo Zé Cavalheiro. Estavam os vizinhos todos, às voltas com sardinhas, pão e vinho, em alegre cavaqueira. Na fonte havia vasos de manjericos. Passei-lhes a mão, cheirei e fui ficando, sem pressas de voltar aos lençóis.


Do São João ao São Pedro

Quatro a cinco dias são.

Moças que andais à soledade

Alegrai o coração.

Notas:

1.     Não há sincronia neste texto, pois cruzo nele pessoas e tradições de épocas diferentes.

2.     Um dia, poucas semanas antes do início da pandemia, reuni-me com o Carlos Semedo, sugerindo-lhe a realização de algumas das nossas tradições do São João, no Festival Água Mole em Pedra Dura, que se realizava no fim de semana próximo da festa deste santo. Este texto é um pouco do que combinámos, mas ficou por concretizar.

3.     As quadras foram retiradas do livro Etnografia de S. Vicente da Beira, de Isabel Teodoro

José Teodoro Prata

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Sardinhada dos santos populares

E depois fazemos estas coisas!

Faltando-nos a orientação dos poderes, juntamo-nos e convivemos, em multiplas inicativas. Desta vez, a Comissão das Festas de Verão. É sinal de uma comunidade bem viva!

(ver publicação anterior).

José Teodoro Prata
A foto penso que é do Paulo Mateus

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Afirmação


No tempo das presidências da Junta pelo meu primo Prata e pelo Vítor Louro, organizei  passeios (não eram caminhadas) por São Vicente e cercanias, mas sempre com uma organização mais que rudimentar.

Lancei e organizei a Rota da Promessa, a cumprir o estabelecido por D. Afonso Henriques de ir todo o povo uma vez por ano, em romagem ao Castelo Velho a relembrar a batalha da Oles e a ajuda do nosso povo na vitória do exército português; isto em troca da criação da povoação e do nome São Vicente. Não pegou.

Também organizei e lancei a ideia da Rota da Garça Real, em volta da barragem, rota fácil e igualmente linda, mas também não vingou.

Numa das nossas festas de primavera, organizada pela Câmara e Junta, esteve na Vila o meu amigo André Gonçalves, em representação de Almaceda. Realizara de manhã um dos passeios, penso que o Por cantos e recantos de São Vicente (o título era mais bonito, mas não me  lembro). Falei-lhe desse projeto e no ano seguinte nasceu o projeto acima apresentado, contando no segundo ano com cerca de duzentos participantes. Vingou a ideia e tornou-se marca.

Tivemos uma marca fortíssima, o Festival Água Mole em Pedra Dura. Também a deixámos perder. E não me venham, dizer que... Sarzedas não abandonou a sua marca de sucesso, Sarzedas Vila Condal, mesmo quando deixou de ser uma organização conjunta da Câmara e da Junta para passar a ser apenas da responsabilidade da Junta, como são todas as que agora se realizam nas povoações do concelho.

Depois do tempo das infraestruturas dos mandatos do Francisco Alves, Ernesto Hipólito e Pedro Matias, veio o tempo do bem-estar. Já vamos na terceira liderança, nada se afirmou e continuamos em queda desde meados do mandato do Vítor Louro.

Mas podia e devia ser diferente!

Nota: Também se organizaram caminhadas pela Gardunha, promovidas por outras pessoas e entidades (Gega, Junta...), mas nenhuma logrou vingar.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 16 de junho de 2025

O jogo da bola

 Janeiro de Cima, à beira do rio Zêzere, é uma aldeia com a qual tivemos no passado (anos 70 do século XX) uma forte ligação, chegando até a realizar-se intercâmbios entre as duas povoações, organizados pelo Pe. Branco, que ali paroquiou.

Há anos, encontrei um documento escrito do século XVIII que referia a existência em Tinalhas de um sítio chamado Jogo da Bola. Falei com a Berta Ramalhinho e localizámos o referido topónimo nas cercanias da atual sede do Centro Recreativo de Tinalhas. Que jogo de bola seria aquele que ali se jogara?

Ora recentemente fui a Janeiro de Cima visitar o meu amigo José Cortes, regressado à aldeia após uma vida de missão na Amazónia.

O anfitrião fez uma visita guiada pela sua Aldeia de Xisto e a certa altura chegámos à Rua do Jogo da Bola. Alto lá, o que é isto?

No momento passava na rua um senhor um pouco mais velho que nós e a quem o Zé pediu a confirmação das suas recordações de infância.

Nos anos 50 e 60 do século passado ainda ali se jogava um jogo com uma bola de madeira, feita de uma noça de pinheiro, acabada de arredondar por um carpinteiro. Não havia equipas, o jogo era individual e a ordem do lançamento da bola à mão era determinada por uma ordenação prévia obtida pela pontuação de cada um ao lançar a bola contra uns paus colocados ao alto, a certa distância.

Seguia-se o jogo propriamente dito. A bola era lançada por cada jogador, o mais longe possível. Por vezes a bola rachava logo ao bater no solo. Alguns jogadores que lançavam a bola até ao limite visível da rua tinham a sorte de ali o chão começar a descer e então todos, jogadores e assistência, se deslocavam para a parte da rua fora da vista, para conferir até onde fora a bola. Ganhava quem a lançasse mais longe. No final, iam todos beber uns copos para uma taberna que havia ali perto.

Era o jogo da bola, uma forma de convívio naquele Zêzere profundo.

Nota: Desconheço se se escreve noça ou nossa, mas inclino-me para a primeira; alguns pinheiros e outras árvores ganham, normalmente rente ao solo, uma saliência arredondada a que o povo chamava noça (ou nossa).

José Teodoro Prata

quinta-feira, 12 de junho de 2025

António Morão e José Jerónimo

 Estes dois padres, o nosso Padre Jerónimo e o Pe. António Morão, que paroquiava a Orca, deram um contributo muito importante para a consciencialização dos cristãos da necessidade de democratizar Portugal, antes e depois do 25 de Abril. 

Neste fim de semana de 14 e 15 de junho, inúmeros personalidades da região irão à Orca homenagear o Pe. António Morão, este ano em que se prefazem 100 anos do seu nascimento. Deixo-vos um texto que escrevi para um podcast que passou na Rádio Castelo Branco, no âmbito das comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril.

A Homilia da Paz do Bispo do Porto, no dia 1 de janeiro de 1974, teve enorme repercussão entre os cristãos. Também nesse dia, um grupo de cristãos fez uma Vigília pela Paz, na capela do Rato, em Lisboa. Nela Sophia de Mello Breyner Andresen compôs a Cantata pela Paz, que começa pelos versos “Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar.”

Estas ações vieram agitar as consciências dos cristãos, até então muito acomodados e até ativos colaboradores do regime ditatorial.

Logo nesse mês de janeiro, Frei Bento Domingos publicou na revista Brotéria um artigo que saiu no Jornal do Fundão, a 17 de março. Nele o autor refletia sobre a opção dos cristãos pelo socialismo, alicerçando-se na doutrina dos papas João XXIII e Paulo VI e nas tomadas de posição de muitos cristãos, dentro e fora da hierarquia da Igreja Católica.

Imediatamente após o 25 de Abril, a 12 de maio, um grupo de sacerdotes publicou no Jornal do Fundão o seu apoio ao Movimento das Forças Armadas e ao programa da Junta de Salvação Nacional, dando assim o seu contributo para o processo de democratização do país.

Estes sacerdotes viriam depois a fundar um núcleo regional do Movimento dos Cristãos pelo Socialismo, um movimento cristão, internacional e não partidário, dos anos 70. Em toda esta dinâmica regional dos cristãos progressistas, o Pe. António Morão desempenhou um papel muito importante.

(Nota: O socialismo que aqui se refere é o que está consignado na nossa Constituição e que é apelidado de social-democracia e trabalhismo no norte da Europa e de socialismo mais no sul da Europa - palavras diferentes para designar a mesma ideologia política.)

José Teodoro Prata

segunda-feira, 9 de junho de 2025

E nós?

 


José Teodoro Prata

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Balanço do ano agrícola

 Terminado que está o meu ano agrícola, pois faço apenas agricultura de sequeiro, é tempo de vos apresentar o balanço:

Alhos: A terra é apertada nos Cebolais, pois é formada por uma espécie de barro derivado da decomposição do xisto. Semeio alhos há quatro anos e os primeiros dois foram um desastre total, pois apanharam míldio e apodreceram com excesso de água da chuva e da minha rega. Comecei a semear os alhos em cima de cômoros e não os reguei; o ano passado e este foram um sucesso!

Favas e ervilhas: Ando farto de debulhar e escaldar para congelação; acabei agora a última debulha de ervilhas. Já nem as podia ver!

Alhos-porros: Este ano a produção foi média, inferior ao ano passado, em quem a produção foi enorme. O excesso de chuva e a falta de sol perturbaram o seu desenvolvimento, impedindo-os de engrossar mais.

Batatas: Boa produção, melhor na Picasso (também chamada Olho de perdiz) que na Laura. Foram semeadas em fins de fevereiro, já com os cortes secos e cinza espalhada na terra sobre a qual as coloquei. O local também ajudou, pois ficava virado a sul, com uma parede a protegê-las do vento e frio do Norte. Após a Páscoa, estavam muito lindas, mas uma semana depois começaram a secar. Afinal o mal que destruiu as de quase toda a gente também o apanharam, mas valeu-me estarem já quase criadas.

Cebolas: Má produção. As plantadas no outono sobreviveram metade e das plantadas no inverno tenho lá um quarto. Gostam de chuva, mas precisam de sol!

Couves, repolhos e nabos: Foi difícil fazer concorrência às lesmas e caracóis! Devem ser plantados em agosto e inícios de setembro para estarem feitos quando chega o frio da segunda quinzena de novembro. Foi o que a minha mãe me ensinou, mas eu atraso-me sempre e por isso…

Em fins de setembro, inicio um novo ciclo.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Restauro dos retábulos da Orada

Ia escrever no título "retábulos franciscanos", mas o que se fez na nossa ermida da Senhora da Orada foi mais que isso. Aos retábulos franciscanos foram acrescentadas pequenas partes, pois a adaptação ao espaço menor da capela terá motivado alguns cortes mais descuidados. É que a Igreja de São Francisco do extinto convento feminino franciscano era maior que a Igreja da Misericórdia e por isso o retábulo que hoje temos seria originalmente bastante maior. Já agora, a Igreja de São Francisco localizava-se no local onde depois o sr. José Lourenço fez um palheiro, cujo edifício ainda existe, encostado à casa que foi dos meus avós maternos e onde, na minha infância, viviam os meus tios Zé Lopo e Maria José Prata.

O meu pai participou na construção desse palheiro e contou-me que na abertura dos alicerces foram encontrados imensos ossos de pessoas ali sepultadas. Também o Pe. Branco me disse que na rua, em frente ao referido palheiro, apareceram imensos ossos humanos aquando da abertura das valas para o saneamento básico, nos últimos anos da década de 60 do século passado. Até cerca de 1826, data da construção do nosso cemitério, enterravam-se as pessoas dentro e em redor das igrejas!

Altar principal. No brasão, ao alto, pode ver-se o símbolo franciscano do braço desnudado de Cristo (aquando da sua morte) cruzado com o braço com o hábito franciscano. O retábulo é policromado, porque tem várias cores: amarelo dourado, azul e rosa. É de estilo barroco e terá sido construído cerca de 1700: porque a época áurea do convento terá sido na segunda metade do século XVII e na primeira metade do século XVIII; porque, na azulejaria barroca, o século XVII é o período do policromado (várias cores) e o século XVIII do monocromado (azul sobre fundo branco). Algo de semelhante se terá passado com a talha dourada. Já agora, este conceito vem do facto destes retábulos serem feitos de madeira trabalhada, talhada com o formão, e serem depois revestidos com tinta amarelo dourado / folha de ouro.


Os retábulos laterais, que eram muito pobres, foram significativamente melhorados. A estes retábulos foram acrescentados altares. Neste, do lado da Epístola (à direita do celebrante, quando virado para o altar), foi colocado São Brás.



Este, do lado do Evangelho (à esquerda), recebeu a Senhora da Graça, oferta de Nuno Álvares Pereira, segundo da lenda.

José Teodoro Prata