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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Leitão

José Leitão nasceu em São Vicente da Beira, no dia 9 de agosto de 1893, filho de António Leitão Canuto e Maria do Patrocínio, moradores na rua Velha.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça em Castelo Branco, no dia 9 de julho de 1913; foi incorporado no Regimento de Infantaria 21, 2.º Batalhão, em 13 de janeiro de 1914.

Pronto da instrução da recruta em 30 de abril, foi licenciado em 1 de maio, domiciliando-se em São Vicente da Beira. Apresentou-se novamente no dia 4 de fevereiro de 1915 e foi licenciado em 1 de maio. Nesta altura recebeu instrução de corneteiro, mas não a concluiu por “inabilidade artística”, como consta na sua folha de matrícula.

Voltou a ser convocado em 5 de maio de 1916 e, fazendo parte do CEP, embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, incorporado na 6.ª Companhia do 2.º Batalhão, 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 72 e chapa de identidade n.º 9128.

No seu boletim individual de militar do CEP e folha de matrícula constam as seguintes informações:

a)   Baixa ao hospital em 16 de junho de 1917, por ferimento por gases; alta a 20;

b)   Ausentou-se sem licença no dia 24 de agosto de 1918 e foi considerado desertor passadas 24 horas;

c)    Apresentou-se de deserção, no dia 28 de agosto, e foi detido na prisão da base em 30;

d)   Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em sete de setembro, foi libertado poucos dias depois;

e)   Foi punido em 17 de setembro, por ter feito uso de um passe regulamentar fora da data para que lhe fora concedido, ausentando-se indevidamente do seu local de estacionamento;

f)     Baixa ao hospital em seis de março de 1919 e alta em 24, seguindo para o Depósito Disciplinar 1 a 25 de março;

g)   Punido em 23 de maio de 1919, pelo Comandante, com sessenta dias de prisão correcional, por ter exigido ser transportado por um camião quando se dirigia da base para a sua unidade na frente, dizendo que estava muito fatigado (Este castigo ficou sem efeito, em virtude da Ordem de Serviço n.º 156 de 11/6/1919);

h)   Foi repatriado com o Depósito Disciplinar 1, a cinco de julho de 1919;

i)     Desembarcou em Portugal, no dia 8 de julho de 1919, e regressou a São Vicente da Beira.

Em outubro de 1919, passou ao Batalhão n.º 1 da GNR com o posto de soldado de 2.º classe. Em 21 de outubro, passou a soldado da classe de aprendiz de corneteiro e em 27 de abril de 1920, após ter terminado a especialidade, passou a soldado de 1.ª classe. Em 4 de janeiro de 1921, foi promovido a 2.º cabo corneteiro.

Licenciado em 21 de junho de 1921, mudou a residência para a freguesia de Santos, em Lisboa, passando ao Regimento de Infantaria n.º 1.

Por ter terminado o tempo de serviço nas tropas ativas, passou ao Regimento de Infantaria nº 1 de Reserva em 31 de dezembro de 1923, à reserva activa em 31 de dezembro de 1926 e à reserva territorial em dezembro de 1934.

Na sua folha de matrícula consta um castigo de 15 dias de prisão correcional aplicado pelo comandante da companhia em maio de 1921, por «no dia 23 de Maio do corrente, pelas 10h, estar entre um grupo de praças referindo-se aos últimos acontecimentos e dizendo: se nós temos muitas tropas eles também as tinham, e se nós éramos republicanos eles também o eram, que a nossa bandeira se achava içada e a deles andava à frente da força, e mais disse que os oficiais da 4ª companhia tinham sido uns falsos por terem abandonado a sua companhia» (Foi amnistiado deste crime pela Lei n.º 1629 de 15/7/1924).

Condecorações e louvores:

·        Medalha militar de cobre comemorativa com a inscrição França 1917-1918;

·        Medalha militar de cobre de classe de comportamento exemplar.

Família:

José Leitão casou com Benvinda de Oliveira, natural do Gavião, na 2.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, no dia 23 de julho de 1922. Não foi possível saber se tiveram filhos, nem qual foi o seu percurso de vida, mas o castigo que sofreu em maio de 1921 pode significar que seguiu a vida militar ainda por algum tempo e terá estado colocado na cidade de Lisboa, provavelmente integrado na GNR.

Faleceu na freguesia do Campo Grande, no dia 2 de fevereiro de 1967. Tinha 73 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 17 de dezembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José dos Santos

José dos Santos nasceu em São Vicente da Beira, no dia 11 de maio de 1895, filho de Theodósio dos Santos, natural de Alcongosta, e de Joaquina Mateus.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça, como recrutado, em 1916.

Após a conclusão da recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia 19 de janeiro de 1917, integrando a 8.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado n.º 586 e chapa de identificação n.º 9753.

Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:

a)   Baixa ao hospital em 19 de maio de 1917; alta no dia 22 do mesmo mês;

b)   Passagem à 3.ª Companhia. por Ordem de Serviço de 28 de janeiro de 1919.

c)    Regressou a Portugal com o Regimento de Infantaria 21, em 25 de fevereiro de 1919, a bordo do navio Helennus.

Família:

José dos Santos casou na 6.ª Conservatória de Lisboa, com Vitória Maria Quintela, natural da Póvoa de Rio de Moinhos, no dia 23 de dezembro de 1922.

O casal terá vivido em Lisboa, e posteriormente em Águeda, pois, de acordo com os averbamentos dos respetivos registos de batismo, foi nessa cidade que ambos faleceram. Não foi possível saber qual foi o seu modo de vida nem se deixaram descendência.

José dos Santos faleceu em Águeda no dia 22 de maio de 1962. Tinha 67 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Biblioteca Dr. Hipólito Raposo

 Abertura ao público

Embora a Biblioteca ainda não esteja organizada de acordo com as regras devidas (é um trabalho que leva muito tempo), pensamos que já tem condições que permitem a sua reabertura e utilização por todos os que gostem de livros ou que começam agora a descobri-los.

Esperamos que sejam muitos! 

De acordo com as necessidades, esta informação (horário de funcionamento) pode ser reajustada. 


 
M. L. Ferreira

Fotografias da Conceição Luzio

domingo, 16 de outubro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

     José da Cruz

José da Cruz nasceu no Casal da Serra, a 14 de outubro de 1892. Era filho de Bernardo Cruz, cultivador, e Maria Joaquina.

Assentou praça no dia 12 de julho de 1912, como recrutado, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em Castelo Branco, no dia 15 de maio de 1913. Na altura era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Foi vacinado.

Ficou pronto da instrução da recruta em 28 de agosto e foi licenciado, regressando ao Casal da Serra. Apresentou-se novamente em 5 de maio de 1916 e foi mobilizado para fazer parte do CEP. Embarcou para França no dia 18 de janeiro de 1917, integrado na 6ª Companhia do 2º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado com o número 132 e a placa de identidade n.º 9157.


Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:

a)   Baixa ao hospital, em 17 de setembro de 1917; evacuado para o Hospital de Sangue n.º 1, em 19, e alta a 28 do mesmo mês;

b)   Baixa ao Hospital de Sangue n.º 1, em 28 de fevereiro (1918?), e evacuado para o Hospital Canadiano, em 3 de março; alta para o Depósito Misto, a 6 do mesmo mês;

c)    Regressou a Portugal, em 28 de fevereiro de 1919.

Após o regresso a Portugal, continuou a residir no Casal da Serra.

Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de dezembro de 1922, à reserva ativa, em abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1933.

Família:

José da Cruz casou com Rosária da Conceição, no dia 26 de novembro de 1919, e tiveram 5 filhos:

1.    Maria do Rosário, que casou com Filipe Lourenço e tiveram 2 filhos;

2.    Lourenço, que morreu com dois anos;

3.    Lourenço Bernardo, que casou com Rosalina Bernardo e tiveram 3 filhos;

4.    Rosalina da Conceição, que casou com António Agostinho Simões e tiveram 4 filhos;

5.    Maria de Jesus Bernardo, que casou com Manuel Basílio e tiveram 6 filhos.      

«O meu pai falava pouco do tempo em que andou na Guerra; era a minha mãe que às vezes nos falava das coisas que ele lhe contou durante o namoro. Dizia que tinha passado por lá muita fome; que muitos dias a única coisa que tinha para comer era uma fatia de pão que metia no bolso de manhã e tinha que durar para o dia todo; às vezes ia à procura das migalhinhas que ficavam no fundo e só de lá tirava piolhos.

Diz que às vezes, durante a noite ou nos dias em que não havia combates, iam pelos campos à procura de alguma coisa com que pudessem matar a fome. Por causa disso, ele e mais uns poucos ainda estiveram para ser castigados porque foram para longe à procura de comida e foi um francês que os avisou que o batalhão já estava em retirada; se não tivessem ido depressa, ainda tinham sido presos.

Também falava do medo que tinha de morrer e da tristeza que sentia quando, no fim dos combates, tinham que abrir as valas para enterrar os que tinham morrido. Diz que havia alguns companheiros que ainda tinham coragem de tirar os relógios ou alguma coisa de valor aos que morriam, antes de os meterem nas valas. Ele nunca foi capaz de tirar nada, até porque nunca acreditou que conseguisse sair daquela guerra com vida, por isso não ia precisar daquilo para nada. Quando voltou, só trazia com ele uma talega e um cantil. Diz que, num dia em que houve lá um grande bombardeamento, foi aquela talega cheia de terra que aparou as balas que vinham na direção da cabeça dele e o salvou. Guardou-a durante o resto da vida. O cantil usava-o muitas vezes para beber água e era por ele que eu também gostava de beber.

Graças a Deus voltou à terra são e salvo e sem grandes problemas de cabeça, mas trazia um mal nos olhos que fazia com que visse mal e andasse sempre a chorar. Diz que foi por causa dos gases que os alemães por lá deitavam.

Trabalhou sempre no campo, à jorna e a tratar da parte das terras que lhe couberam por morte do pai. Teve uma vida cheia de trabalho. Não havia os mimos nem dinheiro como há hoje, mas não nos faltava o pão na mesa e, no tempo dela, também não nos faltava a sardinha.

Nunca recebeu nenhuma pensão por ter andado na Guerra, porque nunca teve ninguém que lhe desse a mão, como houve alguns.» (Testemunho da filha Maria do Rosário).        

José da Cruz faleceu no Casal da Serra, a 13 de setembro de 1968. Tinha quase 76 anos.

 

(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria do Rosário)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 17 de setembro de 2022

A Rota Romana ou Medieval de São Vicente da Beira

 Há dias decidi ir (a pé, está claro), à Portela da Senhora da Orada ver como paravam as modas. É uma forma de dizer. Desde a última vez que por lá andei, já passaram alguns anos. Foi num dia em que escrevi um texto (por sinal, publicado neste blog) e fotografei um cão que por lá apareceu, ao qual também fiz referência.

A partir da Portela da Senhora da Orada não consegui encontrar qualquer afloramento de calçada, na encosta norte da Gardunha, em direção a Alcongosta, Fundão ou outra povoação próxima.   

No dia seguinte fui à outra Portela a sul e, mais além, até ao fundo das Vinhas e Valouro. Agora como da outra vez, o fito principal era ir ver o estado da calçada romana ou medieval que vem do meridião, segue para norte, na parte que se contém, mais ou menos, nos limites da nossa freguesia. Ou seja, da estrada vicinal, hoje alcatroada, que vai do Louriçal do Campo à EN 352, próximo do Valouro e que corta, ortogonalmente, a nossa rota romana ou medieval.

A fim de situar as pessoas relativamente ao itinerário desta antiga estrada romana ou medieval da Vila, digo aquilo que me parece: entra na nossa freguesia a sul, pelo Valouro, Vinhas e Fonte da Portela. Foi cortada perto deste local pela EN 352 fundindo-se com esta. Ao fundo da Barreira da Fábrica, do lado da Vila, volta a autonomizar-se e segue pela estreita rua das Poldras para o Ribeiro do Marzelo; passa pela rua da Corredoura e segue pelo caminho do Cimo de Vila para a Senhora da Orada, até ao Alto da Portela, local em que desce para a encosta norte da Serra da Gardunha. Antes do calcetamento da rua da Corredoura e quelhas adjacentes (a nossa antiga circular externa!), ainda havia alguns afloramentos de calçada antiga na barreira do Ribeiro do Marzelo, do lado dos Cunhas, mesmo junto ao muro da quinta.   

Tal como me aconteceu na Portela, a norte, a partir da mencionada estrada vicinal para sul, não pude vislumbrar a referida via romana ou medieval, dadas as dificuldades do terreno e da vegetação. Mas creio que seguirá para Castelo Branco. Talvez se consiga encontrar, penso eu, se se fizer a pesquisa inversa, começando naquela cidade ou, em todo o caso, algures na Póvoa de Rio de Moinhos ou Tinalhas caminhando para norte.

Mas, digo estrada "romana ou medieval", porque, não sendo eu um especialista na matéria, entendo que não posso (nem devo) classificar, para já, esta via, sem que outros se pronunciem sobre o assunto. Sei apenas que se trata de uma estrada antiga (razão pela qual deve ser preservada), com algumas caraterísticas nas quais, segundo os entendidos, se podem enquadrar as estradas romanas, mas também as medievais. Esta via pode, de facto, ter uma origem romana e ter sido, posteriormente, modificada como, de facto, aconteceu por todo o país. Os melhoramentos, hoje, são desaconselhados, a não ser que sejam feitos por especialistas.   

A construção das vias nas províncias romanas não era tão complexa como na península itálica. Basicamente, era aberta uma caixa no terreno que se enchia de pedras e areia ou cascalho ou cal que, depois de batida, levava na superfície uma camada de lajes a formar uma face convexa, tudo para permitir a drenagem das águas pluviais. Algumas podem apresentar, ao centro, uma fila longitudinal de pedras. É o caso desta via junto à Senhora da Orada que, assim, se aproxima mais da configuração das antigas ruas da Vila de S. Vicente da Beira construídas na Idade Média.  De uma forma ou outra, o que é certo é que este sistema de construção das obras permitiu que a rede viária romana perdurasse por 2 milénios! Mesmo o MacAdam, com o seu método moderno, obrigava a reparações permanentes levadas a cabo por um verdadeiro exército de cantoneiros, cada um com seu "cantão"! Nenhum dos povos seguintes (Godos, Árabes) teve, como os Romanos, a noção da importância das estradas no desenvolvimento militar, económico e administrativo. Com o início da Idade Média (sensivelmente, no séc. V), como se sabe, a civilização ocidental estagnou ou deu passos atrás! Segundo os historiadores, até quase ao século XX (imagine-se!), a nossa rede viária assentava, fundamentalmente, na profusão dos caminhos rasgados pelos romanos!

Estão indicados na internet vários trilhos na nossa região, seja na planície ou na serra, nomeadamente, Castelo Branco, Sarzedas, Almaceda, Alcains, Soalheira, Louriçal do Campo, Alpedrinha, Castelo Novo. Todos seguem, como é óbvio, pontos de interesse turístico, quer naturais, quer culturais (culturais, isto é, onde há mão humana). Em S. Vicente da Beira também há indicação de trilhos no terreno mas, na internet, no que concerne à freguesia, creio que apenas se faz referência ao Casal da Serra, quando se descrevem as rotas do Louriçal do Campo ou de Castelo Novo.

Acontece, então, que a dita estrada romana ou medieval a norte, não está tão bem conservada como estava há uns anos atrás quando lá estive! É certo que foi contida a invasão da vegetação e, mais que contida, foi alargado o seu limite de crescimento. Essa operação, em si mesma, seria benéfica, porque deixaria mais à vista uma obra humana antiga que nós não temos o direito de destruir! A sul, esta via, está e sempre esteve pior porque foi sempre muito mais utilizada! O presidente da Junta de Freguesia disse-me, pessoalmente, há tempos, que iria ser limpa na área da Fonte da Portela, mas, por enquanto, ainda continua na mesma.

Sucede, porém, que, hoje, naquela zona norte, há eucaliptos para cortar e eólicas que ali foram instaladas que necessitam de manutenção. Deve ter sido por isso que a estrada, além do corte da vegetação, foi alargada por máquinas; e, embora pareça que a calçada foi poupada, encontra-se, na sua maior parte, coberta por uma camada de entulho. Não me parece que a estrada tenha sido, propriamente, soterrada, mas a cobertura de terra deve ser retirada e a calçada limpa! Em muitos locais do país estas vias antigas foram destruídas. É preciso que não se destruam mais. Por isso, a Junta de Freguesia deve tomar medidas e verificar melhor o que se passou, a fim de tentar preservar os afloramentos ainda existentes.  

Anexo: fotos de alguns afloramentos da calçada antiga e um vídeo de uma das eólicas da Portela Norte. 



José Barroso  

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Ambrósio



José Ambrósio nasceu em São Vicente da Beira, no dia 26 de julho de 1891. Era filho de Manuel Ambrósio, jornaleiro, natural da Aldeia do Cabo, e de Catarina Narcisa, moradores na rua Manuel Lopes.

Assentou praça em Castelo Branco, onde fez a instrução da recruta. Alguns anos após ter sido licenciado, foi novamente mobilizado para fazer parte do CEP. Embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 1.ª Bateria do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 156 e placa de identidade n.º 8798.

Do seu boletim individual constam as seguintes ocorrências:

a)   Baixa ao hospital, no dia 1 de outubro de 1917; alta a 6 do mesmo mês;

b)   Baixa à Ambulância n.º 3, no dia 27 de dezembro; evacuado para o Hospital Sangue n.º 1, no dia 31;

c)   Evacuado para o Hospital Canadiano n.º 3, em 2 de janeiro de 1918; alta no dia 15; baixa à Ambulância n.º 3, no dia 26, e evacuado para o H. de Sangue 1 no dia 27; alta a 28; baixou de novo à ambulância em 2 de fevereiro; julgado incapaz para todo o serviço no dia 11;

d)   Embarcou para Portugal, no dia sete de Abril de 1918, a bordo do Cruzador Auxiliar Pedro Nunes.

Família:

José Ambrósio casou com Maria Inês Martins, no dia 2 de Abril de 1921. Maria Inês era natural dos Pereiros e foi aí que ficaram a viver e criaram os quatro filhos que tiveram:

1.   Justina Inês, que casou com João Lourenço e tiveram 6 filhos;

2.   Maria do Carmo, que não se casou nem deixou descendência;

3.   Maria Natividade, que casou com Joaquim Louro, mas não teve filhos;

4.   António Joaquim, que casou com Maria Angelina Varanda e tiveram 1 filho.

José Ambrósio trabalhou a vida inteira na agricultura, nas terras que herdou e noutras que foi comprando. Tinha uma casa farta de tudo o que a terra dava, o que, juntamente com a pensão que lhe foi atribuída por ferimentos na guerra, lhe permitiu ter sempre uma vida desafogada.

«Eu era o neto mais velho do meu avô e, se calhar por causa disso, gostava muito de mim e dava-me muitos mimos. Eu também gostava muito dele e, se me queriam encontrar, era atrás dele. 

Às vezes chegava da escola e ia destapar a panela para ver o que era o comer; se não me agradava, saía porta fora e ia direitinho à casa dos meus avós, porque sabia que lá se comia melhor. Já havia arroz, açúcar e tudo, coisa que na casa dos pobres era rara, naquele tempo.

Lembro-me dele lá ter um copo de esmalte, com uma asa, que disse que tinha trazido da França, e era por ali que eu gostava de beber sempre. Ele ficava todo orgulhoso e comovido por eu estimar assim tanto aquela recordação que tinha trazido da Guerra com tanto empenho.

Como naquele tempo a casa do meu avô era das mais fartas da terra, era lá que o padre Tomás ia comer muitas vezes, nos domingos em que ia dizer a missa aos Pereiros. Faziam-lhe sempre uma galinha para o almoço e ele, enquanto a não comia toda, não se levantava da mesa. Eu bem andava ali à roda a ver se me dava alguma coisa, mas ele até fazia que não me via.

Nos dias da feira, o meu avô trazia-me à Vila e comprava-me roupa e calçado novo. Era uma alegria!

E o tempo foi passando. Quando chegou a altura, fui para a tropa, para Moçambique, e andei por lá três anos; depois casei e fui viver para Lisboa. Mas sempre que podia vinha à terra, e ia sempre visitá-lo aos Pereiros.

Morreu já lá vão uns bons anos, e continuo a ter muitas saudades dele.» (testemunho do neto Domingos Lourenço).

José Ambrósio faleceu no dia 10 de Abril de 1981. Tinha quase noventa anos.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do neto Domingos Lourenço)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

domingo, 24 de julho de 2022

Já passaram 19 anos!

A Dr.ª Maria de Lurdes Gouveia Barata (Milola) adora fotografia e tem por hábito fotografar as pessoas que encontra nos eventos culturais em que participa. Mais tarde presenteia-as com as fotos. Eu tenho a sorte de ser um dos agraciados e por assim recebo frequentemente um  envelope recheado de preciosidades.

De volta a tralhas mais antigas, deparei-me com estas fotos do lançamento do livro No tempo dos avós mais velhos, do José Miguel Teodoro, realizado na nossa Praça, no dia 17 de agosto de 2003.

A obra foi editada pelo GEGA e apresentada pela Dr.ª Maria de Lurdes Gouveia Barata. Houve festa na Praça, com a participação dos bombos e do rancho folclórico.

As fotos que aqui vos deixo não contam tudo, pois a fotógrafa oferece a cada pessoa sobretudo as fotos em que essa pessoa aparece.






José Teodoro Prata

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Madressilva da Gardunha

Esta trepadeira chama-se madressilva e cresce expontaneamente no Ribeiro de Dom Bento, 
nas imediações do ribeiro. 
Trouxe-a de lá e plantei-a no meu jardim.

O seu nome científico é Lonicera japonica

Família e descrição

Da família Caprifoliaceae, género Lonicera, a madressilva é uma trepadeira lenhosa de crescimento moderado que pode alcançar 2 m de altura.

Encontra-se em floração entre Abril e Agosto, com flores em forma de campainha que crescem em grupos de 2 a 6. O seu intenso e doce perfume atrai borboletas que asseguram a sua polinização.

Os frutos são bagas vermelhas.

 

Origem e habitat

Originária da China e Japão, é muito frequente nas regiões mediterrânicas.

Em Portugal poderemos encontrar três espécies nativas – Madressilva-das-boticas (Lonicera peryclimenum), Madressilva-caprina (Lonicera etrusca Santi) e Madressilva (Lonicera implexa Aiton). São frequentes nas regiões Centro e Sul, Açores, e numa região mais restrita do Nordeste transmontano, junto ao rio Douro.

Como habitat, a Madressilva prefere matagais, orlas de bosques, terrenos baldios e montanhas de baixa altitude.

 

Utilizações e curiosidades

São-lhe atribuídas inúmeras propriedades medicinais, sendo frequente a sua aplicação em fitoterapia desde tempos remotos. Registos antigos referem a prática de as crianças chuparem o néctar das suas flores (onde estão concentradas as suas propriedades medicinais).

O termo Lonicera respeitante ao seu género, foi adaptado ao latim por Carl Linné, como homenagem ao médico e botânico alemão Adam Lonitzer.

Os frutos são bagas vermelhas, tóxicas, suscetíveis de provocar vómitos e diarreias.

Deve ser cultivada em sol pleno, em solo fértil com boa adubação orgânica e regada periodicamente. É tolerante ao frio e multiplica-se por estacas.

Do site: https://gulbenkian.pt/jardim/garden-flora/madressilva/

 José Teodoro Prata

domingo, 17 de julho de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

Joaquim Simão

Joaquim Simão, filho de João Simão e de Antónia Duarte, cultivadores, nasceu no Casal da Serra, a 31 de julho de 1895.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça em Castelo Branco, como recrutado. Após a conclusão da instrução da recruta, foi mobilizado para a guerra, e embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 498, chapa de identidade n.º 9287.

Do seu boletim individual de militar do CEP constam as seguintes ocorrências:

a)   Baixa ao hospital em 23 de março de 1917; alta no dia 29;

b)   Diligência ao front em 20 de abril; presente em 26;

c)    Diligência para os postos da retaguarda, em vinte de janeiro de 1918; Punido em 14 de janeiro de 1919, com 4 guardas, por no dia 13 estar a fumar durante a formatura para a revista de saúde;

d)   Embarcou para Portugal com o Regimento de Infantaria 21, no dia 25 de fevereiro de 1919, a bordo do vapor Helenus.

Família:

Joaquim Simão casou com Olímpia da Conceição, no dia 26 de novembro de 1919, e tiveram 2 filhos:

·        João Joaquim, que casou com Maria da Conceição e tiveram uma filha;

·        Maria da Graça que casou com Joaquim da Cruz e tiveram três filhos.

Olímpia da Conceição faleceu em 1937, quando a filha mais nova tinha apenas cinco anos de idade. Joaquim Simão não voltou a casar.

Conta o neto João José que o avô era uma pessoa alegre e conversadora, mas não falava muito sobre o tempo da guerra. Lembra-se apenas de o ouvir falar de como era difícil a vida nas trincheiras e da fome que por lá passaram.

Viveu sempre com os filhos no Casal da Serra, onde trabalhou na agricultura e tratava de um pequeno rebanho. A terra e as suas cabras eram das coisas que ele mais gostava e, como diz o neto João José «mesmo já depois de muito velhinho, não largava o sacho da mão a arrancar as ervas da horta e ainda tinha uma cabra, mesmo só para se entreter.»

Depois do casamento da filha, acompanhou-a por várias localidades onde o genro ia sendo colocado como guarda de passagens de nível da CP. Por fim fixaram-se na Lardosa, localidade onde Joaquim Simão faleceu, no dia 3 de Março de 1974(?). 

(Pesquisa feita com a colaboração do neto João da Cruz)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra