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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Concerto de Natal

 

Maria Libânia Ferreira

O nosso falar: desassemelhado

Travei-me de razões com um galho de laranjeira e saí com um ligeiro raspão na testa. Agora secou e fez crosta, parecendo uma grande coisa. Hoje vi-me ao espelho e achei-me um pouco desassemelhado para a festa.

Desassemelhado é um adjetivo e o particípio passado do verbo desassemelhar. De certa forma, desassemelhado é sinónimo de desfigurado, adjetivo mais usado que este, que caiu em desuso.

Desassemelhado significa não estar semelhante ao que é habitual. No uso do nosso povo, penso que é mais suave que desfigurado.

José Teodoro Prata


Nota: há novo comentário (com informações importantes), na publicação Pe. Domingos Martinho Raposo (para voltar lá, escrever este nome da publicação na caixa da esquerda, ao alto)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O Pelourinho

 Há dias, a propósito do artigo sobre a digitalização dos jornais pela Biblioteca de Castelo Branco, não respondemos à dúvida sobre se existiria o Pelourinho na Biblioteca Hipólito Raposo. De facto não existe. Há apenas um exemplar que foi doado, há tempos, pela Maria José (Alfaiate). É o número 2, publicado em 15 de setembro de 1960, era diretor o padre Sílvio.

Era bom que fosse possível reunir todos os números publicados (também de O Vicentino) e torná-los acessíveis através da digitalização. É que, dando-nos conta, mensalmente, dos acontecimentos mais importantes em cada uma das povoações da freguesia, foi um documento fundamental para ficarmos a saber quase tudo sobre a vida de São Vicente durante várias décadas: dados económicos, sociais, demográficos, culturais, costumes, valores, etc. que muitos vivemos e ainda recordamos, mas a maior parte da população mais jovem nem imagina.

Deixo algumas das notícias deste Nº2; acho-as significativas porque testemunham bem como estávamos todos irmanados nas alegrias, nas tristezas e nas necessidades mais básicas:

 - No Mourelo pedia-se às “Exmas. Autoridades” que fosse feito um chafariz para abastecimento de água à população, porque a única fonte disponível era ainda a Fonte de Mergulho, “pouco higiénica e muito distante”; realizara-se a festa de Santo António, “glorioso protector”, com missa e sermão feito pelo Padre Sílvio e cânticos dirigidos por um seminarista da Guarda; deu-se ainda conta da visita de várias pessoas aos seus familiares.

- Na Partida ansiava-se ainda pela chegada da estrada e pedia-se ajuda para o arranjo de alguns caminhos; a população viveu em festa, entre os dias 26 de agosto e 5 de setembro, pela presença de um grupo de seminaristas da Guarda que “… proporcionaram a todos momentos de inesquecível prazer espiritual”; também houve grande satisfação pela chegada de alguns conterrâneos vindos de França ou de Lisboa para passarem férias com a família; no dia 3 de setembro faleceu a senhora Amélia Bonifácio de Carvalho.

-Nos Pereiros festejava-se já a chegada da nova estrada que tanto iria beneficiar a população; mas chorava-se a morte de uma criança de 2 anos, num incêndio num palheiro, e queimaduras graves na mãe ao tentar salvar o filho; esteve de visita à família o senhor João António Varandas, sócio gerente da Fogás Lda.

 - Na Paradanta esperava-se com impaciência a construção da escola, tanto mais que a população estava disposta a ceder o terreno no local que as “Exmas. Autoridades” julgassem mais adequado; estavam ainda de férias alguns estudantes da terra (6, no total!), e também o “menino” Norberto Gomes Filipe tinha ficado bem no exame de admissão ao Liceu; o senhor António Gomes Filipe e esposa pediram, para seu filho, a mão de D. Maria Emília Ventura Russo “Professora Oficial”, filha do senhor Alfredo Ventura Russo e da senhora D. Trindade Diogo Ventura Russo; faleceu inesperadamente a esposa do senhor Álvaro Martins Faustino.

 - No Vale de Figueiras festejava-se o início das obras de alargamento do caminho de acesso à povoação; pedia-se a construção de uma fonte com “água pura”, em alternativa à dos poços e presas; deu-se também conta da participação de muita gente em algumas atividades e cerimónias religiosas realizadas pelos seminaristas da Guarda (na Partida) onde viveram uma “alegria sã e vida piedosa”.

- No Casal da Serra fora caiada a igreja e dourado o altar, que “ficou muito bonito”; continuava também em construção a estrada até ao Louriçal, que vinha encurtar o caminho de acesso à Estação e pediam-se também melhoramentos no caminho para a sede da freguesia; dava-se notícia da visita de várias pessoas, residentes fora, às suas famílias.

- No Violeiro pediam-se melhoramentos nos caminhos, autênticos lodaçais no inverno; festejava-se ainda os bons resultados nos exames dos estudantes José António Rato e Conceição de Jesus Rato e a partida de Francisco Magueijo para o seminário de Fátima; desejava-se boa viagem ao senhor José Roque, esposa e filhos, que regressavam a França onde residiam há sete anos.

 - No Tripeiro festejava-se a chegada do telefone com muita alegria porque “já podiam fazer-se ouvir ao longe sem a triste necessidade de percorrer longos caminhos lamacentos”; dava-se a notícia de que a escola estava quase pronta, pelo que se agradecia muito ao “Estado”; iam também ter água canalizada em breve, coisa para admirar porque outras terras maiores ainda não a tinham; dava-se também conta da vitória, num jogo amigável, entre a equipa da terra e a do Mourelo.

 - Em São Vicente iam realizar-se, nos dias 18, 19 e 20 as festas em honra do Santíssimo Sacramento, do Senhor Santo Cristo e de Nossa Senhora do Carmo; No dia 15 de Agosto tinha-se realizado “com grande fervor”, a festa em honra da nossa Padroeira: “… a imagem da «Senhora da Ordem» foi conduzida processionalmente até à Sua Capela. Subiu ao púlpito o Rev. Frei Crespo…”; estiveram em São Vicente, entre muitas outras pessoas, Amélia Rey Colaço Robles Monteiro e Mariana Rey Monteiro e filhos; esteve também a D. Aldina Caldeira com o marido e uma excursão, vinda de Lisboa, organizada pelo senhor Elias; estiveram na Vila os “montadores” do relógio novo para darem algumas instruções sobre o seu funcionamento e já havia quem tivesse contribuído para o seu “badalar”; no dia 21 de agosto a equipa de futebol “os Novatos de São Vicente da Beira” tinha ganhado à equipa da Partida (parece que pela primeira vez…); pelos “ Novatos” alinharam Chico, Martins (1 golo), Dias e Jaime, Nicolau e Ribeiro, L. Bruno, Quica (3 golos), Barroso, Inverno e Luís.

M.L. Ferreira


Nota: Há comentários novos na postagem anterior.

José Teodoro Prata

domingo, 10 de dezembro de 2023

Conta-me histórias

 Nome do projeto: CONTA-ME HISTÓRIAS

Prazo de concretização: 2024 e 2025

Objetivo: animar culturalmente as comunidades da freguesia de SVB

Âmbito geográfico: freguesia de SVB, com maior incidência na sede, mas alargada também às anexas onde houver participantes/interessados

Locais: Biblioteca de SVB, Igreja da Misericórdia, sedes de coletividades, cafés…

Periocidade: de dois em dois meses, sempre que possível

Animadores: quem quiser participar

Atividade: a partir de um objeto (instrumento, foto, documento em papel…) o animador conta uma história: sua utilidade, de que/como é feito, histórias, pessoas, épocas, lugares… com ele relacionados

Suporte: o animador conta a sua história, apoiado no objeto e em simples notas, num PowerPoint, texto…

Memória futura (facultativo): após a apresentação, o animador passa tudo à escrita, para memória futura, em livro e/ou suporte online. Este texto deve ter o tamanho de perto de 2 páginas Word. Além do texto, o animador deve ter uma boa foto do objeto. Texto e foto devem ser entregues à organização.

Organização: blogue Dos Enxidros

Nota: esta iniciatiova inspira-se no livro Uma História do Mundo em 100 Objetos, de Neil MacGregor


José Teodoro Prata

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Venâncio


José Venâncio nasceu na Partida, a 5 de fevereiro de 1893. Era filho de António Venâncio e Maria do Rosário.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, no dia 13 de janeiro de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.

Fazendo parte do CEP, embarcou para França em 21 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 202 e placa de identidade n.º 9171.

Do seu boletim individual constam as seguintes ocorrências sobre o tempo em que permaneceu em França:

a)   Baixa ao hospital em 14 de agosto de 1917, por ter sido ferido em combate; teve alta em 15 de outubro (segundo contava, esteve mais de um mês em coma);

b)   Várias punições e detenções por faltas ao trabalho;

c)    Em Junho de 1918, foi-lhe confirmado pelo Tribunal de Guerra a sentença de seis meses de presídio militar ou, em alternativa, a pena de oito meses de incorporação em Detenção Disciplinar (de acordo com a folha de matrícula, este castigo foi aplicado, no dia 22 de Outubro de 1918, a José Venâncio e mais outros seis militares da sua Companhia, por serem acusados de se terem coligados entre si com o intuito de tirar da casa, que servia de prisão, um soldado que ali se encontrava recluso, por ordem do Comandante do Batalhão);

d)   Foi repatriado em agosto de 1918 e desembarcou em Lisboa, no dia 25.

Por decisão de 28 de Maio de 1921 o crime de que era acusado foi amnistiado nos termos do Art.º 1 da Lei n.º 1146, de 9 de Abril de 1921. Na sentença referida na sua folha de matrícula pode ler-se o seguinte: «O crime por que os réus foram condenados se acha amnistiado, assim o julgo e mando que sobre tal crime se faça perpétuo silêncio.»


Condecorações:

Medalha de Cobre comemorativa da expedição a França com a legenda: França 1917-1918.



Família:

José Venâncio casou com Maria dos Santos, no dia 18 de janeiro de 192,0 e tiveram 6 filhos:

1. Maria Lucinda, que casou com José Pedro e tiveram 3 filhos;

2.    Manuel Venâncio, que casou com Margarida de Jesus Costa e tiveram 9 filhos;

3.    João José Venâncio, que casou com Deolinda Marques e tiveram 5 filhos;

4.    António Venâncio, que casou com Cândida Alves e tiveram 2 filhos;

5.    José Venâncio, que casou com Maria Lucinda Pinto e tiveram 2 filhos;

6.    Fernando Venâncio, que faleceu ainda jovem.

«Do que o meu pai mais falava sobre o tempo em que esteve na guerra era do frio e da fome que por lá passou. Diz que às vezes o frio era tanto que até parecia que as pernas não eram dele. E para matar a fome tinham que ir pedir comida por aquelas quintas, mas os camponeses também não tinham quase nada que lhes dar, porque a miséria era por todo o lado. Por causa de fugir à procura de comida e faltar aos trabalhos, foi muitas vezes castigado, ele e os outros companheiros. Também falava dos gases que os alemães lá deitavam e matavam muita gente, porque alguns nem máscaras tinham. Ele tinha uma e quando veio ainda a trouxe. Lembro-me de a ver durante muito tempo lá em casa, mas depois desapareceu.» (testemunho do filho José Venâncio).

José Venâncio toda a vida foi moleiro. Tinha um burro e andava de terra em terra a transportar o grão para moer na azenha; teve uma vida de muito trabalho e poucos ganhos, para sustentar os filhos ainda pequenos. Viveu sempre com muitas dificuldades, porque a vida de moleiro não lhe trazia grandes proventos e também não tinha terras para cultivar.

Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo e ferimentos que sofreu na guerra; foram os filhos que lhe valeram na velhice, ajudando-o no seu sustento.

Faleceu em Outubro de 1968. Tinha 75 anos de idade.

 

(Pesquisa feita com a colaboração do filho José Venâncio)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 2 de dezembro de 2023

Projeto: digitalização dos nossos jornais

A Biblioteca Municipal de Castelo Branco não possui nenhum exemplar dos nossos Pelourinho e Vicentino. Recentemente digitalizou todos os jornais que possui, os quais podem já ser consultados no site da biblioteca.

Tenciono em breve desafiar a Biblioteca Municipal a disponibilizar também os jornais de São Vicente da Beira, pelo que terei de pedir, emprestados para a bilioteca digitalizar, exemplares a quem os tem (penso que tenho todos os números do Vicentino).

Por outro lado, como articular esta iniciativa com a nossa freguesia (para além de, automaticamente, ambos os jornais ficarem à disposição de todos em qualquer parte do Mundo)? A Biblioteca Hipólito Raposo tem os jornais em papel? Alguma instituição em SVB tem possibilidade de oferecer os jornais digitalizados aos leitores, gratuitamente? Mandem sugestões!

José Teodoro Prata

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Igreja da Misericórdia

Habituado à resolução tardia dos problemas, pela burocracia e por vezes falta de empenho, hoje fiquei de boca aberta com as obras de reparação do telhado da Misericórdia, quase concluídas.

O telhado há demasiados anos que mete água e toda a estrutura do telhado ameaçava ruir, assim como as paredes do edifício. Mas em poucos meses a Mesa da Misericórdia e a Câmara Municipal resolveram o problema, mesmo a tempo da época das chuvas. 

Estão claramentre de PARABÉNS!

José Teodoro Prata

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Gente Nossa

José Hipólito


Regressar às origens para fazer vinho, na Beira Interior

Luísa Marinho e Fernando Melo

02/10/2023

Foi na Beira Interior que nasceu a Adega 23, projeto idealizado por Manuela Carmona, médica apaixonada por vinhos. Com tudo feito de raiz, desde a plantação das videiras à adega, a marca começou com três blends e já aumentou o seu portfólio.

Manuela Carmona, natural de Castelo Branco e com vida feita em Lisboa, onde trabalha como oftalmologista, foi aos poucos apaixonando-se pelo mundo dos vinhos. Até que acabou por desejar produzir as suas próprias referências. Em Sarnadas de Ródão, perto da sua terra natal e ao lado da A23, encontrou um espaço ideal. Naquilo que era um “autêntico matagal”, como a própria lembra, construiu uma adega moderna e plantou 12 hectares de vinha, em 2015.

Com Rui Reguinga, que desde o início está no projeto e que continua a ser o enólogo consultor, desenhou os três primeiros blends, um tinto, um branco e um rosé, bem como, a seguir, o espumante de Arinto, um bruto natural. “As coisas evoluíram”, conta a médica que continua a rumar todos os fins de semana ao interior para se dedicar ao vinho.

Com José Hipólito como enólogo residente desde 2020, foi possível começar a pensar em mais vinhos. Continuam com os três blends e acrescentaram ao portfólio um reserva Syrah e Alicante Bouchet, e os monovarietais de Syrah, Viognier, Rufete e Síria, estas últimas castas identitárias da Beira. “O Rufete tem uma cor que parece Pinot Noir. É um vinho leve, que se deve beber mais fresco do que outros tintos. É bom no verão e com pratos de peixe.” A Adega 23 está aberta a quem a quiser conhecer. Durante a semana, as visitas são orientadas por Hipólito e ao fim de semana pela própria Manuela, que não se cansa de andar de um lado para outro. “Faço o melhor possível, já tenho a minha rotina profissional estabelecida e os vinhos são uma atividade divertida.” 

Manuela Carmona é médica oftalmologista e produtora assumida na região que a viu crescer. Os vinhos Adega 23 acabam de ver a gama aumentada e este varietal de Rufete – ou Tinta Pinheira – é fortemente identitário. Elegância a toda a prova, extração muito contida e muito sabor fazem dele excelente parceiro à mesa. Vinho feminino e ao mesmo tempo viril, a dualidade é fascinante. Com o enólogo José Hipólito está a produzir vinhos muito especiais. 

Ler aqui: https://www.evasoes.pt/beber/regressar-as-origens-para-fazer-vinho-na-beira-interior/1066308/

Nota: O José Hipólito é filho dos nossos Ernesto Hipólito e Celeste Jerónimo.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Gente Nossa

Pe. Estêvão Dias Cabral

Na sequência da publicação do livro da jornalista Lídia Barata, pela Alma Azul, sobre este nosso padre-engenheiro (era filho de Teodoro Faustino Dias, de Tinalhas,e de Maria Cabral de Pina, do Violeiro, além de ter falecido na Vila, em 1811), investiguei a sua vida para fazer um podcast para a Rádio Castelo Branco e encontrei este PDF que não resisto a partilhar convosco.

Leiam-no aqui: https://www.academia-engenharia.org/sites/default/files/estevao_cabral_1.pdf

José Teodoro Prata

sábado, 23 de setembro de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Nunes Caetano

José Nunes Caetano nasceu no Casal da Serra, a 22 de fevereiro de 1895. Era o filho mais velho de Pedro Caetano e Joaquina Nunes, cultivadores.

Assentou praça no dia 19 de junho de 1915 e foi incorporado no dia 14 de janeiro de 1916, no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21 de Castelo Branco. Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.

Pronto da instrução em 29 de abril de 1916, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 6.ª Companhia do 2.º Regimento de Infantaria 21, com o número 507, placa de identificação n.º 9920.

No seu boletim individual de militar do CEP consta o seguinte:

a)    Baixa hospitalar em 22 de abril de 1917, com alta em 22;

b)    Diligência para o posto de retaguarda, em 20 de janeiro de 1918, diligência para a frente em 5 de fevereiro;

c)    Baixa à ambulância n.º 4 em 13 de outubro de 1918; alta em 18, seguindo para a sua unidade;

d)    Regressou a Portugal no dia 5 de março de 1919, indo domiciliar-se no Casal da Serra.

Passou à reserva ativa em 11 de Abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de Dezembro de 1936.

Família:

José Caetano casou com Felicidade da Conceição, no dia 26 de janeiro de 1925, mas a esposa morreu de parto no dia 1 de Novembro do mesmo ano. Voltou a casar com Ana dos Anjos, em 23 de Fevereiro de 1930, e tiveram quatro filhos:

  1. Antónia dos Anjos que casou com Albertino Barroso e tiveram 3 filhos;
  2. Maria dos Anjos que casou com Joaquim Caio e tiveram dois filhos;
  3. Salete dos Anjos que casou com António Dias e tiveram uma filha;          
  4. Albino Pedro que casou com Albertina Amoroso e tiveram quatro filhas.

«O meu pai era duma família muito pobre e era o mais velho de quatro irmãos. Quando tinha sete anos puseram-no logo a servir como pastor, numa casa da Vila. Diz que o patrão o mandava com o rebanho para a Serra e ele ficava por lá sozinho, a dormir no meio do gado. Diz que, para espantar o medo, se punha a cantar; que ele sempre cantou muito bem, mesmo depois de homem feito.

Quando o meu pai foi para a tropa, diz que a Alemanha declarou uma guerra muito grande aos outros países e o Afonso Costa, que era quem mandava cá em Portugal, vendeu os soldados portugueses para irem para a França.

Ele falava pouco desses tempos, mas diz que passaram por lá muita miséria, porque não havia nada que comer. Às vezes até fugiam e iam durante a noite por aquelas baixas à procura de qualquer coisa que lhes enganasse a fome; mas o mais das vezes a única coisa que conseguiam achar era uns nabos e comiam-nos mesmo crus e tudo. Mas diz que os graduados andavam bem comidos e bem bebidos. Um dia, uns mais afoitos foram espreitar a cozinha deles e viram que tinham lá de tudo, do bom e do melhor. Eles é que tiveram muito medo e não conseguiram roubar nada.

Para além da fome que passaram, o que mais lhe custou a ver naquela guerra tão feia foi os que eram feridos ou mortos ficarem ali tanto tempo ao abandono, caídos no chão, no meio da lama, e pensar que o mais certo era acontecer-lhe o mesmo a ele. Ainda me lembro de o ouvir cantar uns versos que ele tinha feito lá na França, que eram assim:

Mãezinha, que horroroso aquilo foi,

Eu lutei, é verdade, não o nego,

Todos me dizem que eu fui um herói,

Mas eu apenas fiquei cego.

 

Os gases, as granadas e os morteiros

Deixam toda a terra envolta em chama,

E os meus pobres companheiros

Envoltos em cal, sangue e lama.

Ainda hoje penso muitas vezes como é que o meu pai, que não sabia uma letra, fez assim uns versos tão lindos!

Diz que um dia houve lá um bombardeamento tão grande, perto de Lille, que só se viam as mulheres a fugirem com os filhos ao colo, ou pela mão, para se esconderem dentro duma igreja. Quando souberam, os alemães atearam fogo à igreja e morreram lá aqueles inocentes todos queimados. Contava isto sempre com a lágrima no olho e dizia que foi a maior barbaridade que um homem podia ter visto na vida.

Quando regressou da guerra, casou com uma rapariga de São Vicente que se chamava Felicidade, mas como por cá havia pouco onde ganhar a vida, foi para a Espanha trabalhar nas minas. Passado pouco tempo, recebeu lá a notícia de que a mulher tinha morrido de parto, ela e o menino. Alguns anos mais tarde casou com a minha mãe e tiveram quatro filhos.

Foi sempre muito bom pai. Muito nosso amigo, mas impunha um grande respeito e nós sabíamos que, quando dava uma ordem, só falava uma vez. Gostava de nos ver sempre asseados e rezava sempre connosco antes de comermos e de irmos para a cama.

E fez questão de nos meter a todos na escola, que era a melhor ferramenta que ele nos podia deixar; mas só eu é que aprendi alguma coisa, porque os outros meus irmãos não tinham queda para as letras. Ao meu irmão até lhe disse que, nem que lá andasse até ir para a tropa, havia de fazer, nem que fosse, a 3.ª classe; mas por fim teve que desistir. Foi o maior desgosto que lhe podiam dar.

E também era muito sério. Uma vez foi festeiro e naquele ano tinha havido aí uma invernia tão grande que o povo não tinha muito para dar para a festa. Quando chegaram ao fim das contas, os ganhos não davam para a despesa. Ele foi ter com o Senhor Vigário e pediu-lhe que perdoasse parte daquilo que pedia por ter feito a festa, mas ele disse logo que se arranjasse como quisesse, mas que não perdoava nem um tostão. O meu pai não teve mais nada, pegou numa corrente de ouro que tinha e tanto lhe custara a ganhar e vendeu-a para pagar a missa e a procissão.

Era muito trabalhador, mas naquele tempo havia pouco quem desse que fazer a um homem e ele teve que abalar outra vez para a Espanha. Ainda por lá andou uns poucos de anos, mas depois arranjou trabalho nas minas da Panasqueira e foi para lá. Ainda lá esteve sete anos, mas aquilo era um trabalho muito duro e como ele quando veio da guerra já trazia o mal dos pulmões, o pó da mina ainda lhe piorou a doença. Ainda viveu uns anos, mas sempre muito doente.

Em vida nunca lhe deram a pensão por ter andado na guerra. Só depois de morto é que a minha mãe um dia foi a Castelo Branco e, quando mostrou a caderneta dele, um senhor até lhe disse assim:

- Parece impossível como é que o seu homem com uma caderneta destas, tão limpinha, não começou logo a receber a pensão!» (testemunho da filha Maria dos Anjos).

José Nunes Caetano faleceu no dia 29 de Novembro de 1969; tinha 74 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria dos Anjos)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Os nossos avós eram cientistas


Andei a semear nabos e fi-lo à maneira antiga; empalhados com caruma (na minha infância também usávamos a palha das enxergas, pois havia muita, da mudança que tínhamos feito em agosto).
Esta maneira antiga de cultivar previne a erosão dos terrenos, pelo vento e pela águas das chuvadas torrenciais, e conserva a humidade da terra, necessária à germinação. E ainda protege dos pardais as plantinhas acabadas de nascer,
Este é um saber de experiência feito, pois, como escreveu Duarte Pacheco Pereira, um dos grandes navegadores das viagens marítimas dos portugueses no século XV e provável descobridor do Brasil, a experiência é a mãe de todas as coisas.
Por estes dias também se tem andado em volta dos mostos das uvas, a observar a sua fermentação, isto é, a transformação dos açúcares das uvas em álcool. E para alguns, a seguir virá a produção da aguardente, em que a parte líquida dos resíduos da produção do vinho passará do estado líquido ao gasoso, sofrendo de seguida uma condensação para voltar ao estado líquido.
Tudo isto é ciência. Estes primeiros dias mais frescos, depois de tantos dias quentes, inspiravam os nossos mais velhos,  preocupados em preparar-se convenientemente para a longa noite do inverno.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Atafona

Na viagem que fiz, em julho, ao concelho do Sabugal, deparei-me com esta pedra de atafona, na povoação de Aldeia da Ponte. É utilizada como adorno, à porta de casa.
É de pequenas dimensões (cerca de 50/60 centímetros de diâmetro, incluindo o rebordo), embora na foto pareça maior. 
Uma atafona era um moinho manual, a sangue, isto é, movido à força de braços ou por animais. Eram utilizados nas zonas mais afastadas dos cursos de água, cuja corrente permitia a moagem a partir da força da água. Foram abundantes até surgir a moagem industrial. Algumas casas com mais posses tinham um para suprir as suas necessidades de farinha. No século XVIII, havia vários em Tinalhas, que moíam para a população.
Esta seria a pedra inferior, pois tem um corte no rebordo (em cima, o corte da esquerda é o rebordo partido) para sair a farinha. Esta pedra inferior estava fixa. A pedra de cima estaria presa à de baixo pelo eixo que existiria no buraco do centro. Na pedra de cima, talvez ligado a este eixo ou independente, haveria um pau para fazer rodar a pedra, manualmente.
Na área do nosso antigo concelho, ao engenho para moer azeitona, utilizando a força animal, chamava-se zangarra.
Segundo a Wikipédia, «Atafona, do árabe at-tahunâ, «moinho», é um tipo de mecanismo manual ou movido por força animal[1] destinado a transformar o andamento do animal em movimento rotativo para mover moinhosengenhos de açúcar, engenhos de ralar mandioca, engenhos de pastel, bombas para elevação de água, teares e outros equipamentos. Para além de seres humanos, foram utilizados para mover atafonas, entre outros animais, cavalosburroscamelos, bovinos, carneiros e cães.»

José Teodoro Prata

terça-feira, 11 de julho de 2023

A festa do Festival

 O festival foi positivo porque, além das muitas coisas boas da programação, permitiu-nos voltar à normalidade da nossa vida comunitária e testar a capacidade/necessidade de os nossos representantes do concelho e da freguesia fazerem aquilo para que foram eleitos.

Penso que já foi tudo dito entretanto, pois as redes sociais e os sites estão cheios de comentários e fotografias, realçando sobretudo as coisas boas.

Para melhorarmos, apenas duas achegas: 

1. A minha prima Rosário disse na apresentação do livro da Etnografia de S. Vicente da Beira que no seventre o fígado deita-se no final e desliga-se/tira-se logo do fogo, para não ficar duro. É mesmo assim!

2. No domingo, ao fim da tarde, voltei à nossa terra (estivera apenas no sábado) para ouvir novamente as Sopa de Pedra. É um coro feminino que nos encantou na última edição antes da pandemia. Afinal a Sopa de Pedra prometida no programa era mesmo a sopa ribatejana, que a Junta ofereceu à população no final da festa. Ok, tudo bem, apanhei uma desilusão, mas o pessoal terá adorado. Mas, já agora, nós também temos sopa de carne, com carne de porco, muitas vezes já curtida no sal, couve e feijão grande. Porquê dar-lhe um nome que não é nosso/fazer uma sopa que não é nossa? Não havia necessidade!

Um comentário: Fico arrasado cada vez que visito a exposição dos minerais do João Paulino. Aquilo é de uma dimensão...

E uma sugestão: Vejam a excelente coleção de fotografias que a Beira Baixa TV tem aqui (apenas do dia 9, sábado): https://www.facebook.com/100064338295558/posts/673735228114414

José Teodoro Prata

sábado, 1 de julho de 2023

Mãos

 O livro Alma da Terra, do Pedro Martins, é uma obra de arte que, para lá da beleza surpreendente das fotografias publicadas, nos faz sentir a impossibilidade de, mesmo com todos os sentidos bem apurados, observamos o mundo à nossa volta nos detalhes mais interessantes.

Esta, é uma das que elegeria, se tivesse que destacar alguma, talvez porque também é a única que apresenta o elemento humano.


É a fotografia das mãos do senhor Domingos, avô do Pedro Martins, quando tinha já 100 anos; tão iguais às dos avós de muitos de nós.

E fizeram-me lembrar o poema “As Mãos” do Manuel Alegre, principalmente nestes versos:

“Com as mãos se rasga o mar.

Com as mãos se lavra.

Não são de pedra estas casas,

Mas de mãos.

(…)  

E cravam-se no tempo como farpas

As mãos que vês nas coisas transformadas.”

Deve ser por isso que, com frequência, quando olho para tantas coisas à minha volta, me lembro ou ponho a imaginar as mãos calejadas dos artistas que as fizeram.

M.L. Ferreira

NOTA: O Pedro Martins é um fotojornalista, nascido no Vale de Figueiras

domingo, 4 de junho de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Marques Neto

José Marques Neto nasceu em São Vicente da Beira, no dia 14 de agosto de 1892. Era filho de António Marques e Maria Neta, proprietários.

Assentou praça no dia 12 de julho de 1912 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em 14 de janeiro de 1913. De acordo com a sua folha de matrícula, sabia ler e escrever corretamente na altura da incorporação e tinha a profissão de ferrador. Completou a recruta em 3 de abril e regressou a São Vicente da Beira.

Foi mobilizado para a guerra e apresentou-se novamente, em 5 de maio de 1916, para integrar o CEP. Embarcou para França no dia 20 de janeiro de 1917. Fazia parte do Comboio Automóvel, 3.ª Secção, do Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado, com número 143 e a placa de identidade n.º 19703 (alterada posteriormente para 20483). Foi colocado no 1.º Grupo Automóvel com as funções de motorista.

Do seu boletim individual consta o seguinte:

a)  Castigado pelo comandante da companhia, com 5 dias de prisão disciplinar, em julho de 1917, por ter discutido com um camarada, tendo-o insultado com palavras obscenas e atirado com um martelo que ia atingindo um militar do mesmo escalão;

b)  Seguiu em diligência para a direção do comboio, em 7 de agosto de 1917;

c)  Colocado no 1.º Grupo Automóvel (1.º escalão), em 2 de abril de 1918, onde ficou com o número 212;

d)  Regressou a Portugal, no dia dois de maio de 1918.

Passou à reserva ativa no dia 11 de abril de 1928 e à reserva territorial em 31 de dezembro de 1933.

Família:

Após ter regressado à terra, José Marques casou com Maria do Nascimento Ferreira, também natural de São Vicente da Beira, no dia 15 de setembro de 1920, e tiveram dois filhos:

1.     José Maria Marques Neto que casou com Maria Rosa Sousa e tiveram 1 filha;

2.     António Marques que casou com Maria Alice Lourenço e tiveram 2 filhas.

Antes de partir para França, José Marques tinha a profissão de ferreiro. Terá depois trabalhado também como carpinteiro e agricultor, inicialmente na Casa Visconde de Tinalhas e depois nas terras que foi adquirindo e herdou dos pais. Foi produtor e negociante de azeite e, durante algum tempo, empreiteiro de obras públicas. Em sociedade com o irmão António Neto, terá sido responsável pela construção do troço da Estrada Nova, entre a Oriana e o Bairro de São Francisco.

Foi mesário da Santa Casa da Misericórdia de São Vicente, exercendo os cargos de secretário e tesoureiro em vários mandatos.

Após a morte da esposa, em 1973, José Marques ainda permaneceu alguns anos em São Vicente, mas, já mais idoso, foi morar para o Fundão, onde viveu com a família do filho António. Foi lá que faleceu no dia 9 de maio de 1994. Tinha quase 102 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração da neta Filomena Maria Marques)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

sábado, 22 de abril de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Maria Gama

José Maria Gama nasceu em São Vicente da Beira, no dia 20 de maio de1896. Era filho de Carolina Gama, jornaleira, residente na rua Manuel Mendes. 

Terá ficado órfão ainda jovem porque, de acordo com o seu boletim individual de militar do CEP, o familiar vivo mais próximo, na altura da partida para França, era o padrinho, Manuel da Silva Lobo (apesar desta referência, sabe-se que José Maria foi criado pelos avós maternos, como se fosse mais um filho).

Mobilizado para a guerra, embarcou em 26 de setembro de 1917, com o posto de 1.º Cabo da 4.ª Bateria do Regimento de Artilharia 8 (Abrantes?) com o número 665 e a chapa de identificação n.º 64941. Integrava a bateria de reforço das tropas que já estavam no terreno há algum tempo.

Do seu boletim individual consta o seguinte:

·        Baixa à ambulância n.º 8 em 24 de novembro de 1917; alta em 2 de dezembro(?);

·        Colocado no 3º Grupo de Batarias de Artilharia em 24 de abril de 1918 onde ficou até janeiro de 1919;

·        Condecorado com a medalha comemorativa da expedição a França pela Ordem de Serviço nº 31 de 27/2/1919 do 3º G.B.A.

Família:

Após o regresso a Portugal, José Maria Gama ficou a residir em Lisboa, onde ingressou na Guarda-Fiscal. Foi lá que casou com Silvina(?) de quem teve uma filha: Beatriz Gama. A esposa terá falecido passado pouco tempo e José Maria assumiu sozinho a educação da menina.

Em 29 de junho de 1935, voltou a casar, no Posto do Registo Civil de Sarzedas, com Maria José Rodrigues, natural daquela localidade (Maria José era prima direita de José Maria, uma vez que o pai era natural de São Vicente da Beira e tio materno de José Maria). Deste casamento nasceu mais uma filha: Maria do Carmo Gama(?).   

José Maria vinha muitas vezes à terra, principalmente pela Senhora da Orada e pelas Festas do Verão, e trazia quase sempre a filha mais velha. Contam que era um homem bonito, elegante e sempre alegre. Era muito querido por toda a família e pelos amigos. Quando vinha a São Vicente todos queriam que ficasse em sua casa, e mimavam-no com tudo o que tinham de melhor. Ele retribuía da mesma forma, ajudando toda a gente que precisasse e lhe pedisse um favor. Dizem que foi ele que, naquele tempo, levou alguns rapazes da idade dele, e outros mais novos, de São Vicente para Lisboa, e os ajudou a entrar para a Guarda-Fiscal, onde era muito considerado.    

José Maria Gama faleceu na Freguesia da Lapa, no dia 31 de dezembro de 1973. Tinha 77 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra